O
fim do governo Temer foi anunciado pelo vazamento da delação do lobista da
Odebrecht Claudio Melo Filho. Ao invés de esperar por um descarte humilhante,
seja por que via for, Temer prestaria um grande serviço ao Brasil renunciando
ainda este ano, evitando mais um desastre político, a eleição indireta de um
presidente pelo atual Congresso. Sua renúncia seria um presente de Natal para o
Brasil, garantindo a convocação de eleições diretas sem a necessidade de um
remendo constitucional em 2017. Na terça-feira os movimentos sociais farão atos
em todo o país pedindo seu impeachment e diretas-já. Objetivamente, deviam
pedir renúncia-já.
O
maremoto Odebrecht apenas começou, mas as informações sobre uma primeira
delação, publicadas nesta sexta-feira pelo Buzzfeed, reproduzidas pelo 247,
confirmadas pela Folha de S. Paulo e finalmente lançadas com força ao
ventilador pelo Jornal Nacional, acabam com as ilusões sobre uma travessia com
o atual governo até 2018. Elas mostram que a “pinguela”, como diz FHC, só tem
tábuas podres.
O
melhor amigo de Temer recebeu uma mala de dinheiro da empreiteira, parte dos R$
10 milhões que ele pediu a Marcelo Odebrecht em jantar no Jaburu em 2014.
Padilha e Moreira Franco, hoje os ministros mais próximos de Temer no Planalto,
foram arrolados. Jucá, seu líder no Congresso, recebeu e administrou mais de R$
22 milhões repassados pela empreiteira ao PMDB, em troca de favores no Senado.
Renan e Rodrigo Maia não escaparam. Com esta pinguela de tábuas podres, não há
travessia possível até 2018, noves fora a calamidade econômica, que se nutre
também do ceticismo sobre a duração e a sobrevida do governo.
O
PSDB, agora também atingido pela revelação de pagamentos ilegais da empreiteira
à campanha de Geraldo Alckmin, afora citações anteriores a Aécio Neves e José
Serra, neste momento deve estar reavaliando sua estratégia, de fazer a
travessia com Temer até 2018. Feito o “serviço sujo” do arrocho fiscal,
estariam em condições de vencer a eleição presidencial. Mas com o plano falhando,
terão que mudar o jogo. Afeito a uma “conciliação pelo alto”, o PSDB pode
embarcar nas indiretas com um salvador da pátria, seja ele FHC ou Nelson Jobim,
ou mesmo Carmem Lucia.
Agora,
entretanto, este plano também perdeu consistência, diante das revelações sobre
outros tucanos. FHC, por maior lucidez ou por conhecer as tábuas podres de seu
partido, disse na entrevista a Mario Sergio Conti que se a pinguela Temer cair
o Congresso terá que aprovar uma emenda constitucional permitindo a convocação
de eleições diretas mesmo faltando menos de dois anos para o fim do mandato em
curso, situação que hoje, pela Constituição, impõe a tragédia das indiretas.
As
conjecturas sobre a queda de Temer precederam a delação do lobista da
Odebrecht. O senador Luis Antonio Reguffe apresentou emenda reduzindo de dois
para um ano o período de vacância no cargo em que a eleição de um novo
presidente seria indireta. O deputado Miro Teixeira apresentou emenda
semelhante na Câmara. Uma delas pode ser aprovada numa emergência, se houver
desfecho em 2017. Se Temer não premiar o Brasil com uma renúncia ainda este
ano.
Os
amantes do parlamentarismo sonham com a possibilidade de uma nova adoção
emergencial da mudança do sistema de governo. Mas com este Congresso podre?
Dificilmente a população chancelaria esta opção num plebiscito. O impeachment
de Temer? O Congresso , depois do maremoto que mal começou, não terá autoridade
alguma para afastar o parceiro do golpe contra Dilma.
No
ritmo normal do Judiciário e da Lava Jato, quando as delações forem concluídas
e homologadas, alguma atitude será tomada pelo procurador-geral da República,
inclusive em relação a Temer. Mas isso não acontecerá antes de março, na melhor
das hipóteses. E ainda com a incógnita sobre o que faria o STF, depois de
vencido o pudor de decidir em nome da “governabilidade”. Por tudo, enquanto os
sinos das delações badalam, “correr com a sela”, como disse Ciro Gomes, seria
uma alternativa mais confortável para Temer e menos danosa para o país. Temer,
corra com a sela antes que o bicho pegue!
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