Miguel Borba de Sá:
Os donos do poder e a paranoia coletiva na Europa
No dia 13 de janeiro de 2025, o novo secretário-geral da OTAN,
Mark Rutte, fez declarações que receberam menos atenção do que seria esperado
diante da gravidade de suas palavras. Em visita ao Comitê de Assuntos
Exteriores e ao Subcomitê de Segurança e Defesa do Parlamento Europeu, o chefe
da aliança militar ocidental não apenas exortou os eurodeputados a pressionarem
seus respectivos governos para gastarem (muito) mais em armamentos, mas chegou
ao ponto de fazer chantagens com o público presente.
Segundo Rutte, “estamos a salvo agora, mas em quatro ou cinco anos não”. Nem
mesmo a meta de 2% dos orçamentos nacionais (incumprida pela maioria dos
membros) seria suficiente para manter os cidadãos europeus seguros. Para ele, a
necessidade de desviar recursos de outras áreas para os gastos militares seria
existencial: “se vocês não fizerem isto, podem ir entrando num curso de língua
russa ou ir para Nova Zelândia”; afirmou, sem medo do ridículo, perante os
parlamentares europeus.
Não se trata de mera linguagem hiperbólica desprovida de
consequências políticas, mas de uma tática consciente de sustentar paranoias
coletivas que justifiquem políticas militaristas, xenófobas e chauvinistas.
Rosa Luxemburgo escreveu diversos artigos sobre isso. O uso do medo como arma política
é, portanto, antigo, mas não por isso menos perigoso Ele mantém no poder
aqueles que se apresentam como proteção para a ameaça supostamente em curso. E
se até nas ditaduras esta prática é observada, nas democracias o seu estrago é
obviamente maior. Não é preciso ser versado em nenhuma Teoria da Securitização
para sabê-lo – mas ajuda.
Ajuda porém não resolve. Pois até professores competentes de
Relações Internacionais embarcaram, a seu modo, na difusão desta visão de mundo
catastrofista, hoje vociferada por Rutte. Quando a guerra civil na Ucrânia foi
internacionalizada, com a invasão russa em fevereiro de 2022, o autor destas
linhas era professor de uma tradicional universidade europeia, onde lecionei
por quase quatro anos. Espantou-me, naquela altura, a facilidade com que alguns
colegas europeus reproduziam o mesmo alarmismo da OTAN, em linguagem acadêmica,
como se as tropas russas estivessem em marcha rumo a Lisboa em meio a planos de
dominação continental. E não apenas aqueles que constavam em alguma folha de
pagamento em Bruxelas (fosse na OTAN, na Comissão Europeia ou ONGs e afins);
eram principalmente os especialistas em ‘espaço pós-soviético’ que difundiam,
dentro e fora da universidade, o mesmo catastrofismo obstinadamente
pós-político: Putin tem que ser derrotado, ponto. Senão estaremos
fritos. Ou falaremos russo.
Tal postura é uma desonra para a Teoria de Relações
Internacionais, que nasceu sob a égide de figuras como Norman Angell, ícone
pacifista e fervoroso ativista anti-imperialista, mesmo sendo um liberal. Já
não se fazem liberais como antigamente, né?
Em sua obra magna, ele alertava sobre a grande
ilusão das narrativas apocalípticas em voga no seu país, a Inglaterra,
assim como em seu grande rival imperialista, a Alemanha. Os exemplos que ele
trazia dos jornais da época são assustadoramente similares aos discursos
anti-russos atuais. Angell publicou seu libelo pacifista originalmente em 1910,
mas a guerra não tardou em estourar quatro anos depois: não por falta de
corridas armamentistas, como crê a ideologia de gente como Rutte, mas
justamente por causa delas, como temia Angell. Não faltou,
aliás, antes da Primeira Guerra, quem fizesse argumentos ‘geopolíticos’ que
provavam cientificamente a necessidade de aplastar militarmente a potência-rival
de turno… Deu no que deu.
