segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Artigo: ‘Rolezinho’ de cínicos

O cinismo é uma arma preciosa... e perigosa. Especialmente em nações miseráveis, fartamente desiguais e com população com nível político-cultural muito abaixo do que se espera como mínimo. Cumpre aos cínicos a tarefa de vestir a máscara do que imagina ser seu tempo e seu espaço, pretendendo romper o pragmatismo das fronteiras e princípios basilares à convivência nas sociedades contemporâneas.
 Por óbvio, o duelo entre o cinismo e a legalidade é bastante conveniente aos nebulosos interesses de uma espécie bizarra: os ideólogos discursistas. Aquela raça tacanha, de apoucada responsabilidade, sempre pronta a fermentar supostos conceitos politicamente corretos, servidos à bandeja do caráter duvidoso e da má-fé. Eia, pois, a resumir a ópera dos malandros cínicos em argumento de palanque político brasileiro.
Neste início de 2014, o charlatanismo de bananeira é o “rolezinho”. A garotada da geração “nem-nem” — nem trabalha, nem estuda, nem joga futebol, nem virou modelo, nem entrou no reality show — utiliza o democrático neodivã freudiano das redes sociais para agendar a reunião de milhares em espaços públicos e privados, preferencialmente algum shopping center, taxado de “templo do consumo capitalista”, demonizado nas mal traçadas linhas e mal versados discursos construídos sob a égide do analfabetismo funcional crônico deste país, mas desejado pelo supremo instinto de quem quer ser “alguém” na flagelada terra verde-e-amarela de poucos,“quase ninguém”.
“Os babaca tá noiado. Bora cola no shop sem arrasta só cata mulher, encoxa no banheiro, fumá maconha, bebe e tira foto :D vamo que vamo!” [sic], diz a chamada numa rede social para mais um “rolezinho”, com mais de 10 mil convidados. Em seguida, um comentário pede adesão à petição pública contra o “apartheid urbano”, enquanto uma ala medíocre dos veículos de comunicação alterna imagens de uma pequena trupe em cantoria inofensiva (audição exclusa ao adjetivo) na praça de alimentação e uma multidão desenfreada correndo, gritando, quebrando e, nalguns casos, saqueando lojas.
Tal como os vinte centavos de junho de 2013, a onda modista está ganhando o país, inclusive com “variações”, digamos, pretensamente edificantes e solidárias: na biblioteca, no ensino médio e até no asilo. O cinismo está na alma do brasileiro feito a lendária Excalibur, encravada à pedra.
Imediatamente, entram em ação os cínicos institucionais e oportunistas, com políticos desprezíveis e agrupamentos de mamateiros da sociedade civil bradando contra o suposto “preconceito contra pobres e crioulos” que querem“se divertir” nos “ambientes da elite”. “São jovens com alta demanda por cultura e lazer não atendida pelos governos”, argumentou um representante da turma dos direitos humanos da Ordem dos Advogados do Brasil.
Em que planeta a “alta demanda por cultura e lazer” pode servir de combustível e justificativa à baderna, ao vandalismo, à bandalheira e ao descalabro? Estudar, trabalhar e se empenhar integra o desejo de poucos. O Estado brasileiro é tetado e tem dispensado tais esforços.
O que falta ao país das bananas e jabuticabas é ter coragem e dignidade. Entre outras coisas, para assumir que o“rolezinho” é uma vertente pueril do glamourizado crime organizado sob o abraço carinhoso e fraterno de nossas instituições falidas. Como muito bem disse o escritor e filósofo Luiz Felipe Pondé em seu artigo “Covardia chique”, publicado na Folha de S.Paulo: “Logo, vamos exigir a abolição do trabalho como direito. Ganhar a vida com o suor do rosto será considerado contra os direitos humanos. [...] É a corrosão do caráter causada pelo enriquecimento das sociedades e suas demandas de supressão das condições reais da vida como dor, luta e trabalho”.
Noutras palavras, são “rolezinhos” de cínicos, insatisfeitos com seus modelos de telefone celular, videogames, tênis e bonés, em busca de privilégios e facilidades. É claro, convenientemente travestidos em lutas de classes, preconceitos periféricos e pedestres bandeiras políticas em nome de pseudodireitos. Assustar, vandalizar, roubar, fotografar e postar, aguardando curtidas e compartilhamentos. Realmente, são muito cínicos!

