quarta-feira, 16 de julho de 2014

“Ano 64: ditadura militar; 2014: ditadura Petista”


Ano: 1964. Cidade Aracaju. Horário:12:30 horas.
De repente, dentro de um ônibus coletivo que nos transportava para assistir aula no Ginásio Jackson de Figueiredo, me vejo cercado por alguns militares do exército, que em nome de um golpe militar e contra o comunismo (pois naquela época comunista comia criancinha. Hoje quem come são os religiosos), se achavam no direito de vasculhar de forma intimidatória a tudo e a todos.
Alvo principal: confiscar o livro de História Geral, de Victor Mussumeci, simplesmente porque o autor incluiu um capítulo onde abordava o tema socialismo e discutia as ideias marxistas.
O golpe contra o Brasil
Em pleno século XX, a elite brasileira se unia ao que existia de mais retrogrado, de podridão e de torturadores para derrubar um governo, que tinha como único crime, efetuar uma reforma agrária, gerar bem estar a sua população, oferecer um teto para cada brasileiro.
Que deseja realizar o sonho de Brizola e de Darci Ribeiro, oferecendo para os jovens, princilmente aos pobres educação pública de qualidade e em tempo integral. Uma saúde pública voltada para a prevenção em lugar da curativa, que é a que interessa aos empresários da saúde.
Enfim, dá dignidade ao seu povo, coisa que até hoje não alcançamos.
Se, em lugar de golpear as instituições democráticas os nossos militares tivessem apoiado as medidas de justiça social que Jango desejava implantar, hoje o povo brasileiro, com plena convicção, não estaria precisando sobreviver com o famigerado Bolsa Família.
Brasil: década de 1970.
Jovem, como muitos brasileiros e já cursando a universidade, como aluno da UFBA, assistimos e vivemos os momentos mais negros da ditadura militar.  Os anos de chumbo do governo Médici, onde matar opositor e ou sumir com seu cadáver, virara rotina.
Mesmo diante de toda essa ameaça, nunca arredamos o pé dos nossos ideais e resolvemos, correndo o risco de sumir a qualquer momento, enfrentar com outros bravos e valorosos companheiros, a mais sangrenta e odiosa ditadura civil militar que o povo brasileiro já conviveu.
Muitos ainda estão vivos para dá o seu testemunho, outros desistiram ou abandonaram seus sonhos, alguns por não ter suportado as torturas a que foram submetidos outros por terem perdidos os ideais e milhares já não estão entre nós, assassinados pela Polícia do Exército ou por membros da Polícia Federal, à época a serviço da ilegalidade e praticando todos os desmandos que os ditadores de plantão permitiam, para alimentarem os seus egos.
Quantas vezes fomos retirados de salas de aula, acordados no meia noite, aprisionados em mesas de bares, com a desculpa de prestar esclarecimentos, que depois de horas e horas na sala de espera da PF - que em Salvador ficava próxima ao Mercado Modelo -, para depois de longa e torturante espera, ser mandado embora, altas horas da noite para casa, sem qualquer justificativa ou motivo da presença ali. E isto tudo sem direito a  advogado.
Apenas fora convocado ou levado para satisfazer o ego do torturador de plantão.
Quem não se lembra da delegada da PF, aquela morena muito bonita por sinal, que se esbaldava de felicidade a assistir sentada de frente para nós, com um sorriso no canto da boca, satisfeita por ver o nosso sofrimento e curtir a nossa dor com as torturas praticadas?
Quantos não sofreram na sala, que denominavamos de ‘calabouço’, cheia de fios elétricos descapados próximos ao chão, no porão do prédio da PF, quando ficávamos nus, torcendo para que a maré não enchesse, pois se assim ocorresse a agua chegava até os joelhos.
Quantos não sucubiram as dores e aos paus de araras e tiveram que ‘entregar’ colegas de ideais diante de um sofrimento que nos deixava a beira da loucura.
Muitos pegaram nas armas, outros enfrentaram com as palavras e com a prática política do convencimento, tentando atrair seguidores que ousasse enfrentar os ditadores de plantão.
