Maioria dos
brasileiros considera Bolsonaro culpado pela tentativa de golpe e defende
cadeia
Pesquisa
AtlasIntel exclusiva para o programa GPS CNN, divulgada neste
sábado (21), revela que a maioria da população acredita que o ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL) esteve envolvido em uma tentativa de golpe de Estado após
sua derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022. O
levantamento também indica que a maioria dos brasileiros avalia que as
investigações contra o ex-mandatário são imparciais e que ele deve ser preso.
De acordo com
a pesquisa, 51,7% dos entrevistados afirmam que Bolsonaro participou de um
plano golpista, enquanto 40,5% não acreditam em seu envolvimento. Outros 7,8%
não souberam responder.
· Prisão, anistia e julgamento
Quando questionados
sobre o que deveria acontecer com Bolsonaro, 52,5% dos entrevistados
responderam que ele deveria ser preso, enquanto 27,2% acreditam que ele deveria
ser anistiado. Já 17,7% defendem que ele seja julgado em liberdade.
A pesquisa
também analisou a percepção da população em relação à condução das
investigações sobre Bolsonaro. Para 53,8% dos entrevistados, o inquérito
conduzido contra o ex-presidente é imparcial. Outros 29,7% consideram que há
viés na investigação, enquanto 1,6% acreditam que há menos imparcialidade do
que o esperado. Já 14,9% não souberam opinar.
· Impacto na imagem de Bolsonaro
Para Yuri
Sanchez, diretor da AtlasIntel, os resultados indicam que a associação de
Bolsonaro a um possível golpe de Estado está consolidada no imaginário popular.
“O fato de a maioria da população brasileira acreditar que Jair Bolsonaro
participou de planos para um golpe de Estado em 2022 indica três pontos
importantes: 1- que o ex-presidente deixou marcada a imagem de alguém que
poderia, sim, se envolver em uma trama golpista; 2- que se desfazer dessa
imagem não será uma tarefa fácil, principalmente porque é uma construção de
décadas, e não apenas dos anos em que foi presidente; 3- e que isso afeta
diretamente suas pretensões eleitorais no futuro”, afirmou ao GPS CNN.
Sanchez
lembrou ainda que, ao longo dos anos, Bolsonaro fez diversas declarações que
reforçam essa percepção. “Há registros, ao menos desde 1999, de Jair Bolsonaro
defendendo que a Constituição garante a intervenção das Forças Armadas para a
manutenção da lei e da ordem e declarando que fecharia o Congresso caso fosse
presidente da República, dizendo que daria golpe no mesmo dia”, destacou.
Esse
histórico, segundo o diretor da AtlasIntel, faz com que as investigações sobre
2022 não causem grande estranhamento entre os brasileiros. “Para uma parcela
considerável da população, não há uma grande surpresa no que as investigações
trazem sobre o envolvimento de Bolsonaro na trama golpista.”
· Confiança nas instituições
A pesquisa
também reforça a confiança da população no processo legal. “O levantamento
revela que continua existindo uma chancela popular ao processo que está sendo
conduzido. Nesse sentido, há boas notícias para a confiança nas instituições”,
afirmou Sanchez.
Ele citou
dados anteriores para embasar sua análise. “Em novembro de 2024, em pesquisa
realizada também para o GPS CNN, já havíamos mostrado que 60%
confiavam nas investigações da Polícia Federal que levaram ao indiciamento
entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR). Agora, com a denúncia
formalizada pela PGR e enviada ao STF, há uma maioria de 54% que considera as
investigações do caso imparciais, contra 30% que acreditam que são enviesadas.”
Para Sanchez,
esse cenário fortalece o sistema democrático. “Esse é um resultado importante,
dado que o caso é de extrema relevância no debate político e na sociedade, além
do ponto de vista jurídico. Embora haja espaço para melhora, a confiança no
devido processo legal é crucial para superarmos a percepção de impunidade ou
favorecimento de políticos e poderosos, algo que mina a democracia”, concluiu.
¨ Gilmar Mendes
vê forte articulação golpista e critica tolerância do Exército aos acampamentos
Ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes avalia que o relatório da Polícia
Federal que embasou a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra
o ex-presidente Jair Bolsonaro indica uma coordenação intensa e proximidade de
execução na tentativa de golpe de Estado. Em entrevista ao Estadão, o
magistrado também criticou a postura do Exército diante dos acampamentos que
antecederam os atos de 8 de janeiro, destacando que a instituição forneceu
infraestrutura aos manifestantes.