Autor: HELDER CALDEIRA* - Escritor e Jornalista Político

*Autor dos livros “ÁGUAS TURVAS” e “A 1ª PRESIDENTA”.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

DILMA, PT E A FANTASIA DO INIMIGO OCULTO

Confesso a você, caro leitor do Blog Visão Panorâmica, que muitas vezes me sinto impelido a não escrever nada sobre o governo federal e a desastrosa administração petista. Quer para fugir da formação de uma ideia errada de antagonismo partidário (que infelizmente os petistas adoram insuflar), quer para não acabar me tornando repetitivo e cansativo ao leitor, já que as mazelas petralhas se multiplicam como um vírus agressivo e fora de controle.
Contudo, certas coisas são difíceis de ignorar. Ainda mais quando são vendidas pela falta de competência administrativa e magistralmente pensadas pelos serviços de propaganda de um governo corrupto e mal intencionado.
Numa entrevista a rádios de Minas Gerais nesta segunda-feira (20/01), Dilma afirmou que o governo petista não está imóvel diante das alarmantes taxas de violência nos estados brasileiros e que isso era a tônica das “administrações anteriores”.
Ora, caro leitor, por mais sectário e partidarista que você possa ser (e, em especial, por mais petista roxo que seja); aceitar a ideia de “administrações anteriores” serem as culpadas pela falência no combate a violência atual, diante de uma administração realizada (de forma contínua) por uma coalizão partidária dona do poder há mais de dez anos é algo surreal.
Guardadas as devidas proporções, Dilma e o PT repetem o discurso venezuelano que agora culpa as novelas pela violência descontrolada naquele país (o “paraíso” bolivariano e das esquerdas saudosistas brasileiras). Isso depois de já ter culpado os inimigos de sempre: os “satânicos americanos” e a “imprensa burguesa”.
Sem citar a desastrosa administração de seu principal dono – a Oligarquia Sarney – Dilma comenta de forma aleatória que os estados detêm o dever principal de lutar contra a violência e que o governo federal nunca “lavou as mãos” em relação a isso. Mas, ao mesmo tempo, se contradiz ao dizer que “pela constituição depende de um pedido dos estados” para implementar qualquer ação federal de combate à violência.
Mais uma vez, caro leitor, neste ponto me vem à mente aquele famoso e premiadíssimo comercial da Folha em que as conquistas do Regime Nazista eram apregoadas como grandes realizações para o povo alemão, enquanto uma imagem pontilhada de Hitler recuava na tela e, ao preenchê-la, o comercial terminava com a frase “matadora”: “É possível dizer um monte de mentiras, falando apenas a verdade”.
Essa é a máxima de todos os responsáveis pela propaganda em regimes autoritários ou com aspirações nesse sentido. E, com o PT, não deixa de ter a mesma diretriz.
Ao afirmar que a constituição lhe proíbe agir à revelia dos poderes estaduais, Dilma diz uma verdade. Pois, salvo por uma situação de calamidade, um pedido direto ou a aprovação do Congresso; a União não pode intervir com tropas no combate a criminalidade “de rua” nos estados da federação.
Mas, o que Dilma e o PT omitem criminosamente é que a União pode muito bem, com o auxílio dos serviços de informação e da Polícia Federal, realizar suas obrigações de segurança pública de forma autônoma. Sem pedir qualquer autorização ou dar conhecimento aos estados. Bastaria fazer coisas como: intensificação no patrulhamento de fronteiras, visando diminuir a entrada de armas de grosso calibre e drogas; atuar na linha costeira com o mesmo objetivo e para impedir a fuga e o refúgio de criminosos “além-mar”; operar com a inteligência das Forças Armadas e da Polícia Federal para “limpar” as polícias e o sistema carcerário de agentes corruptos ou prevenir ações de grande impacto das organizações criminosas; ordenar que os mesmos equipamentos de inteligência foquem no poder econômico das quadrilhas, descobrindo e confiscando bens e contas correntes obtidos e usados pela atividade criminosa. Além disso, muitas outras ações que um governo sério e realmente preocupado com seu povo, podem ser realizadas sem dar qualquer satisfação aos governos estaduais ou mesmo pedir autorização a seus aliados.
Mas, para isso, seriam necessárias competência, vontade, seriedade e vontade de trabalhar.
Contudo, sabemos que trabalho é coisa que petista odeia, competência eles têm apenas para sugar os cofres públicos, vontade é algo restrito apenas a sua sede de poder e seriedade… bem… isso eles nunca tiveram mesmo.
E você, o que pensa disso?


