Memórias da imprensa e de ‘software’ de Israel incriminaram
Bolsonaro & cia
O
ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e mais 33 asseclas (os originais eram 40,
mas isso fica melhor no caso das joias das Arábias, que era do acervo da
Presidência e o ex-presidente quis tomar para si) devem culpar a memória – da
imprensa, que nunca esqueceu do seu desprezo pela vida de mais de 710 mil
brasileiros que pereceram pela Covid (“e daí, não sou coveiro”, ao dar de
ombros à milésima morte), e do “software” israelense “cellebrite premium”,
usado pela Polícia Federal para recuperar dados da memória de celulares e
computadores e, assim, desvendar crimes – por estarem indiciados até o pescoço
pelo procurador geral da República, Paulo Gonet, em crimes pelos quais podem
ser condenados a penas de mais de 40 anos, que, no caso do ex-capitão, se
somariam aos oito anos de inelegibilidade política.
A
memória da imprensa não se cansa de reviver as atitudes infames do governo do
ex-presidente, de suas ações públicas pelo negacionismo e contra as vacinas,
que geraram os primeiros embates contra o Supremo Tribunal Federal, quando a
Suprema Corte reconheceu o direito, no começo da pandemia, em 2020, de
prefeituras e governos estaduais decretarem dispersão do trabalho e das
atividades escolares e exigirem máscaras em ambientes fechados para evitar as
aglomerações que propagavam o vírus da Covid-19. Na escalada contra o STF,
Bolsonaro escolheu o ministro Alexandre de Moraes como alvo. Em um comício no 7
de setembro de 2021, depois de chamar, insuflado pelo pastor Silas Malafaia, de
“canalha” o ministro Moraes, bradou “acabou”, e disse: “de agora em diante, não
acatarei decisões do ministro Alexandre Moraes”.
Como
decisões do STF se acatam, ou se contestam por embargos declaratórios (se
couber espaço jurídico), ante a ameaça de prisão por desacato a Moraes,
Bolsonaro miou como um gatinho e recorreu, no dia seguinte, ao ex-presidente
Michel Temer, que indicara Moraes, ex-secretário de Segurança e de Justiça do
Estado de São Paulo, para o Supremo, para tentar desfazer a péssima impressão.
Escreveu uma carta a quatro mãos, com Temer, se desculpando, e ainda falou ao
telefone, com intermediação de Michel Temer, com o ministro do STF. Pelo visto,
o disse-me-disse por escrito foi só dissimulação.
Como
o destino colocou Alexandre de Moraes, que já integrava o colegiado do Tribunal
Superior Eleitoral, na presidência do TSE para fiscalizar e organizar a Justiça
Eleitoral de todo o país nas eleições presidenciais de 2022 (o 1º turno em 2 de
outubro e o 2º turno em 30 de outubro), o que incluía o comando do processo
pré-eleitoral, o horário eleitoral gratuito em rádio e TV e as análises de
recursos, o que se estendia até a diplomação e a posse dos eleitos, Moraes
virou um alvo prioritário da ira de Bolsonaro.
A
obsessão por se perpetuar no poder, após cair no vazio a tese das fraudes nas
urnas eleitorais, chegou ao ponto de, inconformado pela derrota (apesar de ter
mobilizado a Polícia Rodoviária Federal para dificultar o acesso dos eleitores
de regiões que votaram em Lula no 1º turno, com “blitz” em ônibus nas BRs, e de
ter derramado centenas de bilhões para cooptar eleitores no Auxílio
Emergencial, e com mesadas de R$ 1 mil mensais a caminhoneiros e motoristas de
taxi), autorizar o plano “Punhal Verde Amarelo”. Após a arruaça feita em
Brasília pelos “kids pretos” (tropa de elite do Exército) em 12 de dezembro de
2022 não ter gerado a adoção de uma GLO (Garantia da Lei e Ordem) na noite da
diplomação de Lula e do vice-presidente Geraldo Alkimin pelo presidente do TSE,
surgiu como segunda missão do golpe o sequestro do trio, sua prisão e morte.
Ato contínuo, seria decretado Estado de Sítio ou de Defesa, com intervenção no
TSE e o poder exercido por uma junta militar coordenada pelos generais Walter
Braga Neto, vice derrotado na chapa de Bolsonaro, e o general Augusto Heleno,
então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, que controlava a
Abin, responsável pela escuta de ações de sabotagem política contra adversários
do ex-presidente. Tudo para manter o grupo de Bolsonaro no poder.
