quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Como o partido da esquerda socialista mudou seu rumo na Alemanha

Quando anunciamos nossa candidatura à presidência do partido Die Linke no último verão, a situação parecia desafiadora: a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) havia se separado do partido, e nós caminhávamos mancando para as eleições estaduais no leste da Alemanha. No último domingo, apenas seis meses depois, conquistamos quase 8,8% dos votos nas eleições federais. Isso não foi coincidência.

O congresso do partido em Halle já sinalizava o início de uma transformação. O clima estava ótimo e se vislumbrava um novo começo, ainda que tímido e, inicialmente, apenas em nível local. Com o fim do governo de coalizão e o anúncio de eleições antecipadas, nos vimos repentinamente em plena campanha eleitoral. Encontramos um partido mais unido e disciplinado do que havia sido há muito tempo. A “amizade revolucionária” se espalhou, acompanhada de bom humor e muita energia.

Não há dúvida de que as circunstâncias favoráveis desempenharam um papel na recuperação do partido Die Linke, mas, acima de tudo, esse resultado foi fruto de um processo estratégico bem pensado dentro do partido, um processo que começou muito antes de nossa chegada à presidência e que nos deu a capacidade de responder com flexibilidade à constante mudança do cenário social. Gostaríamos de destacar os fatores que consideramos decisivos nesse contexto.

Em outubro, fomos eleitos líderes do partido Die Linke. Naquele momento, o mesmo mal chegava a 3% nas pesquisas. Duas semanas e meia depois, a “coalizão semáforo” desmoronou, e as eleições gerais, previstas para ocorrer em menos de um ano, foram repentinamente antecipadas para apenas quatro meses.

A princípio, a mudança parecia impossível. Mas enquanto a mídia já nos dava como mortos, em nossas conversas com as seções locais de toda a Alemanha percebemos que o partido havia recuperado a vida. No início, quase ninguém acreditava quando dizíamos que Die Linke estava vivo. No entanto, foram feitos alguns ajustes cruciais e lançadas as bases para um novo começo.

O contexto social dessa campanha eleitoral naturalmente desempenhou um papel: muitas pessoas, especialmente jovens, estavam frustradas e desiludidas após três anos de governo de coalizão. O pacto de Friedrich Merz com a Alternative für Deutschland (AfD) revitalizou o movimento contra a direita, e Die Linke foi a única força que se manteve firme. Como resultado, passamos a representar a esperança de uma alternativa solidária para muitos. No entanto, isso só foi possível porque, como partido, tomamos as decisões corretas nos meses anteriores.

·       A receita para a revitalização

Afórmula para o bem-sucedido ressurgimento do partido Die Linke nos últimos meses pode ser resumida da seguinte forma: como partido, conseguimos chegar a um consenso sobre um plano estratégico comum e demos passos importantes na reconstrução do partido e no trabalho organizacional em um curto período de tempo. Com um projeto conjunto (a campanha pré-eleitoral), conseguimos, por um lado, estabelecer estruturas eficazes para maximizar nossa atividade nos poucos meses disponíveis. Por outro lado, conseguimos um verdadeiro contato com nossos (potenciais) eleitores. Ao focarmos em reivindicações muito concretas e realistas, como o controle do aluguel, a eliminação do imposto sobre vendas de alimentos básicos e um imposto sobre fortunas, conseguimos reconstruir nosso perfil como oposição social.

Por meio de uma estratégia de comunicação com mensagens claras de “nós contra eles”, colocamos em evidência o que une a classe trabalhadora e deixamos claro o que defendemos e para quem fazemos política como Die Linke. Além disso, demonstramos que não apenas falamos, mas agimos, com ferramentas concretas como a calculadora de alugueis abusivos ou nossa comparação dos custos de aquecimento. E, por fim, mas não menos importante, pela primeira vez em anos, apresentamos uma frente unida ao público e estávamos nos divertindo!

·       Dez ingredientes para o sucesso

1.    Recrutamento de novos ativistas e fortalecimento das seções locais. 

- Após anos de disputas entre facções, nossas estruturas estavam esgotadas. Uma campanha no outono de 2023 recrutou milhares de novos membros, que reorganizaram suas seções e se tornaram ativistas de base. O fator decisivo foi a colaboração entre veteranos e novos membros.

2.    A maior campanha de organização da história do partido.

- A “Roteiro25” guiou a pré-campanha eleitoral, incluindo uma massiva pesquisa porta a porta. Visitamos 638.123 casas no dia das eleições, a maior mobilização de Die Linke até hoje.