Só sente saudade daquele terrível período, quem por ele não passou ou dele se locupletou.
Brasil 2014
Hoje o Brasil deveria está respirando um clima de plena democracia e poder da vivas e agradecer principalmente a muitos que sucubiram e foram perseguidos, torturados e até mortos para que um dia pudéssemos experimentar conviver em um ambiente democrático.
Deveríamos, em lugar de se preocupar em quem será o próximo corrupto, está redendo homenagens a Lamarca, Santa Bárbara, Rubens Paiva, Francisco Pinto, Seixas Dórea, Miguel Arraes, Maurício Grabois, Carlos Marighella e a milhares de outros brasileiros que ficaram no anonimato.
Mais infelizmente, esta não é a imagem que o governo Dilma está passando para nós.
O País que tem no Poder o PT, partido forjado das lutas populares e sindicais, hoje não passa de uma caricatura daquilo que fora no passado. Se transformou em um partido igual aos demais, ou pior, jogou a honestidade, a moralidade e a ética na lata do lixo. Se transformou na reunião de um grupo que é capaz de tudo pelo Poder, inclusive assaltar os cofres públicos.
O País que tem sob sua administração uma ex-guerrilheira, Dilma Rousseff, que como ninguém sabe o que é a tortura e o mal que esta faz - tanto física como psicologicamente -, e o que é ser presa injustamente, apenas por lutar por seus ideais, por justiça social e pelos direitos constitucionais do seu povo, não merece passar pelos momentos repressivos e torturantes que estamos passando.
Decepção
Extranhamente, o Brasil governado por uma ex-guerrilheira e militante de um partido, o PT, que surgiu nas lutas operárias contra a ditadura, é este governo que em pleno período ‘democrático’, cometeu contra o seu povo, as mesmas atitudes praticadas pela ditadura Medici.
Foram dezenas de pessoas presas sem que nem para que, manifestações perseguidas com um aparato policial desproporcional, e tal como  o corria na ditadura sem o nome que o identique na farda, autorizando-o a praticar todo tipo de desmando, escudado pelo anonimato, impedindo a livre manifestação do seu povo.
Assistimos durante os meses de junho e julho, a mais brutal repressão. A mesma repressão e as mesmas técnicas militares utilizada no período mais triste da ditadura militar. Até as leis para o embasamento jurídico dos seus atos, foram buscar nos porões da ditadura, para impor aos movimentos sociais e ao povo brasileiro.
Não sei o que foi pior, a ditadura na década de 70 a quem conhecíamos os adversários e os seus métodos, ou a ditadura de 2014, de Dilma e do PT, que atuou às escondidas e na calada das noites, perseguindo, prendendo e rasgando a Constituição Federal  e o Tratado dos Direitos Humanos.
A Copa do Mundo pode até ter sido a Copa das Copas, mas também será a Copa das Marcas da repressão dura e até injusta e da passagem por nossa mente de um filme, que pensávamos já ter sido apagado pelo tempo.
E olhando hoje, para os grandes expoentes e homens políticos que o PT idolatra, ouso perguntar de que lado estavam: Cesar Borges, Otto Alencar, James Correia, Osvaldo Barreto, Manoel Vitório, Marcos Medrado e seu Pimpolho, Luis Argollo, Pedro Alcântara, Reinaldo Braga, Mário Negromente, João Leão, Eduardo Sales, Jairo Carneiro, Pedro Galvão e tantos outros que hoje comem e dormem na suíte presidencial do PT na Bahia, durante a década de 70.
A nível nacional, apenas para lembrar, pois o tempo e a idade me fez esquecer, onde andavam nos anos de chumbo de Medici, os iluminados José Sarney e toda família, Paulo Maluf, Collor de Melo, o senador Jucá, Kátia Abreu, Henrique Alves, Garibaldi Alves, Delfin Netto, Kassab, Guilherme Afiff, Edison Lobão, Marcelo Crivella, Manoel Dias, Gastão Vieira e tantos outros.
Depois do que assitimos durante a Copa do Mundo em termos repressão, podemos afirmar que só tivemos similar na década de 70.

