domingo, 11 de dezembro de 2016

Renunciar é a única forma de estancar a sangria. Por Alex Solnik

Temer está cercado de corruptos – é a leitura que se faz do depoimento do Vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, Claudio Melo Filho, apenas o primeiro dos 77 prometidos pela empresa, que é apenas uma das empreiteiras que se relaciona com o governo federal.
Ninguém sabe como esse relato, que deveria ser sigiloso, vazou para a imprensa, mas o fato é que vazou e sua autenticidade não pode ser contestada.
As 82 páginas, especialmente as 60 páginas iniciais, mostram que operações de compra e venda de medidas provisórias, Projetos de Lei Complementar ou Projetos de Resolução fazem parte do dia a dia de Brasília, cotidiano em que ele entrou em 2005, em pleno governo Lula.
E, pasmem, ainda durante o governo Lula todas as suas negociações foram feitas com o PMDB e não com o PT – a não ser o acordo com Jacques Wagner, uma questão local e não nacional.
Por trás do nome pomposo de Relações Institucionais, o que Melo fazia era o que o ser humano sempre fez desde sempre: comércio.
Pagava bem para questões de interesse da Odebrecht serem incluídas ou excluídas de pautas em discussão no Congresso. E seu principal aliado nessas manobras era Romero Jucá, a quem chama de preposto de Renan Calheiros e de Eunício de Oliveira e de principal arrecadador do PMDB -, seja o do Senado, seja o da Câmara. Quando dava dinheiro a Jucá, Melo sabia que Renan também participaria do rachuncho. E também ajudaria no que fosse preciso. Melo Filho não fala em “quadrilha”, prefere chamar eufemisticamente de “grupo” ao afirmar que o grupo que manda no PMDB do Senado (e em senadores de partidos menores) é Renan-Juca- Eunício e o que dá as cartas na Câmara dos Deputados é Michel Temer-Eliseu Padilha-Moreira Franco.
Geddel também mandava, até cair em desgraça, contra a vontade de Temer, naquele episódio da torre de Salvador que tentou liberar. Geddel é, aliás, o elo de Melo Filho com a cúpula do PMDB. Foi quem o apresentou a Temer e a Romero Jucá, em 2005.
Amigo de Geddel, de quem era vizinho num condomínio do litoral baiano, Melo Filho conta que ele vivia se queixando de receber menos que os outros e fazer muito mais pela Odebrecht.
Foi esse sujeito que Temer colocou na Secretaria de Governo!
Melo Filho deixa muito claro, a todo momento, que todos os políticos ajudados pela Odebrecht com verbas oficiais ou via caixa 2 tinham que dar ou já tinham dado antes alguma contrapartida para a empresa.
Renan pediu a ele doação à campanha de seu filho ao governo de Alagoas em reunião com várias outras pessoas. Foi atendido para facilitar a tramitação de uma emenda de interesse da Odebrecht.
Melo Filho esteve no jantar do Palácio do Jaburu, quando testemunhou a cena em que o então vice-presidente da República Michel Temer pediu 10 milhões a Marcelo Odebrecht.
Temer já deu a manjada desculpa de que a contribuição foi legal, ao PMDB, mas o próprio Melo Filho afirma que toda e qualquer doação da empresa, no oficial ou no caixa 2, em dinheiro vivo ou transferência bancária tinha contrapartida. Ele mesmo encaminhou parte do pagamento acertado, seis milhões, com Eliseu Padilha, a quem descreve como preposto de Temer e principal arrecadador do PMDB da Câmara dos Deputados. Parte do dinheiro foi levado ao escritório de José Yunes, assessor especial e amigo do peito de Temer.
A contrapartida de Temer foi levar “uma nota” da Odebrecht dirigida às autoridades portuguesas em sua viagem a Portugal. O lobista não revela o conteúdo da “nota”.
O outro homem de ouro de Temer, Moreira Franco, também participa do banquete, ajuda como pode para a empresa não levar prejuízo em suas operações aeroportuárias e recebe a sua justa remuneração.
Li em algum lugar que “Temer está tranquilo”. Pode ser. Mas acho que ficará mais tranquilo ainda se, a curto prazo, afastar Jucá da liderança do governo no Senado, Padilha da Casa Civil, Moreira Franco da secretaria especial e José Yunes da assessoria especial.
E, em seguida, renunciar.
Essa é a única forma de estancar a sangria.


