'O Brutalista' é
real? O que é verdade sobre vida de judeus no pós-guerra nos EUA
Quando László Toth
vê pela primeira vez a Estátua da Liberdade, em Nova York (EUA), na cena de
abertura do filme O Brutalista,
ela está de cabeça para baixo.
O ano é 1947 e Toth
— arquiteto húngaro-judeu sobrevivente do Holocausto — chega para
começar uma nova vida nos Estados Unidos.
Na verdade, a
estátua apenas parece estar de cabeça para baixo, devido à estranha perspectiva
de Toth. Mas a inversão visual do histórico monumento de boas-vindas aos imigrantes nos Estados
Unidos é um alerta de que esta não se trata de uma história de sucesso sobre o
chamado "sonho americano".
O
Brutalista foi indicado ao Oscar em 10
categorias, incluindo melhor filme, melhor diretor (Brady Corbet) e melhor ator
(Adrien Brody, que interpreta Toth). Apesar do seu ambiente histórico, trata-se
de uma obra de ficção.
Toth sobreviveu no
campo de concentração Buchenwald, na Alemanha. Ele foi forçado a se separar da
esposa, Erzsébet (Felicity Jones) durante a Segunda Guerra
Mundial (1939-1945)
e espera que ela possa se reunir a ele.
Na sua trajetória
antes da guerra, Toth foi um aluno brilhante da escola de design Bauhaus, na Alemanha. Ele
trabalhou como arquiteto e projetou construções públicas modernistas na capital
da Hungria, Budapeste. Mas sua esperança de construir uma nova vida na chamada
terra das oportunidades foi uma ilusão.
Depois de trabalhar
como operário, Toth consegue ser apadrinhado pelo empresário Harrison Lee Van
Buren (Guy Pearce), do Estado americano da Pensilvânia, que encomenda a
construção de um monumento grandioso.
Mas Toth percebe,
cada vez mais, que ele é um judeu estrangeiro naquela sociedade rural, branca e
protestante. A família de Van Buren o brutaliza emocionalmente — e até
fisicamente, em uma cena horrível.
"Nós toleramos
você", diz ao arquiteto o filho irônico e agressivo de Van Buren, Harry
(Joe Alwyn). Ele leva Toth a concluir para sua esposa, em desespero: "Eles
não nos querem aqui."
O conceito do sonho
americano foi popularizado pela primeira vez em 1931, no auge da Grande
Depressão, pelo escritor James Truslow Adams (1878-1949). É um ideal de que,
nos Estados Unidos, todos têm a liberdade e a oportunidade de fazer uma vida
melhor.
Mas Corbet, que é
americano, ataca ferozmente esta ideia, nas três horas e meia de duração do seu
filme.
"O mito
americano é algo que não é desvelado com frequência, especialmente essa fábula
de 'vinda para a América', que vemos ser repetida continuamente", declarou
Corbet à BBC. "Por isso, achei que seria importante, mesmo em termos
narrativos, propor uma história que começasse em território familiar, mas
terminasse em terras mais desconhecidas."
A luta de Toth para
construir algo duradouro e fiel à sua visão em O Brutalista é uma
metáfora para todos os artistas, incluindo o próprio Corbet. Ele trabalhou por
sete anos para desenvolver o filme com a roteirista e parceira Mona Fastvold e
fez um discurso apaixonado no Globo de Ouro deste ano,
convocando os diretores a manterem o controle criativo dos seus filmes.
Mas Corbet declarou
que também pretendeu oferecer uma metáfora, mostrando como a experiência dos
imigrantes pode andar em paralelo com a luta dos artistas, inspirado pelo
movimento arquitetônico brutalista dos anos 1950.
"O filme
mostra como a experiência dos artistas e imigrantes marcha em
sintonia", contou Corbet à revista The
Hollywood Reporter. "Ou seja, de forma geral, se alguém se mudar para uma
cidade suburbana dos Estados Unidos e não se parecer com mais ninguém, devido à
cor da sua pele ou às suas crenças ou tradições, todos irão querer que eles...
saiam."
"Com o
brutalismo dos anos 1950, enquanto as pessoas erguiam aqueles monumentos,
muitas pessoas os derrubavam imediatamente... A arquitetura brutalista
representa algo que as pessoas não entendem e querem ver derrubado e arrancado
dali."
