O brasileiro sentiu o golpe. Contudo,
mesmo que aos poucos, felizmente a ferida vai se fechando, as lágrimas secam,
explicações (mesmo que nem um pouco convincentes) aparecem, e a Copa do Mundo encaminha-se
para seu clímax. A
despeito da campanha brasileira, é importante ressalvar grande evento aqui
realizado: tivemos belíssimos jogos, boa organização, seleções bem acolhidas. A
média de gols até agora, 2,7, já é a melhor desde 1994, pode ultrapassar os 2,8
de 1982. Tem a segunda maior média de público da história, atrás apenas dos
Estados Unidos. E terá a decisão no estádio quiçá mais famoso do mundo, o
Maracanã. Não acho exagero dizer que, até este ano, realizamos a copa das
copas.
Não há explicações para o
inexplicável. Pode-se, na verdade devemos, procurar a razão pela qual o onze
canarinho não decolou em 2014. Achei a escalação equivocada, precisávamos de
maior ocupação no meio de campo. As características são deveras distintas, mas
o substituto mais adequado para Neymar era Willian ou Paulinho, dificultando a
vida de Kroos e Cia. Talvez, ou provavelmente, não ganharia, mas evitaria o
maior vexame da história da seleção brasileira de futebol. Entretanto, o
desastre da última terça teve grande participação de um elemento sempre
presente – e que contribui muito para a graça do futebol –, o imponderável. Da
mesma forma que o Brasil entrou mal escalado e não se encontrou em campo,
quatro gols em seis minutos não é e nunca será uma coisa normal. Aconteceu, e
provavelmente nunca mais ocorrerá na história das copas.
Nossa atual
geração não é ruim, pelo contrário – esse time é, na minha opinião, inclusive,
superior ao de 2010. Foi
mal preparado, e em nenhuma partida realmente convenceu, mas boa parte destes
jogadores pode estar na Rússia em 2018 – tem talento, é a seleção mais
comprometida que vi nos últimos anos, estarão mais experientes e quererão como
ninguém reparar o fiasco aqui sofrido. Este ficará para sempre na história, o
título porventura vindouro também. Considero um equívoco QUEIMAR esses
jogadores, apesar do elástico escore.
Outro ponto
muito comentado, por razões óbvias, e a comparação com 1950. Comparação, na minha
opinião, inoportuna. No ano do maracanazo o Brasil tinha equipe bem engrenada,
que vinha de duas goleadas – naquele não houve partida final, mas sim um
quadrangular – 7-1 sobre a Suécia e 6-1 sobre a Espanha. Entrou no Maracanã
(construído para esta copa) com, diz-se, mais de 200.000 pessoas, precisando
apenas de um empate. Praticamente com as duas mãos na taça, poucos lembravam
que havia um adversário a ser enfrentado. Cenário completamente distinto do
atual, quando: tínhamos um time que não convencia desde o primeiro prélio;
enfrentamos uma seleção tida por todos como a melhor da competição. Nada que
justifique o apagão apresentado, mas um contexto bem diferente de
outrora.
Não será
aqui que o seleto grupo de campeões ganhará um novo membro. Domingo Alemanha e Argentina
partirão para o tira-teima de decisões, são protagonistas inclusive da primeira
vez que dois países reprisaram uma final. Em 1986, no México, os hermanos
abriram dois gols de diferença e cederam o empate. Entretanto, ao contrário de
1954 e 1974, os alemães não viraram; com passe de Maradona, Burruchaga marcou o
tento que deu o bicampeonato à albiceleste. Quatro anos depois, ambos vinham de
semifinais vencidas nas penalidades. A revanche germânica deu-se em Roma: com um gol de
pênalti convertido por Brehme aos 40 do segundo tempo, os comandados de
Beckenbauer eram os melhores do planeta pela terceira vez.
São seis
partidas em Copas do Mundo, com três vitórias e 11 gols marcados pelos alemães,
uma vitória e cinco gols para os argentinos, além de dois empates. O último embate foi na
África do Sul, pelas quartas de final. As equipes mantiveram boa base em
relação àquele torneio: oito atletas pela Alemanha e seis pela Argentina
(considerando Di Maria) se reencontrarão. Joachim Löw já comandava o time alemão,
enquanto na argentina Maradona vivia sua primeira experiência como treinador. O
resultado, um sonoro 4-0, com dois gols de Klose e um de Müeller. Se o ataque
alemão continua fulminante, o time comandado por Alejandro Sabella melhorou e
muito sua defesa, além do poderoso trio de frente com Messi. Jogo mais que
digno de uma final.
Na disputa
pelo terceiro lugar, hoje em Brasília, outro confronto das quartas de 2010. Se lá fomos eliminados
com a fatídica trombada de Julio César e Felipe Melo, agora é a chance de uma
despedida ao menos digna. Do outro lado, os craques Robben, Van Persie e
Sneijder despedem-se de copas do mundo. Quatro partidas em mundiais, perdemos
duas, empatamos uma e ganhamos outra. Destaco esta vitória, um suado 3-2 em
1994, com gol da vitória numa falta cobrada por Branco e um desvio de corpo
milimétrico do baixinho Romário. Que nossos atletas tirem daí inspiração para
os últimos 90 minutos neste mundial, levantem a cabeça e vislumbremos um futuro
mais promissor.
Pedro Mox, jornalista e fotógrafo
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