Assassinato de Lula
e decreto golpista: 4 pontos da denúncia contra Bolsonaro
O ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) e
mais 33 pessoas foram
denunciadas na terça-feira (18/2) pela Procuradoria-Geral da República
(PGR) por crimes relacionados a um suposto plano de golpe de Estado a ser dado
após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022 e
impedir Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) de
assumir o poder.
Segundo a PGR, uma
organização criminosa foi criada e era liderada por Bolsonaro e pelo seu então
candidato a vice-presidente, o general Walter Braga Neto.
"A organização
tinha por líderes o próprio presidente da República [Jair Bolsonaro] e o seu
candidato a vice-presidente, o General Braga Neto. Ambos aceitaram,
estimularam, e realizaram atos tipificados na legislação penal de atentado
contra o bem jurídico da existência e independência dos poderes e do Estado de
Direito democrático", escreve o procurador-geral, Paulo Gonet.
Para a PGR, o plano
golpista começou a ser articulado em 2021, com a anulação das condenações
contra Lula pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que o recolocaram no jogo
eleitoral de 2022.
A denúncia aponta,
entre outras coisas, que Bolsonaro teria conhecimento de um plano para matar
Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin
(PSB) e
o ministro do STF Alexandre de Moraes, tido como um dos principais adversários
políticos do núcleo bolsonarista.
A defesa de
Bolsonaro e de outros supostos integrantes da organização vêm negando
envolvimento nos crimes atribuídos pela PGR. Veja como ele e outros
denunciados estão se manifestando sobre o assunto.
Nesta quarta-feira
(19/2), Bolsonaro usou suas redes sociais para comentar a denúncia apresentada
contra ele.
Após postar memes
ironizando a acusação sobre o plano de matar o presidente Lula, Bolsonaro falou
em "acusações vagas" e disse que as denúncias que pesam contra ele
são "fabricadas".
"O mundo está
atento ao que se passa no Brasil. O truque de acusar líderes da oposição
democrática de tramar golpes não é algo novo: todo regime autoritário, em sua
ânsia pelo poder, precisa fabricar inimigos internos para justificar
perseguições, censuras e prisões arbitrárias", postou Bolsonaro.
Já o presidente
Lula, perguntado sobre a denúncia da PGR por jornalistas em Brasília, defendeu
o direito à ampla defesa dos acusados e disse que, se forem considerados
culpados, "eles terão que pagar pelo erro que cometeram".
A denúncia
principal sobre o caso tem 272 páginas e elenca diversos eventos e evidências
que, na avaliação da procuradoria, demonstram a participação de Bolsonaro e dos
demais na suposta trama golpista.
>>>> Confira
abaixo quatro pontos da denúncia feita pela PGR.
·
PGR:
Bolsonaro sabia de plano para matar Lula
De acordo com a
denúncia, Bolsonaro tinha conhecimento sobre o chamado plano "Punhal Verde
Amarelo",
um conjunto de ações que seriam executadas por integrantes da organização
supostamente liderada por Bolsonaro e que previam o assassinato de Alexandre de
Mores, Lula e de Geraldo Alckmin.
"As
investigações revelaram aterradora operação de execução do golpe, em que se
admitia até mesmo a morte do Presidente da República e do Vice-Presidente da
República eleitos, bem como a de Ministro do Supremo Tribunal Federal [...] O
plano foi arquitetado e levado ao conhecimento do Presidente da República, que
a ele anuiu", diz um trecho da denúncia feita pela PGR.
Segundo a PGR, o
plano "Punhal Verde e Amarelo" foi identificado pela Polícia Federal
durante as investigações.
O plano previa a
"neutralização" de figuras centrais da República como Moraes, Lula e
Alckmin. Em relação ao ex-ministro, a PF sustenta que pessoas ligadas ao plano
chegaram a executar ações de monitoramento sobre a movimentação de Alexandre de
Moraes, em Brasília.
A denúncia aponta
que a PF descobriu que o general Mário
Fernandes,
à época secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, teria impresso
cópias do plano em uma impressora localizada no Palácio do Planalto e, em
seguida, levado o material para o Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro ficou
recolhido após a derrota nas eleições presidenciais de 2022.