E aí me pergunto: Será que valeu a pena a luta lá atrás, para ver alguns dos mesmos com quem estivemos lado a lado, hoje com o Poder na mão, efetuar os mesmos atos e atitudes de Médici e companhia?

domingo, 13 de julho de 2014

Artigo: “Ainda bem que tivemos “los ticos”!”. Por Aleksander Aguilar


Ah, Costa Rica! O que teria sido de nós, brasileiros, nesta Copa sem ti. Pensar na tua história neste Mundial, especialmente depois do trauma do Brasil na semifinal “Mineiraço”, é um alento e uma inusitada forma de olhar a toda nuestra América. Exemplo, sim, que futebol mistura-se com política, que só aumentou o imprevisto, mas merecido, reconhecimento da tua seleção por parte desta “impávida” nação sul-americana – e por extensão do teu país, e por ampliação de toda a região da América Central.
Para mim, filho de salvadorenho, a Costa Rica era, sim, a América Central no Mundial! Admito que cada vez que eu ouvia a massa gritar em coro, meu orgulho centro-americano silenciosamente se manifestava: "¡oé-oé-oé-oé, ticos, ticoooos!". Eram os anfitriões, nas ruas durante as partidas costarriquenhas, entoando o nome, com tanta empolgação e carinho quanto com sotaque brasileiro, que para eles é o apelido da seleção costarriquenha – a equipe de um país da América Central! Mas não, não, compatriotas. Ticos é um gentilício coloquial para todo o povo da Costa Rica, algo que ocorre com vários países centro-americanos. Os hondurenhos são os Catrachos, os salvadorenhos são os Guanacos, os guatemaltecos são os Chapines, e cada um desses apelidos possui uma explicação sociohistórica. 
Quem no Brasil, além de um grupo muito específico como aqueles que estudamos esta região quase invisível do mapa-mundi, saberia disso ou se importaria? No Brasil, nação onde a paixão por futebol não é apenas um simples cliché, a seleção desse país centro-americano tornou-se um xodó nesta Copa, pelo incontestável brilhantismo do seu desempenho, deixando o campeonato de forma invicta após enfrentar, e vencer a maioria, grandes potências do esporte mais popular do planeta. Ao derrotar Uruguai e Itália, empatar com Inglaterra, eliminar a Grécia e levar a Holanda para a decisão nos pênaltis numa quarta-de-final, a imprensa mundial aborrecidamente insistiu que ninguém imaginava que a seleção deste pequeno e “exótico” país iria tão longe num campeonato de grandes potências esportivas. E para a maioria da mídia aqui no Brasil, o importante era justamente esse feito. E só. Ao ponto de para muitos a Costa Rica ser uma seleção “caribenha” (afinal, América Central e Caribe é tudo igual, tudo perto por ali no mapa...)
Ocorre que o significado da participação da Costa Rica neste Mundial nunca fez tão evidente a oposição ao adágio popular de que política e futebol não se discutem. Na América Latina discutem-se, inclusive e de preferência, conjuntamente. Importa mesmo é constatar que importantes meios de comunicação no Brasil destacam de repente a história e os índices de desenvolvimento deste país da América Central. Surpresa mesmo, e satisfação, é ver os brasileiros pela primeira vez curiosos com fatos como a Costa Rica não ter exército (mais de 60 anos de sua extinção) mas ter um ganhador do PRÊMIOhttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png Nobel. O Brasil, via futebol, desenvolveu quase sem querer um sentimento de latino-americanidade, expresso neste caso precisamente pela invisibilizada região centro-americana, e demonstra ter mais interesse em saber quem são esses países do istmo.
Muito futebol, muita política
E por isso o atual futebol da Costa Rica fez-se uma dupla metáfora nessa fronteira futebol/política: enfeixa por um lado o paralelo das relações geopolíticas centro-periferia no mundo com o das disputas dos grandes atores globais do futebol no contexto – quadrado – dos meganegócios desse esporte na globalização hipercapitalista; e por outro o paralelo dos imbricados debates entre nacionalismos e identidade nacional com a questão da integração regional centro-americana e a projeção internacional dessa região. 
A Costa Rica é um país da América Central. E enquanto através desse momentum no esporte demarcou para si mesmo uma janela de visibilidade e presença nas cartografias geopolíticas desse mundo cada vez mais multipolar – em que a articulação entre países do chamado Sul Global torna-se uma via para um sistema internacional mais igualitário – trouxe a reboque para uma pequena, mas importante, vitrine toda a região deste istmo socialmente convulsionado. Aos poucos, os centro-americanos passaram a ver o país Tico, que deixava mais e mais potências esportivas boquiabertas, como um representante de todos, permitindo o mundo ver que nem só de terremotos e guerras civis vive uma região. Devagar, porque, claro, internamente na América Central há rivalidades, ranços, já que historicamente as relações no istmo viram-se em altos e baixos, com divisões por conflitos políticos e limítrofes. 
Entende-se. Em nome de uma suposta identidade regional, um gaúcho colorado torceria para o Grêmio durante uma Libertadores, e vice-versa? Um pernambucano torcedor do Sport apoiaria o Náutico num campeonato brasileiro, e vice –versa? De sociologia do futebol deixa-se para os especialistas, mas não se pode negar a força desse esporte em todo o continente como fator de unidade. No caso da Costa Rica, o país verdadeiramente possui diferenças enquanto Estado democrático de direito bem marcadas de vizinhos como os do chamado grupo CA-4. El Salvador, Nicarágua, Guatemala e Honduras, o que coloca o próprio debate sobre centro-americanidade e integração regional do istmo como questão.
