terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Alemanha encerra a curta era Scholz

Em meio a um cenário de crise econômica e tensões geopolíticas, os alemães foram às urnas neste domingo (23/02) em eleições legislativas antecipadas para definir os novos membros do Parlamento (Bundestag).

A conservadora União Democrata Cristã (CDU) combinada com seu parceiro bávaro, a União Social Cristã (CSU), foi a legenda mais votada do pleito, com cerca de 28,5% dos votos, cacifando o líder conservador Friedrich Merz a ocupar o posto de chanceler federal e substituir o impopular social-democrata Olaf Scholz na chefia do governo alemão.

Apesar de ter superado o Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz, a CDU/CSU não assegurou maioria entre as 630 cadeiras no Bundestag. Assim, a legenda ainda terá que costurar alianças com outras siglas para solidificar a ascensão de Merz ao posto e garantir a formação de um governo estável, um processo que pode se arrastar por semanas.

Até lá, Scholz deve permanecer no posto interinamente. E o processo de formação de uma coalizão pode se complicar dependendo da quantidade de legendas que superarem a cláusula de barreira de 5% para formar bancadas no Parlamento, quando a contagem final for confirmada. Num Bundestag mais pulverizado, será mais desafiador para a CDU/CSU formar alianças.

Mas é considerado certo que os dias de Scholz à frente do governo estão contados. Castigado por desaprovação recorde, o atual chanceler federal e o SPD devem obter apenas 16,4% dos votos – opior resultado da legenda em mais de um século –, levando o partido a cair para a terceira posição entre as maiores bancadas do Bundestag, algo que também não era observado desde o fim do século 19.

Com o resultado, Scholz deve se tornar o chanceler federal mais breve desde a reunificação do país em 1990, tendo ficado menos de quatro anos no cargo.

Já a segunda maior bancada passará a ser ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), que deve obter 20,5% dos votos numa eleição dominada por questões como imigração, crise econômica e acusações de interferência externa. Com essa porcentagem, a AfD deve dobrar seu eleitorado em relação ao último pleito, em 2021.

Os Verdes, parceiros de Scholz na atual coalizão de governo, sofreram um leve declínio, aparecendo com 12% dos votos. Eles foram seguidos pelo partido A Esquerda (Die Linke), com 8,5%, uma marca que reverteu o desgaste sofrido pela legenda nos últimos anos.

Os resultados preliminares também apontam que o Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) – cuja saída do governo em novembro levou à antecipação da eleição – e a nova legenda populista de esquerda  Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) podem não superar a cláusula de barreira de 5% e, por isso, correm o risco de ficar de fora do Bundestag.

No entanto, isso só deve ser confirmado quando a contagem for finalizada. Nas primeiras projeções, os dois partidos aparecem levemente abaixo da marca e também compensar a porcentagem com a eleição de pelo menos três deputados por voto direto.

<><> Eleição agora vai dar lugar à fase de negociações

Os resultados preliminares apontam que a CDU/CSU conseguiram recuperar terreno entre o eleitorado em relação ao pleito de 2021, quando foram superados pelo SPD. Os conservadores cresceram cinco pontos percentuais – o resultado, porém, continua abaixo das marcas obtidas pelo partido sob a liderança da ex-chanceler Angela Merkel nos pleitos entre 2005 e 2017.

Por enquanto, a governabilidade para os conservadores permanece uma incógnita. Para conseguir liderar um governo estável na Alemanha, um pretendente a chanceler federal precisa garantir mais de 50% dos votos no Bundestag. Como nenhum partido obteve essa marca sozinho, vai entrar em cena a costura de alianças .

Na Alemanha, os eleitores não votam diretamente nos candidatos a chanceler, mas em seus partidos e em candidatos a deputado pelas legendas. Normalmente, cabe à legenda que conquistar mais cadeiras no Bundestag e/ou que tiver mais chances de liderar a costura de uma coalizão com mais de 50% das cadeiras encabeçar o governo – e consequentemente escolher o chanceler federal.

Não é inédito que um aspirante conquiste a chancelaria sem que seu partido tenha terminado em primeiro lugar nas eleições. Isso já ocorreu em pleitos realizados na antiga Alemanha Ocidental em 1969, 1976 e 1980, quando partidos menos votados mostraram mais capacidade de formar coalizões. No entanto, tal cenário é considerado improvável, considerando o declínio acentuado do SPD e o isolamento da AfD.