É isso que perdem de vista as explicações vulgares calcadas apenas
na ambição individual ou num economicismo reducionista, ou seja, aquelas que
negligenciam a dimensão ideológica do problema. É claro que o complexo
industrial militar faz parte da equação, sempre fará. O próprio Rutte enfatiza
o ‘papel do setor privado’ em seus discursos. É claro, também, que figuras como
um ex-primeiro-ministro holandês que renunciou por causa de um escândalo
envolvendo programas sociais destinados às crianças em seus país, assim como
suas contrapartes na União Europeia, possuem interesses pessoais em jogo
(António Costa, presidente do Conselho Europeu, e Ursula Von der Leyen,
presidente da Comissão Europeia, foram ambos acusados de corrupção em seus
respectivos países e refugiaram-se em cargos europeus a fim de salvarem suas
carreiras políticas). Mas o pior é quando acreditam genuinamente no que falam;
ou quando nos fazem acreditar. O risco ideológico é sempre maior do que o
provocado pelo utilitarismo racional, por mais egoísta que ele seja. Os
tecnocratas podem ser hipócritas, mas a visão ideológica de mundo que difundem
é a verdadeira questão.
Na mesma semana, a Convenção de Viena foi rasgada a olho nu com
os ataques coordenados às
embaixadas da Venezuela em três capitais europeias. Por quem? Não sabemos. A OTAN fará algo contra esses
terroristas? Estará ela mesma envolvida nos atentados? Melhor nem perguntar. A
ideologia dominante no velho continente parece não conseguir superar o
eurocentrismo e seu imaginário imperial-civilizatório, mesmo quando a realidade
desafia seus dogmas mais queridos. Seus valores e normas ‘universais’ são
desmentidos cotidianamente em cada uma de suas sociedades, todas racistas à sua
maneira. Nem mesmo a destruição terrorista de suas infraestruturas vitais, por
seus supostos aliados, como os gasodutos Nord Stream, os faz mudar
de ideia. O perigo vem sempre do Oriente, ou do Sul.
Enquanto os líderes europeus ficam tentando amedrontar seu
eleitorado doméstico com bravatas russofóbicas deste tipo, os norte-americanos
seguem utilizando-os como financiadores de seu imperialismo particular, cada
vez menos generoso com seus súditos de primeira-classe. E a direita radical em
ambos os lados do Atlântico Norte cresce na esteira do militarismo, ao passo
que toma a dianteira na recusa da guerra contra a Rússia por motivos
ideológicos liberais (democracia vs. autoritarismo). Por sua vez, a
esquerda europeia, com exceção dos pequenos partidos comunistas, silenciou ou
vacilou sobre a guerra da Ucrânia desde o princípio, deixando a bandeira do
pacifismo ser sequestrada e vendo sua relevância política minada em quase toda
parte.
Em tal cenário, decerto sombrio, não podemos nos dar ao luxo cair
nas paranoias coletivas a que os donos do poder nos induzem, por velhacaria ou
reflexo inconsciente, a todo momento. Quem não se lembra das manchetes d’O
Globo e do resto da grande imprensa
acerca da “invasão haitiana” ao Brasil? Mas quem havia invadido o Haiti era o
Exército Brasileiro…
A lição que fica é simples: a política do medo deve sempre ser
vista com desconfiança, mesmo entre quem se entende de esquerda ou
progressista; e até mesmo em ocasiões de pandemia ou durante outras emergências
reais. A política do medo é sempre calhorda. Geralmente é praticada por quem
não tem melhores argumentos ou precisa distrair as massas. Mas funciona. E não
adianta “checagem de fatos” quando os próprios fiscais já são ideologicamente
determinados – pois é impossível não sê-lo.
O que sim, é possível, começa pela resistência à indução do pânico
social. Mas precisa ir muito além. E esse além não será pensável, nem
alcançável, mediante a exploração da paranoia de ninguém.
¨ Jeffrey
Sachs critica política externa dos EUA e pede autonomia europeia no Parlamento
Europeu
Em uma palestra contundente
no Parlamento Europeu, o economista Jeffrey Sachs fez duras críticas à política
externa dos Estados Unidos e defendeu uma maior autonomia da Europa em relação
à influência americana. Com vasta experiência como consultor de governos na
Europa Oriental e na ex-União Soviética, Sachs argumentou que os EUA vêm
conduzindo guerras e desestabilizando regiões por mais de 30 anos, enquanto a
Europa tem atuado de maneira submissa, sem um projeto de política externa
próprio.
<><> O domínio
americano e a falta de uma política externa europeia
Sachs começou seu discurso
afirmando que, com o fim da União Soviética em 1991, os EUA passaram a agir
como uma potência unipolar, ignorando tratados internacionais e conduzindo
guerras no Oriente Médio, na África e nos Bálcãs. Ele denunciou a falta de
soberania da Europa em relação a Washington: “A Europa não tem voz, não tem
unidade, não tem clareza, apenas lealdade aos americanos”, afirmou. O
economista pediu que a União Europeia formulasse sua própria política externa,
sem interferência dos EUA. Ele também citou o exemplo do Iraque, cujo conflito
foi, segundo ele, arquitetado em conluio entre o governo de George W. Bush e o
então primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Segundo Sachs, a guerra
no Iraque foi uma decisão unilateral dos EUA, que burlaram o Conselho de
Segurança da ONU para justificar a invasão.