Enviado por Fernandes Fernandes

O silencio vergonhoso do PT

Os decapitados de Roseana também são os decapitados do PT. Ou: Ainda o silêncio vergonhoso de Maria do Rosário, José Eduardo Cardozo e... Dilma
Os decapitados da governadora Roseana Sarney também são os decapitados do PT, o que explica o silêncio vergonhoso de Maria do Rosário, ministra dos Direitos Humanos, e José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, a quem está subordinado o sistema penitenciário nacional.
Pouco destaque se dá ao fato, mas o PT elegeu o vice-governador na chapa encabeçada por Roseana. A composição foi uma imposição de Luiz Inácio Apedeuta da Silva. O petista Washington Luiz era o vice-governador até novembro do ano passado. Renunciou para assumir uma vaga no Tribunal de Contas do Estado. Deu-se bem: arrumou um emprego permanente até os 70 anos....
No Maranhão das decapitações, o PT é poder, o que explica o silêncio dos companheiros, inclusive da companheira Dilma Rousseff. Por muito menos, essa gente já falou pelos cotovelos.
Lembremo-nos da gritaria quando se deu a tal desocupação do Pinheirinho, em São Paulo. A Polícia Militar cumpria uma decisão judicial.
Os extremistas de esquerda infiltrados entre os moradores incitaram o confronto com a polícia. Um assessor do ministro Gilberto Carvalho estava na turma. Maria do Rosário falou. José Eduardo Cardozo falou. Gilberto Carvalho falou. Dilma falou — achou a desocupação uma "barbárie". Felizmente, ao contrário do que alardearam petistas e afins, não morreu ninguém na operação. Denúncias de maus-tratos e espancamentos vieram a se provar falsas.
Em Pedrinhas, no entanto, é tudo verdade. Os petistas não disseram um "a". Dilma não deve achar aquilo... barbárie!
O governo do Maranhão comentou, sim, o vídeo que exibe as decapitações. Por incrível que pareça, numa nota que espanca o bom senso e a língua, preferiu criticar a divulgação das imagens. Numa nota, disparou o seguinte:
"Divulgar esse tipo de gravação é repudiante, pois só corrobora com uma ação no mínimo criminosa, com apelo sensacionalista e que fere todos os preceitos dos direitos humanos e as leis de proteção ao cidadão e à família [dos detentos mortos], que se vê novamente diante de uma exposição brutal".
Repudiante? O valente que redigiu esse troço pode ter querido dizer "repugnante".
O Maranhão desafia a lógica e o bom senso. Há estiagens, sim, no estado — neste ano 81 municípios sofrem com a falta de chuvas. Mas não há a seca propriamente. Não obstante, como demonstrou reportagem da VEJA.com, está em penúltimo lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano. Só ganha de Alagoas. E tem, - atenção! - , a menor renda per capita do país: apenas R$ 348 reais. Só 4,5% dos 217 municípios do estado contam com rede de esgoto. Segundo o IBGE, 20,8% dos maranhenses são analfabetos.
Por que evocar esses dados num texto que trata da decapitação de detentos? Porque tanto esse show de horrores como os dados sociais do estado remetem a uma mesma questão: a verdadeira tragédia do Maranhão não está na geografia; a verdadeira tragédia do Maranhão não está no clima; a verdadeira tragédia do Maranhão não está na natureza. O mal do Maranhão muda de prenome, mas não muda de sobrenome. Chama-se Sarney.
O homem está no poder, no estado, pessoalmente ou por intermédio de prepostos, desde 1966. Só a ditadura dos Irmãos Castro, em Cuba, é mais longeva, Sarney também construiu a sua ilha de atraso. Nestes 48 anos em que o estado está sob a gestão da família, sucessivos governos se encarregaram de transformar a vida da população numa rotina de pobreza e desesperança.
Mas vocês não precisam acreditar em mim. Acreditem na voz do patriarca. Em dezembro, ele concedeu uma entrevista à Rádio Mirante, que pertence à sua família. Em um ano, 59 detentos já haviam sido assassinados. O homem disse esta preciosidade: "Aqui no Maranhão, nós conseguimos que a violência não saísse dos presídios para a rua".
Graaande pensador! Como se nota, ele conseguia ver algo de positivo naquelas ocorrências trágicas. Os detentos devem ter ouvido a sua ladainha macabra e ordenaram aos "companheiros" que estavam nas ruas que botassem o terror na população.
A menina Ana Clara Santos Souza, de 6 anos, morreu às 6h45 de segunda-feira no Hospital Estadual Infantil Juvêncio Matos, em São Luís. Ela teve 95% do corpo queimado em um ataque a um ônibus ocorrido no dia 3. A ordem para atacar os ônibus saiu... dos presídios para as ruas.
Não creio que Dilma tenha telefonado para a mãe de Ana Clara.
Não creio que Maria do Rosário tenha telefonado para a mãe de Ana Clara.
Não creio que José Eduardo Cardozo tenha telefonado para a mãe de Ana Clara.
Não creio que Gilberto Carvalho tenha telefonado para a mãe de Ana Clara.
Os petistas só são defensores fanáticos dos direitos humanos no quintal dos adversários.


