terça-feira, 27 de janeiro de 2015

"Observem. Parece que a vaca tossiu”


Começamos nosso comentário relembrando uma das frases mais utilizada por Dilma, nos diversos debates políticos ocorridos na televisão: “...as suas medidas candidato Aécio nós já conhecemos bem. Serão aquelas do PSDB... as mesmas de sempre: o senhor irá aumentar impostos e cortar verba na educação, além de mexer nos direitos do trabalhador e isso eu não vou dazer ‘nem que a vaca tussa’...”
Esta frase foi dita e repetida por toda campanha eleitoral, pela então candidata à reeleição, Dilma Rousseff, quando questionada sobre possíveis ameaças dos direitos trabalhistas e ou sociais, ou sobre temas econômicos cujas medidas pudessem prejudicar os trabalhadores, ela sempre sempre encerrava suas negativas a frase “nem que a vaca tussa” as medidas seriam tomadas.
Da mesma forma, não cansamos de ouvir seja em suas peças midiáticas, nos seus programas eleitorais e ou nos debates políticos com seus adversários, as acusações de pacotaços tarifários, aumento dos juros, de desemprego, redução dos programs sociais entre tantas outras ameaças colocadas para a sociedade, que seriam postas em prática por seus adversários, caso esses viessem a serem eleitos.
Passada as eleições, para surpresa da população, de imediato a sociedade brasileira foi presenteada com aumento dos combustíveis, aumento este negado durante toda a campanha, que por tabela e em cadeia, trouxe outros aumentos, principalmente em relação aos produtos agropecuários, que tem no transporte rodoviário o seu principal meio de escoamento, que tem refletodo na inflação e por tabela no bolso da classe trabalhadora e na população mais pobre, em sua grande maioria eleitores do PT.
O que escondiam do eleitor na maior cara de pau e não tinham coragem de dizer era que, apesar de insisterem com frase “nem a vaca tussindo”, já existia decisão tomada por parte de Dilma e sua assessoria econômica - talvez esse tenha sido o principal motivo da saída de Mantega -, de decepar o seguro-desemprego, o auxílio-doença e o abono salarial desde agosto, portanto muito antes dos debates terem ocorrido e das eleições.
Trataou-ss, portanto, de uma decisão guardada em segredo, às setes chaves, que tudo fizeram maquiavelicamente para não chegar ao conhecimento público, de forma que a presidente mantivesse seu discurso enganador, para não sofrer consequências eleitorais, e quando vasava qualquer comentário a esse respeito, Dilma Rousseff usava da expressão que já faz parte do seu dicionário e do anedotário popular: “Nem que a vaca tussa”.
Não demorou muito para a sociedade ver quanto foi enganada durante a campanha eleitoral, pois, passada as eleições vaca tossiu” e a decisão de corte dos benefícios previdenciários e trabalhistas entrou na pauta de forma definitiva, que em muito prejudicará a vida dos trabalhadores.
Este foi o presente natalino dado ao trabalhador brasileiro, principalmente àqueles que acreditaram na candidata Dilma e saíram às ruas em defesa da sua reeleição, vindo empacotado sobre forma de “Medida Provisória”, onde reduz significativamente conquistas sociais, como o seguro – desemprego, auxilio doença, entre outras maldades previstas no bojo do projeto encaminhado ao Congresso Nacional que, se aprovadas  será uma regressão ao avanço social que a população de baixa renda já havia obtido.
Mais o pior estaria por vir. Como não apresentou para debate com a sociedade, um programa político de governo, ficou Dilma Rousseff a cavalheiro para após eleita praticar qualquer ato, seja político, econômico e ou administrativo, pois não tinha qualquer compromisso firmado com a população, estando livre para praticar todo tipo de maldade, que porventura sua equipe lhe apresente ou lhe venha a mente.
De imediato, após sua posse, tudo que temia- se de seus adversários e que Dilma não cansou de aterrorizar no seu programa eleitoral, ela começou a praticar, a tal ponto que até seus opositores começaram a reclamar, de tantas ‘maldades’ praticadas, cujos efeitos reacairam e recairão sobre os ombros dos trabalhadores, aqueles mesmo que não seriam prejudicados “nem que a vaca tussisse”.
Para começar, comunicou em doses homeopáticas as medidas de ‘ajuste econômicos’ que trazem em seu bojo aumento de impostos, retorno de outros que já havia deixado de existir, novo aumento nos combustíveis, entre outras maldades, cujas medidas só trarão de efeito prático mais arrocho salarial e desemprego, aliado com o aumento de inflação e desestímulo ao capital produtivo em favor do sistema financeiro.
Por certo, como o ajuste econômico prometido ainda não está completo, já há comentários de possíveis medidas novas, que deverão atingir outras conquistas trabalhistas e principalmente sociais, aliada a redução de investimentos por parte do governo em áreas prioritárias, prejudicando ainda mais os trabalhadores e a classe média, alvos principais das maldades planejadas no Planalto.
Assim, diante de tudo que está acontecendo e para o que está por vir, já podemos antecipar para os trabalhadores, que a “vaca tussiu”.


