quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Artigo: “O que levou a queda de Marina”. Por Francklin Sá


Elevada ao topo da candidatura com a morte de Eduardo Campos, Marina Silva agitou a campanha política pela primeira vez, transformando a calmaria que reinava no mar da campanha eleitoral, diante da ameaça de uma possível derrota do PT, partido que não admite largar a boquinha, já que segundo seus seguidores, o Brasil só foi descoberto a partir de sua ascensão ao Poder.
Antes do PT nada existia, apenas os nativos e nada mais justo que eles que descobriram e construíram tudo que aí se encontra, também sejam eles e apenas eles que devam ter o direito de usufruir.
E foi esta possível ameaça que bagunçou o ambiente, principalmente a partir do momento que as pesquisas passaram a identificar uma ‘forte onda’ que levavam as pessoas a desaguarem suas esperanças e seus sonhos na candidata do PSB, cansados que se encontravam e se encontram, com tantos desmandos e tamanha corrupção e em sua grande maioria envolvendo e ou patrocinada por membros de alta patente dos partidos politicos aliados ao governo Dilma, tendo sempre como partícipe alguém ligado ao PT.
A partir da entrada de Marina no jogo, começou a ser ensaiada a “onda anti-PT”, que ainda é vista em alguns lugares, levada pela desesperança que hoje se abate na população resultante de tantos mal – feitos, como diz a presidente em relação a roubalheira que se instalou no centro do Poder, sem que qualquer atitude dura, rigorosa e punitiva sejam tomadas ou vistas, principalmente, ao saber que a maioria dos envolvidos sempre estiveram sob suspeitas quanto a conduta e o zelo do patrimônio e dos bens públicos e que mesmo assim, jamais estiveram no centro de qualquer faxina ética, ética esta, que o PT ao chegar ao Poder fez e faz questão de jogar no lixo. 
Marina Silva se transformou por um momento, no desaguadouro desses sonhos que, infelizmente, ela e sua equipe não souberam capitalizar, diante dos vacilos e dos constantes recuos das suas afirmativas políticas.
Esperava a população que Marina Silva trouxesse o novo, como pregava Eduardo Campos, que mostrasse firmeza nas tomadas de decisões e que não demonstrasse vacilos nas questões decisivas que a sociedade exigia, que não confudisse ideologia política com ideologia religiosa, até porque vivemos em um País em que a sua Carta Magna afirma ser “laico”.
Infelizmente, antes mesmo que a sua preferência estivesse consolidada junto à população, Marina Silva começou a deixar de ser o sonho esperado e, passou a mostrar para a sociedade uma outra Marina desconhecida ainda pelo eleitor.
Independente das críticas apresentadas pelos seus opositores, da qual ela por ser ex-militante petista tão bem conhecia e deveria está preparada e vacinada, porém, não se esperava tantos vacilos como os apresentados, os quais com certeza fizeram muitos eleitores reavaliarem suas posições e começarem a rever seus conceitos, principalmente a partir do momento que ficou claro ser a sua  candidatura a preferida do sistema financeiro – diante da sua declarada aliança com Neca Setúbal -; dos especuladores internacionais e dos fundamentalistas religiosos – a partir do momento em cedeu a menor pressão recebida do que há de mais execrável no movimento religioso, Silas Malafaia, símbolo maior da homofobia deste país, ao retirar os trechos do programa que o incomodavam e aos fundamentalistas que o seguem -, Marina Silva começou a perder o apoio da juventude e da classe média formadora de opiniões na velocidade da queda de um jato, como se observa pelas últimas pesquisas.
Ao se aliar a políticos cujo passado nada os recomendam, como por exemplo a família Bornhausen, que fizeram toda caminhada política  apoiada pela ditadura militar, homens ligados à linha dura da bancada ruralista, que sempre defenderam  e andaram na contramão daquilo que outrora defendeu Marina Silva, e cuja  trajetória política, como a dos Bornhausens,  marcada pela guerra ao ambientalismo, levaram ao eleitor dá uma parada e repensar sobre o possível apoio e a questionar sobre essas novas alianças e a se perguntar, em que os Bornhausens e Silas Malafaia por exemplo, são melhores que os Sarney, os Renan e os Maluf?
Aliado a esta dúvida, veio acoplada a ela o perigo do fundamentalismo religioso, que já é um perigo hoje, na forna como está sendo difundido por alguns lideres que se passam por religiosos, como o já citado e outros menos voltados, difundindo a intransigência, a homofobia em nome de um líder maior que viveu em uma época muito diferente da atual e que se hoje estivesse entre nós, seria o primeiro a fazer como o fez quando nasceu, a expulsar os vendilhões dos templos, os quais transformaram hoje, onde tudo é feito em nome do dinheiro e do enriquecimento pessoal, imaginem como não se sentirão tendo uma presidente que os apoiam.
Portanto, foram e tem sido os vacilos das suas afirmativas, aliados as alianças nada recomendáveis que fizeram o eleitor a retroceder e a começar a pensar entre o PÉSSIMO (ou rouba mais faz), o RUIM ( rouba e não faz - seria Aécio)e o DUVIDOSO (Marina) mais como o apoio do segmento sanguessuga – os banqueiros – e do fundamentalismo religioso, o eleitor começou a refluir a “onda” e começou a pensar em sua segurança e retornar seu voto para aquele que se apresenta menos perigoso e que poderá pelo menos trazer mais segurança nas relações interpessoais e dos Direitos Humanos, apesar de saberem que as promessas de hoje são as mesmas de 04 anos atrás e com certeza serão as mesmas daqui a 04 anos.