Autor: Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Artigo: “Riqueza, miséria e insegurança na terra da família Sarney”

Pobre, no Maranhão, se chama João Batista ou José de Ribamar, declarou um deles, João Batista do Vale. Esse ajudante de pedreiro, negro e pobre, que se consagrou como cantor e compositor, morreu completamente joão, sem deixar bens, em 1996, apesar do sucesso de suas músicas como Carcará, Pisa na Fulô e Peba na Pimenta.
Destino outro teve um certo Ribamar. Entrou na política, enricou e se desfez do nome. Foi ao cartório, em 1965, e legalizou a troca. Deixou de ser José de Ribamar Ferreira de Araújo Costa para se metamorfosear em José Sarney. Legou o novo nome aos três filhos: Roseana, Sarney Filho e Fernando Sarney, herdeiros de seus bens. Vai morrer absolutamente sarney: rico. Podre de rico. Podre mesmo.
Por isso, faz sentido a declaração da governadora Roseana Sarney, que surpreendeu o Brasil ao atribuir à riqueza do Maranhão a responsabilidade pela recente onda de violência nos presídios estaduais, onde ocorreram 62 assassinatos, em 2013, com cabeças decapitadas, e até nas ruas de São Luís, onde crianças foram incendiadas. O mundo ficou de tal modo estarrecido que a ONU (Organização das Nações Unidas) exigiu uma "investigação imediata, imparcial e efetiva" e a Procuradoria Geral da República estuda uma intervenção federal nos presídios.
- Um dos problemas que estão piorando a segurança é que o estado está mais rico, o que aumenta o número de habitantes – explicou a filha do dito cujo ex-Ribamar. Do discurso da governadora, que por pouco escapou de se chamar Ribamarina, se deduz que, quanto mais pobreza, mais segurança. Nesse sentido, precisamos reconhecer o enorme esforço da família Sarney, no poder há várias décadas, para melhorar a segurança, mantendo o Maranhão na extrema miséria.
Ribamarina
Aleluia, aleluia, peixe no prato, farinha na cuia. Esta política teve relativo êxito, como revelam alguns indicadores. O Maranhão é o vice-campeão brasileiro em mortalidade infantil, em esperança de vida e apresenta o segundo pioríndice de desenvolvimento humano (IDH) do Brasil, de acordo à avaliação do PNUD, além de ser a pior renda per capita do país.. É o estado mais miserável, que agora exibe para o mundo as cenas de barbárie nas prisões e nas ruas. Portanto, se a segurança piorou, não foi por falta de pobreza, mas porque Sarney foi mais sarney e menos ribamar, como comprovam as empresas ligadas à família dele que continuaram enriquecendo, entre elas a Atlântica Segurança, empresa do sócio de Jorge Murad, marido da governadora, a VTI Serviços, Comércio e Projetos e aNissi Construções, o que fez "piorar a segurança no estado", como reconheceu a governadora.
Segundo O Globo, a Atlântica recebeu nos últimos dois anos R$ 20,3 milhões de órgãos do estado, entre eles a Secretaria de Administração Penitenciária. A VTI, sem qualquer experiência no ramo, foi contratada para administrar o sistema penitenciário, abocanhando R$ 153,9 milhões só em 2013. A Nissi Construções, contratada sem licitação por R$ 1.167 milhão, recebeu adiantado para a reforma de um presídio não concluída. E por aí vai…
Outro índice de enriquecimento do estado foi o pregão aberto e as licitações lançadas para compra de bebidas e comidas que devem abastecer as geladeiras do Palácio dos Leões e a casa de praia na Ponta do Farol. O valor é de R$ 1,3 milhão para comprar lagostas, patinhas de caranguejo, caviar, uísque escocês 12 anos, vinhos importados e champagne nas variedades extra, brut, sec e demisec. Tudo isto revela que o estado ficou mais rico, é por isso que a segurança piorou. A governadora tem razão.