A anarquia dos poderes e a entrega de segredos do Brasil para a CIA. Por J. Carlos de Assis

Anarquizado institucionalmente, o Brasil virou a casa da mãe Joana sob  ditadura de um Judiciário que se aproveita do caos para prevalecer sobre direitos de cidadania, ignorando solenemente prerrogativas do Executivo e do Legislativo. Estes poderes, por sua vez – o senador Requião chama todos os três de “proderes” – capitularam à anarquia judiciária e tentam a suprema vilania de impedir a votação da Lei do Abuso do Poder, proposta pelo próprio perjurado Renan Calheiros, antes de negociar a aprovação já da PEC da Morte.
Tendo concentrado em si todo o poder do Judiciário - do poder de prender sem provas ao poder de condenar sem o devido processo legal  -, Sérgio Moro é o dono de fato da república da mãe Joana. Em nome do combate à corrupção, tese ressuscitada da velha UDN golpista, o juiz de Curitiba, que iniciou sob aplausos merecidos o processo de limpeza da política brasileira, acabou extrapolando de limites legais para se tornar, na prática, um agente da CIA capaz de entregar provas contra a Petrobrás a potências estrangeiras.
E isso não é o mais grave. O esquema da Lava Jato alcançou, prendeu e pôs na cadeia, com uma sentença de 39 anos o almirante Othon Pinheiro da Silva, o herói do programa nuclear brasileiro. O crime, pelo que se pode deduzir dos escaninhos sombrios do processo, foi que o Almirante prestou um serviço excepcional ao povo brasileiro na medida em que, sob sua direção, e abertamente contra a posição do governo norte-americano, se desenvolveu o programa das centrífugas com tecnologia genuinamente brasileira.
Agora, por dedução, como é comum no campo da espionagem, vou tentar esclarecer como tudo aconteceu. Diante da tenaz resistência norte-americana ao desenvolvimento pelo Brasil de um programa nuclear independente, mesmo que pacífico, o Almirante não tinha outro acesso a equipamentos e projetos nucleares que o mercado negro. Obviamente, o governo americano e sua subsidiária internacional, a Agência Internacional de Energia Atômica, tentam de toda a forma monitorar e controlar esse mercado para seus propósitos.
Como não podia entrar abertamente no mercado nuclear paralelo como um oficial das Forças Armadas brasileiras, Othon foi obrigado a fazer um caixa dois para comprar os equipamentos e projetos. Sua filha, especialista em linguagem nuclear com larga experiência, era a pessoa de confiança que trouxe para ajudar no processo de tradução. Parece – sim, parece porque tudo é obscuro nesse processo, que ela teria recebido 4 milhões de reais ao longo de seis anos para ajudar no programa. Dinheiro alto?, não. Considerada a responsabilidade, algo absolutamente razoável.
Por que então o almirante Othon não contou toda essa história a seus interrogadores? A resposta é simples. Se contasse a seus interrogadores, sendo eles amigos do governo americano, iriam entregar imediatamente à CIA informações que levariam ao rastreamento do único mercado nuclear a que o Brasil tem acesso. Se Moro vai duas vezes por mês aos Estados Unidos para levar aos americanos segredos da Lava Jato, imaginem o que não faria caso levasse os segredos nucleares do Brasil aos insaciáveis “irmãos” do norte!
A respeito do programa nuclear brasileiro, poucos sabem que foi desenvolvido no Brasil um processo de centrífugas para enriquecimento do urânio ainda não dominado pelos países centrais. É um método mais eficiente e mais barato do que o comumente utilizado. Vale bilhões de dólares. Se não fosse o complexo de vira lata, isso seria motivo de grande orgulho para o povo brasileiro. O que está sendo feito com o inspirador e executor desse programa vitorioso, porém, constitui, ao contrário, uma vergonha para o Brasil. O Almirante que fez tudo pela Pátria está preso. Seus carcereiros estão soltos, à espera de uma delação premiada que entregue os segredos brasileiros aos americanos, como feito com a Petrobrás. Será que as Forças Armadas não se mobilizam junto ao Governo para coibir esses atos de alta traição?