domingo, 14 de setembro de 2014

Artigo: “Por um Banco Central Republicano”


As ideias que se seguem são motivadas pela perplexidade frente ao ataque agressivo, na forma e no conteúdo, desferido contra o Banco Central do Brasil. Por sua história e pela seriedade de sua missão, essa instituição do estado brasileiro jamais poderia ter sua administração adjetivada levianamente como temerária (uma conduta tipificada no código penal brasileiro). Tais ataques não têm legitimidade política para sancionar a terceirização da gestão econômica do Brasil e muito menos encontram amparo técnico que as qualifique; são apenas expressão do apego a concepções anacrônicas, elaboradas quando o Brasil ainda engatinhava em termos de estabilidade monetária.
Desde a virada do século, economistas e dirigentes de bancos centrais em todo o mundo têm debatido o poder conferido às autoridades monetárias e sua missão. Esse debate se acentuou com o complexo quadro econômico mundial pós-crise. E são muitas as manifestações nesse sentido.
Em março deste ano, o Presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney admitiu que a busca exclusiva da estabilidade de preços, típica de um Banco Central Independente, "...tornou-se uma distração perigosa para a economia". Na mesma linha, Christine Lagarde, diretora-chefe do FMI, afirmou ter chegado a hora de se ajustar o controle dos governos sobre os Bancos Centrais; eles não podem ficar presos só ao objetivo da estabilidade de preços. E ela acrescenta que, como a crise ensinou, "a estabilidade de preços não necessariamente leva à estabilidade macroeconômica". Ademais, as evidências revelam: os países que não tem meta de inflação ou banco central independente se saíram tão bem ou foram melhores que aqueles adeptos desse arcabouço na condução da política econômica.
Malcom Sawer (Universidade de Leeds) e Philip Arestis (Universidade de Cambridge) afirmam que, "já passa da hora da política de meta de inflação operada por um banco central independente ser abandonada". Se o período da "Grande Moderação" (fim dos anos 80 até a crise de 2008/9), tal como batizado por Ben Bernanke, deu margem para que uma geração de economistas acreditasse em seu sucesso, reconhece-se agora que naquele período, o crescimento do emprego e a estabilidade de preços não se deveram à política monetária, mas sim a uma mera coincidência.
Com a crise, o véu caiu. Os empregos e os salários ganharam relevância no foco da política monetária. A propósito, os presidentes dos bancos centrais das principais economias, reunidos em Jackson Hole (agosto último), concluíram ser indispensável perseguir o controle da inflação e o estimulo a empregos e salários. Referência que, desde meados dos anos 90, deixou aos poucos de ser considerada uma heresia, que os sabujos daqui insistem em preservar.
Agora, às vésperas das eleições presidenciais, os especialistas econômicos de Marina e Aécio, laureados por nossa mídia, continuam professando a tese do Banco Central Independente. Está subentendido nessa postura que ao Banco Central cabe apenas e tão somente ser o guardião da moeda. Por isso, sentem-se escandalizados quando entram em contato com a idéia de que o Banco Central deveria se preocupar também com empregos e com o equilíbrio macroeconômico como um todo. Reagindo ao que chamam de heresia, batem no peito para dizer que o emprego e o crescimento não dependem das forças monetárias.
Esta "modernidade" dos críticos ao Banco Central do Brasil está, pelo menos, vinte anos atrasada. Hoje em dia, nas economias centrais e emergentes, o consenso que se persegue é outro. A gestão monetária é uma peça essencial na determinação do emprego, do investimento e do crescimento, influenciando a "economia real". O grande desafio é como coordenar a política monetária e a política fiscal para garantir o pleno-emprego e a estabilidade macroeconômica, o que vai muito além da estabilidade inflacionária.
Mas o anacronismo não é o único problema dos defensores do Banco Central Independente. Há, por detrás dessa tese, a ideia autoritária de que as decisões econômicas devem ser independentes do mundo político. Para eles, o Banco Central, tal como um think tank, deveria ser gerido pelos melhores e pairar acima do Estado. Ou seja, ser administrado sem se integrar à formulação da política econômica. Pretendem apenas a coordenação das expectativas manipuladas no espaço estrito do mercado financeiro, "locus" preferencial da seleção dos melhores.
A ideia de que as decisões de política monetária possam ser, em todo ou em parte, terceirizadas para um "board" de experts em um Banco Central Independente, é, na verdade, uma agressão aos princípios da democracia representativa, assim como o é a proposta de um "board" de especialistas para dar a última palavra na política fiscal (tal como se encontra em um dos programas). É esse desejo de submeter a política econômica de uma nação ao controle de "experts" que move ataques tão agressivos e insistentes.
A tese do Banco Central Independente não pode ser apresentada com a leviandade de uma fórmula mágica e salvadora. Precisamos, sim, de um Banco Central republicano; uma instituição de estado com profissionais com capacidade reconhecida, para executar a política monetária, inserida no bojo da política econômica como um todo.
Enfim, parafraseando John C. Williams, presidente do Federal Reserve Bank de São Francisco, a liturgia tão valorizada por aqui é fruto de uma falha em olhar o mundo e da incapacidade de ouvir. Não serão da virulência e da descompostura típicas da pregação do controle particular da política monetária que virão as boas propostas para o desenvolvimento do Brasil.

