segunda-feira, 4 de abril de 2016

“#panamaleaks: É preciso vazar o vazamento!”, por Miguel do Rosário

Estava na praia, trabalhando ao celular (vantagens de ser blogueiro), quando vejo notícias sobre os "Panamá Papers", chamado de "o maior vazamento da história".
Os arquivos da Mossack Fonseca, a maior parideira de offshores do mundo, foram vazados.
Minha empolgação, porém, não durou muito.
Os vazamentos estão em mãos de um jornal alemão e do ICIJ - The International Consortium of Investigative Journalists...
O ICIJ é uma organização que, ao que tudo indica, é controlada por interesses ligados ao governo americano.
Aparentemente, o status quo global arrumou uma maneira de lidar com os vazamentos a la Wikileaks e Snowden. Agora eles mesmo o fazem, mas de maneira controlada e seletiva, cumprindo uma série de interesses geopolíticos.
Pode ser um pouco de paranoia, mas eu estou convicto que entramos em tempos de tanta guerra de informação que a paranoia se tornou uma necessidade.
Tanto é assim que, no Brasil, apenas Fernando Rodrigues, do UOL, e o Estadão, jornalão da direita golpista, além de duas figuras da Rede TV, terão acesso aos dados do vazamento.
É um escárnio: a ICIJ tinha obrigação de incluir membros da imprensa progressista em seu rol de parceiros: alguém da Carta Capital, da Caros Amigos, um blogueiro, etc.
Se puderem, mandem email para contact@icij.org, pedindo mais pluralidade entre seus parceiros no Brasil.
Não tenho ilusões: os membros brasileiros do ICIJ só irão catar dados que possam alimentar suas narrativas golpistas.
Já começaram, aliás. O foco é o mesmo: as "empresas da Lava Jato". É ridículo. É o mesmo modus operandi dos vazamentos do HSBC, também fornecidos pelo ICIJ ao UOL: focaram apenas nas "empresas da Lava Jato".
Descobriu-se que os barões da mídia tinham contas secretas na Suíça, informação divulgada, estrategicamente, no dia seguinte a uma grande manifestação antigoverno.
Divulgaram um monte de coisa e abafaram imediatamente.
As empresas da Lava Jato se tornaram, para a imprensa brasileira, as únicas contra as quais se pode publicar denúncias, pois isso ajuda a fortalecer politicamente uma operação que se tornou a ponta-de-lança do golpe.
E a Lava Jato precisa ser constantemente fortalecida. Tem de ser endeusada pela mídia, como algo acima do bem e do mal. É a única maneira de salvá-la das denúncias inúmeras que enfrenta, de abusos, irregularidades, crimes de todo o tipo.
As "empresas da Lava Jato" são as mesmas que fizeram obras para governos tucanos, e estão envolvidas em todos os grandes escândalos, pelo simples fato de que são as principais indústrias brasileiras do setor de construção civil, o único setor que sempre se mistura, por razões óbvias, por razões inclusive democráticas, eu diria, com a política, porque são os governos que as contratam.
Elas poderiam ser chamadas também de "empresas do trensalão", por exemplo.
As empresas têm nome. Não são "empresas da Lava Jato".
Qual o sentido jornalístico em ligar os documentos da Mossack Fonseca à Lava Jato, uma operação ilegal, golpista e acusada inclusive de nascer de um grampo ilegal? Nenhum.
A imprensa não poderia fazer reportagens independentes sobre os vazamentos da Mossack Fonseca?