A arquitetura
brutalista se originou no Reino Unido, nos anos 1950. Ela é famosa pelas suas
estruturas de concreto, texturas ásperas e ângulos geométricos.
O brutalismo
inspirou Corbet e Fastvold para criar o imigrante judeu László Toth. O
personagem concentra toda a sua dor do Holocausto para tentar construir um
monumento imenso em uma nova terra onde ele não é bem-vindo.
Corbet acredita que
exista uma ligação entre a psicologia e a arquitetura do pós-guerra após 1945.
"Eu pensei,
'acho que está na hora de um filme sobre o brutalismo'", declarou ele à
BBC.
"Li muito
sobre o assunto e existe um livro extraordinário chamado Architecture and
Uniform ['Arquitetura e Uniforme', em tradução livre], do acadêmico
Jean-Louis Cohen, que realmente examina a relação entre a psicologia do
pós-guerra e a arquitetura do pós-guerra e as eventuais formas de incorporação
de materiais desenvolvidos para a vida durante a guerra em muitas dessas
construções nos anos 1950."
·
Trauma
geracional
Corbet é
descendente de judeus pelo lado da sua mãe. O jornal The Jewish Chronicle
perguntou a ele se o filme seria uma reflexão sobre o crescimento do
antissemitismo.
Corbet respondeu que "o
filme é sobre traumas geracionais... a experiência dos imigrantes é
praticamente universal. Não conheço ninguém que ela não tenha afetado, ou cuja
família não tenha sido afetada, de uma ou outra forma."
O motivo da decisão
de fazer esta história sobre um judeu húngaro, segundo ele, foi manter a
fidelidade à famosa escola Bauhaus, criada pelo arquiteto Walter Gropius
(1883-1969) nos anos 1920, durante a República de Weimar (1919-1933) na
Alemanha. Foi ali que surgiram muitas das ideias sobre a arquitetura
brutalista.
"Os estudantes
da Bauhaus eram predominantemente judeus da Europa central e oriental, até que
os nazistas a fecharam, em 1933", explica Corbet.
O diretor destaca
que perguntou a Jean-Louis Cohen se havia um exemplo real de um arquiteto que
refletisse a sobrevivência de Toth na prisão durante a ocupação nazista.
"Mas, na
verdade, não existem exemplos reais de ninguém que tenha ficado preso nos
pântanos da guerra, sobrevivido e conseguido estabelecer novamente sua
carreira", ele conta.
Na verdade, László
Toth é baseado em alguns artistas judeus importantes do movimento brutalista,
que saíram da Europa antes da Segunda Guerra Mundial e, por isso, não
enfrentaram o Holocausto.
Alguns destes
arquitetos são o estoniano Louis Kahn (1901-1974), que emigrou para os Estados
Unidos quando era criança, nos anos 1900; o alemão Mies van der Rohe
(1886-1969), que chegou aos Estados Unidos nos anos 1930; e, especialmente,
Marcel Breuer (1902-1981), nascido na Hungria, que projetou o Museu Met Breuer,
em Nova York, nos Estados Unidos.
Corbet conta à BBC
que Breuer recebeu ajuda de Gropius em 1937, nos Estados Unidos, "mas
muitos outros não tiveram a mesma sorte".
Especialistas em
arquitetura examinaram as similaridades entre Toth e Breuer, incluindo a luta
de Breuer na vida real para construir uma igreja brutalista, a Abadia de São
João, no Estado americano de Minnesota. Esta pode ter sido a inspiração para a
igreja cristã e o centro comunitário encomendados por Van Buren para Toth na
Pensilvânia, em O Brutalista.
O filme
recebeu severas críticas de alguns
arquitetos por não ser realista. Eles destacam que estes arquitetos judeus que
migraram para os Estados Unidos "construíram carreiras muito bem
sucedidas, foram reitores de universidades importantes e definiram a
arquitetura moderna do século seguinte. Nenhum deles ficou na fila do pão",
como Toth em O Brutalista.
Mas nenhum filme de
Corbet até aqui apresentou protagonistas da vida real.