Povo brasileiro quer eleição direta para presidente e já. Por Emir Sader

Sempre se manipulou o que seria a voz das ruas. No golpe de 1964 se criou na opinião pública um clima de isolamento total do presidente João Goulart, de consenso geral pela derrubada do seu governo, o que salvaria a democracia da subversão. Muito tempo depois, já depois da ditadura que seguiu à sua queda, a mais cruel da história do Brasil, revelou-se que pesquisa do Ibope, não publicada naquele momento, mostrava o amplo apoio popular ao governo Jango e como as manifestações de rua da direita expressavam apenas o apoio dos setores radicalizados da classe média, instrumentalizados pela mídia e por setores da igreja católica para preparar o clima do golpe.
Quando Dilma foi eleita, no final de 2014, 74% dos brasileiros consideravam que sua vida tinha melhorado desde 2003, ano em que se iniciava o primeiro mandato de Lula. Um índice muito superior ao da votação recebida por Dilma no segundo turno. Quando foi realizada a vergonhosa votação pelo seu impeachment na Câmara, em abril deste ano, essa cifra tinha baixado à metade. Ou seja, a brutal campanha da mídia tinha apagado da cabeça de muita gente como suas vidas tinham melhorado ao longo dos governos petistas.
Na mais recente pesquisa Vox Populi, o índice dos que consideram que sua vida melhorou desde o começo dos governos do PT subiu para 56%, ao mesmo tempo que o apoio a Lula segue subindo, chegando a 34%, dois índices que refletem o mesmo fenômeno: conforme as pessoas vão perdendo os direitos adquiridos e conforme arrefece a campanha da mídia, a consciência de quanto sua vida tinha melhorado aflora de novo com força. Um índice que tende a subir cada vez mais, ficando pelo menos próximo dos 74% de fins de 2014, acompanhado pelo índice de apoio ao Lula.
E neste domingo (11), uma nova pesquisa Datafolha, feita antes da divulgação de vazamentos para a mídia da delação de um diretor da Odebrecht, que atinge Michel Temer e a cúpula do governo, revela que 63% dos brasileiros querem sua saída imediata e diretas já – número que deve crescer conforme a repercussão das denúncias forem avançando.
A categoria "voz das ruas" não é assim um reflexo espontâneo do sentimento das pessoas, mas é filtrada pela ação da mídia. A realidade concreta tem o peso determinante, ainda mais quando ela tem uma carga diária profundamente negativa, como durante o governo golpista e suas políticas conservadoras. Mas a ação da mídia pode camuflar ou pode intensificar esse efeito.
Neste momento em que o governo de Temer se desfaz, perde qualquer capacidade de iniciativa, repousa apenas na maioria parlamentar com que pretende levar adiante, sem hesitações, seus planos de desmonte do Estado, das políticas sociais e dos direitos dos trabalhadores, o sentimento de que se vivia muito melhor antes, ressurge com força.
O repúdio ao governo de FHC, que alimentou as quatro vitórias eleitorais do PT, agora se realimenta com o duríssimo ajuste fiscal antipopular do governo Temer. A comparação não tem mais que ser feita com os governos dos anos 1990, mas com a dura realidade de hoje.
A direita fez tudo o que (não) podia, atropelando a Constituição e a vontade popular, para derrubar uma presidenta reeleita pela maioria dos brasileiros, para instaurar um governo defensor dos interesses do 1% mais rico da população.
Com razão, portanto, é repudiado pela pesquisa do próprio Datafolha, em que 63% pedem a renúncia de Temer e a convocação de eleições diretas já. Inequivocamente a voz das ruas vai nessa direção. O povo não quer mais esse governo e quer se expressar, mediante eleições diretas, sua vontade em relação a quem deve dirigir o país.
Quem invocou a voz das ruas para votar pelo golpe, tem agora o ruído das ruas, pelas manifestações e pela vontade expressa nas pesquisas: o povo quer não apenas o fim deste governo, como não aceita que se dê no ano que vem, propiciando que um Congresso com mais de 200 parlamentares acusados de corrupção, decida, de forma indireta, o sucessor do Temer.

Quer votar, de forma direta, e já.