É incrível: tudo, absolutamente tudo, é usado em prol do golpe.
Neste momento, jornalistas do UOL e do Estadão devem estar passando um pente fino nos dados, para ver se acham qualquer coisa que possam ligar ao governo.
São 20:44 e a Globo até o momento não publicou uma palavra sobre um escândalo que está na capa de todos os jornais do mundo. A Folha tem publicado sobre o caso desde as 15 horas. O silêncio da Globo explica-se pelo fato de ainda não terem encontrado algo que possa ligar o escândalo à Dilma ou Lula.
Como não encontraram nada, não publicam nada.
Internacionalmente, a coisa vai na mesma linha: o alvo principal é Putin, presidente da Rússia, um dos inimigos principais dos Estados Unidos, não mais por razões ideológicas, mas porque a Rússia se tornou o principal exportador de petróleo e gás do mundo.
Até o momento, não aparece nenhuma empresa americana ou alemã nos Papers, o que acentua a impressão de que o "maior vazamento do mundo" está vazando de maneira bastante seletiva.
Se depender dessa turma, esse vazamento será inteiramente manipulado com objetivo de beneficiar os interesses políticos das economias centrais e de seus satélites.
A esperança, portanto, é que comecem a acontecer vazamentos do vazamento, que tirem da ICIJ o monopólio dessas informações.
A notícia supostamente boa é que o ICIJ prometeu divulgar a lista completa ainda em maio deste ano, ou seja, daqui a um mês.
Prefiro permanecer cético.
O leitor deve se lembrar que uma das etapas da Lava Jato, a Triplo X, que visava pegar o "triplex"- que não é - de Lula em Guarujá, acabou por investigar a Mossack Fonseca. Quando se descobriu que algumas das offshore investigadas pela Lava Jato, em especial a própria Mossack Fonseca, tinham ligações com a Globo, Sergio Moro mandou soltar os presos - mesmo tendo sido descoberto que eles estavam destruindo provas - e a investigação foi completamente abafada. A mídia não publicou quase nada e a Lava Jato seguiu em outra direção.
O jornalista Luis Carlos Azenha, do blog Viomundo, publicou no twitter uma imagem que eu gostaria de comentar. É um dos documentos da Lava Jato que perderam o sigilo.
Na tabela apreendida, aparentemente trata de pagamentos feitos à Mossack Fonseca por seus clientes, vemos ao final o nome da Vaincre LLC, uma offshore que tem como sócia a Agropecuária Veine.
A Veine é dona do "triplex em Paraty", aquele que a família Marinho diz que não é dela.
Mas na coluna da esquerda, intitulada Clientes. Ao lado da Vaincre aparece o nome Glem Participações, que pertence ao ex-genro de João Roberto Marinho, Alexandre Chiappetta de Azevedo, ex-marido de Paula Marinho Azevedo, filha de João Roberto Marinho.
Todas essas empresas ligadas ao triplex em Parati, ao genro de João Roberto Marinho, tem conexões na Mossack Fonseca.
A eclosão do escândalo da Mossack Fonseca, caso não haja ocultação de documentos por parte dos membros brasileiros da ICIJ, e caso eles esqueçam um pouco a obsessão de endeusar a Lava Jato e se debrucem sobre os documentos como um todo (deixando de lado essa palhaçada de "empresas da Lava Jato"), pode nos ajudar a descobrir e desbaratar grandes e antigos esquemas de corrupção e sonegação.