A América Central hoje
Designada por uma espécie de destino geográfico, uma das especificidades da América Central no contexto latino-americano é justamente a de uma região de trânsito entre os dois oceanos, posição que marcou sua história sociopolítica no passado e lhe influencia no presente, dando-lhe peso geopolítico e características identitárias que a colocam em condições particulares para converter-se em um âmbito que merece análise especifico. Mesmo na América Latina, contudo, esse istmo é frequentemente abordado de forma marginal ou omissa, tangencial ou superficialmente, deixando-se de tratar, precisamente, seus singulares problemas e especificidade sociopolítica no continente. É a situação que levou o crítico literário guatelmateco Arturo Arias a caracterizá-la como “una región marginal dentro de la marginalidad”.
A chamada América Central, a que o poeta Pablo Neruda denominou “la dulce cintura de América” tem pouco mais de 500 mil km² (o Brasil sozinho tem mais de oito milhões de km²) abrigam sete Estados – (Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá) com uma população de quase 50 milhões de habitantes. Atualmente, cerca de 47% dos centro-americanos vivem em condição de pobreza e 18.6% em pobreza extrema. Mais de quatro milhões de centro-americanos e descendentes moram fora do istmo, especialmente nos Estados Unidos. Ditos emigrantes enviam anualmente cerca de US$ 13 bilhões aos seus familiares nos países de origem, o que no caso de El Salvador, por exemplo, chega representar 17% do total do PIB do país. 
Ao longo da história centro-americana, e depois da declaração de independência em 1821, o tema da integração regional – primeiro em suas manifestações unionistas e mais tarde nos esquemas comerciais, econômicos, políticos e institucionais – tem sido uma constante. No entanto, nas últimas décadas, especialmente depois do estabelecimento do Sistema de la Integración Centroamericana (SICA), em 1991, o interesse pelo processo integracionista aumentou e tem chamado a atenção de um número crescente de setores sociopolíticos e econômicos no istmo. Hoje a violência e as migrações, conforme entende o acadêmico da Guatemala radicado na Costa Rica, Rafael Cueva Molina, são grandes e poderosos traços que caracterizam a região e que tem como uma de suas causas primordiais as guerras civis dos anos 1980, embora certamente não a única. As guerras civis centro-americanas conformam uma fase arrebatadora da história sociopolítica do istmo cujas consequências constituíram-se como o principal marco contemporâneo para os sentidos de centro-americanidade.
Essas diversidades de sentidos expressam-se nessa diferença da Costa Rica do seu entorno. Os ticos queixam-se das deficiências dos seus serviços sociais básicos, como saúde e educação, das má-condições das suas estradas, persistência da desigualdade e da pobreza e, mais recentemente, igualmente a outros países centro-americanos, da crescente força do narcotráfico internacional no seu território. Ainda assim, a Costa Rica é um país chamado de renda média, como o Brasil, e tem alguns melhores índices econômicos e sociais do istmo e de todo o continente, com uma expectativa de vida alta de 79,4 anos (a do Brasil é de 74,6) e uma média de homicídios baixa de 8,9 por 100.000 habitantes (a de Honduras é dez vezes maior). O país atrai pela sua estabilidade política, tendo recebido diversos exilados políticos das ditaduras anos 70 e 80, tanto da América do Sul como dos vizinhos da América Central que efervesciam em guerras. Foi classificado em 2011 como o de maior liberdade de imprensa da América Latina, ocupando a posição 19 em nível mundial, de acordo com o ranking da Organização Repórteres Sem Fronteiras, e impressiona até hoje aqueles que ainda desconhecem que aboliu o seu exército em 1948, em nome de uma proposta, fruto de anos de trabalho, de aumentar a participação cidadã e evitar golpes militares de estado. 
Contudo, a Costa Rica ainda não conseguiu articular respostas para alterar a tendência dos últimos anos de lentos e incertos progressos em desenvolvimento humano. Como lembra, entretanto, a acadêmica e analista política salvadorenha, Carmen Elena Villacorta, chama a atenção sobre o atual contexto político centro-americano que os partidos das chamadas esquerdas em vários países da região, como El Salvador, Nicarágua, Costa Rica, algumas antes guerrilhas e agora no poder pela via eleitoral, movam-se cada vez mais ao centro ao verem-se confrontadas por sociedades civis cada vez mais plurais e diversas, mais politizadas e exigentes, e menos leais em termos ideológicos, conscientes do poder político do voto. 
No momento, por cima das limitações, sua seleção de futebol, “os filhos prediletos da nação”, como foram chamados no país, mantem ainda mais por cima a autoestima dos ticos, e de toda a América Central. Porém, acima ainda do futebol, a Costa Rica, e todo o istmo, veem-se hoje num lugar em que, como assevera o jornalista e acadêmico costarriquenho Andrés Mora Ramirez, nunca, desde a sua independência da Espanha, a região teve que enfrentar uma necessidade tão marcada de seguir por entre diferentes padrões de crescimento e de desenvolvimento para buscar sua inserção internacional.