Quem é contra eleição é trouxa ou canalha. Por Paulo Moreira Leite

O derretimento de Michel Temer em praça pública, em função das delações da Odebrecht, tem dois efeitos cruciais para a conjuntura política e o futuro dos brasileiros.
O primeiro é acelerar de forma dramática o debate sobre a substituição de Temer. O segundo é atualizar o debate sobre a realização de eleições diretas para presidente. Com o governo Temer cada vez mais perto do fim, tudo fica claro. Quem ainda é contra diretas é trouxa ou é canalha.
Os grandes fatos do momento devem ser lidos, explicados e reinterpretados a partir do desmoronamento de Temer. Falando claramente: o funeral de Temer obriga a debater as condições para a realização de novas eleições ou apoiar um golpe dentro do golpe.
Este é o jogo real a partir das afirmações de Claudio Melo Filho, o prato de resistência das denuncias deste fim de semana. Enquanto a maioria da população procura entender as migalhas de informação que caem das páginas que a mídia grande apresenta, sem oferecer uma pálida ideia do que se passa na vida real, os donos do poder e do dinheiro estão em outro nível discussão. Querem resolver num jantar de família quem vai para o lugar de Temer e assegurar a continuidade do projeto de devolver o Brasil e o mercado brasileiro ao circuito da globalização acelerada do capitalismo, sem resistências de nenhum tipo, ora reais, ora simbólicas, como em ocorreu no período Lula-Dilma.
É assim que, por trás das cortinas, desfilam candidaturas, são feitas especulações, testes e conchavos. O motivo está claro. Na nave de náufragos das delações, a fila dos que serão conduzidos ao pontilhão de mãos amarradas para serem jogados ao mar não para de crescer.
Da mesma forma que ocorrem movimentos subterrâneos para lançar candidaturas convenientes - até Carmen Lucia já foi mencionada, para se ter uma ideia da falta de limites e pudores - no mesmo ambiente se realizam operações para alvejar aquelas que não são desejados.
Isso explica a pressa sem limites de velocidade para encontrar um pretexto para incriminar Lula e impedir que possa manter uma possível candidatura presidencial.
Mais do que nunca, este é o grande pesadelo daqueles senhores da política que construíram parlamentar que afastou Dilma. Tanto barulho por nada?
Mas é estratégico. Na medida em que Temer se aproxima do pontilhão dos náufragos, é preciso impedir - de qualquer maneira que Lula possa permanecer no jogo. E atenção.
A insistência de envolver Lula em denúncias que não se comprovam, mas são reproduzidas e multiplicadas à exaustão, não passa de um exercício conhecido, de uma mentira reproduzida 1 000 vezes para que se transforme em verdade. A tentativa de massacre moral de Lula é uma forma de golpe preventivo, um cálculo maligno. Não se trata de jogo midiático, apenas. É muito mais grave e sério.
Caso seja necessário retirá-lo à força da cena política, até um gesto arbitrário - uma condenação sem provas - pode ser ensaiado, sob a condição de que não haja resistência popular. O plano não é apresentar provas, que permanecem invisíveis após uma devassa que já dura anos, mas formar convicções na população. É assim que se quer minar a confiança que tantos brasileiros depositam em Lula, apesar de um massacre de mais de uma década. Para isso, é indispensável a cobertura e apoio da mídia amiga, em particular comentaristas de sorriso malicioso ("para entendidos") que enfrentam os tele jornais noturnos.
Exatamente porque se trata de uma operação sórdida, o ambiente é de grande segredo. É preciso não chamar a atenção e evitar a entrada em cena de 100 milhões de eleitores, considerados indesejáveis, expressão daquilo que artigo 1 da Constituição define como soberania popular, fundamento de nossa República.

Pois é. Numa conjuntura como esta, mais do que nunca se confirma a constatação essencial de que não há salvação fora da democracia. Eleição é o caminho a ser perseguido, por todos os meios, pela capacidade de cada um. As outras possibilidades são: ou trouxa, ou canalha. Chegou a hora de cada um escolher seu papel.