“Eles deram
assentimento, forneceram luz, forneceram água para essas pessoas”, afirmou
Mendes. Para ele, os eventos do 8 de janeiro estão diretamente ligados à
articulação golpista descrita na peça acusatória do procurador-geral da
República, Paulo Gonet. O ministro descarta qualquer viabilidade de um projeto
de anistia para os envolvidos na invasão das sedes dos Três Poderes e considera
que alguns crimes cometidos são “muito próximos do terrorismo”.
<><> Atos preparatórios e
a configuração do crime
Mendes
enfatiza que a cogitação e a preparação de atos para tumultuar ou inverter a
cena política já são passíveis de punição. “O atentado ao Estado de Direito
exige atos preparatórios. Mas, se houver execução, já teremos uma outra ordem
jurídica. A preparação de atos no sentido de tumultuar ou inverter a cena
política é punível”, explica. Ele destaca que o relatório da PF evidencia a
existência de uma articulação sofisticada e coordenada, apontando para uma
“proximidade, inclusive, de execução”.
O ministro
refuta a tese de perseguição política levantada por Bolsonaro, que alegou estar
sendo alvo de injustiça durante reunião com o relator da Organização dos
Estados Americanos (OEA), Pedro Vaca. “Isso não existe. O presidente foi
eleito, disputou a reeleição e perdeu dentro de um ambiente absolutamente
democrático”, declarou Mendes.
<><> Críticas à
tolerância dos militares
O magistrado
também não poupou críticas às Forças Armadas, responsabilizando setores da
instituição pela permissividade com os acampamentos em frente a quartéis desde
novembro de 2022. “Não pode haver liberdade de reunião em frente a quartéis.
Como se justifica um grupo permanecer desde novembro até janeiro acampado
nesses locais?”, questionou. Segundo ele, esses acampamentos tiveram papel
fundamental na mobilização dos atos de 8 de janeiro, que resultaram na invasão
das sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário em Brasília.
Mendes rejeita
as acusações de que o STF extrapola suas funções ao atuar em temas políticos e
sociais. Para ele, a Corte cumpre seu papel de garantir o funcionamento do
Estado de Direito. Sobre as propostas em tramitação no Congresso que visam
restringir os poderes do Supremo, como a PEC da Blindagem, ele afirmou que
essas questões, se aprovadas, serão analisadas pela própria Corte. “Se houver
alguma medida que restrinja a independência do Judiciário, essa questão será
submetida ao próprio STF, que a apreciará”, declarou.
O ministro
também abordou a decisão da Corte que restringiu operações policiais em
comunidades do Rio de Janeiro, destacando que a medida não visa proteger
criminosos, mas evitar excessos por parte das forças de segurança. “O
verdadeiro estado de coisa inconstitucional é ter territórios ocupados por
grupos armados. O Estado não pode tolerar isso, e é preciso que haja medidas
eficazes para combater essa situação”, afirmou.
¨ “O Judiciário não tem alternativa senão
condenar e prender”, diz José Genoino sobre denúncia contra Bolsonaro
José Genoino,
ex-deputado federal e ex-presidente do PT, comentou a denúncia da
Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Jair Bolsonaro e seus aliados,
baseada na delação do tenente-coronel Mauro Cid. Em entrevista ao Bom
Dia 247, Genoino afirmou que o processo judicial que envolve os militares
golpistas e o ex-presidente é um marco inédito e impõe ao Judiciário uma
resposta firme.
“O Judiciário
não tem outra alternativa senão caminhar no sentido de aceitar a denúncia, de
condenar e de prender, porque a própria legitimidade do sistema de Justiça vai
estar em jogo”, declarou Genoino. Ele ressaltou que a extrema direita sempre
adotou uma estratégia de confronto com as instituições e que esse embate se
repete em outros países. “Veja o que está acontecendo com a extrema direita nos
Estados Unidos e na Argentina. Esse confronto com o sistema de Justiça é um
dado da realidade.”
O
ex-presidente do PT defendeu que a esquerda não pode se limitar a acompanhar os
desdobramentos jurídicos da denúncia contra Bolsonaro, mas deve atuar
politicamente para promover mudanças estruturais no país. “Não podemos apenas
ficar batendo palma. Temos que fazer um debate político sério e avançar na
reforma das instituições que participaram da tentativa de golpe,
particularmente as Forças Armadas.”