<><> A expansão
da OTAN e a guerra na Ucrânia
O economista afirmou que a
guerra na Ucrânia é consequência direta da estratégia de expansão da OTAN,
iniciada nos anos 1990, que empurrou suas fronteiras cada vez mais próximas da
Rússia. Ele relembrou a promessa feita ao líder soviético Mikhail Gorbachev de
que a OTAN “não avançaria um centímetro para o leste”, compromisso
posteriormente rompido com a adesão de países do Leste Europeu à aliança
militar. Sobre a invasão russa à Ucrânia, Sachs rejeitou a ideia de que Putin
tenha intenções imperialistas, chamando essa narrativa de “propaganda
infantil”. Ele disse que, em março de 2022, havia uma negociação avançada entre
Rússia e Ucrânia para um acordo de paz, mas que os EUA pressionaram Kiev a
desistir das conversas. “Eu implorei aos ucranianos para salvarem suas vidas,
seu território e sua soberania, mas eles ouviram os americanos”, afirmou. Ele
ainda citou a famosa frase de Henry Kissinger: “Ser inimigo dos EUA é perigoso,
mas ser seu aliado é fatal”.
<><> A relação
entre Europa e Rússia
Sachs sugeriu que a Europa
deveria negociar diretamente com a Rússia, sem intermediação americana, pois os
interesses do continente são diferentes dos dos EUA. Ele criticou a destruição
do gasoduto Nord Stream e a subserviência europeia às sanções contra Moscou,
que afetam a economia da região. “Vocês vão viver com a Rússia por muito tempo.
Por favor, negociem com a Rússia”, pediu. O economista também condenou a
influência da OTAN sobre a Europa e sugeriu que o bloco deveria se afastar da
aliança. Ele defendeu o fortalecimento de uma estrutura de segurança europeia
independente e alertou sobre o perigo de entregar as decisões geopolíticas do
continente aos EUA.
<><> Os EUA,
Israel e o Oriente Médio
Outro ponto abordado por
Sachs foi a política americana para o Oriente Médio. Ele acusou Washington de
ceder sua política externa às vontades de Netanyahu e do lobby israelense. “Os
EUA entregaram sua política externa para Israel há 30 anos. Isso precisa
acabar”, afirmou. Ele defendeu a solução de dois Estados como única saída
viável para o conflito entre Israel e Palestina.
<><> O papel da
China e a nova ordem global
Sachs também abordou a
crescente rivalidade entre os EUA e a China, descrevendo Pequim não como uma
ameaça, mas como uma história de sucesso econômico. Ele criticou os planos
americanos de cercar militarmente a China e destacou que os chineses
ultrapassaram os EUA em várias áreas econômicas. Ele sugeriu que a Europa
deveria ampliar seus laços com a China e outras regiões do mundo, como o
Sudeste Asiático e África, fortalecendo sua posição global de maneira
independente de Washington.
<><> Conclusão:
um chamado para a independência europeia
Ao final de sua palestra,
Sachs reiterou que a Europa precisa de uma política externa própria, baseada na
diplomacia e não no alinhamento automático com os EUA. Ele criticou a falta de
diplomacia do bloco, alertando que o Parlamento Europeu deveria assumir um
papel ativo na construção da paz. “O Parlamento representa os povos da Europa.
É preciso que este Parlamento assuma a iniciativa de buscar a paz, atravessando
linhas partidárias”, concluiu.
¨ Sachs
martela mais um prego no caixão da narrativa pró-Otan sobre a guerra na Ucrânia
O
renomado economista e professor da Universidade de Columbia, Jeffrey Sachs,
discursou no World Government Summit 2025, em Dubai, Emirados
Árabes Unidos. Em sua fala, Sachs criticou duramente a política externa dos
Estados Unidos, especialmente a expansão da OTAN para o Leste Europeu,
apontando-a como uma das principais causas da atual crise geopolítica global.