A Infância de
um Líder (2015), por exemplo, conta a infância de um ditador fascista
fictício. E a protagonista de Vox Lux: O Preço da Fama (2018) é uma
estrela do pop criada para o filme.
O diretor declarou
à BBC que O Brutalista também é "uma história virtual". Ele
conta que quis homenagear aqueles que tiveram seu trabalho perdido com o
Holocausto.
"Minha
diretora de arte, Judy Becker, e eu observamos muitos projetos não realizados
de designers formados pela Bauhaus que não viveram o suficiente para ver seus
edifícios construídos", ele conta. "Pensamos no filme como um
monumento para eles e os fantasmas do seu trabalho não concluído."
O professor de
história judaica moderna Michael Berkowitz, do University College de Londres, é
o autor do livro Hollywood's Unofficial Film Corps ("O Exército
Cinematográfico Não Oficial de Hollywood", em tradução livre), sobre os
cineastas judeus na época da Segunda Guerra Mundial. Ele descreve O
Brutalista como "de certa forma, mais histórico como obra de ficção
do que muitas outras narrativas supostamente factuais".
"O que eu
achei mais impressionante sobre O Brutalista — algo um tanto triste
de se dizer — é como Toth era infeliz", conta ele à BBC.
"E que ele
realmente passou por tempos difíceis para encontrar uma saída profissional e
como ele dependia do apadrinhamento. Neste particular, achei o filme
revigorantemente honesto."
Berkowitz destaca
que a arquitetura já era uma profissão estabelecida nos Estados Unidos no
início do século 20 — e que as minorias ou imigrantes teriam lutado para entrar
na profissão.
"Não era o
tipo de campo que teria atraído os judeus em geral, pois era algo considerado
terrivelmente inacessível", explica ele. "É fácil falar no
antissemitismo [como causa], mas é algo mais complexo do que isso."
"Devido à
forma de recrutamento das universidades, as mulheres também só entraram neste
campo muito tempo depois. E existe apenas um pequeno número de arquitetos provenientes
de minorias. Definir quem pode construir edifícios e quem tem os recursos para
isso é parte profunda da nossa cultura até hoje."
Berkowitz acredita
que o próprio sucesso de Marcel Breuer contou com o apoio "muito
importante" de Walter Gropius, que não era judeu e o ajudou a conseguir
cargos nos Estados Unidos.
Ele também destaca
que Louis Kahn chegou aos Estados Unidos quando era criança e "estudou na
Universidade da Pensilvânia, uma instituição de elite que, justamente, era mais
aberta para estudantes judeus nos Estados Unidos do que muitas outras
escolas".
"Ele, com
certeza, não estava em um campo de concentração. Sua experiência não podia ter
sido mais diferente."
·
Antissemitismo
nos EUA dos anos 1940
Nos Estados Unidos
dos anos 1940, muitas universidades americanas importantes ainda restringiam o
ingresso de estudantes judeus. Alguns hotéis, além de discriminarem os
negros americanos, também exerciam uma política de "judeus, não".
Existem também
evidências de ataques violentos
ao povo judeu nos
Estados Unidos por um grupo católico irlandês de extrema direita chamado Frente
Cristã, especialmente em Boston e em Nova York, durante a Segunda Guerra
Mundial.
Em 1939, uma
organização pró-Hitler chamada Aliança Teuto-Americana promoveu um protesto com 20 mil
pessoas no
Madison Square Garden, em Nova York. Na ocasião, suásticas nazistas rodearam um
enorme retrato do primeiro presidente americano, George Washington (1732-1799).
Certa vez, o
lendário diretor de cinema Stanley Kubrick (1928-1999), nascido no Bronx, em
Nova York, foi impedido de ocupar
a mesa de um restaurante devido às suas origens judaicas, segundo o professor,
historiador, acadêmico e biógrafo de Kubrick, Nathan Abrams.
Já o aviador
americano Charles Lindbergh (1902-1974) acusou o povo judeu de controlar
a imprensa americana, em um infame discurso em 1941.
Abrams defende que
a então nascente indústria cinematográfica de Hollywood, fundada principalmente
por imigrantes judeus (sete dos oito estúdios originais foram criados por
judeus do leste europeu) foi uma anomalia em termos de influência.