 

 

Autor: Guilherme Lacerda: Doutor em Economia pela Unicamp, diretor do BNDES e ex-presidente do Funcef, fundo de pensão da Caixa. Com coautoria de Antonio José Alves Jr., doutor em Economia pela UFRJ, assessor do presidente do BNDES e professor da UFRRJ



Artigo: “Fazendo de conta que nada acontece”


Embora os programas de candidatos à Presidência da República tenham sido enviados obrigatoriamente ao Tribunal Superior Eleitoral e ali haja referências a problemas urbanos, principalmente ao déficit habitacional de 6 milhões de moradias no País (Estado, 11/7), é rarefeita e escassa a visão das grandes questões das cidades, como se o drama se limitasse à "mobilidade urbana", que foi o centro dos protestos há alguns meses.
Onde está, por exemplo, a discussão sobre a expansão urbana, que já levou a população nas cidades a 85% do total e à previsão de que em poucos anos São Paulo e Rio de Janeiro poderão formar uma megalópole de mais de 40 milhões de pessoas, mais que a população do Canadá (previsão já comentada neste espaço)? Em 1960 tínhamos apenas 45% de urbanoides e 55% das pessoas no campo. Sem políticas adequadas, chegamos aonde estamos e poderemos ter uma concentração ainda maior - embora possa haver políticas adequadas como em cidades dos Estados Unidos (Portland, por exemplo, que contém a expansão horizontal) ou do Canadá (Guelph, que refreia a expansão vertical), como já se mencionou aqui (11/7). O Brasil já tem a quarta maior população urbana do mundo - lembrou o ex-ministro Pedro Malan(Estado, 9/3). "Nosso futuro", escreveu Malan, "depende de mais clareza nessa discussão e sobre a prioridade no uso de recursos escassos. Há prioridades que estimulam maior crescimento, outras que o inibem."
Que se deve pensar, então, quando o próprio Conselho Municipal do Patrimônio Histórico está deixando de lado regras que dificultavam a construção de prédios, início de obras ou reforma, sem licença, vizinhas de bens tombados (1.º/9) em São Paulo? Segundo as notícias, oito regiões de capital paulista que estavam "congeladas" por uma lei de 1992 já podem receber empreendimentos sem autorização prévia dos órgãos estaduais e municipais de proteção do patrimônio histórico - como, por exemplo, a Praça da República ou corredores do Colégio Sion, em Higienópolis. Estará enganado o Ministério Público quando leva a Justiça a barrar um megaempreendimento às margens do Rio Pinheiros, com residências, escritórios, hotel e shopping, exatamente por causa de seus futuros impactos "ambientais" e urbanos em geral?
Tudo leva a pensar nos rumos que vamos tomando no País quando se lê, por exemplo, que Bombinhas, no litoral catarinense, aprova projeto de lei que autoriza cobrar uma "taxa de proteção ambiental" de R$ 20,53 por automóvel do milhão de visitantes que recebe a cada ano, 60 visitantes para cada um de seus 16,9 moradores permanentes (UOL, 9/9). Que pode acontecer na cidade?