Genoino
destacou que a presença de três generais e um almirante no banco dos réus não
pode ser tratada como um fato isolado, mas sim como um indicativo da
necessidade de mudanças profundas. “Isso não aconteceu por acaso. Chegamos a
esse ponto porque as Forças Armadas foram capturadas por uma ideologia
golpista. Nós não podemos repetir o erro da transição da ditadura para a
democracia, quando não fizemos reformas institucionais profundas.”
<><> A disputa entre a
extrema direita e a “direita gourmet”
Genoino também
avaliou o impacto da denúncia para o futuro político da direita no Brasil e
alertou que a velha direita tentará capitalizar a crise para se apresentar como
alternativa viável ao bolsonarismo. “Essa denúncia não significa o fim da
extrema direita. Eles vão seguir com a tática de provocação, narrativa
mentirosa e mobilização. Mas a velha direita já está tentando ocupar esse
espaço, e a esquerda não pode se perder nessa disputa.”
Para ele, o
erro estratégico seria buscar uma aliança genérica contra Bolsonaro e acabar
diluindo a identidade da esquerda. “A esquerda não pode se confundir com a
velha direita. Ela precisa se apresentar com suas bandeiras, sua ação política
e atrair setores do centro para uma aliança tática, sem abrir mão de suas
posições.”
<><> Governo Lula e as
reformas ministeriais
Sobre as
mudanças no governo Lula, Genoino alertou que a reforma ministerial não pode
ser conduzida de forma hesitante e deve priorizar o fortalecimento da base
progressista. “O governo não pode ficar nesse vai e vem com a reforma
ministerial. O Lula precisa evitar desgaste e fazer uma mudança que fortaleça o
núcleo político de sustentação do governo, e não aprofundar a aliança com o
centro.”
Ele também
defendeu que o presidente continue adotando uma postura cautelosa em relação à
denúncia contra Bolsonaro. “O Lula está corretamente evitando transformar isso
numa questão política, porque a extrema direita quer se vitimizar e dizer que
está sendo perseguida. Ele tem que continuar afirmando o devido processo legal,
o direito de defesa e a presunção da inocência. A politização desse julgamento
só favorece a narrativa da extrema direita.”
<<> O risco de anistia e o
embate no Congresso
Questionado sobre
a possibilidade de anistia para os golpistas, Genoino disse que essa bandeira
continua sendo um objetivo da extrema direita, mas que a esquerda deve
enfrentá-la diretamente. “Eles falam em anistia antes mesmo de haver
julgamento. Primeiro tem que ter denúncia aceita, depois condenação e prisão.
Não podemos subestimar essa estratégia deles, porque eles querem criar um
factoide político e dar sobrevida ao movimento golpista.”
Ele ressaltou
que a mobilização política será fundamental para impedir que essa pauta avance
no Congresso. “A extrema direita fala alto, tem ousadia e busca pautar o debate
público. A esquerda tem que assumir uma posição de vanguarda no combate a eles,
como a esquerda francesa tem feito, como o governo do México tem feito. Não dá
para cair na ilusão de uma aliança ampla que, no fim, fortalece a direita em
vez de derrotá-la.”
<><> Reformas estruturais
para evitar novos golpes
Por fim,
Genoino reforçou a necessidade de reformas institucionais, especialmente nas
Forças Armadas, para evitar que o país volte a enfrentar tentativas golpistas.
“Não basta comemorar o fato inédito de termos generais no banco dos réus.
Precisamos entender por que chegamos a esse ponto. Como essa mentalidade
golpista se formou dentro das Forças Armadas? Por que a Operação Punhal Verde e
Amarelo foi planejada? Se não tratarmos dessas questões, o risco de um novo
golpe continuará existindo.”
O
ex-presidente do PT defendeu a criação de uma nova política de defesa nacional,
alinhada a um projeto democrático e popular. “O Brasil precisa discutir uma
agenda de mudanças estruturais. O papel das Forças Armadas tem que ser
redefinido, assim como o funcionamento do sistema de segurança pública e dos
órgãos de controle do Estado. Esse é um debate que precisa ser feito agora, e
não apenas quando estivermos diante de outra ameaça à democracia.”
