quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

O futuro em risco - A derrota simbólica de 2026 e o perigo da esquerda dividida

No atual cenário político brasileiro, enfrentamos desafios complexos, marcados pelo fortalecimento de forças autoritárias e o uso de estratégias híbridas que vão além das disputas eleitorais. Uma eventual derrota das forças progressistas não se resume a um revés político, mas acarreta um impacto simbólico profundo, capaz de abalar a identidade histórica da luta por justiça social e comprometer a credibilidade das pautas construídas ao longo dos anos.

Essa realidade ressalta a necessidade de uma união consciente entre os movimentos sociais para garantir a continuidade dos avanços democráticos. Observa-se uma transformação nas correlações de poder, evidenciada pela intensificação da polarização nas estratégias de mobilização e comunicação.

De um lado, há um governo de frente ampla com ethos progressista, empenhado em consolidar conquistas sociais e ampliar a participação popular mesmo diante de um ambiente adverso. Do outro, discursos autoritários se reforçam por meio de uma estratégia que combina críticas às vitórias sociais com propostas que apelam para valores tradicionais e a promessa de segurança imediata.

Essa dinâmica se manifesta na simplificação de problemas complexos, explorando sentimentos de insegurança e a urgência por respostas rápidas a desafios históricos. Tais discursos encontram eco entre aqueles que se sentem ameaçados pelas rápidas mudanças sociais, criando um clima de tensão e polarização tanto nas redes sociais quanto nos debates públicos.

Assim, uma derrota eleitoral das forças progressistas transcende a perda de votos: ela simboliza o enfraquecimento de políticas inclusivas e a desarticulação dos movimentos que lutam por direitos e transformações profundas.

O avanço autoritário no país não é apenas uma ameaça interna, mas também um alerta para a estabilidade global. Quando práticas que restringem liberdades se solidificam, criam-se precedentes que podem limitar a participação cidadã e a pluralidade de ideias, influenciando a agenda internacional e disseminando uma cultura antidemocrática.

Além disso, o papel das big techs na manipulação de informações e na influência sobre a opinião pública contribui significativamente para a polarização e o enfraquecimento das instituições democráticas.

Diante desse panorama, a unidade das forças progressistas é essencial para a defesa da democracia e o fortalecimento das pautas sociais. Superar disputas internas e transformar diferenças em pontos de convergência permite a construção de uma agenda firme e pragmática, alinhada às necessidades reais da população.

Reconectar-se com a base popular e reafirmar a luta anticapitalista de forma concreta são estratégias indispensáveis para resistir ao retrocesso autoritário e preservar as conquistas históricas.

Em síntese, a análise dos desafios atuais evidencia que a derrota eleitoral das forças progressistas vai além de um simples resultado nas urnas, afetando profundamente o simbolismo da luta antissistema. A união em torno de uma agenda clara e objetiva, fundamentada em justiça, igualdade e inclusão, é o caminho para assegurar a continuidade dos avanços sociais e combater o avanço autoritário.

Somente com uma mobilização coesa e consciente será possível garantir um futuro em que a democracia se fortaleça e os direitos sociais sejam plenamente protegidos. Em meio a desafios complexos e ao fortalecimento de forças autoritárias que ameaçam as conquistas históricas, é imperativo que as forças progressistas se unam de forma estratégica e consciente para proteger a identidade da luta por justiça social.

Mesmo diante de críticas legítimas ao governo Lula, compreender o nosso zeitgeist e adotar uma visão leninista dos processos históricos é essencial para transformar divergências internas em um movimento coeso, capaz de frear o avanço do fascismo e consolidar pautas que promovam igualdade, democracia e mudanças estruturais profundas.

 

¨      Estratégias para reverter queda de popularidade de Lula. Por Antônio Queiroz

Este texto analisa os fatores que contribuíram para o declínio da aprovação popular, as ações adotadas pelo governo para enfrentar esses desafios e as perspectivas futuras em contexto de polarização política.

O diagnóstico do governo aponta 2 eixos principais como responsáveis pela queda na popularidade.

O primeiro é a inflação de alimentos, que impacta diretamente o custo de vida da população, especialmente dos segmentos mais pobres, além do impacto indireto da elevação do valor do dólar, que também teve reflexo sobre a inflação.

O segundo são as denúncias da oposição, que têm ganhado destaque na mídia e no debate público. Entre os temas explorados estão a crise do PIX, com a suposta tributação de transações financeiras a partir de R$ 5 mil, a taxação das importações de baixo valor — conhecidas como “blusinhas da shopee” —, e a responsabilização do governo pelo aumento da criminalidade e percepção de corrupção.

Estes fatores, somados à insatisfação de setores do mercado financeiro e do agronegócio, criam ambiente desafiador para a Administração Federal.