Nas cidades maiores, não bastasse a ampliação populacional, a preferência agora é (Estado, 27/7) por apartamentos - 210 mil pessoas saíram de casas em São Paulo para edifícios residenciais, em cinco anos; e já são 37% do total de habitantes, que alegam como razão principal para isso a "segurança". Mas onde está essa discussão entre segurança e formatos de viver? Onde a reflexão sobre os custos gerados na cidade ao serem despejadas por veículos nas cidades 71,6 milhões de toneladas anuais de dióxido de carbono - dez vezes mais que há uma década (Estado, 1.º/9)?
E tudo se faz em meio às notícias de que a Justiça paulistana vai julgar ação popular que obriga a Prefeitura, a Eletropaulo e a Telefônica a cumprirem lei de 2005 que obriga empresas públicas e concessionárias a aterrar fios e cabos que hoje estão expostos. Em 2010 a Prefeitura paulistana dizia que sua rede subterrânea tinha 47,8 mil quilômetros das redes debaixo do solo e que o total era de 115 mil quilômetros (Estado, 24/8). As empresas dizem, agora, que cumprir a lei exigiria muitos bilhões de reais e os custos teriam de recair sobre os usuários, a não ser que houvesse isenção total de impostos (e nesse caso se transferiria o ônus para o poder público e para os cidadãos). Na gestão Kassab a estimativa do investimento necessário era de R$ 100 bilhões ("para acabar com as redes aéreas", 1.º/9); na gestão Haddad é de R$ 15 bilhões. Uma lei municipal estabelece a obrigação de sepultar 250 quilômetros anuais de fios e cabos - o que exigiria muitas décadas.
E o capítulo da drenagem, onde fica ele neste vácuo de discussões eleitorais sobre dramas urbanos? A Prefeitura de São Paulo promete aumentar em 53% a capacidade de armazenamento de água, com investimentos em barragens - hoje são retidos 4,7 milhões de metros cúbicos e se afirma ser necessário chegar a 7,2 milhões, com obras de canalização de córregos e piscinões, ao custo de R$ 4,7 bilhões, dos quais R$ 2,95 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que nos remetem mais uma vez para o plano federal (Estado, 28/8), onde nada disso se discute.
Em meio à "crise da água", também não se vê na campanha eleitoral foco nas perdas do que sai das estações de tratamento (e já teve alto custo em reservatórios, adutoras, estações de tratamento e redes de distribuição) e se esvai pelo caminho até as residências, com furos e vazamentos. São quase 40% do total da água tratada no País, inacreditáveis 73,92% perdidos em Macapá, 70,66% em Porto Velho, 62, 03% no Recife, 65,31% em Cuiabá (Estado, 6/9). Mesmo a cidade de São Paulo ainda perde cerca de 30%.
E enquanto não se discutem essas questões fundamentais na vida dos cidadãos, debate-se à exaustão quanto cresceu ou vai crescer o produto interno bruto (PIB), um conceito que - segundo André Lara Resende, um dos autores doPlano Real - já "não faz sentido, sobretudo o papel que lhe foi atribuído na segunda metade do século 20: o de aferidor de desempenho e qualidade de vida".
Tudo faz lembrar mais uma vez as palavras já transcritas aqui do então presidente da França Jacques Chirac, numa sessão solene da Cúpula do Desenvolvimento Sustentável de 2002, em Joanesburgo, promovida pela ONU: "As futuras gerações vão nos cobrar. Vocês - dirão elas - sabiam de tudo. E não fizeram nada".