Autor: Francklin Sáeconomista, pós – graduado em Administração Pública e MBA em Gestão Ambiental Meio Ambiente. Fincionário público aposentado e Editor responsável pelo  Portal Municípios Baianos http://www.municipiosbaianos.com.br e pelo blog de artigos palavardesa.blogspot.com

“Ética empresarial no mundo globalizado”


Uma das pilastras maiores da recuperação judicial e do princípio fundamental da preservação da empresa é a boa fé empresarial, ao lado do estudo de viabilidade do negócio societário.
A empresa que pratica atos contrários à ética e de visível ilicitude deve ser mantida ou considerada inidônea, nos termos da Lei nº 12.846/13? E quando os seus negócios se relacionam com o governo, o que mais contrata e paga, também poderíamos inserir na tessitura do modelo as empresas estatais, cujo controlador é e permanece o Estado?
Infelizmente num Estado de governabilidade pouco ético e sem o estofo moral que se espera, as empresas privadas se degringolam em torno de consórcios e cartéis, visando as respectivas dominações do mercado e o aumento ambicioso do lucro.
Aplicada a lei na sua essência, uma empresa sem ética e com princípios de governança corporativa abalados pelas ilicitudes cometidas não poderia mais continuar no mercado ou ser aceita a sua recuperação judicial, em tese, é o que estamos observando na melindrosa operação lava jato.
Contudo, vamos ousar divergir por alguns motivos não menos relevantes. A globalização mundial econômica flexibilizou inúmeros princípios e alcançou no lucro e na concentração de riqueza corporativa as molas propulsoras da amplitude e, de certa forma, da largueza da atividade empresarial.
Em nenhum momento se pretende defender quem agiu desonestamente ou com o escopo de prejudicar não apenas a empresa, mas, emblematicamente, o próprio Estado.
A declaração de inidoneidade de diversas empresas que têm negócios nos mercados internacionais representaria um preocupante processo de crise social e milhares de empregos diretos e indiretos estariam sendo suprimidos em busca da verdadeira qualidade do negócio empresarial.
Conquanto pudéssemos reduzir as milhagens de corrupção, as quais nosso Governo sempre carregou e hoje ostenta o braço dessa desmesurada corrupção, não pode ser desviado do foco do Estado brasileiro, da falta de controle e respectiva transparência, na medida em que as empresas estatais, as chamadas sociedades de economia mista, têm um controle muito aquém pelos órgãos responsáveis, respingando no mercado e provocando uma bola de neve, no que diz respeito ao perfil destoante das economias avançadas.
Pensamos que os atos praticados pelos diretores, conselheiros e mesmo gestores das empresas não podem ser o mote para a não preservação da empresa ou do negócio, já que eles atuam com um mandato provisório e por tempo determinado, esculhambadas as portas dos defeitos praticados, por si só, já perdem seus cargos e merecem exemplar substituição, com o bloqueio e a indisponibilidade de bens.
O mesmo conceito se aplica a latere nas sociedades de economia mista, não será o ato isolado do controlador de nomear pessoas sem o desejado nível de gestão ou governança corporativa que ensejará o fim da atividade econômica e de âmbito empresarial.
Empresas seculares não podem ser extintas ou consideradas simplesmente inidôneas se o jogo de sobrevivência contou com o apoiamento do Estado, o único e maior responsável pelo controle dessas imperfeições e distorções, que resvalam em toda a sociedade civil e geram prejuízos que podem chegar na casa de um trilhão de reais.
Nos EUA a situação não é diferente, o processo invariavelmente acaba com o reconhecimento da culpa e pagamento de pesada multa.
Banir do mercado empresas que têm quase cem mil empregados e contam com o dobro de empregos indiretos seria aplicar uma pena de morte para a empresa viável, daí porque a lei de recuperação, que, em breve, completará uma década, previu no seu artigo 64 o afastamento dos maus administradores, e não chegou ao ponto da dissolução da empresa, exceto se inviável, fosse alcançado e vencido o período de observação.
Enfrentamos uma quadra relevante do cenário nacional, a ética empresarial ao lado da transparência do negócio, ambas encerram a razão de ser do mundo contemporâneo, mas jamais iremos conseguir a neutralidade ou a mudança substancial, pois que, se os princípios estão deteriorados e a moral em xeque, raramente os demais sobreviverão, pois quem inflige essa catarse e mudança dos usos e costumes é o próprio Estado brasileiro.
O processo de punição é apenas o primeiro passo nas esferas penal, cível e administrativa, para o afastamento imediato de todos que se acumpliciaram na mendaz forma de ganhar mediante desabrida corrupção e acobertamento do Estado, que todo o procedimento possibilite o renascer da ética e da moral empresarial, não apenas das sociedades comerciais, mas, principal e inadiavelmente, das empresas estatais, cujo controlador necessita se curvar à realidade e findar, de uma vez por todas, com seus desmandos e arroubos que comprometem não unicamente o ambiente salutar dos negócios, mas desencadeiam crises sistêmicas que podem abalar toda a confiança e credibilidade de uma Nação.


