Para onde ia a cocaína apreendida no helicóptero da
família Perrella? Segundo a Polícia Federal, para a Europa. Os 450 quilos foram
avaliados em 10 milhões de reais. Com o refino, pode chegar a dez vezes isso. É
a maior apreensão já ocorrida no Espírito Santo, a segunda maior do ano.
É uma operação milionária. O piloto avisou que
receberia 60 mil pelo transporte. Quatro pessoas acabaram presas e foram
levadas à Superintendência da PF, em São Torquato, Vila Velha. A polícia
investigava a área. O sítio, que valeria 300 mil, teria sido comprado por cerca
de 500 mil por um laranja, o que despertou a desconfiança da comunidade.
O “grande” traficante, no Brasil, é visto ainda como
o sujeito que mora no morro, tem cara de mau, torce para o Flamengo e vive numa
“mansão” (a cada invasão de favela aparece uma jacuzzi vagabunda que os
telejornais classificam como “uma das mordomias” de Pezão, Luizão, Jefão ou
seja lá quem for).
A possível ligação de dois políticos, pai e filho,
com uma apreensão desse tamanho mostra que o tráfico vai muito além disso. O
deputado estadual Gustavo Perrella (filho de Zezé), num primeiro momento,
declarou que a aeronave fora roubada. Depois surgiu uma troca de mensagens com
o piloto. Ele vai depor na PF, bem como sua irmã. O advogado Antonio Carlos de
Almeida Castro (o Kakay), diz que o SMS vai provar que seu cliente não sabia de
nada. A Folha deu que Gustavo usava verba pública para abastecer a aeronave. O
piloto, aliás, era funcionário da Assembleia.
Os Perrellas dão um enredo mafioso clássico. José
Perrella, ex-presidente do Cruzeiro, empresário, senador, já foi indiciado
por lavagem de dinheiro na venda do zagueiro Luizão, em 2003. Um
inquérito da PF e outro do Ministério Público de Minas investigam também
ocultação de patrimônio.
Segundo o “Hoje em Dia”, sua mais recente declaração
de bens ao TRE falava em apenas 490 mil reais. Só a fazenda Morada Nova, a 300
quilômetros de Belo Horizonte, está avaliada em 60 milhões de reais.
Em matéria de sinais exteriores de riqueza, ainda
possui uma Mercedes CL-63 AMG, que custa em torno de 300 mil reais. Sua casa,
no bairro Belvedere, o mais caro de BH, estaria avaliada em 10 milhões.
Gustavo, por sua vez, é dono de uma Land Rover e um BMW, dos quais só o último
foi declarado à Justiça.
Zezé Perrella chegou a BH com os seis irmãos nos
anos 70, vindo do interior do estado. Vendiam queijo e lingüiça da roça. Seu
enriquecimento foi fulminante, especialmente depois de entrar para a política
em 1998. Naquele ano, declarou ter 809 mil reais. Na eleição seguinte, perto de
2 milhões. E então um milagre aconteceu: em 2006, seu patrimônio, no papel,
caiu para 700 mil. Até chegar aos 490 mil. Um helicóptero como o usado na
apreensão de coca sai por 3 milhões. Não há hipótese de ele sair do chão sem
que o dono saiba.
O caso dos Perrellas tem os contornos de uma
história da máfia até pelo nome italiano. Mas até mesmo aí existe um problema:
ele foi, digamos, “emprestado”.
Perrella é o sobrenome de um imigrante do sul da
Itália, Pasquale, que começou vendendo banha de porco em Belo Horizonte no
início do século passado. A banha servia para conservar alimentos. O negócio
prosperou e seus descendentes criaram um frigorífico que se tornaria famoso. Em
1988, o frigorífico foi vendido para José de Oliveira Costa, nosso Zezé, que
fez um acordo para passar a assinar Perrella, registrado em cartório. Parte dos
netos e bisnetos de Pasquale se arrepende amargamente de ver agora o nome do
velho envolvido em crimes. Em fevereiro, a empresa foi acusada de adulterar carnes.
No ano passado, Zezé Perrella escreveu um artigo
para o jornal “O Estado de Minas”. Um bom trecho:
A corrupção tem sido, infelizmente, uma constante da
política e da administração pública brasileira, além da participação de
segmentos privados.
É um fenômeno mundial, no qual alguns países, como o
nosso, se destacam pelo grau de incidência e, ainda maior, de impunidade. Mesmo
que os escândalos sejam comprovados. Isso resulta na descrença da sociedade na
preservação dos valores morais e éticos próprios de uma civilização.
É tempo de um basta definitivo e a oportunidade se
aproxima.
Repetindo: é tempo de um basta definitivo e a
oportunidade se aproxima.
Enviado por Luciano
Moura
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