3.    Gerar impacto concreto. 

- Iniciativas como a calculadora de aluguel abusivo e reuniões de inquilinos trouxeram benefícios reais e ajudaram a conectar o partido com as pessoas.

4.    Foco nos temas centrais. 

- Priorizar questões como controle de aluguel, preços altos e impostos sobre grandes fortunas ajudou a reconstruir um perfil claro para o partido.

5.    “Nós aqui embaixo contra eles lá em cima.” Colocamos a luta de classes no centro da campanha, deixando claro quem são nossos aliados e nossos adversários.

6.    Comunicação clara e acessível. 

- Desenvolvemos uma narrativa comum e eliminamos discursos excessivamente complexos e moralistas.

7.    Presença forte nas redes sociais. 

- Profissionalizamos nossa atuação digital, com mensagens segmentadas que ampliaram nossa visibilidade, especialmente entre os jovens.

8.    Adaptabilidade. 

- Mantivemos objetivos claros, mas testamos abordagens e seguimos com as que davam certo, permitindo flexibilidade na campanha.

9.    Postura firme. 

- Mantivemos nossos princípios mesmo diante do avanço da direita, tornando-nos um ponto de esperança para muitos.

10. Nova coesão interna. 

- O partido voltou a se comportar como um time, substituindo frustrações e disputas pelo espírito de cooperação e engajamento.

·       Seguimos em frente

Claro, o partido ainda precisa de muito trabalho. Claro, também cometemos erros e, claro, há grandes tarefas pela frente. Mas nós, como partido, alcançamos muito nos últimos meses — e estamos incrivelmente orgulhosos disso. Estamos orgulhosos dos passos que demos juntos e de cada camarada — e aqueles que poderiam se tornar camaradas — que contribuíram. Este é apenas o começo.

O partido Die Linke não entrou na eleição federal simplesmente para obter um bom resultado — queremos mudar esta sociedade. Muitas pessoas depositaram suas esperanças em nós novamente nas últimas semanas e deram ao Die Linke uma segunda chance. Estamos determinados a não decepcioná-los. Isso significa continuar no caminho que tomamos, reconstruir o Die Linke e transformá-lo em uma força que pode mudar as coisas para melhor. Vemos isso como nossa missão, e é uma que não trocaríamos por nada.

¨      Merz e Scholz se reúnem para negociar coalizão

O bloco conservador de Friedrich Merz, CDU/CSU, vencedor das eleições gerais do último domingo na Alemanha, e os social-democratas do chanceler federal alemão, Olaf Scholz (SPD), iniciaram nesta terça-feira (25/02) as primeiras conversas formar uma possível "grande coalizão".

Os partidos começaram a apresentar as primeiras exigências para fechar um acordo capaz de dar maioria a Merz no Bundestag e confirmar sua nomeação a chanceler federal. Combinados, SPD e CDU/CSU poderiam contar com 328 dos 630 assentoss no parlamento alemão (Bundestag), um pouco mais do que o necessário para assegurar maioria.

As negociações acontecem após uma ferrenha campanha eleitoral, com acusações mútuas entre as duas siglas

"Parto do princípio de que podemos chegar a um bom acordo de coalizão com o Partido Social-Democrata", disse Merz em uma coletiva de imprensa antes de uma reunião do novo grupo parlamentar conjunto da União Democrata Cristã (CDU) e da União Social Cristã da Baviera (CSU). Antes, Merz teve um encontro de uma hora e meia na com Scholz, cujo partido ficou em terceiro lugar no último pleito, atrás da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD).

Merz afirmou que tanto ele quanto Markus Söder, líder da CSU, assumirão a liderança da equipe negociadora e reiterou que seu objetivo é formar um governo antes da Páscoa.

¨      Memorando de Merz

Antes da reunião com o chanceler, Merz já havia enviado um memorando pedindo que, enquanto permanecer no comando do governo, Scholz não promova funcionários alinhados politicamente e que, em assuntos internacionais, adote uma postura de reserva e remeta as decisões ao próximo Executivo.

O líder conservador afirmou que ainda é cedo para discutir o conteúdo das conversas, mas ressaltou que prioriza três temas de máxima urgência: política externa e de segurança, migração e economia, que, segundo ele, se encontra em uma situação "crítica".