Como Merz e a CDU/CSU descartaram uma aliança com a AfD, analistas apontam que Merz terá que cortejar os partidos que aparecem na terceira e quarta posições para garantir uma coalizão estável. Ou seja, os social-democratas e verdes, que governaram a Alemanha nos últimos três anos.

<><> A ascensão de Merz

Nascido em 1955 em Brilon, na antiga Alemanha Ocidental, Merz ingressou na CDU ainda na adolescência. Formado em Direito, ele chegou a atuar como juiz antes se candidatar a cargos eletivos. Estreou como eurodeputado em 1989. Na década seguinte, foi eleito para o Parlamento alemão.

Membro de um grupo rival interno ao da ex-chanceler Merkel na CDU, Merz acabou se afastando da política em 2009, passando a atuar no setor privado. Em 2018, com a aposentadoria de Merkel já no horizonte, voltou à política, tornando-se líder da CDU em 2021.

No comando da legenda, Merz deu uma guinada conservadora, afastando a CDU da rota centrista adotada por Merkel por quase duas décadas, o que levou a imprensa estrangeira a defini-lo como um conservador "anti-Merkel".

Opositor da política de "boas-vindas" aos refugiados da sua predecessora, Merz passou a defender uma abordagem mais rígida contra a imigração. Também se mostrou crítico ao fechamento de usinas nucleares acertado por Merkel.

Em alguns momentos, Merz foi acusado por rivais de se aproximar da ultradireita. Em janeiro, após um ataque a faca executado por um afegão que deixou dois mortos, Merz tentou aprovar no Bundestag, com apoio da AfD, um projeto para restringir a imigração. O gesto foi visto como uma rachadura significativa no "cordão sanitário", pacto dos partidos tradicionais para isolar politicamente a ultradireita, e provocou protestos nas ruas e críticas da ex-chanceler Merkel.

Merz tentou minimizar o episódio reforçando que nunca pretende se aliar à AfD. Se ascender mesmo ao posto de chanceler federal, Merz será o terceiro membro da CDU a chefiar o governo alemão desde a reunificação do país, em 1990.

Neste domingo, após o anúncio da boca de urna, Merz discursou para seus apoiadores, afirmando que se tratava de "uma noite de eleição histórica" para os conservadores da CDU/CSU.

"Nós, o bloco da União, vencemos esta eleição", disse Merz. "Ganhamos porque a CDU e a CSU trabalharam muito bem juntas e se prepararam muito bem."

Em seguida, Merz abordou as complicadas negociações para a formação de uma coalizão que já se anunciam. "O mundo não vai esperar por nós, não vai esperar por longas negociações de coalizão. Precisamos ser capazes de agir novamente com rapidez, para que possamos fazer a coisa certa na Alemanha, para que estejamos presentes novamente na Europa e para que o mundo veja: A Alemanha tem novamente um governo confiável", disse Merz.

<><> Agonia dos liberais e estagnação dos Verdes

O SPD de Scholz não foi o único partido da coalizão de governo a ser castigado pelo eleitorado. Membros remanescentes da coalizão de Scholz, os Verdes sofreram uma leve redução entre o seu eleitorado, terminando a eleição com 12% dos votos - contra 14,8% em 2021. Numa campanha dominada pela economia e imigração, os Verdes tiveram dificuldades para promover sua agenda ambiental.

Já o Partido Liberal-Democrático (FDP), parceiro do chanceler até a ruptura de novembro, pode obter nesta eleição um dos piores resultados da sua história. Nas primeiras projeções, o partido apareceu com 4,6% dos votos, abaixo da cláusula de barreira de 5%. Com isso, o FDP corre o risco de ficar fora do Parlamento, caso também não consiga compensar a porcentagem com a eleição de pelo menos três deputados por voto direto.

<><> Esquerda renasce das cinzas

A eleição deste domingo também foi palco de um renascimento que parecia improvável há poucos meses. Ao conquistar 8,6% dos votos, segundo as primeiras projeções, o partido A Esquerda (Die Linke) se juntou ao clube de legendas que registrou crescimento, quase dobrando seu eleitorado.

Formada em 2007 em parte por remanescentes do antigo partido comunista da Alemanha Oriental, A Esquerda por pouco não havia ficado de fora do Bundestag em 2021. Obtendo 4,9% dos votos, a legenda só não foi barrada pela cláusula de barreira de 5% porque conseguiu eleger três deputados por voto direto, o que compensou a votação magra.