Aleksander Aguilar é jornalista, doutorando em Ciência Política e Relações Internacionais, candidato a escritor, e viajante à Ítaca

Artigo: “O imponderável na Copa das Copas”, por Pedro Mox


O brasileiro sentiu o golpe. Contudo, mesmo que aos poucos, felizmente a ferida vai se fechando, as lágrimas secam, explicações (mesmo que nem um pouco convincentes) aparecem, e a Copa do Mundo encaminha-se para seu clímax. A despeito da campanha brasileira, é importante ressalvar grande evento aqui realizado: tivemos belíssimos jogos, boa organização, seleções bem acolhidas. A média de gols até agora, 2,7, já é a melhor desde 1994, pode ultrapassar os 2,8 de 1982. Tem a segunda maior média de público da história, atrás apenas dos Estados Unidos. E terá a decisão no estádio quiçá mais famoso do mundo, o Maracanã. Não acho exagero dizer que, até este ano, realizamos a copa das copas. 
Não há explicações para o inexplicável. Pode-se, na verdade devemos, procurar a razão pela qual o onze canarinho não decolou em 2014. Achei a escalação equivocada, precisávamos de maior ocupação no meio de campo. As características são deveras distintas, mas o substituto mais adequado para Neymar era Willian ou Paulinho, dificultando a vida de Kroos e Cia. Talvez, ou provavelmente, não ganharia, mas evitaria o maior vexame da história da seleção brasileira de futebol. Entretanto, o desastre da última terça teve grande participação de um elemento sempre presente – e que contribui muito para a graça do futebol –, o imponderável. Da mesma forma que o Brasil entrou mal escalado e não se encontrou em campo, quatro gols em seis minutos não é e nunca será uma coisa normal. Aconteceu, e provavelmente nunca mais ocorrerá na história das copas.
Nossa atual geração não é ruim, pelo contrário – esse time é, na minha opinião, inclusive, superior ao de 2010. Foi mal preparado, e em nenhuma partida realmente convenceu, mas boa parte destes jogadores pode estar na Rússia em 2018 – tem talento, é a seleção mais comprometida que vi nos últimos anos, estarão mais experientes e quererão como ninguém reparar o fiasco aqui sofrido. Este ficará para sempre na história, o título porventura vindouro também. Considero um equívoco QUEIMARhttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png esses jogadores, apesar do elástico escore. 
Outro ponto muito comentado, por razões óbvias, e a comparação com 1950. Comparação, na minha opinião, inoportuna. No ano do maracanazo o Brasil tinha equipe bem engrenada, que vinha de duas goleadas – naquele não houve partida final, mas sim um quadrangular – 7-1 sobre a Suécia e 6-1 sobre a Espanha. Entrou no Maracanã (construído para esta copa) com, diz-se, mais de 200.000 pessoas, precisando apenas de um empate. Praticamente com as duas mãos na taça, poucos lembravam que havia um adversário a ser enfrentado. Cenário completamente distinto do atual, quando: tínhamos um time que não convencia desde o primeiro prélio; enfrentamos uma seleção tida por todos como a melhor da competição. Nada que justifique o apagão apresentado, mas um contexto bem diferente de outrora. 
Não será aqui que o seleto grupo de campeões ganhará um novo membro. Domingo Alemanha e Argentina partirão para o tira-teima de decisões, são protagonistas inclusive da primeira vez que dois países reprisaram uma final. Em 1986, no México, os hermanos abriram dois gols de diferença e cederam o empate. Entretanto, ao contrário de 1954 e 1974, os alemães não viraram; com passe de Maradona, Burruchaga marcou o tento que deu o bicampeonato à albiceleste. Quatro anos depois, ambos vinham de semifinais vencidas nas penalidades. A revanche germânica deu-se em Roma: com um gol de pênalti convertido por Brehme aos 40 do segundo tempo, os comandados de Beckenbauer eram os melhores do planeta pela terceira vez. 
São seis partidas em Copas do Mundo, com três vitórias e 11 gols marcados pelos alemães, uma vitória e cinco gols para os argentinos, além de dois empates. O último embate foi na África do Sul, pelas quartas de final. As equipes mantiveram boa base em relação àquele torneio: oito atletas pela Alemanha e seis pela Argentina (considerando Di Maria) se reencontrarão. Joachim Löw já comandava o time alemão, enquanto na argentina Maradona vivia sua primeira experiência como treinador. O resultado, um sonoro 4-0, com dois gols de Klose e um de Müeller. Se o ataque alemão continua fulminante, o time comandado por Alejandro Sabella melhorou e muito sua defesa, além do poderoso trio de frente com Messi. Jogo mais que digno de uma final. 
Na disputa pelo terceiro lugar, hoje em Brasília, outro confronto das quartas de 2010. Se lá fomos eliminados com a fatídica trombada de Julio César e Felipe Melo, agora é a chance de uma despedida ao menos digna. Do outro lado, os craques Robben, Van Persie e Sneijder despedem-se de copas do mundo. Quatro partidas em mundiais, perdemos duas, empatamos uma e ganhamos outra. Destaco esta vitória, um suado 3-2 em 1994, com gol da vitória numa falta cobrada por Branco e um desvio de corpo milimétrico do baixinho Romário. Que nossos atletas tirem daí inspiração para os últimos 90 minutos neste mundial, levantem a cabeça e vislumbremos um futuro mais promissor. 