<><>Estratégia
Para enfrentar esses desafios, o governo tem adotado estratégia que combina medidas populares e negociações políticas. No âmbito social, foram anunciadas 3 iniciativas para beneficiar a população de baixa renda e a classe média.

A primeira propõe a isenção do Imposto de Renda para rendimentos de até R$ 5 mil.

A segunda visa ampliar o acesso ao empréstimo consignado aos trabalhadores do setor privado, com limite máximo de taxa de juros, como já ocorre no consignado dos servidores públicos.

A terceira é a expansão do vale-gás, que deve beneficiar mais de 20 milhões de famílias.

<><> Humor da população e descontentamento

Essas medidas buscam melhorar o humor da população e conter o descontentamento gerado pela inflação e pela crise econômica.

No campo político, o governo tem trabalhado para fortalecer a base de apoio no Congresso, onde o alinhamento com o Centrão é visto como essencial para a aprovação de pautas prioritárias. Entre as ações estão:

1) aceleração da reforma ministerial;

2) composição das comissões temáticas no âmbito do Parlamento;

3) busca por solução para o impasse das emendas parlamentares (com atuação no STF); e

4) cobrança sobre o Ibama para autorizar a pesquisa para exploração de petróleo na margem equatorial. Este último tema é de interesse do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e a resolução é vista como forma de garantir o apoio de aliado estratégico.

<><> Riscos de descontrole

Apesar da queda de popularidade, o governo avalia que os riscos de descontrole são limitados. A agenda prioritária, especialmente as proposições com benefícios para a população, tende a ser aprovada com o apoio do Centrão.

No entanto, a oposição pode criar obstáculos por meio de mecanismos de fiscalização, como a criação de CPI, e campanhas de deslegitimação. Para reduzir o impacto de eventuais derrotas, o governo está disposto a negociar a revisão de vetos ou aceitar a derrubada de alguns desses, principalmente em temas como a Reforma Tributária e a dívida dos estados.

A polarização política, no entanto, continua a moldar o cenário nacional. A oposição tem explorado narrativas críticas ao governo, responsabilizando-o pelo aumento da criminalidade, da carga tributária e da corrupção.

<><> Comunicação mais assertiva

Para contrapor essas críticas, o governo tem investido em comunicação mais assertiva, adotando slogans como “O Brasil é dos brasileiros”, fazendo contraponto à direita, que tem vestido o boné de campanha do presidente estadunidense, Donald Trump. Essa estratégia busca atrair apoio de setores mais conservadores e neutralizar as críticas da oposição.

Olhando para o futuro, a governabilidade do governo Lula parece estável no curto prazo, graças ao alinhamento tático com o Centrão. No entanto, os desafios de longo prazo incluem a manutenção desse apoio e a gestão das expectativas da população em cenário econômico complexo.

A polarização entre Lula e Bolsonaro tende a persistir, com ambos sendo os principais atores no cenário eleitoral de 2026. Enquanto Lula deve buscar a reeleição, desde que sua saúde permita, Bolsonaro deve manter-se como figura central da oposição, podendo lançar o filho, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), ou Michelle Bolsonaro, como candidato/a em caso de confirmação de impedimento.

<><> Polarização como fator determinante

Em resumo, o governo Lula enfrenta cenário desafiador, mas suas estratégias para reverter a queda de popularidade incluem medidas populares, alinhamento com o Congresso e comunicação eficaz.

O sucesso dessas ações dependerá da capacidade de o governo equilibrar as demandas da população, as pressões políticas e as complexidades do cenário econômico.

A polarização política continuará a ser fator determinante, e a dinâmica entre Lula e Bolsonaro seguirá moldando o futuro da política brasileira.

 

¨      Coordenador do Prerrogativas cobra engajamento total dos ministros em defesa de Lula

O coordenador do Grupo Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho, defendeu, em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, o engajamento total dos ministros do governo federal em defesa do presidente Lula (PT). Carvalho ironizou e disse que o governo deveria instituir o programa “Pé-na-Bunda”, em referência ao programa Pé-de-Meia, para demitir os ministros que não estão engajados na defesa do presidente.

“Não dá para fazer uma defesa protocolar, restrita à própria pasta, aos interesses imediatos ou de um grupo político. Os ministros precisam sair dos seus cercadinhos. É inadmissível que um governo com tantas entregas não tenha uma avaliação compatível [...]. De toda sorte, estamos começando o segundo tempo do jogo. É fundamental que o presidente convoque os seus melhores jogadores e faça uma avaliação sobre o primeiro tempo. Se precisar desligar algum ministro, tenho certeza de que fará isso. Ninguém deve se apegar ao cargo. Eu brinco que o presidente teve sucesso com o Pé-de-Meia, um dos maiores programas educacionais da história, e agora poderia implementar o Pé-na-Bunda para quem não se engajar, não defender o governo e não entregar resultados”, disse o jurista.