Sachs
relembrou que, em 1990, o governo dos EUA prometeu ao então presidente da União
Soviética, Mikhail Gorbachev, que a OTAN não se expandiria “nem uma polegada
para o leste”. No entanto, segundo o professor, essa promessa foi quebrada
repetidamente ao longo das décadas seguintes. Ele destacou que a decisão de
expandir a aliança militar foi consolidada em 1994, durante o governo Bill
Clinton, tornando-se um projeto de longo prazo que independeu da administração
de diferentes presidentes americanos. “A ideia era simplesmente continuar
avançando para o leste, cercando a Rússia, expandindo a influência dos EUA
sobre a antiga esfera soviética”, afirmou Sachs, diante de uma plateia composta
por líderes governamentais, especialistas e empresários de diversas partes do
mundo. O economista também mencionou que essa política foi levada ao extremo
sob o governo de George W. Bush, quando sete países do Leste Europeu foram
incorporados à aliança militar em 2004.
Segundo
Sachs, a ruptura definitiva nas relações entre Rússia e Ocidente ocorreu em
2002, quando os Estados Unidos abandonaram unilateralmente o Tratado de Mísseis
Antibalísticos (ABM), que por décadas havia servido como um pilar da segurança
global. “Esse tratado era um mecanismo essencial para evitar uma guerra
nuclear. Mas os EUA decidiram ignorá-lo e começaram a instalar sistemas de
mísseis em países próximos à Rússia”, argumentou. O professor também abordou a
guerra na Ucrânia, apontando que o conflito poderia ter sido evitado se os EUA
tivessem respeitado a neutralidade do país. Ele recordou a eleição de Viktor
Yanukovych em 2010, um presidente ucraniano que defendia a não adesão do país à
OTAN. “Mas os EUA não aceitaram isso. Em 2014, participaram ativamente da
derrubada de Yanukovych, e foi a partir desse momento que a guerra começou de
fato”, disse Sachs.
O
economista destacou ainda que, pela primeira vez em décadas, um governo dos EUA
começou a admitir publicamente que a expansão da OTAN foi um erro estratégico.
Ele se referia a declarações recentes do novo secretário de Defesa americano,
que reconheceu que a Ucrânia não entrará para a aliança militar. “Foi a
primeira vez que disseram a verdade”, afirmou Sachs, sugerindo que essa mudança
de postura pode ser o primeiro passo para uma solução pacífica.
¨ Rússia pode
ceder US$ 300 bilhões em ativos congelados para acordo de paz na Ucrânia
Segundo publicado na Reuters
nesta sexta-feira à noite, a Rússia pode concordar em utilizar até US$ 300
bilhões de seus ativos soberanos congelados para a reconstrução da Ucrânia,
desde que parte desse dinheiro seja direcionada aos territórios sob controle
russo. A proposta surge no contexto de negociações preliminares entre Moscou e
Washington, que buscam um possível acordo para encerrar a guerra iniciada em
2022.
No dia 18 de fevereiro,
autoridades russas e americanas se reuniram em Riad, na Arábia Saudita, para um
primeiro encontro cara a cara sobre o conflito. Não está claro se a questão dos
ativos congelados foi abordada diretamente, mas a disposição da Rússia em
negociar sua liberação pode indicar uma mudança de postura.
Após a invasão da Ucrânia,
os Estados Unidos e seus aliados bloquearam transações do Banco Central e do
Ministério das Finanças da Rússia, impedindo o acesso a aproximadamente US$ 300
a US$ 350 bilhões de ativos soberanos russos. A maior parte desses fundos está
retida na Europa, nos Estados Unidos e no Reino Unido, sob a forma de títulos
do governo e reservas em moeda estrangeira.
A proposta de Moscou
envolveria o uso de uma parcela significativa desses recursos para financiar a
reconstrução da Ucrânia, devastada pela guerra. Segundo fontes consultadas pela
Reuters, a Rússia exigiria que parte desse dinheiro fosse utilizada para
reconstrução em regiões do leste ucraniano atualmente sob seu controle, que
representam cerca de um quinto do território total da Ucrânia.
<><> Negociações
em estágio inicial
De acordo com as fontes
ouvidas pela Reuters, as negociações ainda estão em um estágio muito inicial e
ocorrem de forma sigilosa. O Kremlin não se pronunciou oficialmente sobre a
questão, enquanto a Casa Branca e o governo ucraniano também não comentaram a
possibilidade de um acordo.
A reconstrução da Ucrânia já
foi estimada pelo Banco Mundial em cerca de US$ 486 bilhões. O conflito causou
destruição em larga escala, especialmente no leste do país, onde cidades
inteiras foram arrasadas pelos combates. Milhões de ucranianos foram
deslocados, e centenas de milhares de soldados de ambos os lados foram mortos
ou feridos.
