Rumble
e Trump Media entram com nova ação na Justiça dos EUA contra Alexandre de
Moraes
A plataforma de
vídeos Rumble e a empresa Trump Media & Technology entraram, no sábado
(22), com uma nova ação na Justiça dos Estados Unidos contra o ministro do
Suprempo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
As empresas questionam a decisão de Moraes que, na
sexta-feira (21), mandou bloquear o Rumble no Brasil, impôs multa diária de R$
50 mil e determinou a indicação de um representante da plataforma no país.
No documento, Rumble e Trump Media pedem a concessão de medida cautelar para não
serem obrigadas cumprir as determinações de Moraes. A ação pede uma
medida de cumprimento imediato.
"Na ausência de intervenção judicial imediata
e medida cautelar, os requerentes sofrerão ainda mais danos irreparáveis,
incluindo a perda de liberdade [prevista na] Primeira Emenda [da Constituição
americana], desafios operacionais adicionais e uma erosão permanente da
confiança do usuário", diz o documento.
🔎 A Rumble é uma plataforma de
vídeos similar ao YouTube, do Google. Lançada em 2013, a rede social é bastante
popular entre conservadores nos EUA. Ela diz que sua missão é "proteger
uma internet livre e aberta" e já se envolveu em diversas controvérsias.
🔎 A plataforma tem negócios com o
grupo de comunicação de Trump e também já recebeu investimentos de pessoas
próximas do republicano, inclusive o atual vice-presidente dos EUA, J.D. Vance.
Na nova ação apresentada, as empresas afirmam que
Moraes está ignorando canais legais e "deliberadamente contornando a
supervisão do governo dos EUA".
·
Processo nos Estados Unidos
Na quinta-feira (19), a plataforma já havia
apresentado à Justiça dos Estados Unidos uma ação contra o ministro Alexandre
de Moraes. O processo foi aberto em conjunto com o grupo de comunicação Trump
Media & Technology Group, do presidente dos EUA, Donald Trump.
As empresas acusam Moraes de censura e pedem que
ordens do juiz brasileiro para derrubada de contas de usuários do Rumble não
tenham efeito legal nos EUA.
No texto, a acusação afirma que a base para a
abertura do processo foi o bloqueio de Moraes de contas no Rumble de uma série
de usuários, incluindo um "muito conhecido".
Segundo a decisão, trata-se do blogueiro Allan dos
Santos, apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e que vive nos Estados
Unidos. Alexandre de Moraes já havia determinado anteriormente a prisão do
blogueiro, que é considerado foragido pelo STF.
<><> As exigências de Moares incluem:
·
apresentação de um representante legal no Brasil;
·
bloqueio do canal de Allan dos Santos e de novos
cadastros;
·
interrupção de repasses financeiros ao
influenciador.
Outras redes sociais, como YouTube, Facebook,
Twitter e Instagram, já haviam sido notificadas anteriormente e cumpriram as determinações.
¨
Advogado da Rumble,
empresa de Trump, diz ‘estar defendendo a soberania digital’ ao processar
Moraes
Horas antes de o
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinar a
retirada do ar "imediata, completa e integral" da rede social Rumble
do território brasileiro, o advogado Martin de Luca, que representa a Rumble e a Trump Media & Technology Group
(TMTG)
em um processo contra Moraes nos EUA, minimizou os impactos da decisão para as
empresas.
Em entrevista à BBC
News Brasil, Luca afirmou que "o que acontece no Brasil é indiferente
porque nenhuma das duas empresas tem nenhum contrato, nem operações no
Brasil".
"Então, o que
acontece no Brasil é tão relevante quanto o que acontece na Lua",
completou o advogado.
Segundo ele, a
Rumble não vende anúncios nem faz negócios no Brasil, apenas recebe acessos. E,
por isso, não precisaria ter uma sede ou representantes brasileiros.
A ordem de bloqueio
de Moraes marca uma nova escalada em uma sequência de medidas tomadas de parte
a parte nas últimas 48 horas, quando a Rumble e a empresa do atual presidente
dos EUA, Donald Trump, a TMTG, ingressaram com um processo contra o juiz
brasileiro em um Tribunal na Flórida.
Nesta sexta, antes
da divulgação da decisão de bloqueio por Moraes, o advogado Luca trabalhava em
uma liminar que deve ser apresentada em breve à Justiça dos Estados Unidos para
pedir salvaguardas urgentes contra as decisões de Moraes.
Também estariam na
mesa outras medidas, como acionar o Departamento de Justiça do governo
americano para lidar com a questão.