"Hollywood
permitia o progresso dos judeus em um setor onde eles não teriam oportunidade
de outra forma", conta Abrams à BBC. "O setor estava disposto a
aceitá-los porque, originalmente, era considerado tão novo e passageiro que não
iria durar muito tempo."
Toth e sua família
certamente sofrem antissemitismo em O Brutalista, tanto aberta quanto
veladamente. Seu estado de espírito é despedaçado constantemente ao longo do
filme.
Ele chega aos
Estados Unidos esperançoso sobre seu futuro e dorme no depósito da mercearia do
seu primo judeu. Mas a esposa católica do primo não o tolera.
Saudoso da própria
esposa, ele não consegue trazê-la para o país, devido às rígidas leis de
imigração. Toth então recorre à heroína em busca de alívio e se dedica, durante
o dia, ao trabalho duro como operário para sobreviver.
"Por que um
arquiteto estrangeiro bem sucedido escava carvão na Filadélfia?", pergunta
a Toth o personagem de Guy Pearce, quando o encontra.
Mesmo ávido para se
assimilar e ter sucesso, Toth encontra uma realidade que destrói a sua alma.
Adrien Brody se identifica com esta situação — ele ganhou o Oscar em 2003
por O Pianista, a história de um músico judeu durante a Segunda Guerra
Mundial.
Sua família sofreu
na própria pele a experiência de fugir da perseguição. Brody é filho da
fotógrafa Sylvia Plachy, moradora de Nova York que nasceu na Hungria, filha de
mãe judia e pai católico.
Ela chegou aos
Estados Unidos quando era adolescente, após a Revolução Húngara de 1956. E o
pai do ator, Elliot Brody, tem descendência judaica polonesa.
"Havia muitas
situações com as quais eu podia me identificar pessoalmente, como as lutas dos
meus avós e da minha mãe para fugir das dificuldades da guerra e a imigração
para os Estados Unidos nos anos 1950", conta Adrien Brody à BBC. "E o
anseio artístico de deixar algo de grande importância com o meu trabalho."
"Existe uma
desconexão entre as esperanças e sonhos [de Toth] de fugir da opressão e das
dificuldades, chegando a uma terra com a fábula sobre o que pode ser atingido,
e a dura realidade."
"Acho que a
outra dificuldade é o desejo de encontrar uma sensação de pertencimento e de
lar, especialmente quando você deixa um lugar porque sua casa foi retirada de
você", prossegue Brody. "E ainda trabalhar para colaborar e ajudar a
construir uma nação e, mesmo assim, não ser tratado com o mesmo nível de
respeito e iguais valores? Acho que é muita coisa."
Brody também relembra sua juventude. Ele cresceu
"no Queen's [distrito de Nova York], construído por imigrantes e repleto
de pessoas que basicamente mantêm [a cidade] viva e intacta".
"Cresci com a
compreensão da minha mãe, a jornada de uma artista e sua assimilação neste grande
país, sendo estrangeira", ele conta. "E meus avós lutaram contra as
barreiras do idioma e para encontrar um trabalho que fosse significativo. Fui
criado perto deles e sua jornada foi mais difícil [que a da minha mãe]."
Os imigrantes
judeus de primeira geração que sobreviveram ao Holocausto costumavam enfrentar
lutas internas, além das barreiras sociais, explica Berkowitz.
Ele também é o
autor de outro livro – Jews and Photography in Britain ("Os
judeus e a fotografia na Grã-Bretanha", em tradução livre) – que analisa o
relacionamento do povo judeu com a fotografia. E menciona o exemplo da
fotógrafa Magda Szirtes (1924-1975), nascida na Romênia.
Szirtes sobreviveu
ao campo de concentração de Ravensbrück, na Alemanha, e migrou para o Reino
Unido após a Revolução Húngara de 1956. Ela viveu no país até cometer suicídio, aos 51 anos de
idade.
"Seu filho,
George Szirtes, poeta e tradutor de sucesso, escreveu a biografia de sua
mãe, The Photographer at Sixteen ["A Fotógrafa de 16 anos",
em tradução livre], que era uma fotógrafa muito talentosa que nunca conseguiu
reconstruir sua carreira. E, de algumas formas, a espécie de vida que ela teve é
similar a O Brutalista."