·
A memória do software
Vale
lembrar que o inquérito que descobriu as provas das tramas do golpe contra o
Estado Democrático de Direito, de 8 de janeiro de 2023, com a invasão e
depredação das sedes dos três Poderes da República para forçar o caos e obrigar
o governo Lula, empossado uma semana antes, em 1º de janeiro, a recorrer às
Forças Armadas no recurso da GLO, que minaria a autoridade política do governo
Lula, começou quase por acaso, por uma iniciativa da imprensa. Um jornal
paulista conseguiu autorização do Supremo, em abril de 2023, para a quebra do
sigilo sobre os cartões de vacinação de Jair Bolsonaro e família no ConecteSUS.
Ao dar início à pesquisa, descobriu-se mais de um registro de vacinação do
ex-presidente, que jurava não ter tomado vacinas e pregava contra a vacinação
(com boa adesão popular).
Na
investigação, já a cargo da Polícia Federal, descobriu-se a interferência do
ajudante de ordens da Presidência da República, tenente-coronel Mauro Cid, que
também conseguiu certificados falsos junto à Prefeitura de Duque de Caxias (RJ)
para a mulher e a filha visitarem os Estados Unidos. Ato contínuo, o ministro
Alexandre de Moraes requisitou à PF a apreensão dos celulares do ajudante de
ordens. E, como no “Windows”, foram abertas novas janelas para a investigação
de operações ilegais da presidência da República e o seu entorno. Um dos casos
foi o das joias sauditas, onde uma descuidada imagem em foto no celular de
Mauro Cid mostrava a presença do seu pai, o general (quatro estrelas)
Lorena Cid, como negociador de um dos relógios Rolex presenteados ao presidente
da República Federativa do Brasil, mas que Bolsonaro quis se apropriar e fazer
caixa na estada nos Estados Unidos (Orlando) desde 31 de dezembro de 2022,
enquanto imaginava que se desenrolaria o golpe no Brasil. O general fora colega
de turma de Bolsonaro na AMAN e, além do filho ter sido escalado como ajudante
de ordens da Presidência, o militar engordou os salários da reserva no Exército
com uma sinecura: dirigir escritório da Apex em Miami. A Apex tem como missão promover
exportações de produtos brasileiros e atrair investimentos. Não a venda de
joias e relógios. Foi diante destas descobertas - que poderiam incriminar a si
próprio, ao pai e à mulher -, que Mauro Cid negociou um acordo de colaboração
premiada.
O
acordo, cheio de idas e vindas, porque a memória seletiva do ajudante de ordens
omitiu fatos importantes na escalada que levou ao 8 de janeiro de 2023, tinha
uma régua favorável ao tenente-coronel: limitar suas penas a dois anos de
prisão (iniciada em maio de 2023). Condenações acima de dois anos, além de
cortar sua progressão na carreira militar (já consumada), o privaria das
regalias de passar à reserva com direito a soldo integral, extensivo à mulher e
filha enquanto solteira. Condenações acima de dois anos tornam o militar
“indigno” e sem direito às regalias da passagem à reserva [de certa forma, a
“Anistia, Ampla, Geral de Irrestrita”, aprovada no governo Geisel e sancionada
por Figueiredo, preservou as carreiras e as benesses financeiras de
torturadores e matadores das Forças Armadas na ditadura].
Mas
os desdobramentos das investigações da Polícia Federal tiveram novo impulso
quando o largo uso do “cellebrite premium” descobriu, em novembro do ano
passado, que Mauro Cid havia feito omissões importantes sobre os passos de
Bolsonaro e seu entorno nos meses de novembro e dezembro de 2022. Reinquirido
por Alexandre de Moraes, e diante do risco de perder as regalias estendidas ao
pai e à mulher, o tenente-coronel abriu mais o bico e confirmou o que as
investigações da PF já tinham levantado com áudios e farta documentação,
inclusive daquelas impressas nos gabinetes do Palácio do Planalto, como os
planos do “Punhal Verde Amarelo” e as chaves da “Copa do Mundo de 2022”, não a
do Catar, mas o papel e a função de cada um do grupo nos atentados programados
para dezembro (parte foi cumprida, parte foi descoberta a tempo pela Polícia
Federal, como a bomba que explodiria, no Natal de 2022, um caminhão-tanque com
querosene de aviação no Aeroporto de Brasília, e parte abortada, como o
sequestro do ministro Alexandre Moraes. Foram essas novas descobertas que deram
mais confiança à PF para concluir seu inquérito, em fins de novembro do ano
passado, e entregar o relatório à Procuradoria Geral da República e ao relator
do inquérito do 8 de janeiro de 2023, ministro Alexandre de Moraes.