Na noite de sexta,
os advogados da TMTG divulgaram uma nota à imprensa classificando as decisões
de Moraes como um "abuso judicial".
"A ideia de
que um juiz estrangeiro pode ditar quais conteúdos uma plataforma americana
deve remover e quem pode receber pagamentos dentro dos EUA representa um ataque
direto à soberania digital dos Estados Unidos", afirma o comunicado.
"Esse tipo de
abuso judicial é exatamente o motivo pelo qual Rumble e Trump Media entraram
com uma ação na Justiça Federal dos EUA."
Segundo a TMTG,
controladora da rede Truth Social, ela compartilha, ao menos parcialmente, os
servidores com a Rumble, que ficam baseados no Estado da Flórida.
Assim, a Truth
Social seria potencialmente impactada por qualquer disrupção no serviço
tecnológico da Rumble, o que justifica a parceria na empreitada judicial contra
a autoridade brasileira.
"Dependendo de
como forçariam esse shutdown, sem cooperação técnica da plataforma, pode
haver consequências imprevisíveis", afirmou Luca.
Segundo o advogado,
no limite, a retirada do ar no Brasil poderia até mesmo derrubar as duas redes
globalmente. Em sua decisão, o ministro Moraes determina que a Agência Nacional
de Telecomunicações (Anatel) realize o bloqueio ao site em território
brasileiro.
De acordo com Luca,
a Rumble tem sido alvo de múltiplas decisões de Moraes - ele se recusou a
precisar quantas - para que tome medidas de exclusão de contas e faça a
interrupção de pagamentos a usuários brasileiros radicados nos EUA.
Todas as ordens
estão sob sigilo judicial e especificam punição à empresa caso seu teor seja
tornado público.
Em decisão sobre a
Rumble divulgada nesta quinta-feira (20/2), Moraes cita especificamente a conta
do influenciador bolsonarista Allan dos Santos, que vive na Flórida e já foi
alvo de pedido de extradição do Brasil aos EUA, recusada pelas autoridades
americanas.
Santos é acusado de
usar múltiplas contas em redes sociais para "propagar os seus discursos
criminosos", segundo escreve Moraes.
O próprio ministro
assinala que as contas de Santos em outras redes, como X, Facebook e Youtube,
já foram retiradas do ar. Moraes afirma que a conta na Rumble seria uma maneira
de Santos de burlar decisão judicial anterior.
Como a Rumble não
tem representantes legais no Brasil, o ministro notificou a empresa sobre a
ordem por meio de um e-mail enviado de seu gabinete para uma funcionária do
departamento jurídico da empresa. E determinou que a empresa adotasse
representantes legais no país, algo previsto, segundo ele, tanto pelo Código
Civil quanto pelo Marco Civil da Internet.
Sem tal representante,
a empresa seria bloqueada, como aconteceu com o X e como, efetivamente,
confirmou-se nesta sexta com a Rumble.
Luca afirma que o
expediente usado por Moraes é irregular e não tem embasamento legal. A Rumble
está sediada na Flórida e segundo Luca não tem nem pretende ter representação
legal ou comercial no Brasil.
"Imagina se
você recebe uma decisão em coreano, por email, de um juiz da Coreia do Norte
dizendo que quer que você exclua todo o conteúdo que não gosta sobre o Kim
Jong-un e você sequer tem negócios na Coreia. É basicamente o que está
acontecendo, Alexandre de Moraes age como se fosse um juiz da Coreia do Norte,
com a ressalva de que o Brasil é uma democracia e um país amigo", diz
Luca.
A Rumble afirma em
seu site ter 67 milhões de usuários globalmente, mas não especifica o número de
usuários do Brasil. A rede ficou conhecida por abrigar muitos usuários de
direita brasileiros e americanos.
Apesar do declarado
desinteresse em marcar presença no Brasil, o CEO da rede, Chris Pavlovsky, tuitou
nesta quinta (20/2), em português, se dirigindo "ao povo brasileiro":
"Eu posso não ser brasileiro, mas prometo que ninguém lutará mais pelos
seus direitos à liberdade de expressão do que eu. Lutarei até o fim,
incansavelmente, sem jamais recuar".
E também no X
prometeu a Moraes descumprir todas as suas ordens: "Nos vemos nos
tribunais".
A resposta de
Moraes veio na decisão de bloqueio do site nesta sexta.
"O abuso no
exercício da liberdade de expressão para a prática de condutas ilícitas, como
pretende o CEO da RUMBLE INC., CHRIS PAVLOVSKI, sempre permitirá
responsabilização cível e criminal pelo conteúdo difundido, sendo integralmente
aplicável o princípio do dano ou princípio da liberdade, para evitar o abuso
das redes sociais e sua instrumentalização", escreveu Moraes, afirmando
que a empresa usa da falta de representantes no país para se esquivar da
legislação brasileira.
