Um
ano atrás, nesta mesma época, ao desejar aos leitores um “feliz ano novo”,
imaginei, pensando de forma otimista, que 2016 pudesse ser o ano em que afinal
sairíamos da “deprê”. Nossa, nunca errei tanto. O ano de 2016 conseguiu ser
pior do que 2015. Nem me arrisco a pensar o que será de 2017.
O
Brasil entrou inegavelmente num viés de baixa desde que a direita, ops, o
gigante acordou, em 2013. Depois disso, perdemos até de 7 a 1 para a Alemanha...
Mas, ao contrário de muitos esquerdistas, não culpo os manifestantes de junho
pela escalada fascista que se seguiu àquela jornada. É preciso reconstituir os
fatos para entender o que se passou desde então. Os protestos de junho de 2013
começaram com a ameaça de aumento da tarifa de ônibus em São Paulo. Foram
ampliados com a adesão de parte da esquerda, insatisfeita com os rumos do
governo Dilma e com as promessas não cumpridas pelo PT, que decidiu se juntar à
turma do MPL (Movimento Passe Livre). Até este momento, é bom lembrar, a mídia
hegemônica era contra e atacou as manifestações. Foi só quando viu que os
protestos, originalmente de esquerda, tinham potencial para atrair setores da
classe média contra o governo petista (como de verdade atraíram), é que a mídia
passou a apoiá-los abertamente. De “vândalos”, como os manifestantes eram
chamados na primeira fase, passaram a ser “patriotas”. Quando estes
“patriotas”, vestidos de verde e amarelo, começaram a tomar as ruas, a esquerda
se recolheu.
Mas
já era tarde: o troll fascista, nacionalista, racista e misógino perdera o
pudor de mostrar sua face monstruosa. A partir dali, se organizaram em bandos,
financiados por partidos de direita e sabe-se lá mais por quem. Suas marchas,
sempre hostis aos esquerdistas, são como hordas de fantasmas redivivos do
macarthismo, tantos anos após o final da Guerra Fria. São estes zumbis
anticomunistas que volta e meia retornam às ruas, puxando o astral do Brasil
cada vez mais para baixo. O papel dos justiceiros da Lava Jato foi, neste
aspecto, nefasto. Toda uma aura religiosa, de seita, cerca os procuradores, que
a alimentam sem reservas. Deltan Dalagnoll, aquele do PowerPoint de Lula,
apareceu de joelhos na igreja batista; o juiz Sergio Moro posou, todo
enfatiotado, sendo premiado pela maçonaria. Não há como não relacionar tais
visões a épocas medievais e à própria Inquisição. Há até calabouços onde as
pessoas “confessam”.
Ninguém
questiona operações contra a corrupção. Pelo contrário, elas são bem-vindas.
Mas, como a Lava Jato, ao que tudo indica, busca atingir apenas petistas – os
novos “hereges” desta caça às bruxas –, o caráter seletivo da operação acaba
tendo um efeito colateral perverso, o de gerar uma onda de fascismo em certos
setores. Ou será que foi proposital e não colateral?
O
fato é que, aliados, mídia e Lava Jato agem no sentido de manter o tal
“gigante” eternamente acordado e disposto a esmagar os vermelhos, como é da
natureza dos fascistas. Com o tempo, porém, ficou claro que a imprensa burguesa
perdeu o controle dos fascistas que alimentaram. Cría cuervos y te sacarán los
ojos: não é à toa que a rede Globo foi derrotada em seu próprio reino por um
fundamentalista religioso nas eleições de outubro. Enquanto a Lava Jato caça
corruptos seletivamente, os resultados para o País estão longe de compensarem o
estrago em uma das maiores empresas de petróleo do mundo. A Petrobras recebeu
de volta R$ 661 milhões da Lava Jato, mas teve um prejuízo de quase R$ 35
bilhões apenas no ano passado, o maior de sua história. Acabar com a corrupção
dentro da empresa é uma coisa; acabar com a empresa, patrimônio do povo
brasileiro, é outra. A não ser que queiram vendê-la, não é mesmo?
Desde
que Dilma foi arrancada do cargo, em agosto, o País só piorou. Aumentou o
desemprego, começaram a lotear o Pré-sal, comprometeram o futuro da saúde e da
educação, ameaçam os direitos trabalhistas. A corrupção continua lá, inclusive
envolvendo o presidente ilegítimo Michel Temer e seus ministros. O País, que
nos últimos anos ganhara respeito internacional, está cada vez mais no fundo do
poço, real e espiritualmente. É impressionante: onde a direita chega, a “deprê”
vem junto. O ano de 2017 começa com um bufão reacionário na presidência do País
mais poderoso do planeta e com a possibilidade de outros como ele chegarem ao
poder, como Marine Le Pen na França.
A
escalada fascista assusta os progressistas em toda parte, prenunciando um
repugnante revival do clima pré-Segunda Guerra Mundial. Como ser otimista num
momento destes? Nossa obrigação, como cidadãos progressistas, é continuar
alertando a sociedade destes perigos. Mesmo com as redes sociais (ou talvez por
conta delas) a população parece cada vez menos informada sobre o que realmente
está em jogo. O ano de 2017 será, sem dúvida, um ano de muita luta para a
esquerda. E não garanto a vocês que será o último. Não é preciso ser vidente
para perceber quando nuvens pesadas se avizinham. No mais, um recado: curtam
mais suas famílias, seus amigos, aproveitem as horas livres, celebrem a
natureza. Saiam mais da internet, desintoxiquem-se. Não é ficando on-line 24
horas por dia que iremos conseguir um Brasil melhor. Podemos começar sendo mais
atentos com nossas próprias vidas e com quem amamos. Um bom ano a todos.
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