Em 2024, veio uma nova crise. Um grupo de dez deputados deixou a legenda para formar uma nova agremiação concorrente. Por um momento, parecia que A Esquerda caminhava para a irrelevância.

No entanto, em janeiro, o quadro começou a mudar. A ajuda decisiva parece ter vindo de políticos mais jovens da legenda. Uma das sensações da campanha foi a deputada de esquerda Heidi Reichinnek, de 36 anos, que amealhou meio milhão de seguidores no TikTok. Em janeiro, um de seus vídeos, com pesadas críticas ao conservador Merz se tornou viral na Alemanha. No mesmo mês, o partido ganhou 20 mil novos filiados.

¨      Merz tentará formar coalizão bipartidária com social-democratas

Não será fácil, constatou o conservador Friedrich Merz assim que as pesquisas de boca de urna o apontaram como vencedor das eleições na Alemanha. Desafios gigantescos esperam o futuro chanceler democrata-cristão nas missões de recuperar a economia estagnada do país, o seu papel de liderança na Europa e ainda fazer frente a uma nova ordem global, chacoalhada com a reestreia de Donald Trump na Casa Branca.

Internamente, Merz terá na sua cola os radicais do Alternativa para a Alemanha, que cravaram o melhor resultado da extrema direita em nove décadas, com o dobro de votos em relação ao pleito de 2019. O AfD atuará como o maior grupo de oposição no Parlamento alemão e foi, mais uma vez, sumariamente descartado no domingo pelo líder eleito como integrante de sua futura coalizão.

"Temos visões divergentes sobre política externa, política de segurança e Otan. Eles podem nos procurar o quanto quiserem, mas não cairemos em uma política errônea. Não vou questionar o legado de 75 anos da União Democrata Cristã apenas por uma autoproclamada Alternativa para a Alemanha. Vocês querem o oposto do que nós queremos", alertou.

A melhor notícia chegou para Merz somente no fim da apuração. Com 28,6% dos votos, o bloco liderado por democratas cristãos pode agora se dar ao luxo de tentar formar um governo bipartidário apenas com os social-democratas do SPD —aliança que funcionou anteriormente em três dos quatro governos de Angela Merkel.

Essa comunhão exclui a presença dos Verdes no governo e só será viável porque os liberais democratas (FDP) e a aliança de extrema esquerda BSW não conseguiram votos suficientes para entrar no Bundestag.

A realidade da extrema direita, contudo, se impôs na Alemanha. Calcado em posições anti-migração e pró-Rússia, o AfD não dará trégua ao governo. A candidata Alice Wiedel avisou que o partido não pode ser ignorado e sugeriu que as próximas eleições podem vir antes do que o previsto. Em outras palavras, os radicais de direita estão prontos para tirar proveito de um suposto fracasso do novo governo.

¨      Ultradireita se torna segunda maior força da política alemã

Após uma campanha eleitoral dominada por temas como imigração e crise econômica, o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) deve se firmar como a segunda maior força do Parlamento Alemão (Bundestag).

Nas eleições federais antecipadas neste domingo (23/02), o partido quase dobrou sua votação em relação ao pleito de 2021, obtendo 20,4% dos votos, segundo as primeiras projeções. Se a porcentagem se confirmar, serão dez pontos percentuais a mais do que na eleição anterior.

Além de crescer, a sigla também ultrapassou legendas tradicionais como o Partido Social-Democrata (SPD) e os Verdes, as duas siglas que compõem o atual governo de coalizão liderado pelo chanceler federal Olaf Scholz, que sofre com impopularidade.

Os ultradireitistas ficaram apenas atrás da União Democrata-Cristã (CDU), a legenda chefiada pelo deputado Friedrich Merz, que deve liderar o próximo governo. Castigado nas urnas pelo eleitorado, o SPD sofreu uma derrota histórica e caiu para o terceiro lugar entre as futuras bancadas.

Nesta eleição federal, a AfD indicou como candidata a chanceler uma das colíderes da legenda, a deputada Alice Weidel.

Após a divulgação dos primeiros números neste domingo, Weidel celebrou o resultado. "Somos o único partido a dobrar em relação à última eleição - o dobro!", disse Weidel a apoiadores na sede do partido em Berlim.

"Resta ver o que acontecerá nas próximas semanas", acrescentou Weidel, referindo-se às negociações que devem ocorrer agora para formar um governo de coalizão. Em seguida, ela dirigiu palavras ao conservador Friedrich Merz, o político mais cacifado para se tornar o próximo chanceler federal.