Autor: Carlos Henrique Abrão - Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo

“O governo que Aécio iria copiar”


O Paraná foi um dos destinos prediletos de Aécio Neves na campanha de 2014. Garantir uma ampla vantagem em relação à candidata do PT nas urnas era uma obrigação estratégica do presidenciável no Estado do aliado de primeira hora, o também tucano Beto Richa.
Em Curitiba ou no interior, a cada desembarque, Aécio repetia um mantra: o governo Beto Richa fora extraordinário e sua gestão seria um modelo para Brasília. Prometeu ampliar no governo federal as medidas econômicas e programas sociais experimentados no Paraná pelo amigo tucano.
Aécio pode não ter sido avisado do retumbante fracasso que foi o primeiro mandato do aliado tucano no Paraná. Se foi, virou solenemente as costas à verdade.
Richa foi eleito em 2010 com o discurso da modernização da gestão, que "faria mais com menos". Fez o oposto. Mostrou-se desqualificado e passou longe de cumprir todas as tarefas que prometeu.
Logo no primeiro ano no Palácio Iguaçu ultrapassou os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal. Passou quase todo o primeiro mandato descumprindo a LRF, fato que impediu o Paraná de tomar empréstimos e executar investimentos. Com a crise financeira vieram a paralisação de obras de infraestrutura e atraso de pagamento de funcionários.
Descumpriu a obrigação constitucional de destinar 12% da arrecadação para a saúde. Os gastos com publicidade cresceram 668%. Em dezembro de 2013, assumiu publicamente uma dívida de mais de R$ 1 bilhão com fornecedores.
Fotos de policiais civis e militares empurrando viaturas que ficaram sem combustível inundaram as redes sociais e se tornaram a marca de seu governo. Mesmo o canil da PM ficou sem dinheiro para ração dos animais.
Se foi um desastre na condução das finanças do estado, fato reconhecido por aliados governistas, conseguiu capitalizar politicamente os investimentos federais e privados no estado. Foi reeleito.
Em dezembro, o aliado de Aécio promoveu um tarifaço na tentativa de recuperar a saúde financeira do Estado: aumentou o IPVA e tributos da gasolina; acabou com a isenção do ICMS sobre uma centena de produtos e aumentou o ICMS sobre outros, entre materiais escolares e eletroeletrônicos.
Economistas projetaram aumento da inflação e perda do poder de compra das famílias paranaenses por conta da medida.
Dados recentes da execução orçamentária estadual mostram uma explosão da arrecadação na gestão Richa (2011-2014) se comparada com a gestão anterior, do senador Roberto Requião (2007-2010). Foram R$ 99 bilhões no último quadriênio e R$ 76 bilhões no anterior, um crescimento de 30%. Em paralelo, o aumento dos investimentos foi de apenas 4%. Os números refletem a incapacidade gerencial e irresponsabilidade do atual governo paranaense.
A vitória da presidenta Dilma nas eleições de outubro não representa apenas continuidade de um projeto de governo voltado para o povo, mas impediu que Aécio repetisse em Brasília um governo comprovadamente fracassado.

 


Autor: Enio Verri - Deputado estadual, presidente do PT do Paraná e professor licenciado do departamento de Economia da Universidade Estadual do Paraná

“PM X Surfista, legítima defesa?”