Washington Novaes:  Foi repórter, diretor, editor e colunista em várias das principais publicações brasileiras: VejaO Estado de S. PauloFolha de S. PauloÚltima HoraVisãoCorreio da ManhãO JornalGazeta Mercantil, entre outros; Diretor, editor e comentarista em algumas das principais redes de televisão do país: Rede GloboTV MancheteTV RioRede BandeirantesTV GazetaTV Brasil Central, entre outras; Documentarista e produtor independente de televisão. Foi secretário de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do Distrito Federal, entre 1991 e 1992. Consultor na área ambiental.

Artigo: “A Nova Realidade das Disputas Político – Eleitorais”


Os partidos de oposição ainda não se deram conta da nova realidade da disputa política, inaugurada nestas eleições. O progressivo avanço recente de Dilma Roussef nas pesquisas eleitorais, principalmente sobre o público eleitor mais esclarecido e de maior renda, é a mostra dessa nova realidade, particularmente quando vemos que esse ascenso veio em decorrência de um debate cujos fundamentos não são emocionais, mas consistentemente políticos e racionais. Ao se dar conta do fenômeno Marina, a campanha de Dilma inicialmente reagiu apelando por compará-la a Collor e Jânio, um apelo emocional. Mas esse caminho logo foi abandonado e a campanha passou a debater a criminalização da homofobia, independência do Banco Central e a conquista de maioria no Congresso. Colocar o debate nesse patamar foi uma ousadia da campanha que conseguiu reverter tendências neste momento, a ponto de jogar para segundo plano toda a campanha envolvendo a delação premiada sobre a Petrobrás – cujo caráter é centralmente emocional. Atônitos, os jornalistas da mídia comprometidos com o combate à candidata Dilma, saíram em busca de um norte: passaram a defender Marina contra o que chamaram a "agressividade" do PT, e gastaram muita tinta buscando desfazer os argumentos de Dilma sobre a independência do Banco Central.
A reação da campanha petista está apoiada na postura incisivamente forte que a candidata assume em defesa das suas propostas, mostrando amplo domínio de todos os temas de governo, e defendendo com absoluta racionalidade suas ações e perspectivas, mostrando que cada ação está articulada com um plano estratégico mais amplo. É particularmente ilustrativa do seu estilo a entrevista desta última sexta feira ao jornal O Globo. O profissionalismo da presidenta espantou os entrevistadores acostumados a ouvir os ecos das próprias palavras, e os deixou na mais completa defensiva em todas as questões, inclusive quando se tocou no "escândalo Petrobrás". Alí ficou evidente que o governo Dilma Roussef inaugurou uma nova prática e um novo conceito de gestão, cujas características são marcadas por um profissionalismo de quem domina todas as áreas de ação do governo e opera sobre um projeto que tem fundamento, lógica interna, perspectiva de desenvolvimento e que é permanentemente testado.
É verdade, no entanto, que não se trata de uma política elaborada nas estruturas partidárias, mas resultado de uma prática liderada pela presidenta. Esse seu estilo implantado no governo federal foi construído desde 2005, quando Dilma assume a Casa Civil em meio à profunda crise que se abateu sobre o governo Lula, reerguendo um governo que estava em grande medida à deriva num mar agitado de boas intenções. Sua eleição em 2010 aprofundou sua prática particularmente porque Dilma elegeu-se sem precisar, ela mesma, assumir compromissos políticos de todo tipo, típicos dos nossos processos eleitorais. A partir daí, a presidenta se fechou em copas, passou a impor essa racionalidade republicana que lhe interessava a tudo que estava ao seu alcance, até começar a enfrentar críticas do próprio PT contra a falta de diálogo. 
Esse estilo de gestão traz para o país uma nova realidade em que o público eleitor é colocado frente a questões que envolvem a independência do Banco Central, o financiamento de campanha, a lógica das coalizões, a entender de onde virão recursos para os investimentos propostos etc. Os partidos de oposição não se deram conta dessa nova realidade. O PSDB, tradicionalmente colocado como a marca da competência técnica e do profissionalismo na gestão pública, está mostrando, ao contrário, a mais completa incompetência em disputar os rumos das políticas sociais e das linhas de desenvolvimento econômico. Não é preciso dizer que o próprio capital representado pelo PSDB já desembarcou da candidatura Aécio. As candidaturas à esquerda sofrem de um doutrinarismo que as coloca todas à margem da disputa política real porque não incidem sobre o debate do que está efetivamente posto: simplesmente aproveitam o espaço publicitário para divulgação de suas propostas estratégicas. Todas terminam soando estranhas e distantes.
A candidatura Marina surfou no emocional, por algum tempo, e sobre a intensa campanha mantida pela mídia contra Dilma, seu governo e sobre o PT. À campanha de Marina só resta insistir no apelo emocional da “nova política”, porém sabendo que ela estará se defrontando – principalmente num segundo turno em que só as duas estarão frente à frente – com uma candidata que tem uma postura de estadista na construção e defesa de suas propostas de governo. Se o emocional da campanha de Marina será capaz de vencer a racionalidade do programa proposto por Dilma, essa será a medida do avanço da politização de diferentes camadas da população a ser estudada, e, por decorrência, de uma nova realidade política no país.