Desde que tudo seja feito com responsabilidade, sem espetáculo, sem abuso de poder, sem uso de tortura, sem prisões desnecessárias, sem terrorismo judicial, sem o intento de destruir as empresas nacionais e, sobretudo, sem o desejo de transformar a investigação numa ação político-partidária, os vazamentos vindos do Panamá podem nos ser úteis.

“O escândalo da reeleição de FHC”, por José Antonio Lima

Em 2007, durante uma sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso negou participação no esquema de compra de votos para permitir sua reeleição, mas não negou a existência do esquema. “Houve compra de votos? Provavelmente. Foi feita pelo governo federal? Não foi. Pelo PSDB: não foi. Por mim, muito menos”.
A compra de votos teria sido realizada por quem, então? A delação premiada do ex-presidente do PP Pedro Corrêa, que integra as investigações da Operação Lava Jato e ainda não homologada pela Justiça, pode ajudar a responder.
Na delação, parcialmente revelada pela Folha no sábado, 25, Corrêa afirma que FHC contou com suporte financeiro de grandes empresários para aprovar o projeto da reeleição. Entre os apoiadores do tucano estaria, diz Corrêa, Olavo Setubal, do banco Itaú, morto em 2008.
"Olavo Setubal dava bilhetes a parlamentares que acabavam de votar, para que se encaminhassem a um doleiro em Brasília e recebessem propinas em dólares americanos", diz documento da Procuradoria-Geral da República citando o ex-deputado, condenado no “mensalão” e também na Lava Jato. A família controladora do banco nega as acusações de forma veemente.
O caso é antigo, está provavelmente prescrito e portanto não deve ser investigado. Ainda assim, é talvez o exemplo mais bem acabado de como funcionavam as instituições sob o governo FHC.
A reeleição foi aprovada na Câmara em janeiro de 1997 e, em maio daquele ano, a Folha revelou que dois deputados, Ronivon Santiago e João Maia, ambos do PFL-AC, hoje DEM, venderam seus votos por 200 mil reais.
Nas gravações, havia provas cabais contra os dois e indícios de que dezenas de parlamentares teriam vendido seus votos. Entre os relatos, alguns de que a propina chegava em dinheiro vivo, o que pode ir ao encontro da versão de Pedro Corrêa sobre os pagamentos feitos por doleiros.
Ao contrário do que ocorre hoje em dia, aquele caso foi abafado por todas as instâncias que poderiam investiga-lo.
No Congresso, uma CPI pedida pela oposição foi barrada graças à atuação do PMDB. Enquanto Ronivon Santiago e João Maia renunciavam com ofícios exatamente iguais, entregues ao então presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB), dois peemedebistas, Eliseu Padilha e Íris Rezende, assumiram ministérios no governo FHC apenas nove dias após o escândalo revelado.
A Procuradoria-Geral da República, então comandada por Geraldo Brindeiro, apelidado de “engavetador-geral da União” e que esteve no cargo nos oito anos de mandato tucano, arquivou as representações.
Assim como a PGR, a Polícia Federal da era FHC não assustava ninguém, ao menos os políticos governistas. O caso foi investigado apenas em 2001, e teve entre os intimados Fernando Rodrigues, jornalista responsável pela reportagem. Não deu em nada.
Se hoje a PF se manifesta com dureza contra possíveis ingerências em seu trabalho, nos anos 1990 a instituição não tinha força alguma. Tanto é que FHC manteve como diretor-geral da PF um delegado filiado ao PSDB.
Agílio Monteiro Filho, indicado pelo então deputado Pimenta da Veiga, hoje réu no “mensalão tucano”, foi nomeado em 1999, quando Renan Calheiros (PMDB) ainda era o ministro da Justiça, e deixou o cargo em 2002, para disputar uma vaga na Câmara pelo PSDB, ao qual estava filiado desde 2001.
A imprensa, que cobriu e cobre de forma extensa outras tentativas de perpetuação no poder, mesmo envolvendo voto popular, como as de Evo Morales (Bolívia) e Hugo Chávez (Venezuela), e estrilou com a possibilidade de Lula buscar um terceiro mandato em 2010, tampouco foi a fundo no caso da compra de votos.
“[A história] nunca foi bem acompanhada pela mídia em geral”, lembrou Fernando Rodrigues em entrevista ao documentário Mercado de Notícias, de Jorge Furtado.

Em 4 de junho de 1997 a emenda da reeleição foi aprovada pelo Senado. Em 1998, FHC foi reeleito.