Fernandes está
preso e também é um dos denunciados.
A BBC News Brasil
não conseguiu localizar a defesa de Mário Fernandes.
Desde que a
denúncia foi divulgada, Bolsonaro nega que tenha planejado um golpe de Estado.
Em manifestação
enviada à imprensa, o ex-presidente disse que "jamais compactuou" com
qualquer movimento que visasse um golpe de Estado e que a acusação não
apresenta nenhuma mensagem enviada por ele que o incrimine.
A defesa do
ex-presidente afirmou ainda que a denúncia seria "inepta" e
contraditória e baseada apenas na delação de Mauro Cid.
"[Trata-se de]
um delator que questiona a sua própria voluntariedade. Não por acaso ele mudou
sua versão por inúmeras vezes para construir uma narrativa fantasiosa",
diz um trecho da nota.
A defesa do
ex-presidente diz ainda que Bolsonaro "confia na Justiça e, portanto,
acredita que essa denúncia não prevalecerá."
Nesta quarta-feira,
o ministro Alexandre de Moraes, do STF, derrubou o sigilo do acordo de delação
premiada de Mauro Cid. Segundo Moraes, após a apresentação da denúncia pela
PGR, "não há mais necessidade da manutenção desse sigilo", para a
"garantia do contraditório e da ampla defesa".
·
O
papel da ABIN paralela
A denúncia feita
pela PGR diz que o grupo que planejava o golpe de Estado trabalhava com uma
estrutura paralela de inteligência sob o comando do deputado federal e
ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência Abin), Alexandre Ramagem
(PL-RJ).
Para a PGR, o grupo
realizava ações clandestinas de contrainteligência e tinha como uma de suas
principais funções a difusão de informações contrárias a pessoas ou
instituições vistas como adversárias políticas de Bolsonaro ou obstáculos ao
plano de golpe.
"O núcleo
atuava como central de contrainteligência da organização criminosa que, por meio
dos recursos e ferramentas de pesquisa da Abin, produzia desinformação contra
seus opositores", diz um trecho da denúncia.
Um dos exemplos
citados na denúncia teria sido detectado pela PF ao analisar dados de um dos
integrantes da chamada Abin paralela.
Os investigadores
constataram que os supostos integrantes desta estrutura monitoraram os
movimentos do ministro Alexandre de Moraes.
"Em 7.12.2022,
um dia depois da conversa com Jair Messias Bolsonaro, o denunciado realizou a
compra de um dos aparelhos celulares utilizados na operação clandestina",
diz um trecho da denúncia.
Verificou-se,
ainda, a intensificação do monitoramento do Ministro Alexandre de Moraes após o
encontro no Palácio do Planalto", continuou o documento.
Em um caso
diferente, a estrutura da "Abin Paralela" teria envolvido o também
ministro do STF Luís Roberto Barroso.
À época, Barroso
era visto como um adversário político de Bolsonaro.
De acordo com a
denúncia, para prejudicar a imagem de Barroso, um dos integrantes do grupo
orientou a divulgação de uma informação negativa sobre o ministro.
"Pode jogar no
grupo dos malucos se quiser", disse a mensagem.
As investigações
apontam que a informação teria sido então repassada a um militante de direita
investigado por conduzir ataques a autoridades brasileiras.
A PGR considerou
relevante a ação da Abin paralela no contexto da tentativa de golpe.
"As ações
ganham ainda mais relevo quando observada a consonância entre os discursos
públicos de Jair Messias Bolsonaro e os alvos escolhidos pela célula infiltrada
na Agência Brasileira de Inteligência, confirmando a ação coesa da organização
criminosa", diz um trecho da denúncia.
·
Bolsonaro
e a minuta do golpe
A denúncia da PGR
diz que Bolsonaro teve conhecimento e editou a versão final de um decreto golpista
organizado por integrantes do seu grupo.
O decreto, diz a
denúncia, seria uma espécie de consolidação do plano golpista supostamente
desenhado pela organização.
De acordo com a
denúncia, o cenário de instabilidade criado pelo grupo tinha como objetivo
pavimentar o caminho para um decreto presidencial a ser assinado por Bolsonaro
e que previa restrições de direitos e sua permanência no poder.