No entanto, estas políticas estiveram justamente no centro dos embates entre Scholz e Merz durante a campanha eleitoral, diferenciando os planos de governo dos dois candidatos.

Todos esses temas exigem decisões "rápidas" e "inevitáveis" e um governo capaz de agir, afirmou Merz, acrescentando que, em sua opinião, o SPD – que ainda não definiu quem assumirá a negociação, após a derrota de Scholz – já reconhece que são necessárias "mudanças fundamentais" na política migratória.

Ele também confirmou que as negociações incluem a possibilidade de abrir um orçamento extraordinário para financiar o aumento dos gastos com defesa na Alemanha sem incorrer tecnicamente no aumento da dívida.

 

¨      Fascismo: até tu, Alemanha? Por André Barroso

O partido de centro-direita União Democrata-Cristã (CDU) venceu as eleições parlamentares da Alemanha. Esse é o sinal vermelho apitando no mundo. Se não bastasse o partido conservador cristão vencer, o partido de extrema direita Alternativa para Alemanha (AFD) ficou em segundo lugar, com 20,8%. Logo a Alemanha, que deveria ser um exemplo de banimento do fascismo no mundo, apresenta sua líder Alice Weidel, recheada de incoerências. Lésbica casada com uma imigrante. Dois filhos adotados, apesar de o seu partido ser contra a adoção por casais homossexuais. É patriota alemã, mas vive na Suíça e está em um partido que é considerado extremo ao cubo até por outras legendas extremistas radicais na Europa. Devemos entender que o fascismo, que é um movimento popular, consegue abarcar as frustrações de uma população deprimida com uma crise financeira do país. A direita se agarra ao movimento, que consegue vencer as eleições da esquerda.

Fascismo é um movimento político e cultural. Umberto Eco, no seu livro ‘O fascismo eterno’, listou 14 pontos que definem se a gente está ou não entrando no fascismo. Senão vejamos alguns desses pontos para averiguar se estamos ou não migrando para isso no mundo. Culto à tradição, culto às tecnologias, a ação é bela em si, portanto, deve ser realizada antes de e sem nenhuma reflexão. Pensar é uma forma de castração, fascismo provém da frustração individual ou social, nacionalismo, privilégios aos nascidos em um mesmo país, elitismo, culto ao herói, machismo, populismo, sempre tendo conotações sexuais e sempre colocando as minorias sem assistência.

O que surpreende é a Alemanha embarcar, mesmo com sua história com o nazismo. Sempre foi um exemplo. Mas o crescimento do fascismo no mundo é uma realidade. E agora, sem pudor em se mostrarem fascistas. Haja vista personalidades fazendo a saudação Hitlergruß ou sieg heil, como Elon Musk (que participou do comício da extrema direita AFD) e Steve Banon (queridinho de Bolsonaro). O próprio Trump, colocando em suas primeiras ações expulsando imigrantes. O mapa da eleição mostra que o CDU ganhou na Alemanha ocidental e o CDU na Alemanha Oriental. O desconforto é saber que a Alemanha como um todo votou nos conservadores, o que não adiantou a manifestação de 1,4 milhão de pessoas nas ruas contra o avanço da extrema-direita. O que seria um ponto de inflexão junto com a França na Europa, encontra eco crescente avançando pelo mundo.

A pressão para conter o avanço foi exaustiva. No jogo de futebol no dia da eleição, a camisa do time do Schalke vinha com a inscrição: "votar pela democracia! Contra racismo e discriminação!". Lembrando que durante o nazismo, todos os clubes alemães se submeteram ao novo regime, como todas as instituições da sociedade alemã. A última vez que um partido de extrema-direita ficou em segundo lugar foi nas eleições alemãs de 1930. E na eleição seguinte, deu Hitler na cabeça. Quais as semelhanças? O enfraquecimento alemão dos últimos anos, com crise econômica e o crescimento da xenofobia por conta disso. Hitler cresceu focando na recuperação econômica do país, com o plano Quadrienal, usando até mão de obra escrava, teve apoio de empresários e assim, conseguiu implementar a ideologia nazista.

A Campanha Eleitoral da Alemanha, o partido da AfD distribuiu panfletos na forma de passagens aéreas, uma alusão para que os IMIGRANTES usassem para voltar aos seus respectivos países. A coincidência é que foi a mesma estratégia que os NAZISTAS fizeram, anos atrás. Onde estava o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária Alemã nesse caso? Não existe. Apenas o Bundesgerichtshof, correspondente ao nosso STF. Que os Deuses olhem para nós.