“'Folha' admite que o golpe é inviável”, por Jeferson Miola

Em editorial publicado na versão online deste sábado, 2 de março, a Folha de São Paulo admite que o golpe é inviável. Como disse o Chico Buarque na manifestação na Cinelândia no dia 31, eles não conseguirão como conseguiram em 1954 e 1964; “de novo não”.
O Grupo Folha “... passa a se incluir entre os que preferem a renúncia à deposição constitucional”. A Folha entende que “embora existam motivos para o impedimento, até porque a legislação estabelece farta gama de opções, nenhum deles é irrefutável [sic].
O jornal também sustenta que “pedaladas fiscais são razão questionável”, um mero pretexto golpista para interromper o mandato presidencial de uma Presidente eleita por 54.501.188 brasileiras/os para governar o país até 31 de dezembro de 2018.
O jornal admite que “o impeachment tenderá a deixar um rastro de ressentimento” e, é bom alertar, um cenário de instabilidade, incertezas, violência e de divisão da sociedade brasileira.
A Folha presta um serviço à democracia reconhecendo que nenhum dos motivos que Cunha, Temer, Aécio, Serra e outros sócios golpistas inventaram para tentar derrubar Dilma “é irrefutável”. A Folha é, assim, o primeiro conglomerado da mídia golpista a reconhecer o que as multidões nas ruas indicam: a execução do impeachment sem crime de responsabilidade, que é o equivalente a golpe, é uma loucura que vai incendiar o país.
O esperneio é livre. Na democracia, a Folha tem o direito [antipático e inócuo] de sugerir que a Presidente Dilma renuncie, mesmo que faça só depois de constatar que a canoa golpista do impeachment na qual compartilha o controle do leme com Cunha, Temer, Aécio, Serra, Globo, Estadão, Veja, IstoÉ, Época, Gilmar, Moro etc, joga o Brasil no abismo.
Na mesma democracia, a Folha tem a obrigação de aceitar a decisão legítima da Presidente eleita por 54.501.118 brasileiras/os de não renunciar. A Dilma já disse que não renuncia e que, com a avalanche democrática e popular que toma o país, vai resistir para impedir um golpe que assume cada vez mais características fascistas.
Passou da hora de a Folha e os sócios da empreitada golpista cessar a violência política para desestabilizar e incendiar o país.

Respeitem a democracia!

“Sugestões para as novas fases da Lava-Jato”, por Bepe Damasco

Depois de ser desautorizado pelo STF, com a derrota acachapante de 8 x 2, perdendo definitivamente a cereja de seu bolo, que era o controle do processo contra Lula, Moro e os procuradores do Paraná resolveram se vingar ressuscitando o caso Celso Daniel, ocorrido há 14 anos. De quebra, ofereceram mais munição golpista para a mídia.
Para quem não lembra, tanto o inquérito preparado pela Polícia Civil tucana de São Paulo como o Tribunal de Justiça paulista que julgou o assassinato do então prefeito de Santo André descartaram quaisquer conotações políticas no crime.
Contudo, como Moro está longe de se comportar como um juiz de fato, não surpreende mais esse arranjo para incriminar o PT. Não importa que o crime tenha acontecido em São Paulo, e não no Paraná. Não importa a decisão do Judiciário paulista. Afinal, para esse militante togado do PSDB, vale tudo para manter o PT sob fogo cerrado.
Ainda mais agora que a palavra golpe empolga multidões. Ainda mais agora que a sociedade diz em alto e bom som nas ruas que não aceitará a ruptura do regime democrático. Ainda mais agora que o movimento de resistência logrou reunir artistas, juristas, professores, intelectuais, estudantes, escritores, cineastas, músicos, trabalhadores, mulheres, negros, quilombolas, índios, homossexuais, jovens, gente de meia idade e coroas.
Se fosse um autêntico magistrado, e não tivesse uma visão de justiça turvada por colorações políticas e partidárias, o juiz de primeira instância poderia olhar com atenção as modestas sugestões que faço para as novas fases da Lava Jato que certamente virão. Já que ele não hesita em recuar no tempo em suas investigações, aí vão elas :
1) Compra de votos para a reeleição de FHC.
2) Utilização da empresa Brasif, por parte de FHC, para mandar dinheiro para Míriam Dutra no exterior.
3) Toda a privataria tucana, responsável pela liquidação a preço de banana de 100 bilhões de dólares do patrimônio público e que proporcionou o enriquecimento de vários tucanos de alta plumagem.
4) O propinoduto de Furnas, em cuja constelação brilha a estrela de Aécio Neves.
5) O trensalão tucano em São Paulo.
6) A morte suspeita de uma modelo de Minas Gerais, supostamente envolvida com operadores do mensalão mineiro.
7) Como tudo vai parar na Guantánamo de Curitiba, que tal requisitar também as investigações da roubalheira da merenda das crianças de São Paulo.
8) A morte em circunstâncias estranhas do policial mineiro que não se cansava de denunciar patranhas cometidas por Aécio Neves.
9) O aeroporto da cidade de Cláudio, construído com dinheiro público por Aécio para servir a sua família.
10) O escabroso episódio do helicóptero carregado de cocaína, cujo proprietário é um notório aliado de Aécio.

11) A lista da Odebrecht, rapidamente engavetada porque complicava a vida de um grande número de luminares da oposição brasileira.