"O cenário de
instabilidade social provocado pela organização criminosa tinha por objetivo
criar condições de aceitação política da assinatura por Jair Bolsonaro de
decreto que rompesse com as estruturas democráticas", diz um trecho do
documento.
Com o decreto
editado por Bolsonaro, o grupo teria passado a uma nova fase: usá-lo para
pressionar os chefes militares a apoiar o suposto plano golpista.
"Após a
primeira apresentação, Jair Bolsonaro dedicou-se a fazer ajustes no texto do
Decreto, a fim de obter maior apoio por parte das Forças Armadas. Na manhã do
dia 9.12.2022, reuniu-se com Marcelo Câmara, Filipe Garcia Martins Pereira e
Braga Netto no Palácio da Alvorada, oportunidade em que decidiu dar seguimento
ao plano golpista", diz um trecho da denúncia.
A versão final do
documento teria sido apresentada no dia 14 de dezembro de 2022 pelo então
ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira aos comandantes das três Forças
Armadas.
O documento previa:
# Decretação do
Estado de defesa, dando a Bolsonaro poderes extraordinários mesmo após ter sido
derrotado nas eleições
# Criação de uma
"Comissão de Regularidade Eleitoral", um órgão que faria uma revisão
do resultado das eleições
As investigações
apontam, no entanto, que o plano teria sido rechaçado por Freire Gomes e
Baptista Júnior.
Em junho de 2023,
ao falar sobre o assunto, Bolsonaro negou ter conhecimento sobre a minuta ou
que ela tivesse conteúdo golpista.
"Não tive
conhecimento… Não existe golpe com respaldo jurídico. Golpe é pé na porta e
arma na cara, meu deus do céu. Golpe tem que depor alguém", disse o
ex-presidente da jornalistas.
Um mês depois,
Bolsonaro voltou a tentar se desvincular do tema.
"Estado de
defesa é previsto na Constituição. Não tomei conhecimento desse documento,
dessa minuta. Nas perícias, só encontraram digitais do delegado da operação e
de um agente, de mais ninguém. Papéis, eu recebia um monte. Então, é óbvio que
não tem cabimento você dar golpe com respaldo da Constituição", disse
Bolsonaro.
·
Pressão
sobre comando militar
A denúncia narra
como militares que faziam parte do suposto núcleo golpista passaram a agir para
pressionar os comandantes das Forças Armadas a aderirem ao plano.
À época, diz a
denúncia, havia rumores sobre a hesitação de alguns dos comandantes militares,
entre eles o do Exército e da Aeronáutica.
Na ocasião, já após
a derrota de Bolsonaro nas eleições, esses militares, a maioria integrantes ou
ex-integrantes das Forças Especiais, passaram a organizar reuniões com objetivo
de elaborar um plano de pressão.
"Os diálogos
confirmam a ideia de reunir exclusivamente militares com formação em Forças
Especiais que poderiam, de algum modo, influenciar seus comandantes, valendo-se
também dos seus conhecimentos táticos especializados", diz um trecho da
denúncia.
Segundo a PGR, os
militares se encontraram no salão de festas do prédio onde morava o coronel do
Exército Márcio Nunes de Resende Júnior, que também foi denunciado.
Após a reunião, os
militares teriam elaborado a minuta de uma carta ao comando militar com o
objetivo de pressioná-lo a aderir ao plano golpista.
Em seu depoimento à
Polícia Federal, o então comandante do Exército, general Freire Gomes,
confirmou essa tese.
"Indagado se a
publicação no dia 28.11.2022 (data em que a carta foi divulgada) do documento
intitulado 'Carta ao comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do
Exército Brasileiro' foi feita para pressionar o depoente (Freire Gomes)",
diz um trecho do documento.
A minuta da carta
foi divulgada pelo jornalista Paulo Figueiredo, que também foi denunciado como
integrante da organização criminosa.
Procurado sobre o
assunto, Figueiredo enviou uma nota.