Foi assim que a família do ex-Ribamar construiu uma das maiores fortunas do Maranhão. O papi soberano e seus filhos são proprietários de fazenda na Ilha de Curupu, de mansão na Praia do Calhau, de dezenas de imóveis e do Sistema Mirante de Comunicação, com canal de televisão, emissoras de rádio e jornal. E por ai vai… Menos Sarney.
Dona da capitania hereditária do Maranhão, a família Sarney enriqueceu, usando métodos pouco ortodoxos, como demonstram investigações realizadas pela Polícia Federal, em 2002, quando foi apreendido mais de R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo na Lunus, empresa de Murad, e a Operação Boi Barrica, envolvendo Fernando Sarney. Mas na concepção política da governadora, quem ficou rico foi o Maranhão, porque para os Sarney, "L'État, c'est moi".
Roseana é um gênio da ciência política. Conseguiu mostrar ao mundo aquilo que muitos de nós já desconfiávamos: a riqueza de poucos gera a miséria e a insegurança de muitos. Seu discurso dá continuidade ao sermão do padre Antonio Vieira que, recém-chegado do Maranhão, pregou na sexta-feira santa, em 1655, em Lisboa. Acusou os governadores do Maranhão, nomeados por três anos, de enriquecerem durante o triênio, juntamente com seus amigos e apaniguados, dizendo que eles conjugavam o verbo furtar em todos os tempos, modos e pessoas.
- Furtam pelo modo infinitivo, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes em que se vão continuando os furtos. Esses mesmos modos conjugam por todas as pessoas: porque a primeira pessoa do verbo é a sua, as segundas os seus criados, e as terceiras quantos para isso têm indústria e consciência.
Segundo Vieira, os governadores “furtam juntamente por todos os tempos”. Roubam no tempo presente, “que é o seu tempo” durante o período em que governam, e roubam ainda ”no pretérito e no futuro”. Roubam no passado perdoando dívidas antigas com o Estado em troca de propinas, “vendendo perdões” e roubam no futuro quando “empenham as rendas e antecipam os contrato, com que tudo, o caído e não caído, lhe vem a cair nas mãos”.
O missionário jesuíta, que era conselheiro e confessor do rei, no Maranhão disse que os governadores roubam “nos tempos imperfeitos, perfeitos, mais-que-perfeitos, e quaisquer outros, porque furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de furtar mais se mais houvesse". “Enquanto conjugam toda a voz ativa – discursa Vieira – as miseráveis províncias suportam toda a passiva, eles como se tivessem feito grandes serviços, tornam carregados de despojos e ricos; e elas ficam roubadas e consumidas”.
Numa atitude audaciosa, padre Vieira alerta o rei:
- Em qualquer parte do mundo se pode verificar o que Isaías diz dos príncipes de Jerusalém: os teus príncipes são companheiros dos ladrões. E por que? São companheiros dos ladrões, porque os dissimulam; são companheiros dos ladrões, porque os consentem; são companheiros dos ladrões, porque lhes dão os postos e os poderes; são companheiros dos ladrões, porque talvez os defendem; e são finalmente, seus companheiros, porque os acompanham e hão de acompanhar ao inferno, onde os mesmos ladrões os levam consigo”.
É. Parece que está no DNA. O caso do Maranhão expõe a situação infernal da população carcerária do Brasil, que hoje ultrapassa o meio milhão de presos, confirmando o que afirmou o ex-ministro da Justiça britânica, Douglas Hard: "a prisão é a maneira mais cara de tornar as pessoas piores". "No Maranhão" – informa a Folha de S. Paulo – "a chance de ser morto num presídio é quase 60 vezes maior do que do lado de fora".
Enquanto houver um sarney governador, deputado, senador ou juiz segurando o osso, o Brasil todo, e não apenas o Maranhão, continuará sendo miserável. Os bens da família deviam ser confiscados pelo Estado, retornando de onde vieram. Desta forma, sarney voltará a ser ribamar, contribuindo com a pobreza para aumentar a segurança.