Há que se resistir ao desejo fácil, quase atávico, de ‘julgar’, como gosta grande parte da ‘imprensa processante’.
De um entrevero entre um soldado da PM, Luis Paulo Mota Brentano, e um surfista, Ricardo dos Santos (foto), um morreu por tiros. E não foi o profissional de segurança.
Agora a praticamente única tese de defesa que sobra ao PM é alegar ‘legítima defesa’. Pode ser. Mas é uma tarefa bem difícil.
A legítima defesa, bastante mal compreendida, não requer o que muitos acham: que o agressor esteja ‘armado’. Requer basicamente duas coisas: agressão injusta e uso moderado dos meios necessários. Mas repare, agressão é agressão.
Num paralelo, o famoso pintor Iberê Camargo interveio numa briga de casal no Rio, em Botafogo, em 1980 e, agredido matou a tiros um engenheiro muito mais jovem e muito mais forte do que ele. Foi absolvido. Iberê já era um velho senhor, além de artista. Não se sabe por que andava armado.
O caso do PM e do surfista é bem diferente. Não há diferença de idade, o soldado não é nada franzino, é um profissional de polícia, pertencente não a uma polícia de investigação, mas à PM que é especializada em confrontos urbanos. Possui técnicas de defesa pessoal. Além do mais, utiliza arma como modo profissional de vida, 24 horas do dia, ou seja, fica muito difícil sustentar que teria “perdido a cabeça”.
Quem anda armado sabe que tem que aprender, até, a ouvir desaforos e xingamentos. Se for usar a arma para isso sairá matando pessoas. Um uso bestial da arma.
Para piorar a situação do policial, no dia do evento, segundo a perícia, o PM ingeriu quantidade significativa de álcool.
A tese da legítima defesa é possível, mas no caso se mostra bastante difícil por todos os fatores envolvidos.
Para o ‘consumo’ da sociedade surgem depoimentos de colegas do policial dizendo que ele era um bom profissional e depoimentos de surfistas famosos e amigos dizendo que Ricardinho era uma pessoa maravilhosa. Mas para a justiça e para a tese de legítima defesa não bastam apenas alegações e uma versão agora muito bem trabalhada, com um réu com cara de bom moço. Uma vida foi tirada. E tirada por um policial. Aí está o absurdo e a infâmia social.
Policiais não existem para se envolver em confusões e matar pessoas, mas para retribuir ao salário que recebem da sociedade. E protegê-la, acima de qualquer valor, mas principalmente protegê-la da própria fúria pessoal que, com uma arma na cintura, mata. 


Autor: Jean Menezes de Aguiar - Advogado e professor da pós-graduação da FGV

“Um olho no peixe outro no gato”


Diante das medidas da equipe econômica comandada por Joaquim Levy, que penalizam os trabalhadores, uma pergunta preocupante vem à tona: estamos assistindo a um esforço pontual e tópico para ajustar as contas públicas e "agradar" ao mercado, ou o governo da presidenta Dilma virou o fio e abraçou as teses derrotadas na última eleição? Como questiona o presidente da CUT nacional, Vagner Freitas, será que o governo resolveu derrubar a economia para domar a inflação e reduzir o rombo nas suas contas? Se for isso, vem aí desemprego e recessão.
Mas ainda estão rolando os dados. Se por um lado declarações recentes de Levy e de Nelson Barbosa acendem ainda forte o sinal amarelo, por outro, as centrais sindicais vão para as ruas (mobilizações nacionais estão marcadas para 28 de janeiro e 26 de fevereiro) e cresce a insatisfação dos setores organizados da sociedade com os rumos adotados até aqui. Contudo, todo cuidado é pouco para não se jogar água no moinho da direita midiática e parlamentar, que segue firme na sua toada golpista, agora agregando as crises hídrica e energética à exploração da operação Lava Jato.
