segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

O que é a 'teoria do louco' de Trump em política externa e por que ela é muito mais arriscada em economia?

"Não conseguimos contê-lo quando ele está com raiva, e com a mão no botão nuclear".

Esta foi a mensagem que o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, quis passar ao Vietnã do Norte para fazer seu inimigo acreditar que ele era completamente louco, e seria capaz de fazer qualquer coisa se eles não se rendessem.

Ele chamava isso de "teoria do louco".

O atual presidente americano, Donald Trump, tem uma estratégia semelhante.

Mas, em vez do botão nuclear, uma das principais táticas do segundo governo do republicano é o botão de tarifas.

Em uma reunião com o conselho editorial do Wall Street Journal antes da eleição, o magnata já havia mostrado suas cartas ao responder sobre o que aconteceria se o presidente chinês, Xi Jinping, fizesse algo contra Taiwan, e se ele usaria força militar.

"Não precisaria fazer isso porque ele me respeita, e sabe que sou completamente louco", ele respondeu.

"Eu diria a ele: se vocês forem para Taiwan, sinto muito, mas vou cobrar um imposto (tarifa) de 150% a 200% de vocês", acrescentou.

Ao usar a taxação das importações de produtos estrangeiros como arma, Trump está buscando outros objetivos, como conter os imigrantes indocumentados e o tráfico de fentanil, um analgésico 50 vezes mais potente que a heroína, que provocou uma crise de saúde no país.

Mas, diferentemente dos resultados que pode proporcionar na política externa, na economia é uma jogada muito mais arriscada.

"O que Trump está fazendo é gerar muita incerteza, e isso afeta o crescimento", explica à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, Javier Díaz Giménez, doutor em economia e professor da Escola de Negócios IESE da Universidade de Navarra, na Espanha.

"Conflitos e tensões são sempre contra os negócios, não a favor deles", acrescenta.

·       As novas tarifas

Díaz Giménez ressaltou que, até o momento, as únicas tarifas implementadas pelos EUA são as tarifas de 10% sobre as importações da China, e que as demais até agora foram apenas anúncios ou ameaças.

Após assumir o cargo em 20 de janeiro, Trump assinou ordens executivas para impor uma tarifa de 25% sobre produtos mexicanos e canadenses, mas rapidamente as suspendeu por um mês após negociações com os governos de Claudia Sheinbaum e Justin Trudeau, respectivamente.

No início da semana passada, o presidente assinou uma ordem executiva para impor uma tarifa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio a partir de 12 de março.

Inicialmente, ele disse que isso se aplicaria a todos os países, mas depois afirmou que consideraria a possibilidade de isentar a Austrália porque tem um superávit comercial com o país.

E, na última quinta-feira (13/2), anunciou tarifas recíprocas para qualquer país que cobre taxas de importação dos EUA.

"É justo para todos, nenhum outro país pode reclamar. Tudo o que eles precisam fazer é reduzir suas tarifas ou não cobrá-las", disse ele a jornalistas na Casa Branca.

E na rede social Truth Social ele acrescentou que países com sistema de IVA (imposto sobre valor agregado) também vão pagar tarifas nos EUA, porque o sistema é "muito mais punitivo do que uma tarifa".

Quase todos os países do mundo possuem IVA em seu sistema tributário, com exceção dos EUA e de alguns paraísos fiscais.

Essas tarifas recíprocas podem ser implementadas depois de 1º de abril, segundo o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick.

"Há muita incerteza, portanto, se estou no conselho de qualquer empresa do planeta, eu penso: como isso nos afeta?", diz Díaz Giménez.

"Agora, você precisa administrar um mundo volátil e muito barulhento, no qual você não sabe o que esperar, e isso te distrai do seu negócio", acrescenta o economista.

·       A 'teoria do louco' em seu primeiro governo

Durante seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas de 25% sobre as importações de aço e de 10% sobre as importações de alumínio do Canadá, México e União Europeia.

Porém, mais tarde, os EUA chegaram a um acordo com o Canadá e o México para acabar com essas tarifas, embora os impostos sobre as importações do bloco europeu tenham permanecido em vigor até 2021.

E, também durante seu primeiro governo, ele isentou a Argentina e o Brasil, países com os quais foram acordadas cotas, de tarifas sobre aço e alumínio.

Além disso, ele usou a "teoria do louco" com a Coreia do Norte, quando avisou que responderia com "fogo e fúria" se o país liderado por Kim Jong-un ameaçasse os EUA.

Em um artigo que analisa as diferentes — e, às vezes, contraditórias — mensagens de vários altos funcionários do governo Trump sobre questões como a guerra entre Rússia e Ucrânia ou sua proposta para o futuro de Gaza, o jornalista Tom Bateman, correspondente da BBC no Departamento de Estado dos EUA, diz que a incerteza da política externa pode ser algo deliberado por parte de Trump, e estar alinhada com a "teoria do louco".