Para
fechar esse capítulo, um episódio do lamentável palavreado chulo de quem
governou (?) o país por quatro anos. No dia seguinte à denúncia da PGR que pode
levá-lo à prisão, em “live” com políticos do PL e apoiadores, Bolsonaro
desdenhou da ameaça de condenação e prisão com um “caguei (sic) para a prisão”.
Diante da péssima repercussão, tentou se desculpar na sexta-feira: “Ontem, eu
exagerei aqui um pouquinho. Falei que estava… assim… para uma possível prisão.
De vez em quando, dou uns coices por aí para mostrar que somos de carne e osso.
E a verdade vem nesses momentos”.
A
emenda veio pior que o soneto e reafirmou a grosseria e a falta de civilidade
do ex-presidente.
·
E o Trump, hein?
Os
bolsonaristas, que imaginavam apelar ao presidente americano, Donald Trump,
para pressionar o Supremo Tribunal Federal, devem estar desnorteados após o
revide do ministro Moraes à pressão da empresa de vídeos Rumble, que instigada
pelo filho 03, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e pelo blogueiro
Allan dos Santos, resolveu processar Moraes nos EUA. A Rumble declarou que não
iria cumprir a determinação de Moraes de suspender postagens com vídeos do
blogueiro bolsonarista (Allan dos Santos está foragido nos EUA) e aproveitou a
adesão à causa da Trump Media & Technology Group, controlada pelo
presidente americano, para acionar contra o ministro do STF nos Estados Unidos,
por suposta violação da soberania americana.
Escolado
pelo embate recente com o X de Elon Musk, Moraes exigiu que a Rumble nomeie
representante legal no Brasil, e a ameaçou com pesadas multas ao descumprimento
da determinação da Justiça brasileira. No caso da X, antes da posse de Musk no
governo Trump, a X esperneou, mas indicou representante legal e pagou pesada
multa.
Entretanto,
o que deve estar desnorteando a extrema direita brasileira é a postura de
Donald Trump diante de dois líderes comunistas. Trump virou o maior aliado para
o expansionismo de Vladimir Putin na Ucrânia (Trump entende que a Rússia tem
direito a uma saída segura pelo Mar Negro, o estreito de Bósforo, na Turquia, e
o Canal de Suez, pelo Mar Mediterrâneo, para levar suas cargas de petróleo e
gás ao Oriente e à Ásia). E, depois de rugir muito tempo contra a China,
ameaçando com pesadas tarifas, está tão dócil como um urso panda, preferindo um
acordo mútuo com o presidente Xi Jinping visando a imposição de cotas de
mercado recíprocas.
Até
o dólar vinha reagindo bem, com nova queda abaixo de R$ 5,70 (R$ 5,6930 às
13:30 de sexta-feira), quando os mercados mundiais se alarmaram com a notícia
de uma nova variedade de coronavírus (vindo da China e tendo morcegos como
hospedeiros), e houve um salto alarmista geral que levou a moeda a fechar a R$
5,7320 no Brasil.
Se
a maré não mudar, há chances concretas, com o avanço das tratativas de
armistício entre Rússia e Ucrânia (a um custo altíssimo para o país de
Zelensky), de os preços dos combustíveis despencarem, passado o pico da demanda
por aquecimento no inverno no Hemisfério Norte. Os contratos futuros do
petróleo tipo Brent, para entrega em abril, tiveram queda de 2,68% na
sexta-feira, cotados a US$ 74,43. E todos os vencimentos de 2025 apresentam
queda em torno de 2%. Espera-se que o movimento esteja mais ligado às chances
de Paz (que também implicaria em queda dos preços dos alimentos) do que a
riscos de uma nova pandemia desacelerar a economia.
Fonte: Por Gilberto
Menezes Côrtes, no JB

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