domingo, 11 de dezembro de 2016

Renunciar é a única forma de estancar a sangria. Por Alex Solnik

Temer está cercado de corruptos – é a leitura que se faz do depoimento do Vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, Claudio Melo Filho, apenas o primeiro dos 77 prometidos pela empresa, que é apenas uma das empreiteiras que se relaciona com o governo federal.
Ninguém sabe como esse relato, que deveria ser sigiloso, vazou para a imprensa, mas o fato é que vazou e sua autenticidade não pode ser contestada.
As 82 páginas, especialmente as 60 páginas iniciais, mostram que operações de compra e venda de medidas provisórias, Projetos de Lei Complementar ou Projetos de Resolução fazem parte do dia a dia de Brasília, cotidiano em que ele entrou em 2005, em pleno governo Lula.
E, pasmem, ainda durante o governo Lula todas as suas negociações foram feitas com o PMDB e não com o PT – a não ser o acordo com Jacques Wagner, uma questão local e não nacional.
Por trás do nome pomposo de Relações Institucionais, o que Melo fazia era o que o ser humano sempre fez desde sempre: comércio.
Pagava bem para questões de interesse da Odebrecht serem incluídas ou excluídas de pautas em discussão no Congresso. E seu principal aliado nessas manobras era Romero Jucá, a quem chama de preposto de Renan Calheiros e de Eunício de Oliveira e de principal arrecadador do PMDB -, seja o do Senado, seja o da Câmara. Quando dava dinheiro a Jucá, Melo sabia que Renan também participaria do rachuncho. E também ajudaria no que fosse preciso. Melo Filho não fala em “quadrilha”, prefere chamar eufemisticamente de “grupo” ao afirmar que o grupo que manda no PMDB do Senado (e em senadores de partidos menores) é Renan-Juca- Eunício e o que dá as cartas na Câmara dos Deputados é Michel Temer-Eliseu Padilha-Moreira Franco.
Geddel também mandava, até cair em desgraça, contra a vontade de Temer, naquele episódio da torre de Salvador que tentou liberar. Geddel é, aliás, o elo de Melo Filho com a cúpula do PMDB. Foi quem o apresentou a Temer e a Romero Jucá, em 2005.
Amigo de Geddel, de quem era vizinho num condomínio do litoral baiano, Melo Filho conta que ele vivia se queixando de receber menos que os outros e fazer muito mais pela Odebrecht.
Foi esse sujeito que Temer colocou na Secretaria de Governo!
Melo Filho deixa muito claro, a todo momento, que todos os políticos ajudados pela Odebrecht com verbas oficiais ou via caixa 2 tinham que dar ou já tinham dado antes alguma contrapartida para a empresa.
Renan pediu a ele doação à campanha de seu filho ao governo de Alagoas em reunião com várias outras pessoas. Foi atendido para facilitar a tramitação de uma emenda de interesse da Odebrecht.
Melo Filho esteve no jantar do Palácio do Jaburu, quando testemunhou a cena em que o então vice-presidente da República Michel Temer pediu 10 milhões a Marcelo Odebrecht.
Temer já deu a manjada desculpa de que a contribuição foi legal, ao PMDB, mas o próprio Melo Filho afirma que toda e qualquer doação da empresa, no oficial ou no caixa 2, em dinheiro vivo ou transferência bancária tinha contrapartida. Ele mesmo encaminhou parte do pagamento acertado, seis milhões, com Eliseu Padilha, a quem descreve como preposto de Temer e principal arrecadador do PMDB da Câmara dos Deputados. Parte do dinheiro foi levado ao escritório de José Yunes, assessor especial e amigo do peito de Temer.
A contrapartida de Temer foi levar “uma nota” da Odebrecht dirigida às autoridades portuguesas em sua viagem a Portugal. O lobista não revela o conteúdo da “nota”.
O outro homem de ouro de Temer, Moreira Franco, também participa do banquete, ajuda como pode para a empresa não levar prejuízo em suas operações aeroportuárias e recebe a sua justa remuneração.
Li em algum lugar que “Temer está tranquilo”. Pode ser. Mas acho que ficará mais tranquilo ainda se, a curto prazo, afastar Jucá da liderança do governo no Senado, Padilha da Casa Civil, Moreira Franco da secretaria especial e José Yunes da assessoria especial.
E, em seguida, renunciar.
Essa é a única forma de estancar a sangria.


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