"Isso sugere que ser poderoso, mas imprevisível, é uma forma de manter os aliados próximos e, ao mesmo tempo, coagir os adversários. Isso também explicaria a sensação de que seus próprios funcionários estão saindo da linha, mas dentro dos parâmetros das posições amplamente conhecidas de Trump", avalia Bateman.

"Mas, como o nome desta teoria sugere, ela também traz riscos consideráveis de erros de cálculo em um mundo já violento e incerto", ele acrescenta.

Díaz Giménez acredita, por sua vez, que "nos próximos quatro anos, os EUA vão ser um parceiro em que não se pode confiar, porque qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento".

"Há um ditado (em espanhol) que diz: Entre bomberos no nos pisamos la manguera (algo como "Bombeiros não pisam nas mangueiras uns dos outros"). Trump está pisando nas mangueiras de todo mundo, e isso é muito arriscado. Pode significar o fim do comércio com os EUA, e que negociem entre si."

¨      Brasil ingressa no Opep+ e será aliado do bloco dos maiores produtores de petróleo do mundo

O Brasil aceitou o convite para integrar o grupo Opep+ (Organização dos Países Produtores de Petróleo), conforme anúncio feito pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, nesta terça-feira, 18.

A decisão foi tomada após reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), e sinaliza a entrada do Brasil como aliado do bloco de países produtores de petróleo.

Fundada em 1960, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) é composta por 13 nações grandes produtoras de petróleo, como Arábia Saudita, Irã, Iraque, Emirados Árabes Unidos e Venezuela.

O grupo Opep+ inclui países que, apesar de não fazerem parte formalmente da organização, participam ativamente das discussões sobre o mercado de petróleo e colaboram com políticas internacionais de produção e comercialização do recurso.

Durante o anúncio, o ministro Alexandre Silveira declarou:

“O Brasil foi convidado para que nós fizéssemos parte da carta de cooperação. O que fizemos hoje foi exatamente discutir a entrada do Brasil em três organismos internacionais. Autorizamos iniciar o processo de adesão à EIA, isso está aprovado. A continuação do que foi suspenso no governo anterior, que é a adesão à Irena. Ficou decidido: início da adesão à EIA, Irena e Opep+.”

A adesão do Brasil ao Opep+ ocorre no contexto de uma série de movimentos diplomáticos e econômicos que envolvem a política energética do país.

Silveira, no entanto, destacou que a decisão não implica em subordinação às regras do bloco, mas sim em uma oportunidade de participação nas discussões estratégicas globais relacionadas ao setor petrolífero.

“É apenas uma carta e fórum de discussão de estratégias dos países produtores de petróleo. Não devemos nos envergonhar de sermos produtores de petróleo”, completou o ministro.

Apesar do apoio do governo, a adesão à Opep+ gerou críticas entre ambientalistas e setores preocupados com as questões climáticas.

O Brasil, que sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) em 2025, é visto como um dos principais defensores da transição energética no cenário internacional e tem se posicionado como líder no combate às mudanças climáticas.

Para esses críticos, a decisão de se alinhar ao Opep+ representa uma contradição com os compromissos climáticos assumidos pelo país em fóruns internacionais.

A COP 30, que acontecerá em Belém (PA), terá como foco central os desafios globais de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, e será uma oportunidade crucial para o Brasil demonstrar liderança nas negociações climáticas.

A adesão ao Opep+, portanto, levanta questões sobre o equilíbrio entre o fortalecimento da posição do país no mercado global de petróleo e suas responsabilidades ambientais.

Por outro lado, o governo brasileiro justifica a entrada no grupo Opep+ como uma estratégia de diversificação de sua participação nos debates sobre o futuro do mercado de energia. A relação com a Opep+ permitirá ao Brasil discutir as tendências globais de produção e consumo de petróleo, além de influenciar decisões que possam impactar a política energética nacional.

Além da Opep+, o Brasil também iniciou o processo de adesão a outros organismos internacionais relacionados à energia, como a Agência Internacional de Energia (EIA) e a Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena). A adesão à EIA foi destacada pelo ministro como um passo importante para alinhar o país com as melhores práticas internacionais no setor energético.

A adesão do Brasil à Opep+ se insere em um cenário mais amplo de reavaliação das políticas energéticas do governo, que busca equilibrar o aproveitamento dos recursos naturais com os compromissos assumidos nas agendas globais de sustentabilidade.

A posição estratégica do Brasil como um grande produtor de petróleo e gás, aliado às suas ambições de liderança no campo da energia renovável, continua a ser um ponto de tensão entre os diversos setores da sociedade e no âmbito internacional.

Com a entrada no Opep+, o Brasil amplia sua influência no mercado global de petróleo, mas as reações ao movimento seguem divididas, especialmente entre aqueles que defendem uma transição mais rápida para fontes de energia limpa e sustentável.

O futuro do setor energético brasileiro, portanto, dependerá de como o país equilibrará sua participação no Opep+ com suas responsabilidades climáticas no cenário global.

<><> Brasil adere a OPEP+, mas mantém distância de compromissos sobre produção de petróleo

O governo brasileiro anunciou, sua adesão ao fórum da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+), o que marca um movimento importante na política energética do país, no entanto, a decisão não implica a entrada formal na organização, mas sim uma participação nas discussões promovidas pelo grupo, sem compromissos obrigatórios quanto a cortes ou ajustes na produção de petróleo.

A OPEP+ reúne países produtores de petróleo com o objetivo de trocar informações e estabelecer parâmetros para o mercado global do petróleo. O Brasil, que é um dos maiores produtores de petróleo no cenário mundial, optou por participar do fórum, mas sem aderir à política de controle de produção imposta pela organização.

A administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se mostrado cautelosa em firmar compromissos rígidos que possam prejudicar a autonomia do país nas suas relações comerciais.

Em entrevista ao Sputnik Brasil, o doutor em ciência política Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), afirmou que a adesão ao fórum não altera significativamente a política externa brasileira. Gomes destacou que, historicamente, o Brasil tem buscado manter uma postura de flexibilidade nas suas alianças, de modo a preservar sua margem de manobra em termos comerciais.

“Não significa que o Brasil vai integrar a organização. Não é do histórico da política externa brasileira fazer comprometimentos muito severos”, afirmou o especialista.

Segundo ele, a participação no fórum pode trazer benefícios, como a estabilidade dos preços do petróleo, maior acesso a mercados internacionais e uma maior cooperação técnica com outros países produtores.

A adesão ao fórum da OPEP+ gerou discussões internas sobre os rumos da política energética do Brasil. O governo de Lula defende a utilização dos recursos do petróleo para financiar uma transição energética gradual, mas enfrenta críticas, especialmente de setores ambientalistas e de ala mais progressista do Partido dos Trabalhadores (PT).

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e outros políticos ligados à agenda ambiental veem a adesão à OPEP+ como um possível contrassenso aos compromissos climáticos do governo.

Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, foi uma das críticas mais duras à adesão do Brasil ao fórum. Em sua avaliação, a medida é um retrocesso para o governo, que estaria ignorando o agravamento dos efeitos das mudanças climáticas no planeta.

“A adesão do Brasil a qualquer instância da OPEP é mais um sinal de retrocesso do governo. Continuar a abrir novas áreas de exploração de combustíveis fósseis em meio ao calorão que estamos sentindo e ao aumento de eventos extremos no planeta denota negacionismo”, afirmou Araújo.

Para ela, o foco na exploração de petróleo em um momento de crise climática mundial é um erro estratégico.

A questão do uso das reservas de petróleo para financiar a transição energética também gerou debate. Para Araújo, a exploração de petróleo deve ser reduzida gradualmente, e não ampliada, pois isso comprometeria os esforços para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

“Intensificar o uso de fósseis para uma demanda que precisa urgentemente cair é como fazer uma guerra alegando buscar a paz”, criticou Araújo.

Por outro lado, o governo argumenta que a adesão ao fórum da OPEP+ não representa um retrocesso ambiental. Segundo autoridades, a participação permite que o Brasil tenha uma voz mais ativa nas discussões globais sobre a transição energética.

A gestão de Lula defende que o país pode manter sua posição estratégica no mercado de petróleo enquanto promove o avanço de fontes renováveis, como energia solar e eólica. No entanto, especialistas apontam que o Brasil enfrenta desafios estruturais e financeiros para consolidar a transição energética de forma sustentável.

A transição energética é um dos maiores desafios econômicos e tecnológicos do Brasil. Apesar dos avanços nas energias renováveis, como a solar e a eólica, o país ainda depende consideravelmente da exploração de petróleo como fonte de receita. A necessidade de equilibrar o uso de recursos fósseis e a promoção de energias limpas está no centro do debate sobre a política energética do governo.

A adesão ao fórum da OPEP+ e os desdobramentos da política energética do Brasil seguirão sendo um ponto de atenção nos próximos anos. A oposição interna sobre o uso do petróleo, somada às pressões ambientais externas, representa um dos principais desafios para o governo Lula em sua busca por uma transição energética que não prejudique a economia nacional.

 

Fonte: BBC News/O Cafezinho

 

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