Pedro Mox, jornalista e fotógrafo

quinta-feira, 10 de julho de 2014

“Ainda bem que a Copa acabou para o Brasil”


A festa acabou para os brasileiros que se vestem de patriotas a cada quatro anos. Espero que, agora, eles se juntem à maioria dos brasileiros que são patriotas todos os dias do ano sem precisar se envolver na bandeira nacional, aqueles que usam jaleco branco, aqueles que usam macacões de fábricas, aqueles que usam fardas, aqueles que cumprem as leis vigentes, aqueles que não tentam tirar vantagem em tudo, aqueles que não são gigolôs do governo, em suma aqueles que trabalham duro e pagam impostos.
Aproveitem a ressaca da derrota e deixem de lado por alguns dias o caderno de esportes; leiam o caderno de economia e vejam para onde está indo a nossa. Leiam o caderno de educação e avaliem o futuro do país. Leiam sobre a saúde pública e terão um belo roteiro para filme de terror. Leiam sobre a política e descubram que a cada dia surge um novo corrupto. Só não leiam sobre segurança, caso contrário você não mais sairá de casa.
Enfim, acordem: Deem menos crédito a essa imprensa esportiva comprometida com organismos internacionais e que não tem o menor respeito pela inteligência do cidadão, criando perspectivas onde não existem. Em outubro, ajudem aos brasileiros de boa fé por para fora do governo esses despreparados, corruptos e ladrões que tomaram conta do poder e estão destruindo o país. Além disso espero que assimilem bem a importante lição dada pelos alemães: o Brasil não é o país do futebol, já foi. O Brasil hoje é o país da corrupção institucionalizada. Obrigado Alemanha, pela grande ajuda dada ao povo brasileiro. 


Autor: Humberto de Luna Freire Filho, médico

“A Copa e a Honra” por Oswaldo Colombo Filho


A Previdência e a Saúde Pública no Brasil não podem funcionar; são patentes engodos e o Governo e os políticos garantem isso. É o expresso interesse do clientelismo, e que apenas findará, quando forem instituídas cotas de uso permanente em presídios de segurança máxima a todo e qualquer canalha que disponibilizar seu cargo público como se um reles balcão de negócios fosse. Não estão preocupados com gastos, orçamentos e/ou com a vida de ninguém, muito menos com a sobrevida digna dos ex-contribuintes do INSS. Ninguém “se toca” com a fila de miseráveis nos postos do SUS e nem mesmo pelas mortes nos corredores de hospitais, e que em essência, começaram nos desvios de verbas nos labirintos escabrosos dos Ministérios.
Dias atrás, um jornal noticiou que os gastos da Copa representam quase nada perto do orçamento com Saúde Pública no Brasil. O irresponsável que assinou tal matéria e que pendeu seu o ritmo ao discurso governista, nem mesmo aduziu que tão somente na construção e reformas de estádios – ou seja – gasto especifico para que ocorresse a festa FIFA no Brasil, o povo já empregou pouco mais de R$ 150 milhões em média para custear cada jogo da Copa das Copas. Saiba que você paga por isso sem ir a um jogo sequer, e o boleto de cobrança fatalmente virá quando buscar a rede pública de saúde ou a sua aposentadoria. Lá, mui provavelmente, um canalha desprezível dirá que a Copa trouxe benefícios... É verdade! - aos políticos corruptos (coisa que não falta no Brasil), além das Construtoras que receberam muito mais por aquilo que mal e porcamente entregaram.
Cada jogo pela aproximada façanha de US$ 75 milhões (dólares) – oito vezes mais que o USA, a mais rica nação do planeta gastou 20 anos atrás para adaptar/construir estádios onde o futebol (soccer) sequer era mínima prioridade ou detinha algum interesse público e esportivo. Mais de seis vezes daquilo que a Alemanha gastou, e onde ocorreu a Copa que atraiu mais de 800 mil turistas.
Há mais uma notável diferença; ninguém nos países supracitados e tantos outros, publicaria paralelo algum desses gastos para com os da Saúde Pública; pois nem importa quanto gastaram em relação às suas Copas, pois lá eles têm Saúde e aqui temos arrecadação e orçamento pois pela saúde, educação e segurança nada recebemos; tudo é ficção e fonte de exploração seja ela eleitoral; seja ela pelo encaminhamento forçoso de milhões de brasileiros, a contratarem Previdência e Planos de Saúde privados para que possam escapar da fila do obituário e da indigência do SUS.
Não é uma questão de ideário, trata-se de um desabafo contra a bandidagem instituída no Brasil e apoiada por cidadãos alienados.
Tão somente o que se gastou em arenas e/ou campos de várzea, eliminaria o passivo bancário de TODAS 2500 Santa Casas do Brasil, que é advindo e mantido para financiar aquilo pelo qual o SUS não paga para remediar a vida de milhões de arrastados doentes no Brasil. Mister colocar, que esse notável endividamento é para com o mesmo cartel – dono dos Planos Médicos e de Previdência Privada. Nossas Santas Casas, além de exploradas pela tabela de remuneração aberrante do SUS, e para poderem continuar atendendo humanitariamente milhões de brasileiros, pagam um “pedágio deliberado” de cerca de R$ 25/32 milhões por mês entre juros e correções sobre “empréstimos concedidos”.   

