O
que tem a ver a posse do bufão Donald Trump na presidência dos Estados Unidos e
o futuro da Lava Jato no Brasil após a morte trágica de Teori Zavascki?
Estes
dois fatos sem nenhuma ligação entre si têm um ponto em comum: jogam o Brasil e
o mundo na era da incerteza.
Incerteza
é a palavra mágica para definir o que está acontecendo neste começo de 2017 no
momento em que ninguém pode prever o que vai acontecer amanhã, na semana que
vem ou no próximo ano.
Duas
manchetes de cadernos especiais da Folha desta sexta-feira resumem a ópera:
"Queda
da aeronave mata Teori e joga incerteza sobre a Lava Jato".
"Sob
incerteza, Trump se torna o 45º presidente dos EUA nesta sexta".
Vamos
começar pelo destino da Lava Jato no Brasil, um assunto que está mais perto de
nós e pode definir o futuro próximo.
Primeira
incerteza: quem vai definir o substituto de Teori na relatoria da Lava Jato?
Michel Temer ou Carmen Lúcia?
Como
leis e regimentos internos nunca deixam nada muito claro, a decisão será de
quem atirar primeiro.
Não
há prazo para o presidente da República indicar um novo ministro do STF e, como
Temer costuma ser lento nas suas decisões, a presidente do STF sai em vantagem.
Por
tudo que acabei de ler, Carmen Lúcia tem várias opções: pode indicar o novo
relator por sorteio; pode passar o processo para o sub-relator e decano Celso
de Mello e pode jogar a decisão para o plenário, quando o tribunal reabrir suas
portas após o recesso, dia 1º de fevereiro.
Segunda
incerteza: qual o perfil do ministro a ser indicado por Temer?
A
julgar pelo que vimos na formação do ministério, o substituto de Teori deve ter
um perfil conservador e ser de absoluta confiança do presidente - como, por
exemplo, o ministro da Justiça Alexandre de Moraes, que queimou o filme na
crise dos presídios, ou o ex-procurador do Ministério Público de São Paulo,
Luiz Antonio Marrey.
"Você
acha que o presidente vai indicar um ministro que construirá o patíbulo para
julgá-lo da acusação de ter pedido R$ 10 milhões a Marcelo Odebrecht em 2014,
segundo a delação de Cláudio Melo?", pergunta Mario Cesar Carvalho,
repórter da Folha, o mais bem informado sobre o processo.
E
mais adiante ele mesmo adverte: "Há o risco de que um ministro que não
seja imparcial como Teori imprima um novo ritmo às investigações, com o
resultado de sempre: a ação prescreve, e o político escapa ileso".
Este
é, afinal, o sonho de dez entre dez políticos denunciados na Lava Jato.
Só
uma coisa é certa neste momento: a morte de Teori, que era considerado "o
coração da Lava Jato" e carregava toda a memória da operação desde o
início, há mais de dois anos, vai desacelerar todo o processo e a homologação
das 77 delações da Odebrecht.
O
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que antecipou seu retorno da
Suíça, prevê que a homologação dos 950 depoimentos de executivos da empreiteira
deve atrasar pelo menos três meses.
Terceira
incerteza: ainda que tudo corra normalmente, e sejam logo indicados o relator
substituto e o novo ministro do STF, após a sabatina no Senado, quanto tempo
vai levar para que o novo responsável pelo processo da Lava Jato examine as
milhares de páginas que compõem os autos?
Pulando
de um assunto a outro: daqui para a frente, Donald Trump será o mesmo fanfarão
da campanha eleitoral ou assumirá de fato o papel de presidente da República?
Sobre
as incertezas provocadas pela posse do novo presidente americano, não tenho
muito a acrescentar ao brilhante texto de Nirlando Beirão publicado aqui no R7.
Prefiro
reproduzir a abertura do artigo do veteraníssimo Gilles Lapouge publicado no
Estadão, sob o título "Esperamos o bufão ou o caubói durão", que dá
uma boa ideia do que nos espera:
"Todos
esperamos Trump, um pouco como as crianças no circo querem saber quando
aparecerá o palhaço ou o leão no picadeiro. Esperamos fazendo graça, mas também
com o coração um pouco acelerado.
Porque
será tudo isso ao mesmo tempo: um número de teatro de variedades, um número com
palhaços ou com animais ferozes, em que todas as figuras se misturam e se
confundem. E a incapacidade de saber quem é o verdadeiro Trump: o bufão? O
sujeito do teatro de variedades cercado de todas estas Barbies que compõem sua
família? Ou o caubói, o durão, aquele que é mais rápido no gatilho do que a
própria sombra?"
Resta
apenas uma certeza: o Brasil e o mundo não serão mais os mesmos depois da Lava
Jato e de Donald Trump.
E
vamos que vamos.
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