Chama a atenção o fato de o governo não ter sequer acenado até agora com medidas de ajuste que tributem os segmentos mais abastados da população. Aquela minoria que tem mais e, portanto, pode mais. Nenhuma palavra sobre taxação das heranças e das grandes fortunas. Até Obama, em seu Discurso sobre o Estado da União, saiu em defesa da taxação dos ganhos de capital, das heranças e das grandes fortunas como saída para reduzir as desigualdades sociais nos Estados Unidos.
Mas o modelo de ajuste proposto por Levy segue a velha e fracassada cantilena neoliberal de onerar o trabalho e a produção, poupando endinheirados e rentistas. No fundo, é uma cópia medíocre do receituário da chamada Troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu), para combater os efeitos da crise financeira internacional de 2008. Calcula-se que aplicação destas políticas tenha fechado cerca de 60 milhões de postos de trabalho.
E nada mudou em relação aos crônicos problemas de comunicação do governo. Senão vejamos : vamos combinar que o anúncio, ao apagar das luzes de 2014, das Medidas Provisórias que trazem dificuldades para a obtenção do seguro-desemprego, abono salarial (PIS-Pasep), auxílio-doença, auxílio-defeso, auxílio-reclusão e das pensões (além do aumento anunciado posteriormente dos juros para a obtenção de crédito) mereciam explicações públicas por parte da presidenta, quem sabe utilizando até uma cadeia nacional de rádio e tevê.
Faltou sensibilidade política à Dilma para perceber que não se tratam de meras e banais intervenções fiscais para melhorar as contas do governo, mas sim de decisões que contrariam o que foi pregado nos palanques e ferem compromissos eleitorais assumidos com as organizações da classe trabalhadora. Por tudo isso, faz-se necessário um esclarecimento da chefe do governo. O silêncio de Dilma, deixa à vontade seus ministros para subirem o tom no que diz respeito à profundidade e à extensão do ajuste fiscal, semeando ainda mais apreensão.
Assim, Levy afirma que o seguro-desemprego está superado e admite recessão no primeiro trimestre de 2015. Por sua vez, Nelson Barbosa vai além e diz que o modelo da economia brasileira dos últimos 12 anos está esgotado, causando perplexidade entre os que votaram em Dilma justamente porque desejam a continuidade da geração de emprego e renda, com inclusão social, de um mercado interno robusto, da adoção de políticas anticíclicas para proteger a produção, o consumo e a classe trabalhadora da retração da economia global.
É possível até traçar um paralelo entre o ajuste fiscal de Dilma e o implementado por Lula em seu primeiro ano de governo, em 2003. Só que a situação de 11 anos atrás era infinitamente pior do que a de hoje. Naquela época, além de o Brasil contar com um volume pífio de reservas internacionais, o desemprego estava em alta, bem como a inflação. Sem falar que o país devia ao FMI e a relação dívida interna/PIB era bem mais desfavorável.Ou seja, o rigor nos cortes de 2003 não se justifica hoje, embora seja forçoso reconhecer que a acertada decisão de manter o mercado aquecido seja responsável pelo desequilíbrio das contas governamentais.
Tem muita água para correr ainda debaixo da ponte. Decorridos apenas vinte e poucos dias do novo governo, não concordo com a análise precipitada de que seus rumos estão definidos. Céticos, ouço até mesmo militantes do PT dizerem que esse governo é um caso perdido. Devagar com o andor. Primeiro porque esse governo será permanentemente de disputa, cabendo ao PT, PCdoB, centrais sindicais e movimentos sociais puxá-lo para a esquerda. Depois, Dilma, como militante e quadro de esquerda que sempre foi ao longo da vida, merece, no mínimo, o benefício da dúvida. Não custa lembrar que, junto com o ministro Guido Mantega, ela comandou a exitosa virada desenvolvimentista do governo Lula, em 2005.