Autor: Artur Scavone - Jornalista e estudante de Filosofia na USP

sábado, 6 de setembro de 2014

Artigo: “O estranho ‘voto útil’ do eleitor do PSDB”


As pesquisas desta semana sobre a sucessão presidencial revelam um fenômeno curioso. O eleitor do PSDB, tradicionalmente conservador, decidiu trocar um candidato que poderia ser muito competitivo num eventual segundo turno, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pela incógnita representada por Marina Silva.
O que explica esse comportamento é uma teoria lançada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e que foi rapidamente abraçada por lideranças em torno da candidatura Aécio. Mais importante do que vencer, seria derrotar o chamado "mal maior" representado pelo PT. Assim, bastou uma primeira sondagem apontando que Marina Silva, ao contrário de Aécio, poderia vencer Dilma Rousseff num ainda distante segundo turno para que os tucanos, em peso, embarcassem na lógica do voto útil. Antes uma Marina na mão, do que um Aécio voando.
Mas será que existe realmente uma "Marina na mão"? Por mais que ela esteja cercada de banqueiros e de economistas alinhados com um pensamento liberal, será mesmo que um eventual governo Marina se deixará sequestrar completamente pela agenda do PSDB? Para quem lembra que Marina, em nome de suas convicções, deixou PT, o PV e irá abandonar o próprio PSB em 2015 para criar sua Rede, essa é uma aposta um tanto arriscada.
O desespero tucano, no entanto, causou tremendos danos à candidatura Aécio e ao próprio PSDB, que fatalmente elegerá uma bancada menor e passou a correr o risco de perder governos estaduais importantes, com essa lógica do vale-tudo (inclusive Marina) contra o PT. Dias atrás, Aécio se viu forçado a chamar uma coletiva para negar sua desistência. E teve ainda que repreender um aliado, o senador Agripino Maia (DEM-RN), que já prometia apoio a Marina num eventual segundo turno.
Por mais difícil que seja a situação do PSDB, viradas acontecem. Em 2002, por exemplo, houve um momento em que Ciro Gomes parecia eleito, antes de evaporar. No entanto, para que uma reviravolta aconteça, os primeiros a acreditar nela devem ser os tucanos e seus aliados.