"Se a CDU cometer fraude eleitoral contra a AfD, copiando nosso programa e depois entrando em uma coalizão com a esquerda, haverá novas eleições mais rápido do que se pode imaginar. Nós ultrapassaremos a CDU e esse é o nosso objetivo", disse Weidel.

<><> Crescimento, mas ainda sem poder

No entanto, esse aumento expressivo entre o eleitorado não deve se traduzir necessariamente em poder para a AfD, já que todos os partidos tradicionais já avisaram que não pretendem se aliar com a sigla para formar um novo governo.

A principal esperança da AfD é que os conservadores da CDU rompam o "cordão sanitário" político imposto por outros partidos e convidem os ultradireitistas para formar uma coalizão, o que dispensaria arranjos com os social-democratas e/ou verdes. Como a CDU não conseguiu sozinha reunir mais de 50% dos votos, os conservadores terão que procurar parceiros para formar uma coalizão estável e garantir uma maioria entre os 630 deputados do Bundestag.

No entanto, o conservador Merz afirmou diversas vezes que não pretende negociar com a AfD, especialmente após a má repercussão de uma moção parlamentar promovida pela CDU ter sido aprovada em janeiro com votos dos ultradireitistas.

Esse cenário de crescimento, mas ainda distante do poder já é constante para a AfD em eleições estaduais, nas quais o partido não conseguiu integrar governos locais mesmo quando foi o mais votado. Isso foi particularmente observado no pleito estadual da Turíngia em 2024, quando o partido terminou em primeiro lugar, mas viu rivais menores se unirem para formar o governo local.

<><> Trajetória

Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, a legenda é rotineiramente acusada de abrigar neonazistas. 

A legenda ainda tem vários diretórios estaduais classificados como "extremistas de direita" por serviços de inteligência, que monitoram de perto as atividades de seus membros.

Apesar disso, o partido tem registrado crescimento na última década. A legenda conseguiu formar sua primeira bancada federal em 2017. Em 2021, chegou a sofrer um leve declínio, mas retomou sua trajetória ascendente neste domingo.

A AfD é especialmente forte no Leste. Em uma tripla eleição estadual na região em 2024, a legenda chegou a terminar em primeiro lugar na Turíngia e em segundo na Saxônia e Brandemburgo – nesta última chegou a conquistar a maior fatia de eleitores entre 16 a 24 anos.

Já nesta eleição federal, redobrando seu discurso anti-imigração, especialmente após uma série de ataques cometidos por homens de origem estrangeira desde novembro nas cidades de MagdeburgAschaffenburg e Munique, a AfD também recebeu endossos externos durante a campanha por parte do bilionário sul-africano Elon Musk e o vice-presidente americano J.D. Vance, o que levou rivais a acusarem interferência externa.

No ano passado, Musk foi alvo de críticas ao afirmar que "Só a AfD pode salvar a Alemanha". A fala foi imediatamente celebrada e reproduzida por líderes do partido.

Tais acusações de interferência externa são rotineiras em relação à AfD. Apenas em 2024, um deputado da legenda foi acusado de receber verbas da Rússia e um assessor do partido foi preso por suspeita de espionar para os chineses.

Na reta final da campanha, o governo da Alemanha também acusou a Rússia de aproveitar a campanha eleitoral alemã para espalhar desinformação nas redes sociais e destruir a confiança na democracia.

¨      Social-democratas amargam derrota histórica

A impopularidade recorde do chanceler federal Olaf Scholz se traduziu nas urnas neste domingo (23/02) de eleições antecipadas na Alemanha, que decidiram a nova formação do Parlamento (Bundestag).

Segundo as primeiras projeções, a legenda de Scholz, o Partido Social-Democrata (SPD, na sigla em alemão), deve obter apenas 16,4% dos votos no pleito, terminando em terceiro lugar na disputa. Em comparação com a eleição de 2021, quando os social-democratas venceram, quase dez pontos percentuais a menos.

No final, o partido acabou sendo superado pelos seus tradicionais rivais conservadores da União Democrata Cristã (CDU) e pelos ultradireitistas da Alternativa para a Alemanha (AfD).

Com o resultado, Scholz deverá ceder o posto de chanceler federal para o conservador Friedrich Merz, mas o processo pode se arrastar, já que a CDU não ganhou por maioria absoluta e terá que negociar a formação de uma coalizão com outros partidos para garantir um governo estável. Até lá, Scholz deve permanecer interinamente no cargo.