Os principais pontos de divergência
nas negociações continuam sendo as condições para um cessar-fogo. A Rússia
insiste que a Ucrânia retire suas tropas dos territórios que Moscou considera
anexados e que abandone sua intenção de ingressar na OTAN. Já Kiev exige a
retirada total das forças russas de seu território e garantias de segurança por
parte do Ocidente.
<><>
Divergências entre EUA e Europa
A possibilidade de liberar
os ativos russos para a reconstrução da Ucrânia já havia sido debatida
anteriormente no Ocidente, mas enfrenta resistência de alguns governos
europeus. O Grupo dos Sete (G7) declarou em 2023 que os fundos russos
permaneceriam congelados até que Moscou pagasse pelos danos causados pela
guerra. No entanto, autoridades dos EUA têm defendido a busca por uma solução negociada
para o impasse.
O ex-presidente Donald
Trump, que tem manifestado intenção de restaurar relações com Moscou, já
declarou que gostaria de reintegrar a Rússia ao G7. Além disso, seu governo tem
pressionado para que os EUA obtenham acesso a minerais estratégicos da Ucrânia
como forma de compensação pelo apoio financeiro prestado ao país.
A proposta russa também
enfrentaria obstáculos legais na União Europeia, onde a maior parte dos ativos
congelados está localizada. Autoridades do Banco Central Europeu alertaram que
a confiscação total desses fundos poderia enfrentar desafios jurídicos e minar
a confiança no euro como moeda de reserva internacional.
<><> Possível
divisão dos recursos
Segundo uma das fontes
consultadas pela Reuters, uma das ideias em discussão em Moscou é permitir que
até dois terços dos fundos congelados sejam usados na reconstrução da Ucrânia.
O restante seria destinado às regiões sob controle russo no leste do país.
Outra questão em debate
seria quais empresas seriam responsáveis pelos contratos de reconstrução. A
Rússia provavelmente exigiria que empresas russas ou de países aliados tivessem
participação nos projetos financiados pelos ativos descongelados.
Além disso, há uma
preocupação dentro do governo russo de que qualquer concessão sobre os fundos
congelados seja acompanhada por um alívio gradual nas sanções ocidentais. A
governadora do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiullina, declarou que a
instituição não está envolvida em nenhuma negociação sobre o levantamento das
sanções ou a liberação das reservas congeladas.
<><> Reação
interna na Rússia
Dentro da Rússia, a proposta
de liberar os fundos congelados para a Ucrânia pode gerar divisões. O governo
já classificou anteriormente qualquer confisco desses ativos como um “ato de
roubo”. No entanto, alguns analistas e figuras da mídia estatal russa
reconheceram que, no longo prazo, Moscou pode ter que aceitar a perda parcial
desses recursos.
Em 2023, Margarita Simonyan,
chefe da rede estatal RT, sugeriu que a Rússia deveria “vender” os territórios
ocupados em troca dos fundos congelados. “Eles podem pagar esse dinheiro para a
nossa aquisição dessas terras, dessas regiões que querem estar conosco”, disse
Simonyan na época.
Atualmente, as regiões
ocupadas representam cerca de 1% do PIB da Rússia. No entanto, especialistas
acreditam que sua importância econômica pode crescer rapidamente caso
permaneçam sob controle russo, especialmente devido à produção agrícola. As
áreas anexadas já respondem por cerca de 5% da colheita de grãos da Rússia.
<><> Próximos
passos
Apesar da possibilidade de
negociação sobre os ativos congelados, ainda não há um consenso sobre como essa
questão será resolvida. A posição oficial da Ucrânia segue sendo a exigência de
uma retirada total das forças russas e a manutenção da pressão internacional
sobre Moscou.
A reunião entre autoridades
russas e americanas na Arábia Saudita indica que as negociações podem estar
avançando, mas qualquer acordo ainda dependeria de decisões políticas de alto
nível. O encontro entre o presidente russo Vladimir Putin e o ex-presidente
Donald Trump, que já foi mencionado por ambos os lados, pode se tornar um marco
nesse processo.
Seja qual for o desfecho, a
possibilidade de um acordo envolvendo os ativos congelados é um sinal de que a
guerra na Ucrânia pode estar entrando em uma nova fase, na qual as negociações
diplomáticas podem ganhar maior peso na busca por um desfecho para o conflito.
Fonte: Opera
Mundi/O Cafezinho
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