Presente de Natal: a renúncia de Temer. Por Tereza Cruvinel

O fim do governo Temer foi anunciado pelo vazamento da delação do lobista da Odebrecht Claudio Melo Filho. Ao invés de esperar por um descarte humilhante, seja por que via for, Temer prestaria um grande serviço ao Brasil renunciando ainda este ano, evitando mais um desastre político, a eleição indireta de um presidente pelo atual Congresso. Sua renúncia seria um presente de Natal para o Brasil, garantindo a convocação de eleições diretas sem a necessidade de um remendo constitucional em 2017. Na terça-feira os movimentos sociais farão atos em todo o país pedindo seu impeachment e diretas-já. Objetivamente, deviam pedir renúncia-já.
O maremoto Odebrecht apenas começou, mas as informações sobre uma primeira delação, publicadas nesta sexta-feira pelo Buzzfeed, reproduzidas pelo 247, confirmadas pela Folha de S. Paulo e finalmente lançadas com força ao ventilador pelo Jornal Nacional, acabam com as ilusões sobre uma travessia com o atual governo até 2018. Elas mostram que a “pinguela”, como diz FHC, só tem tábuas podres.
O melhor amigo de Temer recebeu uma mala de dinheiro da empreiteira, parte dos R$ 10 milhões que ele pediu a Marcelo Odebrecht em jantar no Jaburu em 2014. Padilha e Moreira Franco, hoje os ministros mais próximos de Temer no Planalto, foram arrolados. Jucá, seu líder no Congresso, recebeu e administrou mais de R$ 22 milhões repassados pela empreiteira ao PMDB, em troca de favores no Senado. Renan e Rodrigo Maia não escaparam. Com esta pinguela de tábuas podres, não há travessia possível até 2018, noves fora a calamidade econômica, que se nutre também do ceticismo sobre a duração e a sobrevida do governo.
O PSDB, agora também atingido pela revelação de pagamentos ilegais da empreiteira à campanha de Geraldo Alckmin, afora citações anteriores a Aécio Neves e José Serra, neste momento deve estar reavaliando sua estratégia, de fazer a travessia com Temer até 2018. Feito o “serviço sujo” do arrocho fiscal, estariam em condições de vencer a eleição presidencial. Mas com o plano falhando, terão que mudar o jogo. Afeito a uma “conciliação pelo alto”, o PSDB pode embarcar nas indiretas com um salvador da pátria, seja ele FHC ou Nelson Jobim, ou mesmo Carmem Lucia.
Agora, entretanto, este plano também perdeu consistência, diante das revelações sobre outros tucanos. FHC, por maior lucidez ou por conhecer as tábuas podres de seu partido, disse na entrevista a Mario Sergio Conti que se a pinguela Temer cair o Congresso terá que aprovar uma emenda constitucional permitindo a convocação de eleições diretas mesmo faltando menos de dois anos para o fim do mandato em curso, situação que hoje, pela Constituição, impõe a tragédia das indiretas.
As conjecturas sobre a queda de Temer precederam a delação do lobista da Odebrecht. O senador Luis Antonio Reguffe apresentou emenda reduzindo de dois para um ano o período de vacância no cargo em que a eleição de um novo presidente seria indireta. O deputado Miro Teixeira apresentou emenda semelhante na Câmara. Uma delas pode ser aprovada numa emergência, se houver desfecho em 2017. Se Temer não premiar o Brasil com uma renúncia ainda este ano.
Os amantes do parlamentarismo sonham com a possibilidade de uma nova adoção emergencial da mudança do sistema de governo. Mas com este Congresso podre? Dificilmente a população chancelaria esta opção num plebiscito. O impeachment de Temer? O Congresso , depois do maremoto que mal começou, não terá autoridade alguma para afastar o parceiro do golpe contra Dilma.

No ritmo normal do Judiciário e da Lava Jato, quando as delações forem concluídas e homologadas, alguma atitude será tomada pelo procurador-geral da República, inclusive em relação a Temer. Mas isso não acontecerá antes de março, na melhor das hipóteses. E ainda com a incógnita sobre o que faria o STF, depois de vencido o pudor de decidir em nome da “governabilidade”. Por tudo, enquanto os sinos das delações badalam, “correr com a sela”, como disse Ciro Gomes, seria uma alternativa mais confortável para Temer e menos danosa para o país. Temer, corra com a sela antes que o bicho pegue!