A entrevista
de Genoino reforça que a denúncia contra Bolsonaro não é um ponto final, mas
sim o início de uma disputa política intensa que exigirá da esquerda uma
atuação firme, sem concessões à velha direita e com um projeto claro para o
país.
¨ "Da
próxima vez, não quebrem a sede do STF", diz Pedro Serrano
Em entrevista
ao programa Boa Noite 247, o jurista e professor Pedro Serrano
abordou a importância da rigorosa aplicação da Constituição no julgamento dos
responsáveis pelos atos golpistas que culminaram na invasão das sedes dos Três
Poderes, em 8 de janeiro de 2023. Segundo Serrano, não há dúvidas sobre a
competência do Supremo Tribunal Federal (STF) para conduzir o caso e reforçou
que o devido processo legal deve ser respeitado, independentemente do impacto
político."A sociedade tem opinião relevante em algumas questões, mas não
nesta. Estamos falando de aplicar a Constituição, as leis e os direitos. São
decisões anti-majoritárias", afirmou
Serrano. Ele destacou que o Judiciário não deve se pautar por pressões
populares ou por conveniências eleitorais. "O direito não pode ser usado
para influenciar eleições. Não podemos fazer com Bolsonaro o que fizeram com
Lula", disse, relembrando a condenação apressada do petista em 2018,
posteriormente anulada.
Serrano também
ressaltou a robustez da denúncia contra os 33 réus acusados de envolvimento no
golpe e defendeu sua aceitação integral. "Essa denúncia deve ser aceita
porque apresenta indícios muito consistentes da autoria dos acusados",
afirmou. No entanto, ele ponderou que, caso a participação de Jair Bolsonaro no
comando da tentativa de golpe não seja comprovada, o ex-presidente deve ser
inocentado. "Se não for comprovada a autoria de Bolsonaro, ele tem que ser
inocentado e a gente tem que assumir isso, mesmo que saibamos de sua
responsabilidade em um bate-papo de bar. O que vale é o que está no
processo", disse.
<><> A polêmica sobre Alexandre de Moraes
O advogado
também rebateu os questionamentos sobre a imparcialidade do ministro Alexandre
de Moraes na condução do caso. Para ele, a tentativa de afastá-lo é parte de
uma estratégia de manipulação do processo. "O réu não tem direito a
escolher quem vai julgá-lo. Não tem direito a manipular o processo,
especialmente com condutas de ameaça e violência para excluir um juiz",
afirmou, comparando a situação de Moraes com outros magistrados ameaçados pelo
crime organizado. "Mais de cem juízes no Brasil são protegidos por agentes
de segurança devido a ameaças de organizações criminosas, e nenhum deles foi
julgado impedido."
Ainda segundo
Serrano, a crítica ao ministro tem um viés ideológico. Ele mencionou as
posições do ex-ministro Marco Aurélio de Mello, que questionou a competência do
STF para julgar o caso, mas que, segundo ele, está "contaminado pelo viés
ideológico". "Marco Aurélio sempre teve um viés de extrema direita.
Recentemente, justificou o golpe militar de 1964 como uma necessidade para
conter o comunismo", criticou.
<><> O peso da pena e a importância do julgamento
Ao tratar das
possíveis condenações, Serrano defendeu que eventuais penas contra Bolsonaro e
demais envolvidos sejam severas, mas dentro dos limites legais. "A pena
mínima nem pensar. Para quem comandou um golpe de Estado, a pena tem que ficar
entre a média e a máxima. Se forem condenados por todos os crimes, a sentença
pode chegar a 40 anos de prisão", explicou.
Questionado
sobre uma eventual prisão preventiva de Bolsonaro, o jurista explicou que ela
só poderia ocorrer caso houvesse risco de fuga ou interferência no processo.
"Se ele fugir do país, será decretada sua prisão imediatamente. Mas não
podemos agir com Bolsonaro da mesma forma abusiva que agiram com Lula",
ponderou, lembrando que mais de 40% da população carcerária brasileira está
presa preventivamente, um número que já levou o Brasil a ser condenado em
organismos internacionais.
Por fim,
Serrano deixou um recado aos que tentam questionar a legitimidade do STF no
julgamento dos golpistas. "A autoridade competente no sistema de Justiça
para julgar esse caso é o Supremo Tribunal Federal. Não gostam disso? Da
próxima vez, não quebrem a sede do STF."
Fonte: Brasil 247
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