Autor: Bepe Damasco - Jornalista, editor do Blog do Bepe

“Meirelles não é amigo mais avisa”



A Folha de S.Paulo deste domingo 25 de janeiro publicou um artigo assinado por Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, ex-deputado federal do PSDB e ex-Banco de Boston.
O artigo é direto e reto: não basta o ajuste Levy-Barbosa; será necessário fazer reformas estruturais.
Na boca da esquerda, reformas estruturais significa entre outras coisas melhorar o padrão de vida da classe trabalhadora.
Na boca da direita, reformas estruturais significa entre outras coisas reduzir o valor da força de trabalho.
A seguir, reproduzo e comento trechos do artigo de Meirelles, que reproduzo integralmente ao final:
"1) O ajuste fiscal é fundamental para não só tirar o Brasil do rumo da insolvência, mas eliminar incertezas macroeconômicas que afastam investimentos";
-na opinião de Meirelles, estariam certos os tucanos que diziam que estávamos no "rumo da insolvência";
-dúvida: quais seriam as "incertezas macroeconômicas": a crise internacional? as altas taxas de juros? o câmbio? a oligopolização da economia? os níveis nababescos de rentabilidade a que o grande empresariado tupiniquim se acostumou? Ou seriam as políticas sociais e trabalhistas?
"2) 2015 será duríssimo, com desaceleração econômica numa economia já estagnada em função do ajuste fiscal e do aperto monetário --o quadro é de crescimento baixo ou zero, inflação e juros altos e crise no setor de energia e água";
-ou seja: nossa economia já estaria "estagnada"...
-e mesmo assim vai piorar, porque teremos "desaceleração econômica"... "em função do ajuste fiscal e do aperto monetário";
-ou seja: o ajuste vai aprofundar a desaceleração econômica!!!
"3) Se tem razão quem vê o ajuste fiscal como gerador de estabilidade, confiança e investimentos, tem razão também quem vê um quadro difícil nos próximos anos".
-ou seja, se o ajuste fical vai gerar "estabilidade, confiança e investimentos" no andar de cima....
-no andar de baixo teremos "um quadro difícil nos próximos anos".
(Aliás, para quem não lembra, "nos próximos anos" teremos eleições municipais e presidenciais.)
Segundo Meirelles, não será suficiente fazer o ajuste fiscal.
Se o ajuste "for integral", o país deve "voltar a crescer".
Óbvio: reduzindo a remuneração da classe trabalhadora, desperta-se o espírito animal do empresariado; e depois de uma recessão, sempre vem algum crescimento ("exclusive" para os mortos e feridos).
Mas atenção: mesmo com um ajuste "integral" (pobre seguro-desemprego...), Henrique Meirelles alerta que "os problemas estruturais desenvolvidos nos últimos anos impedem o tipo de crescimento que todos esperam".
Ou seja: o que impede o "tipo de crescimento" que "todos esperam" são os problemas estruturais desenvolvidos "nos últimos anos", leia-se, durante os governos de presidentes petistas. Ou terá sido durante o último governo, quando Meirelles já não era presidente do Banco Central?
Seja como for, ele diz que para termos o crescimento que "todos (like Meirelles) esperam" será preciso remover os tais "problemas estruturais" e fazer o seguinte:
1) "reformas estruturais profundas";
2) "viabilização dos investimentos em infraestrutura";
3) "substituição dos incentivos ao consumo por incentivos ao investimento";
4) "melhora do ambiente de negócios";
5) "aumento continuado da produtividade";
6) "diminuição do custo de produção no Brasil".
Os itens 1, 3, 4, 5 e 6 são jargões cifrados que, na boca de gente como Meirelles, admitem a seguinte tradução: baratear a força de trabalho.
Meirelles não é amigo do PT, nem da esquerda. Mas não se pode negar que neste artigo ele avisa perfeitamente qual o script que Levy & Barbosa pretendem seguir.
Acordes dissonantes - Henrique Meirelles – Folha de S.Paulo
O Brasil vive momento complexo em diversas frentes, gerando notícias aparentemente contraditórias.
De um lado, a equipe econômica anuncia medidas para aumentar a arrecadação e cortar despesas. No fórum de Davos, o ministro Levy diz que a responsabilidade fiscal é a base para melhor estruturação da economia e que, com incentivos corretos, trará de volta confiança e investimentos. A reação do mercado é positiva, com sinais de boa vontade de empresários e investidores com a retomada de investimentos no Brasil.
Do outro lado, um dos mais bem-sucedidos gestores de investimentos do país trabalha com cenário desastroso para o Brasil neste ano e desempenho medíocre nos próximos devido a problemas estruturais que vão além do reequilíbrio fiscal, como o aumento do tamanho do governo, o predomínio do consumo sobre investimento e a má gestão em áreas vitais como energia e água. Já a alta autoridade do Judiciário declara que o aumento de impostos como foi feito é confisco. E o criador do acrônimo BRIC prevê que Brasil e Rússia cairão da divisão de potências econômicas emergentes, restando só Índia e China, o IC.
Essas são só algumas das visões dissonantes que dificultam o entendimento.
Em resumo, o que se pode dizer é: 1) O ajuste fiscal é fundamental para não só tirar o Brasil do rumo da insolvência, mas eliminar incertezas macroeconômicas que afastam investimentos; 2) 2015 será duríssimo, com desaceleração econômica numa economia já estagnada em função do ajuste fiscal e do aperto monetário --o quadro é de crescimento baixo ou zero, inflação e juros altos e crise no setor de energia e água; 3) Se tem razão quem vê o ajuste fiscal como gerador de estabilidade, confiança e investimentos, tem razão também quem vê um quadro difícil nos próximos anos.
O país deve voltar a crescer se o ajuste for integral. Mas os problemas estruturais desenvolvidos nos últimos anos impedem o tipo de crescimento que todos esperam.
O potencial de crescimento do país caiu do patamar entre 4% e 5% da década passada para pouco acima de 2% na próxima década. O equilíbrio das contas públicas elimina um cenário de incerteza com risco de crise fiscal e aumento do custo país, mas não é suficiente para voltarmos a crescer no ritmo dos demais emergentes.
É possível aumentar esse potencial nos próximos anos, mas só voltaremos a crescer a taxas robustas com reformas estruturais profundas, viabilização dos investimentos em infraestrutura, substituição dos incentivos ao consumo por incentivos ao investimento e melhora do ambiente de negócios, gerando aumento continuado da produtividade e diminuição do custo de produção no Brasil.


