Evitar picos de glicose ajuda a
emagrecer? Entenda
Quando comemos doce ou alguns tipos de carboidratos,
nosso corpo sofre o aumento dos níveis de glicose, ou seja, açúcar no sangue.
Esse fenômeno, chamado tecnicamente de “hiperglicemia pós-prandial”, é natural,
mas em pessoas com diabetes pode acontecer com maior intensidade e, nessas
circunstâncias, esse pico de glicose deve ser evitado.
Recentemente, uma série de vídeos tem se popularizado
na internet mostrando como evitar o pico de glicose visando o emagrecimento.
São conteúdos com dicas práticas de alimentação para que a glicemia não fique
alta após as refeições ou depois de comer um doce. Mas essa prática faz sentido?
Para responder a essa pergunta, é preciso entender,
primeiro, o que acontece com o corpo quando os picos de glicose acontecem.
“Os picos de glicose são os aumentos rápidos e
excessivos, acima do padrão, dos níveis de açúcar no sangue após a ingestão de
alimentos ricos em carboidrato”, explica Matheus Azevedo, médico especialista
em Nutrologia. “O corpo responde a isso liberando grandes quantidades de
insulina para normalizar essa glicose na corrente sanguínea, o que pode levar a
um efeito rebote, causando uma hipoglicemia reativa e o aumento da fome”,
completa.
Quando a insulina é liberada para reduzir o pico de
glicose, alguns sintomas podem surgir, principalmente se a hipoglicemia for
mais intensa. É o caso da fome excessiva, cansaço, tontura, dor de cabeça, alteração do
humor e redução da concentração.
A longo prazo, os impactos negativos de picos de
glicose frequentes e excessivos são diversos. “Primeiro de tudo, ocorre a
resistência insulínica. O corpo passa a produzir mais insulina para controlar
essa glicose em excesso na corrente sanguínea, aumentando o risco de diabetes tipo 2, além da obesidade e do
sobrepeso”, afirma Azevedo.
É nesse cenário que entra o emagrecimento. De acordo
com o especialista, o aumento da insulina dificulta o processo de perda de
peso, além de favorecer o acúmulo de gordura visceral (aquela que se acumula na
região abdominal).
“Evitar o pico de glicemia favorece o emagrecimento,
porque mantêm a insulina mais baixa, facilitando a queima de gordura, reduzindo
a fome e o desejo por doce e, consequentemente, evitando compulsões, melhora o
metabolismo e favorece a utilização da gordura como fonte de energia. Tudo isso
leva ao emagrecimento e evita o acúmulo de gordura visceral, que é a mais
danosa para a nossa saúde e está diretamente relacionada à resistência
insulínica”, explica Azevedo.
Porém, para além do emagrecimento, evitar picos de
glicose também é importante para a saúde cardiovascular e para evitar outras
complicações, principalmente em pessoas com diabetes.
“Quando a pessoa tem diabetes, principalmente não
controlada, esses picos de glicose levam a um quadro que chamamos de
variabilidade glicêmica. Isso significa que a glicemia fica variando ao longo
do tempo, trazendo consequências cardiovasculares a longo prazo”, afirma Ruy
Lyra, médico endocrinologista e coordenador do Departamento de Diabetes da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
“Essas oscilações glicêmicas ao longo prazo também
podem contribuir para as complicações microvasculares, como retinopatia
diabética, nefropatia diabética, neuropatia diabética, as doenças cardio e
cerebrovasculares”, completa.
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Quais
alimentos podem gerar picos de glicose?
Os alimentos que geram picos de glicose são os
carboidratos, especialmente aqueles de rápida absorção. É o caso do açúcar, do
pão, milho e derivados de trigo. Bebidas açucaradas, como refrigerantes e sucos
industrializados, também levam ao pico de glicose, além de alimentos
ultraprocessados.
Além disso, alguns hábitos alimentares também podem
favorecer o aumento da glicose no sangue. “Comer uma grande quantidade de
carboidrato sem combinar com proteína, fibra ou gordura, por exemplo. Ou fazer
refeições ricas em açúcar logo pela manhã, como cereais, doces, achocolatados…
Tudo isso aumenta drasticamente a glicose”, elenca Azevedo.
Em algumas situações específicas, o consumo de
alimentos com alto índice glicêmico — ou seja, que são absorvidos rapidamente e
levam a esse pico de glicose — pode ser favorável, quando feito com
acompanhamento nutricional ou endócrino. É o caso da alimentação pré-treino.
“Essa é uma situação particular em que alguns
carboidratos podem e devem ser utilizados, principalmente por atletas de alta
performance ou por praticantes não profissionais, dependendo da carga de
atividade física. Mas isso deve ser feito sempre sobre orientação médica ou de
nutricionista”, ressalta Lyra.
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Como
evitar picos de glicose?
Para evitar picos de glicose, os especialistas listam
algumas dicas importantes:
- Faça refeições completas, combinando
carboidratos com proteínas, fibras e gorduras boas. Exemplos: pão integral
com ovo e abacate e arroz integral com frango e vegetais;
- Evitar açúcar refinado e alimentos
ultraprocessados;
- Prefira carboidratos de baixo índice
glicêmico, como batata-doce, quinoa, leguminosas, massas integrais;
- Priorizar alimentos ricos em fibras,
como vegetais, sementes e castanhas.
Além disso, em pessoas que possuem diabetes, o uso de
medicamentos é essencial para minimizar o pico de glicose.
“Se por um lado, os indivíduos devem evitar
carboidratos de fácil absorção, por outro, a utilização de medicamentos que
possam minimizar os picos de glicose. Então, é a junção de uma alimentação
adequada com o uso de medicamentos que minimizam esse risco”, finaliza Lyra.
Fonte: CNN Brasil
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