“Enquanto houver um sarney governador, deputado, senador ou juiz segurando o osso, o Brasil todo, e não apenas o Maranhão, continuará sendo miserável. Os bens da família deviam ser confiscados pelo Estado, retornando de onde vieram”.Autor: José Ribamar Bessa Freire 

domingo, 12 de janeiro de 2014

No Maranhão, todos eram cegos, surdos e mudos




No presídio situado nas terras do Ducado dos Sarney morreu um, dois, dez, vinte, trinta.  Morreram assassinados e os corpos, mutilados, foram retirados do presídio. Mas, como em um espetáculo de mágica, ninguém viu.  Todos os agentes públicos eram cegos.
Ninguém também ouviu coisa alguma.  Todos os agentes públicos eram cegos e surdos. Como também eram mudos, ninguém falou nada.
Sendo cegos, surdos e mudos, ninguém sabia de nada.  Nem os funcionários do presídio nem a alta cúpula da administração do Maranhão.
No dicionário da língua portuguesa “maranhão” significa “mentira bem engendrada”.
No caso, o silêncio absoluto sobre as mortes violentas assumiu os ares de uma mentira bem engendrada.  Mas os fatos macabros, em elevado número, acabaram vindo à tona.  O clã dos Sarney, embora tenha realizado esforço descomunal, não conseguiu mantê-los ocultos, apenas retardou a divulgação e o domínio público.
No Maranhão, só depois das 60 mortes no ano que findou e do relatório do Conselho Nacional de Justiça, foi possível o país tomar ciência da tragédia de dor e sangue que vinha ocorrendo sob as barbas e total inércia da cúpula da administração estadual.
NÃO TEM JEITO
Toda a nação tem a impressão que no Maranhão é assim mesmo, não tem jeito. O Maranhão é recordista absoluto (olímpico) da pior renda per capita do país. Chega em segundo no pior IDH estadual.  Saneamento básico, ninguém do povo sabe o que é.
Porém, todos sabem que se nada mudou em cinquenta anos de domínio do clã Sarney,  nada irá mudar… Faz bem para a saúde deixar tudo para lá…
O governo federal e o estadual estão muito ocupados com o momento político, afinal, este é um ano de eleições e, acima de tudo, o poder deve ser mantido.  Por esta razão, não tiveram tempo para agir ou ficar, nem um pouquinho, chocados com cenas de cabeças rolando entre corpos dilacerados.  Afinal, as carnes retalhadas eram de pouca importância, meros presidiários.
O governo Roseana Sarney insistiu e continua a insistir em acusar até mesmo relatório oficial do Conselho Nacional de Justiça de difundir “inverdades”. O governo da presidenta Dilma para, ouve, nada faz.
Aparentemente, não toma partido. Mas, ao assim proceder, passa a impressão de que tomou partido de dois poderosos aliados políticos: o  o clã Sarney e o PMDB.
E essa impressão poderá estar maculando o currículo da velha guerrilheira que, segundo é de conhecimento público, na juventude, pegou em armas para combater a injustiça.  O tempo mudou Dilma?