A rigor, o
cumprimento de uma decisão judicial brasileira por uma empresa estrangeira fora
do Brasil teria que se dar por meio de uma carta rogatória - o instrumento
oficial para comunicação entre Judiciários de dois países.
Como não foi este o
caminho adotado por Moraes, Luca defende que suas ordens são inválidas. Mas
esse não seria o único problema. Segundo ele, Moraes está tentando tomar
decisões em relação a um usuário baseado nos EUA de uma empresa baseada nos EUA
que faz pagamentos bancários também em território americano - algo que estaria
fora da jurisdição do ministro Moraes.
Por isso, tais
ordens deveriam ser submetidas e ratificadas por um juiz dos EUA para serem
cumpridas.
"Não
encontramos nenhum precedente na história dos EUA de um processo aberto para
contestar ordens dadas por um juiz no exterior, ameaçando consequências para
contrapartes que estão todas nos Estados Unidos, com consequências
catastróficas se as ordens do juiz estrangeiro não são cumpridas, sem obter o
consentimento de autoridades americanas", diz Luca.
Segundo ele, porém,
as ações de Moraes são semelhantes às que foram tomadas contra outras big
techs, como o X, do bilionário trumpista Elon Musk, que chegou a ser retirada
do ar por algumas semanas no Brasil no ano passado.
A BBC News Brasil
apurou que Musk chegou a contemplar a possibilidade de abrir uma ação nos
mesmos moldes do que fazem agora a Rumble e TMTG, mas optou por recuar e
constituir representação legal no Brasil.
Segundo Luca, o X e
outras big techs estavam pressionadas por interesses comerciais que
tornavam improdutivo pra elas entrar no embate com Moraes. A Rumble e a TMTG,
porém, não teriam qualquer ativo financeiro no Brasil, por isso podem sustentar
a briga.
O advogado afirma
que a ação, movida há dois dias, é uma tentativa de forçar o Judiciário
americano a garantir que as ordens de Moraes não são válidas para as duas
empresas.
"Uma decisão
de um juiz federal americano vai ter relevância na única jurisdição que é
relevante para a Rumble e a Truth Social que são os Estados Unidos", diz
Luca.
·
Interferência
política no Brasil?
A ação movida pela
empresa de Trump contra Moraes apenas horas depois da apresentação da denúncia pela Procuradoria
Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de
golpe de Estado foi considerada um fato incomum por veículos internacionais
como o jornal americano The New York Times.
Bolsonaro e Trump
são aliados políticos. Embora se recuse a dizer se conversou diretamente com o
presidente Trump a respeito do teor e do timing da ação, Luca
sustenta que ninguém deve ver no processo um sinal de interferência política em
assuntos domésticos do Brasil.
"Absolutamente
não. Absolutamente não. Primeiro, porque obviamente nossa ação não está
interferindo com os assuntos domésticos do Brasil. O Brasil é um país muito
próximo aos Estados Unidos, muito amigo e muito respeitado pelo governo dos
Estados Unidos. O que é uma falta de respeito aqui é evitar todos os mecanismos
judiciais super bem estabelecidos para encaminhar mandados a empresas
americanas e simplesmente mandar emails. O que a gente está fazendo é defender
nossa soberania digital e confrontar mandados que estão chovendo em nossos
inboxes", diz Luca, que afirmou trabalhar na inicial da ação desde a
semana anterior à denúncia contra Bolsonaro.
Curiosamente, ao
mover uma ação contra o ministro Moraes, a Rumble e a TMTG se veem diante do
mesmo problema que levou Moraes a enviar emails a Rumble, ou seja, como citar
uma parte em território estrangeiro.
Diante da questão,
Luca afirma que: "Tem processos estabelecidos para citar o ministro.
Agora, se vamos nos comportar da mesma forma que o ministro se comportou com a
Rumble, então a gente pode fazer um reply all (responder a todos), e
simplesmente responder o e -mail com a citação (enviada por Alexandre de
Moraes)".
Instado a dizer se
fez isso, ele se recusou a dar detalhes.
A BBC News Brasil
consultou o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o assunto, que afirmou que o
ministro Moraes não se manifestaria a respeito do caso.
Mas a reportagem
apurou que a Advocacia Geral da União (AGU) já se movimenta para defender o
ministro no caso. O mais provável é que um escritório americano seja contratado
pela AGU para tocar a defesa.