Autor: Valter Pomar é historiador e integrante da Direção Nacional do PT

“O BLECAUTE EM NOSSA ECONOMIA”


Às vezes ficamos a nos perguntar: Será que por leigos, ou por incompetentes e até otários que nossos governantes nos reconhecem ou tentam nos fazer, em especial quando a abordagem é economia brasileira, teremos sempre que arcar com as sérias consequências de sucessivas e incompetentes administrações sem que demonstremos a nossa indignação? Entram e saem presidentes e ministros e cada vez mais mergulhamos em um mar de dúvidas, dívidas e padecimentos como inflação, estagnação, recessão e outras mazelas. A economia do País está, como nunca, cada vez mais descurada, declinante, em contração e na iminência de uma recessão que descaradamente insistem em negar. As contas externas do Brasil têm o pior resultado em 13 anos.  Um PIB que por mais otimistas que sejam os economistas governamentais não positivará em 2015. Para aonde caminhamos?
Há pouco tempo a presidente fez um bolsão de privilégios isentando de impostos vários setores, dentre eles o automobilístico (encheu o Brasil de carro e os bolsos das montadoras estrangeiras) e a linha branca (geladeiras, fogões etc.) e pagamos caro por essa inconsequência. As contas do Brasil negativaram. Tentando remediar, o governo precipita-se e mais uma vez solta um bolsão, agora de perversidades e que atingem mais contundentemente os trabalhadores. Corte de direitos trabalhistas, veto da correção do Imposto de Renda, elevação de juros e impostos (PIS, COFIN, IOF, CIDE etc.) combustíveis, produtos importados etc., a nosso ver, o mais grave dos erros. E ainda tem inconsequentes cogitando do retorno da CPMF. Insistentemente negado em campanha eleitoreira vem agora esse confisco abrupto, autoritário na medida em que não cogita de cortes nos gastos governamentais. Temos 39 Ministérios quando 20 bastariam. Em 2014 foram gastos R$ 8.7 milhões com Cartões Corporativos – “gastos secretos...”. Transações efetuadas pela equipe da Presidente com hospedagens, alimentação e outras mordomias. No período do governo Dilma totalizam R$ 23,4 milhões. Essas são apenas algumas das inconsequências econômicas praticadas pelos nossos governantes. Detemos inúmeros títulos negativos mundiais: estamos entre os dez paísesonde se cobra mais impostos e onde esses menos se convertem em serviços para a população.
Em nosso raciocínio incipiente (mas não estúpido), ao se elevar impostos esses são imediatamente repassados pelas empresas aos consumidores. Reduz-se assim, drasticamente, o poder aquisitivo dos salários no que resulta na retração da demanda já que os consumidores temerosos do que pode acontecer, limitam ao máximo as suas compras. Juros estratosféricos justamente para não circular dinheiro e “conter a inflação”. Até os juros do programa habitacional subiu. Como consequência as empresas vendem menos e pagam ainda menos impostos e o Governo termina por deixar de arrecadar. A lógica governamental demonstra-se, com isso e mais uma vez, estúpida e perigosa!
O povo, a grande e eterna vítima, é novamente lesado, aviltado e cala servilmente.


Autor: José HILDEBERTO Jamacaru de AQUINO - hildebertoaquino@yahoo.com.br Vejam também nos endereços: http://blogdoaquino.blogspot.com/www.tvrussas.com.br, no jornal Folha do Vale (Limoeiro do Norte) e Jornal Gazeta de Notícias (Cariri).