 “A defesa do governo não pode caber apenas ao presidente Lula. É importante que os ministros coloquem o coração na chuteira. Falta engajamento. Não quero ser injusto, não me refiro a todos, mas essa partida é de final de campeonato, não dá para fazer uma defesa protocolar, restrita à própria pasta, aos interesses imediatos ou de um grupo político”, completou.

Carvalho também defendeu que o governo amplie as alianças com o centro para barrar a extrema direita e afirmou que a reeleição de Lula é “a melhor saída” até para a elite. “O presidente não abre mão dos princípios e propósitos que marcam a esquerda no Brasil e no mundo. Todas as nossas políticas têm esta marca. Mas precisamos ampliar ainda mais nosso arco de alianças para dialogar com setores médios da população e recuperar a confiança de outros. Temos agora uma oportunidade primorosa: formar uma aliança com o setor produtivo para criar barreiras de contenção a essas políticas do Trump. A melhor saída para a própria elite brasileira é reeleger o presidente Lula, com a compreensão de que todos precisam dar uma colaboração mais efetiva para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva”, explicou.

O jurista ainda saiu em defesa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que é alvo de ataques da extrema direita. Segundo Carvalho, a oposição tenta enfraquecer Haddad já de olho nas eleições de 2030. “O Haddad é um quadro técnico da maior qualidade e tem a confiança do presidente. As críticas a ele camuflam outros objetivos. É gente colocando o carro na frente dos bois, antecipando o debate sobre o pós-Lula. O real objetivo dessas críticas é enfraquecer Haddad para um cenário futuro, que só será uma realidade a partir de 2030. Até lá, todos nós do campo progressista vamos apelar para que Lula seja candidato em 2026 e conduza sua própria sucessão. No mais, Haddad tem sido um magnífico ministro, e a Fazenda, ao lado da AGU, é uma das pastas com maior entrega”, elogiou.

<><> PEC da Segurança

Carvalho afirmou que o governo federal precisa trabalhar “melhor” a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública. A iniciativa visa ampliar a integração entre as forças policiais no Brasil e aumentar o papel da União na segurança pública. O jurista cobrou engajamento dos ministros, especialmente de Rui Costa (PT), da Casa Civil. 

“A gente pode e deve trabalhar melhor esse tema. Temos que pautar a discussão da PEC da Segurança Pública com a centralidade que ela merece. É um jogo de ganha-ganha: se perdermos, ganhamos por ter proposto o debate; se vencermos, ganhamos ainda mais. O ministro Lewandowski precisa de apoio. É um luxo para o país ter um ministro da qualidade dele. Esse tema precisa ter maior centralidade e engajamento, especialmente do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Não dá para deixar o Lewandowski sozinho nessa discussão. Quem não faz gol, toma”, criticou.

<><> Mauro Cid e Lava Jato

Marco Aurélio de Carvalho afirmou que “não há paralelo possível” entre as delações feitas na operação Lava Jato com a delação do tenente-coronel Mauro Cid no âmbito das investigações sobre uma tentativa de golpe de Estado pelo governo Jair Bolsonaro (PL). “Essa é uma comparação equivocada e desonesta. Nós continuamos acreditando que as delações não podem ser o único meio de prova e que se não estiverem acompanhadas de elementos que possam ser comprovados, devem ser desconsideradas. E seguimos defendendo que a espontaneidade é fundamental”, opinou.

“A delação dele é bastante coerente e relata fatos já comprovados nas investigações policiais e judiciais sobre o 8 de Janeiro. Ele menciona a minuta do golpe, que existe e foi apreendida. Diz também que havia um plano em curso para matar Lula, Alckmin, Alexandre de Moraes e uma quarta pessoa não identificada. Há vídeos mostrando pessoas em posições estratégicas para executar o plano. A narrativa de Mauro Cid, ao que parece, é coerente, espontânea e lastreou provas que já tinham sido obtidas ao longo das investigações”, completou.

Além disso, Carvalho criticou a posição do ministro da Defesa, José Múcio, sobre a tentativa de golpe. Mucio defendeu punições mais brandas aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro como forma de pacificar o país. “É fundamental individualizar as condutas para a correta dosimetria da pena. Nisso, concordamos. O que não se pode é naturalizar o 8 de janeiro e isentar os envolvidos, inclusive os militares. A única forma de pacificar o país é não anistiar nenhum golpista, ao contrário do que disse o ministro Múcio. Inclusive, o silêncio dos militares é constrangedor e mantém sobre eles uma grave suspeição”, criticou.

 

Fonte: Por Reinaldo Aragon, em Jornal GGN

 

Nenhum comentário: