terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Jair de Souza: Aviso aos navegantes - estamos em luta de classes

Nos últimos dias, com a liberação ao público dos vídeos do interrogatório judicial do militar que atuava como ajudante-de-ordem do ex-presidente de extrema direita que exerceu o cargo entre 2019 e 2022, ficou evidente para todo mundo aquilo que as provas obtidas pelas investigações da Polícia Federal já haviam deixado cabalmente explícitas há algum tempo.

Entre os que se identificam com as maiorias trabalhadoras, as reações têm sido contraditórias. Alguns estão se regozijando com o indiciamento e a provável condenação do patriarca da familícia e os principais integrantes da organização criminosa que articulou o plano de golpe de Estado e os assassinatos de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. Por sua vez, existem outros que vêem com reticência este indiciamento, por acreditarem que, ao externar sua aprovação ao mesmo, a esquerda acaba abrindo espaço para que medidas de igual teor venham a ser aplicadas de forma arbitrária contra lideranças populares no futuro.

Enquanto os do primeiro grupo consideram que o indiciamento e condenação de todo o alto comando golpista nos favorece, uma vez que nos livra da necessidade de travar disputas eleitorais contra o setor de extrema direita com mais capilaridade e capacidade organizativa, que demonstrou saber se aproximar das massas através das igrejas neopentecostais e conquistar parte significativa de seu apoio; os do segundo gostariam que todo nosso empenho fosse feito tendo por objetivo derrotar essas forças neonazistas através da luta política. E não por vias judiciais.

No entanto, como costuma acontecer em muitas situações, vamos nos dar conta de que há acertos e equívocos permeando essas duas maneiras de sentir e reagir à realidade com que nos deparamos no momento.

Primeiramente, é preciso que digamos de alto e bom tom que as forças políticas do campo popular jamais, repetindo com ênfase, JAMAIS, deveriam se mobilizar para evitar que os mais nefastos inimigos da classe trabalhadora sejam alijados do jogo político. Temos, sim, um compromisso inarredável com a defesa dos direitos de todos os que estão no espectro que abrange as forças populares e democráticas, mas NUNCA com os fascistas.

Sobre a alegação de que não deveríamos aceitar argumentos que, em outras circunstâncias, poderiam ser usados para nos eliminar de cena para favorecer a preservação dos interesses dos setores hegemônicos dos capitalistas, não nos convém nutrir nenhuma ilusão. As classes dominantes nunca precisam contar com NENHUMA justificativa válida e coerente para nos retirar de alguma disputa em que tenhamos possibilidade de atrapalhar seus planos de plena subjugação do conjunto da nação. O único que necessitam para tal é dispor de força real para levar adiante seu objetivo.

Já em meados do século passado, os encarregados políticos das oligarquias não vacilaram em apelar para uma alegação visivelmente imbecil e sem fundamento para eliminar do cenário a grande figura da esquerda naquele tempo, Luiz Carlos Prestes. Novamente, quando sentiram que contavam com força suficiente para se impor, esses mesmos setores reacionários não mostraram nenhum acanhamento em recorrer a uma alegação escabrosa de uma tal “pedalada fiscal”, para efetivar o impeachment de Dilma Rousseff.

Além disto, para inviabilizar a única liderança popular em condições de derrotar a todos os candidatos de seu plantel em 2018, as classes dominantes não hesitaram em apelar para as mais estapafúrdias manipulações jurídicas. Com isso, colocaram Lula na prisão e o tornaram inelegível. Para tal propósito, criaram uma das maiores e mais bem financiadas organizações criminosas da história de nossa nação: a outrora badalada Operação Lava-Jato.

Precisamos ter muita clareza sobre uma questão: as classes dominantes não dependem de precedentes teóricos, jurídicos ou filosóficos válidos para darem amparo a seus atos de perseguição à classe trabalhadora e suas lideranças. Basta que disponham de força suficiente para fazer valer sua pretensão.

Então, aos companheiros que acreditam que os desfechos apresentados até agora pelo processo judicial contra os mentores e executores da tentativa de golpe de Estado de 2022 são indícios que desta vez a justiça prevalecerá, é preciso recordar-lhes que é um equívoco confiar na neutralidade e isenção do aparato judiciário de um Estado onde as classes dominantes ainda exercem uma significativa hegemonia. Embora devamos tomar o tal indiciamento como algo positivo, e desejar que a condenação se consume, e que as penas sejam de fato aplicadas, ficar tão somente à mercê da boa vontade de nosso Judiciário pode nos resultar em sérias complicações.

Assim, é também imperativo que nos dediquemos à construção de fortes bases de sustentação política junto a nossa população. Em síntese, deveríamos recorrer a tudo o que nos possa ser circunstancialmente favorável nas estruturas do sistema atual, ao passo que procuramos aumentar nossa inserção junto ao povo, buscando acumular força para que possamos alcançar soluções que nos sejam mais favoráveis.

Em relação com os que não concordam que se apliquem a nossos inimigos de classe as medidas que não gostaríamos que fossem aplicadas contra nós, é muito importante que todos tenham em mente que nós nunca reivindicamos o funcionamento das instâncias estatais com o objetivo de subjugar e explorar a outros setores sociais. Por isso, não há como equiparar medidas tomadas para reprimir os que lutam para pôr fim à exploração com as tomadas no intuito de impedir que exploradores continuem a nos explorar.

Portanto, é mais do que justo que alcemos nossa voz em protesto contra o uso da lei para perseguir arbitrariamente os lutadores do campo popular, e que consideremos plenamente válido quando a legislação é empregada para nos proteger. Se os propósitos que impulsam os extremistas de direita nada têm a ver com a justiça, por que eles não deveriam ser punidos? Na verdade, sem hipocrisia, no mundo de justiça em que aspiramos viver, as classes dos exploradores nem deveriam existir como tais.

Em consequência, em nenhuma hipótese, deveríamos ter como nossa preocupação evitar que os exploradores do povo venham a ser atingidos pelo rigor das poucas leis do aparato estatal a que eles podem ser submetidos.

Para os que já se esqueceram, vale a pena lembrar: em sociedades compostas com base em classes com interesses antagônicos, a luta de classes permanece em vigor, e nela não há espaço para pseudo-moralismo e pseudo-neutralidade. Os opressores não respeitam nada além da força organizada das massas populares. E se quisermos evitar que o arcabouço jurídico seja empregado arbitrariamente para atacar os que lutam a favor das causas das maiorias trabalhadoras, o mais eficaz instrumento para impedir que isto ocorra é a consolidação e organização das forças do campo popular e sua profunda inserção no seio da população.

 

¨      Esta é a manchete: todos os jornalões são golpistas. Por Moisés Mendes

Perguntadores amplificam suas perguntas em tempos difíceis. Essa indagação tem sido frequente: por que jornalistas escrevem sobre veículos e colegas simpatizantes de golpes e ditaduras?

Porque as organizações de mídia sempre são ou tentam ser protagonistas de ações golpistas. A maioria consegue. Não são apenas uma linha auxiliar nas situações que levam a tentativas de golpe. 

Sempre são parte dos trilhos do golpe. Foi o que aconteceu em 64, depois no golpe contra Dilma em 2016 e na caçada e prisão de Lula em 2018, numa sequência que resulta, por perda do controle da situação, na aberração do Bolsonaro presidente.

É o que ameaça se repetir agora, não necessariamente como suporte a um novo golpe no curto prazo, mas no planejamento e construção do que pode acontecer daqui até 2026.

Há uma tentativa dos jornalões, por omissão ou ação deliberada, de encobrir as responsabilidades dos chefes golpistas que deram vários passos até chegarem ao fracasso do 8 de janeiro.

Está configurada uma articulação para que a denúncia elaborada por Paulo Gonet seja desmontada. Por isso não há como não ver esse jornalismo como protagonista, de novo, de uma armação. 

Há surpresas generalizadas com essa articulação, falsas e verdadeiras. Surpreendem-se sinceramente os que subestimaram a velha imprensa analógica no seu esforço para a transição ao mundo digital. 

Os jornalões estão vivos e relevantes em seu novo ambiente. E atuando de forma descarada na proteção ao chefe do golpe e seus cúmplices do entorno mais próximo. Por isso precisamos voltar a falar do protagonismo do jornalismo no jogo mais sujo da política. 

Nada é mais público do que a produção jornalística. E os jornalistas são parte do suporte à democracia, ou integram os contingentes vacilantes, ou os blocos dos omissos, ou as facções declaradamente golpistas. 

Mas jornalistas não gostam de 'falar mal' uns dos outros por se considerarem uma categoria quase inatacável. Por arrogância, por vínculos históricos com os poderosos e por autodefesa corporativa. 

Mas todos sabemos que as ações arbitrárias contra a democracia e as instituições, desde a invenção da imprensa, só prosperam com a ajuda do jornalismo das corporações. Não só pela adesão pessoal de seus quadros de celebridades, mas por engajamento orgânico e institucional.  

É aí que se apresenta, entre outras, a surpresa de muitos com a longa vida e a vitalidade dos jornalões. Porque suspeitavam que essa imprensa não teria, no contexto de novas estruturas de produção virtual de todo tipo de conteúdo, a relevância que já teve. 

Pois o jornalismo analógico sobrevive em tempos digitais, como reduto do conservadorismo, por manter o espírito que o caracteriza como aliado histórico dos poderosos. Essa é a audiência que o sustenta.

Mesmo que esses poderosos, em aparente contradição, planejem se livrar de Bolsonaro para renovar lideranças e ter perspectiva de futuro. Consumidos por conflitos, os jornalões não conseguem se livrar do que são.

São cada vez mais anti-Lula, antes de fingirem que ainda são liberais e anticomunistas. São, por atavismo, acionados contra o que não conseguem dominar desde o final do governo de Fernando Henrique em 2002. 

Esse é a ilusão da grande mídia hoje: manter Bolsonaro vivo mais um pouco, para que Lula continue acossado, se possível até o ano que vem.

Parece uma aposta suicida na direção de um precipício que pode produzir um bolsonarismo resetado e atualizado mais adiante. Mas é assim mesmo. 

Para tentar destruir Lula, vale o risco de ressuscitar a extrema direita, depois do fracasso na eleição e do fracasso do golpe.

Se não fosse assim, a Folha de S. Paulo não teria fabricado três manchetes, uma atrás da outra, por três dias seguidos, desde a apresentação da denúncia de Gonet. Todas as manchetes pautadas contra o procurador-geral e Alexandre de Moraes.

E o mesmo jornal foi incapaz de produzir uma só manchete que contribua para o esforço de enquadrar os golpistas, apesar de essa ser a urgência da democracia. 

E não estamos falando de colunismo engajado, mas da produção de pautas pelos núcleos de comando das redações. Temos de volta, sem sutilezas, a grande imprensa de direita que se entregou ao fascismo por não conseguir criar alternativas à moda do tucanismo e não ter outra saída política. 

Folha, principalmente essa, Estadão e Globo farão contra o trabalho de Gonet e Moraes o que há fizeram outras vezes, porque não podem perder a essência do que são. Vamos dar em manchete: todos os jornalões são golpistas.

 

¨      Big techs agem como facções: sabotam audiência do governo e participam de seminário do PL. Por Jeferson Miola

As big techs sabotaram a audiência pública de 22 de janeiro convocada pela Advocacia Geral da União para debater a regulamentação das plataformas digitais com especialistas, entidades sociais e instituições públicas.

As empresas foram extremamente desrespeitosas, e sequer apresentaram justificativas públicas sobre os motivos para se ausentarem do evento oficial do governo.

No entanto, um mês depois de se recusarem a participar da audiência do governo, nos dias 20 e 21 de fevereiro estas empresas participaram do 1º Seminário Nacional de Comunicação do PL, partido de Bolsonaro, cujo objetivo foi o de “debater estratégias para ampliar a presença digital do PL e preparar o caminho para as eleições de 2026”.

O Partido informou que “o seminário ainda contou com a colaboração de representantes das principais plataformas digitais, como X, Meta, Google, Tik Tok e Kwai, que dividiram suas experiências para enriquecer o conteúdo apresentado durante o evento”.

No local do evento foram espalhados banners com mensagens como: “O Partido Liberal e as big techs unidos pela liberdade de expressão”; “O maior evento de comunicação partidária digital do Brasil”; “Em defesa da democracia e liberdade de expressão dos brasileiros”.

As escolhas das big techs –de sabotagem do governo e de colaboração institucional ao PL– evidenciam pelo menos três posturas das gigantes de tecnologias de comunicação e informação:

[1] não pretendem cooperar com o esforço da sociedade para impedir o uso das plataformas digitais como veículos de disseminação de mentiras e de discursos de ódio, violência e intolerância,

[2] agem ou por ideologia ou por conveniência econômica como facções ideológicas a serviço da ultradireita e do extremismo, e

[3] não pretendem respeitar a soberania nacional e se submeter às leis e à Constituição brasileiras.

Após a posse de Donald Trump as big techs se assumiram nitidamente como instrumentos ideológicos de viés fascista a serviço da Administração Trump, e, ao mesmo tempo, da organização mundial da extrema-direita.

A defesa da liberdade de expressão falseia, na realidade, a lógica do libertarianismo por trás da perspectiva da contrarrevolução fascista e reacionária a que se dedicam.

Elon Musk é o mais ativista dos donos das big techs. Ele costuma exercer ingerência indevida em assuntos internos de vários países, como estratégia dos seus negócios – como no golpe na Bolívia em 2019 para controlar a exploração de lítio.

Musk tem encabeçado a ofensiva extremista contra a soberania do Brasil e se colocado na linha de frente no enfrentamento ao governo e ao STF.

Na eleição legislativa na Alemanha [23/2] Musk usou o X [antigo Twitter] para ajudar no desempenho do partido nazi AfD, de Alice Weidel, que dobrou sua votação em relação à eleição anterior.

As plataformas digitais cujos proprietários aparentemente não têm o mesmo perfil ideológico nazi-fascista como Musk, no fim também acabaram adotando o mesmo modelo de negócio defendido por ele, como fez recentemente Mark Zuckerberg, o dono da Meta [Facebook, Instagram e WhatsApp]. Ou seja, ou aderem ao fascismo por ideologia, ou para auferirem maior rentabilidade dos seus negócios com as práticas criminosas de extremistas.

A dificuldade do governo Lula em melhorar sua popularidade deriva do alto custo de vida, é verdade. Mas é preciso considerar, ao lado disso, também o peso das plataformas digitais, que permitem a propagação de mentiras e práticas de terrorismo econômico pela extrema-direita, como no caso do PIX.

Caso nada seja feito em termos de regulação e regulamentação do funcionamento das plataformas digitais, a lisura da eleição de 2026 ficará seriamente ameaçada pelas big techs.

A suspensão ou o banimento das empresas que desrespeitam nosso sistema legal poderá não ser viável, se não existirem no país alternativas disponíveis de plataformas sociais.

A suspensão do X no ano passado foi totalmente absorvida, não causou maiores transtornos. O mesmo não se pode assegurar, por exemplo, com a suspensão ou o eventual banimento do Instagram, que é utilizado como meio de trabalho por dezenas de milhões de trabalhadores brasileiros.

Torna-se urgente, portanto, que juntamente com a regulamentação das plataformas digitais, se discuta a viabilização imediata de plataformas públicas, de caráter não-estatal, “para garantir a ampla liberdade, pluralidade e diversidade de uma internet livre de crimes, violências e ódios”.

 

Fonte: Brasil 247

 

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