O entendimento da
pasta, sob comando de Jorge Messias, é que a AGU deve defender legalmente
servidores federais que sejam processados no exercício de suas funções, o que
seria o caso do ministro Moraes.
A iniciativa, no
entanto, já tem sido explorada pela oposição como evidência de que o ministro
está politicamente motivado e atrelado ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente
brasileiro tem se movido com cuidado depois de já ter trocado farpas públicas
com Trump antes da eleição do republicano em novembro passado.
Segundo Luca, no
entanto, a ele não interessa esse tipo de disputa. O advogado já foi procurador
do Departamento de Justiça dos EUA (entre 2010 e 2016) e chegou a atuar em
alguns casos da Operação Lava-Jato. Na advocacia privada, atuou em casos
multimilionários para clientes brasileiros, russos e americanos.
Mesmo sem família
lusófona, Luca fala bom português, conhece as cortes brasileiras e foi
contratado especificamente para tratar do caso Moraes.
"Nossa ação
não é um ataque contra o governo Lula, não é um ataque contra os outros
ministros do STF, porque nenhum deles atacou os EUA. Não é nem para defender o
Bolsonaro, nem para atacar Lula, um chefe de Estado democraticamente eleito e
respeitado. Até porque nem Lula controla o Alexandre de Moraes", diz Luca.
¨ O
imperialista Elon Musk ameaça intervenção política no Brasil incitando atos
golpistas pelo X
A publicação rapidamente ganhou destaque, acumulando
milhões de visualizações e sendo compartilhada por diversas figuras da extrema
direita, incluindo Flávio Bolsonaro.
Tal postura não revela algo tão novo se tratando do
bilionário braço direito de Trump, que desfila saudação nazista e reafirma o
golpismo ianque a cada oportunidade. Lembremos que em 2020 o herdeiro do
apartheid sul-africano deixou bem claro sua opinião em relação ao golpismo
característico do império norte-americano quando não apenas não negou seu apoio
aos EUA em um golpe na Bolívia para garantir suprimento de lítio (não por acaso
material necessário para a fabricação de carros elétricos de sua empresa
Tesla), como afirmou: “Vamos dar um golpe em quem quisermos. Lide com isso”.
Musk é um dos protagonistas do novo governo Trump, que
em seu conjunto já nas primeiras semanas distribuiu sinais de hostilidade com o
Brasil, seja com declarações de Trump minimizando a importância do Brasil,
críticas de Mark Zuckerberg ao Judiciário brasileiro ou posicionamentos de
Steve Bannon contra o governo Lula. Esse esbravejo golpista surge justamente no
momento oportuno em que uma crise de popularidade atravessa o governo
brasileiro, crise esta que coloca em questão se estaríamos diante do início de
um fim de ciclo dos governos do PT, agora em uma forma debilitada de lulismo
neste terceiro mandado.
O fato é que, tanto o debilitamento do governo Lula por
um lado, como as ousadias dos golpistas da extrema direita internacional por
outro, colocam em primeiro plano a reflexão sobre o que fazer. Da parte do
petismo a resposta tem sido tratar que há fake news por toda parte (e há), e
afirmar fantasiosamente que o governo estaria bem, e o problema seria dos
trabalhadores que não percebem isso, ou que seria uma mera falha de comunicação
do governo, e que se comunicando melhor os trabalhadores veriam o governo bem.
Em suma, muitas maneiras de negar que há um mal-estar na classe trabalhadora
brasileira, que reflete a precarização do trabalho, a inflação, e que apesar do
PIB crescer, a percepção da economia não anda nada bem.
Enfrentar a extrema-direita e o imperialismo, que nas
vozes de Musk, Trump e o “mercado” que atacam o governo porque querem ainda
mais ajuste fiscal e precarização do trabalho - como se o Arcabouço Fiscal de
Haddad e Lula já não estrangulasse suficientemente os investimentos públicos em
saúde, educação etc -, passa necessariamente pelo desenvolvimento de uma
forte luta independente contra os ataques e ajustes feitos pelo governo Lula. A
conciliação de classes da Frente Ampla foi essencial para que a extrema direita
mantivesse seu poder de fogo nos últimos anos e que agora, de forma oportunista
e hipócrita, busque aproveitar a crise do governo para aprofundar os ataques.
Enfrentá-la pela raiz e no seu conteúdo (ajuste, precarização, ataque aos
setores oprimidos etc) é tarefa da classe trabalhadora com seus métodos
históricos, de forma independente construindo uma oposição pela esquerda ao
governo Lula.
Fonte: g1/BBC News
Brasil/Esquerda Diário
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