Não somos a “pátria de chuteiras”, nem mesmo temos “complexo de vira-latas”- expressões históricas de Nelson Rodrigues; somos sim, um povo anômalo, uma pátria dirigida por párias; uma nação de ferraduras que permite que seus concidadãos doentes ou idosos sejam tratados como lixo. Uma nação sem honradez alguma, mas que adora festejar e ser ludibriada.  

terça-feira, 1 de julho de 2014

Artigo: “Chefe ou líder” como você seria”? por Francklin Sá


Atravessa o País hoje uma crise muito forte de lideranças que consigam dá uma perspectiva de futuro à nossa juventude. Ser chefe é muito fácil. Todos nós temos dentro de cada um esta semente: basta mandar e amedrontar quem não estiver alinhado com suas ideias.
Agora ser Líder, desses capazes de se dirigir ao liderado e solicitar e não ordenar e você, mesmo com outros compromissos assumidos acatar, mesmo que para isto tenha que ficar além do horário, por entender a importância do pedido e por se sentir estimulado a dar sua contribuição, fica, este é bem diferente. O primeiro você obedece por medo já o segundo, você atende por respeito e pelo carisma.
A chefia já vem dentro de todos. Liderança se constrói ao longo da convivência. É claro que há líderes natos, que por intuição sabem como se portar e como conduzir as pessoas, mas a grande maioria dos líderes foram construindo o seu caminhar por meio de práticas desenvolvidas ao longo do tempo.
Existem gestores que acreditam que para comandar uma equipe, é apenas necessário ser chefe dela, dá ordens, gritar e vê-las cumpridas.
Ledo engano, para comandar um time, você tem que ser Líder e aí é onde está a grande diferença.
Para começar, todo chefe gosta e se  sente até feliz ao se ver rodeado de puxa – saco. Normalmente suas escolhas nunca primam pelo mérito e muito mais pelo subservilismo. Já o líder age de forma totalmente ao contrário, procura sempre se cercar do que há de melhor para assessorá-lo.
Agora dá para entender por que o líder pode ser um excelente chefe, mas dificilmente um chefe chegará a ser líder.
E as diferenças não ficam só por aí, existem algumas outras, que são facilmente visíveis, principalmente nas pessoas autoritárias.
Um chefe, normalmente comanda as pessoas impondo ordens de forma autoritária. Não respeita a individualidade.
Aliado a este lado autoritário, temos outras ‘qualidades’ que é muito comum nos chefes, entre elas  a centralização, é  como ele temesse que alguém possa lhe tomar o cargo. Outra característica muito comum é que eles nunca são respeitado, mas temidos.
São pessoas que não qualquer espaço ou abertura para discussão ou questionamentos e nunca estão disponíveis para tirar dúvidas. A sua palavra por si só basta e a sua ordem deve apenas ser cumprida.
O chefe olha para o outro como subordinado que deve apenas obediência, cujas ordens devem ser atendidas cegamente da maneira que ele acha mais eficaz, sem pensar no bem-estar coletivo.
Outra característica muito comum no chefe é que ele nunca é um agente incentivador ou motivador da equipe, muito pelo contrário, já que na concepção dele realizar um trabalho excelente é dever do funcionário e, quando isso não é visto, ele faz questão de apontar os erros, de forma ofensiva quando não agressiva, na presença de todos.
É comum no chefe jogar a responsabilidade em cima de sua equipe quando algo não dá certo e se vangloriar quando um objetivo é alcançado, como só ele tivesse executado. O erro ele socializa e tira o braço da seringa. O acerto é uma vitória exclusiva sua.
A pessoa que conduz as demais e inspira confiança na equipe, não é o chefe. Este é o LIDER.
Ele normalmente é reconhecido como um agente motivador de sua equipe,  sempre mostrando a direção que devem seguir e, caminhando junto, lado a lado. E isto faz ser muito respeitado por seus funcionários, e como se sabe, o respeito é muito mais eficiente do que o temor. O líder é aquele busca não só resultados, mas está sempre aberto e procura a melhor maneira para ele e a equipe conseguir alcançá-los.
O líder não pensa no poder como algo centralizado e sim uma responsabilidade conjunta que deve ser dividida com todo o grupo.
Diferente do chefe, o líder não costuma dizer que têm subordinados, e sim uma equipe, ou um time.
O líder é aquele que ouve a equipe e  está sempre disponível para a tirar dúvidas e buscar soluções em conjunto.  
Ele procura valorizar as habilidades individuais e coletivas, respeitando suas dificuldades e trabalhando junto com a pessoa para ajudá-la a superá-las.