"Provavelmente,
a maior parte das mulheres fotógrafas judias de grande talento que estudei não
conseguiu reconstruir a carreira depois da Guerra, nem nos Estados Unidos, nem
na Grã-Bretanha, com algumas exceções", conta Berkowitz.
·
'Lenta
mudança de comportamento'
O professor destaca
que, como muitos outros imigrantes que fogem de perseguição (incluindo o
próprio personagem fictício de O Brutalista, László Toth), os
sobreviventes do Holocausto da primeira geração precisaram recomeçar na
sociedade, muitas vezes vindo de baixo.
"Dentre os
profissionais judeus da Europa central ou oriental que emigraram após a guerra,
muitos deles trabalharam como mordomos ou faxineiros", ele conta, "e
estas pessoas tinham formação muito sofisticada."
"Nós gostamos
de ouvir histórias de sucesso, mas não ouvimos, por exemplo, sobre o tio de
alguém que era engenheiro e acabou limpando cozinhas."
O próprio escritor
Elie Wiesel (1928-2016) — sobrevivente do Holocausto e ganhador do prêmio
Nobel, que chegou aos Estados Unidos em 1956 — "não foi ouvido nos
primeiros dias e escreve sobre isso", segundo o professor Tony
Kushner,
especialista em estudos dos refugiados da Universidade de Southampton, no Reino
Unido.
"Foi uma lenta
mudança de comportamento após o final dos anos 1940", conta ele à BBC.
"Não existia este conceito que temos hoje de um sobrevivente do Holocausto
como sendo alguém com enorme importância e significado. Era apenas 'siga
adiante com a sua vida'."
Como mostra O
Brutalista pelo longo tempo que foi necessário para que Erzsébet Toth
conseguisse chegar aos Estados Unidos (o que só foi possível, no filme, graças
à influência da família de Van Buren), muitos imigrantes judeus enfrentaram
dificuldades para chegar ao país.
O Relatório Harrison
de 1945,
elaborado pelo governo americano para alertar sobre as condições dos chamados
campos de "pessoas deslocadas" (refugiados de guerra) na Europa,
recomendava que as pessoas judias fossem reconectadas às suas famílias nos
Estados Unidos, se tivessem alguma.
Os Estados Unidos
receberam 400 mil pessoas entre 1945 e 1952, após a promulgação da Lei das Pessoas
Deslocadas de 1948.
Destas, cerca de 80 mil eram judeus.
"Os
sobreviventes judeus representavam um quarto das pessoas nos campos de pessoas
deslocadas na Europa, mas menos de um quarto das que conseguiram autorização de
entrada", explica Kushner.
"Havia certas
premissas e estereótipos raciais a respeito deles, como a ideia de que os
judeus são comerciantes, vendedores ambulantes, alfaiates, não conseguem ser
agricultores nem trabalhar na terra. Basicamente, não são produtivos."
"Também
continuou sendo um enorme problema preparar o tipo de papelada e mecanismos
necessários para a entrada de uma pessoa", destaca Michael Berkowitz.
"Minha família
tinha uma prima que era refugiada, primeiro no Reino Unido, e eles tentaram por
muito tempo trazê-la para os Estados Unidos. Eles nunca conseguiram, nem mesmo
trazê-la de Londres."
"A família não
tinha conexões", ele conta. "Se você não tivesse condições, não podia
fazer, era quase impossível."
Toth acaba
revelando sua obra-prima nas encostas da Pensilvânia.
Uma construção
inspirada nos campos de concentração nazistas onde ele e Erzsébet ficaram
presos mostra seus corredores aparentemente infinitos, representando a longa
jornada dele para trazer a esposa para os Estados Unidos. Apesar de todo o
horror das suas experiências, ele se manteve fiel à pureza da sua visão
artística.
Brady Corbet
consegue se identificar com esta pureza. Depois de lutar por sete anos para produzir
o filme que ele tanto queria, O Brutalista agora é considerado
favorito para ganhar o Oscar de melhor filme e melhor diretor.
E o filme, por si
só, já é uma homenagem a um movimento nascido pela luta.
Fonte: BBC Culture
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