Autor: Celso Serra
Enviado por Luciano Moura

sábado, 11 de janeiro de 2014

A ARQUITETURA DO UFANISMO E OS SANTINHOS DO MARANHÃO

'Insustentável', 'calamidade', 'descalabro', 'bandalheira generalizada' e expressões correlatas bem ilustram a política desavergonhada que se instalou no Maranhão desde a metade do século passado, consolidando a última CapitaniaHereditária do planeta. Tudo isso com absoluto aval dos sucessivos ocupantes da Presidência da República Federativa do Brasil, entre os quais destaca-se o donatário 'pai-de-todos' José Sarney, despudoradamente nomeado 'imortal' pela Academia Brasileira de Letras.
Uma breve visita à galeria do histórico Convento das Mercês, que abriga a Fundação José Sarney, em São Luís, revela o ar 'santificado' emprestado ao clã hegemônico maranhense. Para além dos badulaques que lembram a passagem do patriarca pelo Palácio do Planalto — um tempo econômico sombrio que os brasileiros preferem esquecer —, o que há de mais relevante é o acervo com cerca de 30 quadros onde a família Sarney e seus aliados políticos são retratados sob o fervor de trajes religiosos da Igreja Católica.
O furo de reportagem que revelou a blasfêmia é do jornalista Reynaldo Turollo Junior, publicado pela Folha de S.Pauloem 28 de julho de 2013. Confira: http://goo.gl/5k67fE
Como brilhantemente escreveu o colunista #AugustoNunes, na VEJA, nos quadros "José Sarney contempla a eternidade fantasiado de cônego. Sua mulher, Marli, capricha na pose de freira. Edison Lobão, alojado por 'Madre Superiora' no Ministério de Minas e Energia, não sabe direito se é frade ou monge. Roseana Sarney, Zequinha e Fernando também aparecem paramentados para a missa negra. Todos têm o olhar confiante de quem garantiu a aprovação no Dia do Juízo Final com a compra de indulgências plenárias no mercado paralelo". [Fonte: http://goo.gl/NRN9DA]
Quem já foi a São Luís, identifica por imediato o 'universo paralelo' implantado pela doutrina 'sarneysista', à revelia dos ditames da Constituição da República Federativa do Brasil, da seriedade, da transparência e até da moral e dos bons costumes políticos. O 'miserê' generalizado serve de moldura à Ponte José Sarney, à Maternidade Marli Sarney, à Avenida Presidente José Sarney, à Avenida Governadora Roseana Sarney e tantos mais.
A arquitetura do ufanismo é de tal ordem, que nem Guaraná Jesus salva!
O resultado dos sucessivos (des)governos jaz candidamente nos dados do 
IBGE: apenas 4,5% dos cidadãos maranhenses possuem rede de esgoto em casa; 20,8% são analfabetos; metade da população trafega pelo semianalfabetismo; a renda média per capita é bem menor que o salário mínimo; a expectativa de vida é a menor do país; e o Maranhão tem o segundo pior IDH, perdendo apenas para as Alagoas de 'Suas Santidades' Renan Calheiros e Fernando Collor de Mello.