O líder se responsabiliza junto com sua equipe quando algo não dá certo e divide a glória quando o objetivo é alcançado.

Somos cobaias do Facebook? Por Pedro Dória


Estudo feito sem consentimento pela rede social com quase 700 mil pessoas, que tiveram suas páginas manipuladas, mostra: empresa pode ser uma ameaça

O estudo sobre contágio emocional realizado pelo Facebook há dois anos, envolvendo 689.003 usuários, é gravíssimo. Publicado na revista acadêmica “Proceedings of the National Academy of Sciences of America” no início de junho, ele demonstra que a empresa por trás da maior rede social da internet não tem qualquer sensibilidade social. Não tem tato, pudor ou a necessária cautela necessária para lidar com gente.
Em janeiro de 2012, os cientistas sociais Adam Kramer, Jamie Guillory e Jeffrey Hancock manipularam aquilo que quase 700 mil pessoas viram em suas páginas por uma semana. Para parte do conjunto, tiraram tudo o que seus amigos escreveram de positivo; para outra, dispensaram o que havia de negativo. Ou seja: um grupo só recebeu notícias neutras ou positivas, o outro, só neutras ou negativas. Os pesquisadores queriam saber como os humanos de laboratório reagiriam. Descobriram que quem só lia notícia ruim ficava mais abatido e tendia a publicar mensagens mais tristes. E vice-versa.
Nenhum usuário foi alertado sobre o fato de que havia sido transformado em ratinho num estudo psicológico. Ao ler em primeira mão o trabalho, a professora Susan Fiske, da Universidade de Princeton, se incomodou. “Fiquei preocupada”, ela disse ao site da revista “Atlantic Monthly”. “Compreendo que as pessoas fiquem preocupadas, mas o problema delas é com o Facebook, não com o paper.”
A Universidade de Cornell, uma das instituições que puseram o selo de aprovação no estudo, também fez perguntas. Ouviu do Facebook que o site “aparentemente manipula os posts que as pessoas leem a toda hora”. As palavras são da professora Fiske, que editou a versão final do trabalho.
Trata-se de uma rede na qual um bilhão de pessoas se encontra diariamente. Mais ou menos na mesma época em que cientistas do Facebook manipulavam as emoções de alguns leitores, egípcios usavam a ferramenta para combinar uma revolução. Eles, tunisianos, sírios, gregos, espanhóis, indianos. Brasileiros.
A maior parte das pessoas que usam o Facebook o faz de forma ingênua. Acredita que lê não aquilo que a rede seleciona, mas tudo o que seus amigos escrevem. Acredita que não há filtros. Os menos ingênuos sabem que um software decide o que aparecerá. O que quase ninguém acreditava é que alguém teria a coragem de aprovar a manipulação das emoções de um grupo.
Ingenuidade não é mérito dos usuários. É também da empresa. O fato de que o paper foi publicado revela que, no Facebook, ninguém achou nada demais. Era, afinal, só um estudo para entender melhor como seres humanos reagem ao interagir em redes sociais. Por que parar em emoções? Política, por exemplo. Exposição maior aos problemas — ou às qualidades — de um governo muda a percepção do público? Revoluções podem ser atiçadas?
Por ser opaca, em nada transparente nos seus critérios, a empresa Facebook se torna uma possível ameaça. Por uma questão ética, quem estuda reações humanas sempre se compromete a avisar a quem está sendo estudado. É uma questão de respeito à dignidade. Ciência não é um processo perfeito. Mas, mesmo quando a natureza da manipulação não pode ser revelada para não interferir no estudo, as pessoas sabem que há um estudo ocorrendo e, ao fim, descobrem tudo. Nenhum dos quase 700 mil soube até agora que foi manipulado. Este aviso é o mínimo a que têm direito.
Nós, usuários do Facebook, temos igualmente o direito de saber se fomos feitos de cobaia. Em que circunstâncias. Para descobrir o quê. Como tais resultados são utilizados. Dificilmente ocorrerá. Para uma empresa que vive de explorar as relações entre seres humanos, sua falta de sensibilidade às sutilezas de como se dão tais relações é inacreditável.