Sempre
se manipulou o que seria a voz das ruas. No golpe de 1964 se criou na opinião
pública um clima de isolamento total do presidente João Goulart, de consenso
geral pela derrubada do seu governo, o que salvaria a democracia da subversão.
Muito tempo depois, já depois da ditadura que seguiu à sua queda, a mais cruel
da história do Brasil, revelou-se que pesquisa do Ibope, não publicada naquele
momento, mostrava o amplo apoio popular ao governo Jango e como as
manifestações de rua da direita expressavam apenas o apoio dos setores
radicalizados da classe média, instrumentalizados pela mídia e por setores da
igreja católica para preparar o clima do golpe.
Quando
Dilma foi eleita, no final de 2014, 74% dos brasileiros consideravam que sua
vida tinha melhorado desde 2003, ano em que se iniciava o primeiro mandato de
Lula. Um índice muito superior ao da votação recebida por Dilma no segundo
turno. Quando foi realizada a vergonhosa votação pelo seu impeachment na
Câmara, em abril deste ano, essa cifra tinha baixado à metade. Ou seja, a
brutal campanha da mídia tinha apagado da cabeça de muita gente como suas vidas
tinham melhorado ao longo dos governos petistas.
Na
mais recente pesquisa Vox Populi, o índice dos que consideram que sua vida
melhorou desde o começo dos governos do PT subiu para 56%, ao mesmo tempo que o
apoio a Lula segue subindo, chegando a 34%, dois índices que refletem o mesmo
fenômeno: conforme as pessoas vão perdendo os direitos adquiridos e conforme
arrefece a campanha da mídia, a consciência de quanto sua vida tinha melhorado
aflora de novo com força. Um índice que tende a subir cada vez mais, ficando
pelo menos próximo dos 74% de fins de 2014, acompanhado pelo índice de apoio ao
Lula.
E
neste domingo (11), uma nova pesquisa Datafolha, feita antes da divulgação de
vazamentos para a mídia da delação de um diretor da Odebrecht, que atinge
Michel Temer e a cúpula do governo, revela que 63% dos brasileiros querem sua
saída imediata e diretas já – número que deve crescer conforme a repercussão
das denúncias forem avançando.
A
categoria "voz das ruas" não é assim um reflexo espontâneo do
sentimento das pessoas, mas é filtrada pela ação da mídia. A realidade concreta
tem o peso determinante, ainda mais quando ela tem uma carga diária
profundamente negativa, como durante o governo golpista e suas políticas
conservadoras. Mas a ação da mídia pode camuflar ou pode intensificar esse
efeito.
Neste
momento em que o governo de Temer se desfaz, perde qualquer capacidade de
iniciativa, repousa apenas na maioria parlamentar com que pretende levar
adiante, sem hesitações, seus planos de desmonte do Estado, das políticas
sociais e dos direitos dos trabalhadores, o sentimento de que se vivia muito
melhor antes, ressurge com força.
O
repúdio ao governo de FHC, que alimentou as quatro vitórias eleitorais do PT,
agora se realimenta com o duríssimo ajuste fiscal antipopular do governo Temer.
A comparação não tem mais que ser feita com os governos dos anos 1990, mas com
a dura realidade de hoje.
A
direita fez tudo o que (não) podia, atropelando a Constituição e a vontade
popular, para derrubar uma presidenta reeleita pela maioria dos brasileiros,
para instaurar um governo defensor dos interesses do 1% mais rico da população.
Com
razão, portanto, é repudiado pela pesquisa do próprio Datafolha, em que 63%
pedem a renúncia de Temer e a convocação de eleições diretas já.
Inequivocamente a voz das ruas vai nessa direção. O povo não quer mais esse
governo e quer se expressar, mediante eleições diretas, sua vontade em relação
a quem deve dirigir o país.
Quem
invocou a voz das ruas para votar pelo golpe, tem agora o ruído das ruas, pelas
manifestações e pela vontade expressa nas pesquisas: o povo quer não apenas o
fim deste governo, como não aceita que se dê no ano que vem, propiciando que um
Congresso com mais de 200 parlamentares acusados de corrupção, decida, de forma
indireta, o sucessor do Temer.
Quer
votar, de forma direta, e já.
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