Misteriosamente (?!), só agora o Brasil decidiu mostrar-se chocado com a calamidade vivida pelo povo maranhense, após a explosão de violência nos presídios estaduais e a divulgação de algumas imagens da barbárie, com detentos decapitados e uma criança queimada num ônibus coletivo.
Pelo visto, apenas os cidadãos brasileiros 'não-nobres' reagiram. 'Sua Alteza', a 'presidenta' Dilma Rousseff, mergulhou em ensurdecedor silêncio institucional, ao que tudo indica para preservar a 'integridade política' da família Sarney, aliados de primeira ordem.
O titular do Ministério da Justiça, José Eduardo Cardozo, só deixou suas férias e embarcou para #SãoLuís após muita pressão da imprensa e das redes sociais. Nem a sempre verborrágica ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) — aquela que sempre opina sobre quaisquer coisas — ousou contrariar a 'presidenta' e realizar alguma manifestação pública, prova cabal da iniquidade do Estado Brasileiro.
Para além da iniquidade institucional, o Governo Federal é cúmplice do desterro maranhense. Cúmplice descarado há décadas. 'Oligarcas' do Palácio dos Leões, os Sarney são fortes aliados de 
Dilma Rousseff (PT) tal como foram dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), além de ilustres apoiadores do Regime Militar.
Por conta dessa cumplicidade acima da Lei, em meio à catástrofe, à barbárie e à miséria coletiva, o Governo do Estado do Maranhão sente-se tranquilo para mandar licitar mais de R$ 1 milhão em lagosta, salmão, sorvetes e bombons para abastecer as residências da governadora. Após ver a denúncia bombar nas mídias sociais, adiaram o certame [Fonte:http://goo.gl/cokADC]. Apenas adiaram, para esperar a 'poeira baixar'. Não cancelaram, fique claro.
No dia seguinte à denúncia de Bernardo Mello Franco na Folha de S. Paulo, o mesmo jornalista revelou outra licitação 'interessante' promovida pela governadora Roseana Sarney: desta vez serão R$ 1,3 milhão para comprar Uísque escocês, Champanhe e Caviar. [Fonte: http://folha.com/no1395344].
Enquanto isso, na mesma edição do jornal paulista, as repórteres Juliana Coissi e 
Marlene Bergamo, enviadas especiais a São Luís, revelam que nos superlotados e violentos presídios maranhenses, a comida servida aos detentos é arroz e galinha crua. [Fonte: http://folha.com/no1395248]
No '
Brazil' das bizarrices, feliz da vida por sediar a Copa do Mundo FIFA de 2014 e os Jogos Olímpicos Rio 2016, as autoridades continuarão não se importando com o que fazem os 'Santinhos' do Maranhão. Muito provavelmente, essas mesmas autoridades são diletos clientes e convidados para a pajelança objeto das recentes licitações milionárias. Jorra dinheiro dos cofres dos #OtáriosNacionais... sempre jorrou... e ninguém está nem aí!
À História restará a pintura (quase) sacra de seus donatários, o relato de uma inflação de 2.000% nos livros deEconomia e uma melancólica cadeira literária na Academia Brasileira de Letras.
#OBrasilPrecisaDeQuimioterapia!

Enviado por Luciano Moura