domingo, 4 de janeiro de 2015

Não dá para crer nas “boas” intenções de Dilma


O Brasil assistiu a presidente Dilma no dia da sua posse reafirmar a defesa intransigente e o respeito às leis e a Constituição do Brasil, chegando a conclamar à Nação para que todos, juntos e unidos possa combater eficazmente a corrupção que hoje sangra os cofres e o dinheiro público do País, transformando o erário em um duto que corre para os cofres e contas bancárias de uma minoria composta de políticos e empresários, sem que o povo veja qualquer punição, como normalmente ocorre com qualquer cidadão comum.
Antes da posse para quem não se lembra, a presidente afirmava que iria buscar auxiliares para os seus ministérios, composta de homens com uma reputação ilibada e com um histórico de integridade inatacável, ao ponto de afirmar que, antes de nomear iria consultar o Ministério Público sobre sua ficha corrida.
Parece que as promessas não passaram de discursos para mais uma vez iludir a sociedade, buscando traze-la para o seu lado, pois a mesma já demonstra impaciência com tantos escândalos que a cada dia estouram, pós – era PT no Poder.
Basta observar os vários nomes escolhidos pela presidente para servirem como seus auxiliares, que não dá para acreditar em suas “boas intenções”, ou então, estará disposta a enfrentar críticas e mais críticas, não só de parte da oposição política, como também de toda a sociedade, cujas críticas começaram a aparecer na imprensa, mesmo antes de tomar posse para o segundo mandato.
Ora, como podemos confiar nas “boas” intenções de uma presidente que antes de nomear os seus auxiliares, já se sabe que pelo menos uns 05 nomes estão com ações tramitando na justiça, alguns inclusive por improbidade administrativa e desvios de dinheiro público, outros envolvidos com grilagem de terra e trabalho escravo no campo?
Como podemos acreditar nas “boas” intenções de uma presidente, que mantém os feudos partidários nos ministérios, em cujas pastas, os partidos donatários foram flagrados envolvidos em escândalos, como no caso do Ministério do Transporte e do Trabalho, só para exemplificar.
Como confiar nas “boas” intenções de um presidente, que escolhe para assumir o Ministro dos Transportes,  Pasta fundamental para o desenvolvimento e importante para o País e que mexe com muitos recursos, um ministro não passa de um pau mandado e homem de inteira confiança do mensaleiro e condenado à prisão, o “ilibado” Valdemar Costa Neto?
Como crer nas “boas” intenções de uma presidente que tem a coragem e ousadia de nomear Kassab – quando prefeito de São Paulo sempre foi indicado entre os três piores prefeitos do País – para exatamente administrar o Ministério das Cidades? E entronisar em um ministério Helder Barbalho, rejeitado pelo povo paraense, filho de um dos políticos mais envolvidos em casos de corrupção, um verdadeiro Ficha Suja.
A situação de Helder é tão ridícula, que a sua indicação para ministro virou caso de piada entre a população do Pará. Chegam a gozar “Oque não presta para o Pará é bom para o Brasil”.
Como acreditar em um governo que mantém e ou nomeia ministros reconhecidamente incompetentes e envolvidos em casos de desvios éticos, como a sra. Savatti, pega utilizando em benefício pessoal, um helicóptero da Polícia Rodoviária que deveria transportar acidentados?
Não da para confiar nas “boas” intenções de um governante quando nomeia um ministro o qual reconhece não entender nada da área que irá administrar, como afirmou o ministro dos Esportes, além de ter sido expulso do seu antigo partido por ter sido flagrado transportando mais de 600 milhões de reais, que, segundo ele, havia sido “recolhido” em um evento evangélico da Igreja Universal Reino de Deus, da qual é pastor.
Para o mal ser ainda maior, só falta Dilma convidar Paulo Maluf, Roseana Sarney, José Sarney. Cabral e Collor de Mello para lhe auxiliarem. Aí o time ficaria completo. Fica aí a sugestão, pois ainda há tempo para os convocarem.
Quem conhece o mínimo de administração sabe, que o caminho para o sucesso de uma gestão começa pela escolha da equipe que irá assessorá-lo e se você escolhe os piores ou indica e nomeia pessoas para áreas que desconhecem ou que não é a “sua praia”, lógico que não se pode esperar nada de bom e isso é o que está demonstrando o time da Dilma, cheia de nomes, alguns até de expressão, mais fora de sintonia com a realidade de sua Pasta, já demonstrada pelas práticas por onde passaram.
Infelizmente, esta é a realidade que estamos vendo, ou alguém pode crer nas “boas” intenções de uma gestão quando coloca pessoas erradas nos lugares errados e que não entendem da área para a qual foi escalada.
Feudos
Seguindo a lógica de lotear o governo para obter apoio no Congresso, Dilma manteve a linha de nomear os apadrinhados políticos, sem ter o cuidado de analisar o mérito do indicado, como no caso do Ministério dos Transportes da cota do PR,  onde o  escolhido foi o vereador Antônio Carlos Rodrigues (PR), ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo, acatando a indicação do ex - deputado Valdemar Costa Neto, condenado no processo do mensalão.
Dilma que chegou a dizer que extinguiria os “feudos” de partidos nos ministérios, mais uma vez não passou de “boas” intenções, já que além do PT,  PMDB, PP e do PDT, o PR conseguiu se manter no lugar e começou a criar outro nicho, através de PSD de Kassab, entregando-lhe o Ministério das Cidades.
Isso sem levar em consideração a guinada para a direita que deu na política econômica, executando tudo aquile que ela criticou nos adversários durante a campanha eleitoral.
Portanto, por mais que tenhamos boa vontade e esperanças, porém, não dá para acreditar nas “boas intenções” do jovo governo Dilma, desejando a ele muita sorte e um até o próximo escândalo que irá surgir, com tantos nomes acostumados a conviverem no lamaçal da corrupção.
A situação ministerial está tão ridícula que já circula nas redes sociais o diálogo que transcrevo para seu deleite:
“O filho de Jader Barbalho é o novo ministro da Pesca.
– Mas você entende de pesca?
– Claro! como é que você acha que eu pesquei esse ministério?
Ao contrário do que dizem, o novo ministro dos esportes é um esportista.
Ele corre, pula e nada.
CORRE atrás de cargo.
PULA pra comemorar a indicação.

E o que ele entende de esportes? NADA