 

¨      Reino Unido cortará 40% em gastos humanitários para investir na defesa nacional

O primeiro-ministro britânico Keir Starmer anunciou nesta terça-feira (25/02) um grande aumento dos gastos em defesa que será financiado com o corte de 40% nas ajudas humanitárias internacionais feitas pelo Reino Unido. Com isso, o orçamento em defesa aumentará em 6 bilhões de libras esterlinas (43,6 bilhões de reais, pela cotação atual) ao ano. Será o maior incremento de gastos militares do país desde a Guerra Fria, destinando à defesa 2,5% do PIB até 2027 (três anos antes do previsto), com a meta de atingir 3%.

Organizações humanitárias e políticos, alguns do próprio governo, criticaram a decisão. Inclusive, o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, no início de fevereiro, criticou os Estados Unidos quando o presidente Donald Trump anunciou o corte das ajudas internacionais. Na sua opinião, a decisão era um “grande erro estratégico” que permitiria à China preencher o vazio aberto e ampliar sua influência global.

Agora, Lammy diz que a decisão britânica foi “extremamente difícil”, mas que o governo tem que “equilibrar a compaixão com as necessidades da segurança nacional”.

“Sei do impacto da decisão que tive que tomar hoje e não a levo de ânimo leve (…), mas é uma decisão que devo tomar para garantir a segurança e a defesa do nosso país”, disse o primeiro-ministro trabalhista.

A medida, tomada dois dias antes do encontro de Starmer com o presidente Trump, foi interpretada com uma bajulação ao norte-americano. O premiê britânico negou que tenha sido levado pelo republicano a aumentar os gastos em defesa, mas justificou a urgência europeia em ampliar os gastos na área decorrente da redução da ajuda dos Estados Unidos na guerra da Ucrânia e de sua ameaça de abandonar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

<><> Decisão impopular no governo

“Todos nós sabíamos que essa decisão estava chegando há três anos, desde o início do conflito na Ucrânia”, argumentou Starmer. Logo após a decisão, um membro de seu governo ligou para o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, para comunicar sobre: “Um passo forte de um parceiro duradouro”, comentou.

O governo britânico tomou a decisão depois de discuti-la com seu gabinete, mas houve polêmica. Todos os membros concordaram em aumentar o gasto em defesa, mas vários manifestaram preocupação com as consequências dos cortes na ajuda humanitária. Muitos avaliam que haverá prejuízos para a reputação do país e que há o risco de o governo perder o apoio.

 “A decisão (…) é um golpe para a reputação britânica de líder global em ajuda humanitária e desenvolvimento”, disse David Miliband ao jornal britânico The Guardian. Ele é ex-secretário de Relações Exteriores do Partido Trabalhista e atual líder do Comitê Internacional de Resgate.

Sarah Chimpion, presidente do comitê de desenvolvimento internacional e também trabalhista, avaliou que o corte tornará o mundo menos estável porque aumentará a desigualdade.

Os ministros de Defesa de toda a Europa se reunirão neste domingo (02/03) em Londres. Será mais uma reunião de emergência para debater como aumentar a autossuficiência do continente na área de defesa, depois de anos em que a região dependeu em grande parte dos Estados Unidos. Vale lembrar que os gastos mundiais em defesa vem se incrementando há alguns anos. 

<><> Reconstrução da Ucrânia

O mesmo ministro das Relações Exteriores britânico também defendeu no Parlamento de seu país, na terça-feira, que a Europa deveria passar do congelamento dos ativos russos para a sua apreensão. O objetivo seria usar esses recursos para a reconstrução da Ucrânia.

Desde a invasão russa da Ucrânia, em 2022, os Estados Unidos e seus aliados proibiram transações com o Banco Central e o Ministério das Finanças da Rússia, bloqueando entre US$ 300 bilhões e US$ 350 bilhões em ativos soberanos russos. Desse total, a União Europeia calcula que cerca de US$ 210 bilhões estariam dentro do bloco.

A ideia de usar esses recursos para reconstruir a Ucrânia não é nova, mas não há consenso sobre a legalidade disso ou se não se acabaria criando um precedente internacional perigoso. E Lammy não detalhou como se concretizaria sua proposta.

 

Fonte: Por Ines Schwerdtner e Jan van Aken – Tradução da Fundação Rosa Luxemburgo, em Jacobin Brasil/DW Brasil/Brasil 247/Opera Mundi

 

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