Temer derreteu. A saída é a renúncia! Por Jeferson Miola

A delação do diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho vazada pela força-tarefa da Lava Jato é devastadora para o golpista Michel Temer e para o quartel-general do golpe. Não fica em pé uma viga do empreendimento golpista.
Temer derreteu, e o Brasil está derretendo junto. O presidente usurpador perdeu totalmente a capacidade de governar. O país está sendo jogado no precipício que pode causar uma convulsão social: depressão econômica, desemprego próximo dos 15% e calamidade financeira em Estados e Municípios que evoluirá para uma crise humanitária.
O PMDB e o PSDB, partidos da proa golpista, estão diante de enorme responsabilidade histórica. Permitir a continuidade do governo ilegítimo para finalizar os retrocessos anti-povo e anti-nação, é um crime que será cobrado com juros altos no futuro.
O Brasil pede a renúncia do Temer. Segundo pesquisa Datafolha, 63% querem esta saída. É urgente a necessidade de renúncia do Temer. Para evitar uma espiral de calamidade social, o Congresso tem a obrigação de suspender a tramitação da PEC 55/16, da Reforma da Previdência e de outras agendas formuladas pelo governo ilegítimo, e priorizar a renúncia do presidente usurpador e a realização de eleições diretas.
Temer já estava numa situação dramática de sobrevivência desde o cometimento de crime de responsabilidade para patrocinar interesses imobiliários do parceiro Geddel Vieira Lima. Agora, entrou em coma. Seu estado é semelhante ao do enfermo cujas funções vitais estão mortalmente comprometidas e é mantido artificialmente por aparelhos que, a qualquer momento, serão desligados.
Ele é citado 43 vezes nas 82 páginas do depoimento do diretor da empreiteira. É uma notável ficha corrida, só desbancada pelo desempenho do seu preposto, o “Primo” Eliseu Padilha, citado em 45 passagens. O “Angorá” Moreira Franco, outro proeminente integrante do clube dos propineiros, é citado 34 vezes.
Essa turma que tomou o poder de assalto promovia negociatas dentro do Palácio Jaburu. O diretor da empreiteira destaca a solenidade de que se revestia o achaque: “claramente, o local escolhido para a reunião [Jaburu] foi uma opção simbólica voltada a dar mais peso ao pedido de repasse financeiro”. Como ficou revelado no caso Geddel, a sede da prática delituosa mudou seu endereço para o Palácio do Planalto.
Além do Temer e de autoridades do coração do Planalto, outros ministros foram denunciados: Mendonça Filho [DEM], José Serra [PSDB] e Bruno Araújo, tucano que em 17 de abril de 2016 proferiu com estridente histeria o voto 342 para o impeachment fraudulento da Presidente Dilma no que a imprensa internacional caracterizou como “uma assembleia geral de bandidos comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha”.
A cúpula no Congresso, que garantia a sobrevivência do governo golpista, também foi gravemente atingida. O delator citou repasses milionários a Renan, Jucá, Eunício Oliveira, Agripino Maia, Rodrigo Maia, assim como a parlamentares da oposição.
O terrível para Temer e para a sociedade golpista liderada pelo PMDB e PSDB é que a delação de Cláudio Melo Filho é a primeira de um total de 77 acordos de delação firmados só com funcionários e dirigentes da Odebrecht. Além dessas, estão sendo feitas delações por funcionários e diretores de outras empreiteiras. Ou seja, uma tormenta que recém começa.
É óbvio que todas estas circunstâncias eram de conhecimento dos justiceiros da Lava Jato e da mídia desde muito tempo antes da fraude do impeachment, porém foram seletivamente ocultadas para permitir a perpetração do golpe de Estado.
Basta relembrar a famosa lista de Janot ainda de março de 2015 que, todavia, saiu do noticiário e da investigação policial e judicial para não prejudicar a evolução do golpe e também garantir a blindagem do PSDB.
Quem consegue a proeza de fazer desaparecer qualquer vestígio de helicóptero carregado com 450 quilos de cocaína, tem talento suficiente para outros milagres, como de eliminar adversários políticos através de caçadas ideológicas, como a que promovem contra o Lula.
O PSDB, a Globo e a oligarquia golpista arquitetam a sucessão do Temer a partir de 1º de janeiro de 2017 com eleição indireta no Congresso, a tal “assembleia geral de bandidos”.

Essa solução é inaceitável, porque será fonte de conflito e tensão social em escala vertiginosa. A saída para o Brasil é a renúncia imediata de Michel Temer, e a convocação de eleição direta em 90 dias. Somente um governo eleito pela soberania popular terá legitimidade e força para evitar que o país caia no precipício.