Autor: Leonardo Attuch: Jornalista, idealizador do 247 e autor dos livros "Saddam, o amigo do Brasil", "Quebra de contrato", "A CPI que abalou o Brasil" e "Eike: o homem que vendia terrenos na lua"

Artigo: “Reflitamento para o óbvio”


1. "Reflitamento" para o óbvio!
"O que diferencia um político de outro é a história que cada um carrega consigo."
Peguei-me lendo alguns artigos sobre as dificuldades pelas quais passa a Europa no presente momento econômico. Lamentei a situação, pois, indiretamente, tal realidade acaba nos contaminando. É certo que o Brasil navega acima dessas turbulências, não obstante, se os nobres e distintos parceiros europeus estivessem bem, nós, com a absoluta certeza, estaríamos ainda melhor. No entanto, minha reflexão caminhava em outra direção. Por qual motivo determinante a Europa é o que é e nós, América Latina e África, por exemplo, somos o que somos? Qual terá sido o fator determinante, em estratégico momento histórico, que nos levou a caminhos distintos, ou nos impediu de caminhar por caminhos mais lógicos e inteligentes?
2. Eles não são melhores do que nós.
Aqui não há juízo de valor sobre o que é melhor ou pior em termos culturais. Isso seria uma bobagem incomensurável. Nossa diversidade cultural, alegria quase genética e criatividade renovável não deixam nada a desejar a ninguém. Somos todos seres humanos com essência igual, então, como eles atingiram patamares de vida tão diferenciados de nós? Como? Quando vemos uma cidade européia em funcionamento e a comparamos com uma cidade do mesmo porte na África ou da América Latina, quase sempre, temos um susto diante da distância existente entre os dois espaços. Não é só o dinheiro. Não é só a história. Não é só a inteligência. Embora muitos teimem em duvidar, há tudo isso por cá em doses consideráveis. A Europa do século XIX, na maioria de suas regiões, não era muito diferente dos outros lugares em termos de miséria, ignorância e pobreza. Aliás, em termos de ignorância, o Velho Mundo possui exemplos maravilhosos.
3. A formação do ser humano
A grande diferença esteve na política. Nas decisões de organização social e nas opções escolhidas ao longo de um extenso processo. A desconformidade profunda está na educação, na formação de cada povo e na valorização da cultura de cada nação. As contradições nunca foram genéticas. Não aceito a possibilidade de alguém acreditar no fato das pessoas nascerem em Uganda seja motivo para serem pobres, miseráveis, desnutridas, ignorantes e incapazes de produzir riqueza, com vistas apenas à sua sobrevivência. Não vamos discutir as causas gerais, mas o fato de ter sido negado ao povo de lá, e de outros locais, o acesso à educação, ajudou, de forma determinante, a produzir esse resultado catastrófico que presenciamos, confortavelmente, instalados em nossos sofás.
4. Não queremos copiar ninguém
Importar modelos e implantá-los pelas bandas de cá, à fórceps, nunca será o melhor caminho para mudanças significativas, duradouras e eficientes. O aprendizado pela observação atenta e inteligente, entretanto, costuma poupar lágrimas e dores profundas. A educação é o caminho natural para essas transformações, contudo é necessário que o país assuma isso enquanto estratégia de nação. Estamos avançando, e com a entrada dos recursos do Pré Sal, o ritmo tende a acelerar, pois não se faz educação de qualidade sem dinheiro. Ficamos séculos sob a tutela de um Estado patrimonialista gerido por uma burguesia retrógrada, incapaz de ver as oportunidades e as mudanças em curso no mundo. O medo da classe dominante em perder privilégios, espaços e riqueza impediu a nação de avançar. Uma pena. Um desastre histórico.
5. Reflitamento...
Saímos de um patamar de 4,1% do PIB destinados à educação em 2002, e atingiremos, com o Novo Plano Nacional de Educação, 10% do PIB. Seremos uma referência no mundo. O Pré Sal injetará mais e 1 trilhão de reais no setor e mudará os destinos da próxima geração. O Petróleo não pode ser política estratégica apenas de um Governo, ele precisa ser assimilado pela nação e tornar-se uma prioridade de país. Vamos torcer para que o povo brasileiro escolha bem. Afinal (na política) não adianta reclamar do bolo a ser comido amanhã se na hora de fazê-lo (hoje) o cidadão usa ovos podres na massa...


Autor: David Nogueira - Professor e jornalista, foi dirigente da CUT, da CNTE e ex-secretário de Comunicação do PT/RO; membro do diretório PT/RO