Após a divulgação dos primeiros resultados, o secretário-geral do SPD parabenizou CDU, admitindo uma "derrota histórica" para seu partido. "Esta é uma derrota histórica, uma noite realmente amarga", disse Matthias Miersch à emissora pública ARD. Já Scholz falou de um "resultado eleitoral amargo".

<><> Derrota não vista desde o século 19 

Numa comparação mais ampla, o resultado marca um desastre histórico para o SPD, que foi fundado em 1875. A porcentagem magra só fica acima das votações obtidas nos primeiros anos da legenda, entre os anos 1870 e 1880, durante o antigo Império Alemão, quando o direito ao voto era restrito a homens com mais de 25 anos.

A última vez que o partido havia ficado abaixo da marca dos 20% ocorreu no pleito de 1933, quando os nazistas já estavam no poder e a campanha acabou sendo marcada por intimidação do eleitorado e violência política. Nas décadas seguintes ao pós-guerra, o pior resultado até este domingo havia ocorrido em 2017, quando a legenda obteve 24,6% dos votos.

Com o resultado deste domingo, os social-democratas caíram para a terceira posição entre as bancadas no Parlamento. Novamente um feito histórico: a última vez que a legenda não ocupou o primeiro ou segundo lugares ocorreu em 1887.

Com dias aparentemente contados como chanceler, Scholz também se tornará o líder de governo menos longevo desde a reunificação, em 1990. Com apenas pouco mais de três anos no cargo, Scholz ainda deve se tornar político social-democrata com o mandato mais breve como chanceler no pós-guerra – abaixo dos quatro anos e meio de Willy Brandt, os oito de Helmut Schmidt e os sete de Gerhard Schröder.

<><> A breve era Scholz

Sob a liderança de Scholz, o SPD chegou ao poder em dezembro de 2021, na esteira de 16 anos de governo da ex-chanceler conservadora Angela Merkel, da CDU.

Na eleição parlamentar daquele ano nenhum partido havia conquistado isoladamente maioria no Parlamento. Scholz acabou então costurando uma inédita – pelo menos desde a reunificação, em 1990 – e complicada coalizão tripartidária para governar a Alemanha, formada pelo seu SPD, os Verdes e o Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão).

Apesar de a aliança assegurar maioria no Bundestag, o governo sempre se viu em dificuldades nesses três anos.

Além de crises, como a pandemia e a eclosão da guerra na Ucrânia, a inflação e o persistente declínio econômico, a própria coalizão sofreu com disputas internas.

Não foi raro que social-democratas, verdes e liberais não chegassem a acordos, tanto para tapar buracos no Orçamento quanto para elaborar políticas públicas cruciais para revigorar a combalida economia alemã, que sofreu uma retração de 0,2% em 2024 e que deve permanecer estagnada em 2025.

O governo Scholz também sofreu com persistente impopularidade. Em novembro de 2024, tinha apenas 14% de aprovação.

No início de novembro, a coalizão finalmente se desintegrou.

O gatilho para o colapso da coalizão partiu dos liberais, parceiros menores da coalizão. Na ocasião, Scholz e o líder dos liberais, Christian Lindner, que ocupava o cargo de ministro das Finanças, trocaram acusações em público.

Num pronunciamento televisivo, Scholz disse que Lindner havia quebrado sua confiança e o acusou de só pensar em sua sobrevivência política. O rompimento efetivamente selou o fim da tríplice aliança partidária apelidada de "semáforo", em referência às cores dos partidos que a integravam.

Dessa forma, o governo Scholz, agora reduzido ao SPD e aos Verdes, perdeu o apoio dos 90 deputados do FDP, tornando-se incapaz de assegurar uma maioria. Só restou a Scholz abrir caminho para a convocação de novas eleições – inicialmente, o pleito estava marcado para setembro.

Apesar da impopularidade do governo, o SPD optou por manter Scholz como candidato à reeleição, afastando uma substituição ao estilo "Kamala Harris no lugar de Joe Biden" que chegou a ser promovida por alguns membros do partido.

Apostando que a CDU poderia perder terreno ao longo da campanha como havia ocorrido em 2021, Scholz liderou o SPD neste pleito com o slogan "Com segurança, mais crescimento" e variações. No entanto, como ficou claro neste domingo, a estratégia não funcionou.

 

Fonte: DW Brasil/g1

 

 

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