"Estou honrado
em estar ao lado de patriotas neste documento histórico que reflete a ditadura
na qual vivemos. Vamos vencer e todos os agentes públicos que se utilizam das
suas posições para perseguir opositores políticos serão responsabilizados sem
misericórdia no momento oportuno", disse Figueiredo.
Ao final, as
investigações concluíram que Freire Gomes e o então comandante da Aeronáutica,
o Brigadeiro Baptista Júnior, teriam se posicionado contra a tentativa de
golpe. Entre os três comandantes militares da época, segundo a investigação,
apenas o almirante Almir Garnier, que liderava a Marinha, teria se colocado a
favor do plano.
De acordo com o
portal UOL, o advogado de Garnier, Demóstenes Torres, disse que ainda lerá a
denúncia.
"Creio que
agora teremos acesso à delação do Cid. Em seguida exerceremos o
contraditório", disse o advogado.
¨ O Brasil
atravessa o Rubicão: Gonet fez um Golaço! Por Arnóbio Rocha
“Alea iacta
est” (a sorte está lançada – Júlio César)
O grande
general romano, Júlio César (antes de ser César), era governador da Gália, mas
nas lutas internas do poder ele foi destituído e resolveu marchar sobre Roma,
havia uma proibição de que os generais não atravessassem o pequeno rio Rubicão
com suas tropas, o impetuoso Júlio César, rompeu com essa ordem, em 10 de
janeiro de 49 A.C., ele atravessou o Rubicão e ocupou militarmente a cidade,
para impor uma nova ordem.
O Brasil hoje
fez algo inédito em sua conturbada história republicana, o PGR, Paulo Gonet,
denunciou o ex-presidente Bolsonaro e dezenas de militares de alta patente. O
Brasil tem sua vida politica civil tão marcada por golpes e pela tutela
militar, que por várias vezes rompeu a ordem civil, fazendo ditaduras,
ameaçando Presidentes, em menor escala governadores eleitos, tornando a
Democracia frágil e sob ameaça, desrespeitando eleições, as instituições
(burguesas), sempre com apoio da grande Burguesia brasileira e de sua mídia.
O fracassado
golpe de Estado pretendido por Bolsonaro em 8 de janeiro de 2023, depois da
derrota eleitoral foi se desenhando desde que o inepto e minúsculo político
paulista-carioca, ex-capitão do exército, venceu as eleições de 2018, que mesmo
vencendo criava uma teoria da conspiração de que as urnas eram fraudadas, algo
absurdo e alimentava uma manada de gente sem vocação democrática, uma união
autoritária, que mistura religião, baixos instintos e pouco respeito pela
Democracia.
Foram quatro
anos de enfrentamentos e ameaças às instituições no caótico de fracassado
governo de Bolsonaro, na iminência de perder as eleições em 2022, partiu para o
tudo ou nada, fez um chamado aos embaixadores estrangeiros para “denunciar as
urnas fraudulentas”, um desrespeito à Democracia e a liturgia do cargo. Ao
mesmo tempo, alguns dos seus comparsas começam a preparar uma quartelada, que
se acentua após a derrota eleitoral.
Uma escumalha
convocada por Bolsonaro tomou a frente de quartéis para não aceitar o resultado
eleitoral, apelando por uma “intervenção militar”, esse processo culminou com
os atos destrutivos da praça dos três poderes em Brasília, em 8 de janeiro de
2023, após a posse do Presidente Lula, mas teve vários momentos de quase
tragédia, como a trama para matar os eleitos e o Ministro Alexandre de Moraes,
um quase atentado ao aeroporto de Brasília e uma preparação de Golpe que
fracassou.
Um imenso
inquérito e julgamento dos que foram presos e presas em Brasília e em alguns
estados vem tomando o STF, mais recentemente a Polícia Federal fechou um longo
e robusto inquérito apontando as principais lideranças do levante, capitaneados
por Bolsonaro, sua inequívoca participação restou provada em todos os atos
preparatórios e a condução da conspiração contra o Estado Democrático de
Direito.
O Procurador
Geral da República, Paulo Gonet, depois receber o relatório pormenorizado, com
robusto material probatório, apenas o ultimo relatório tinha quase 900 páginas,
um trabalho brilhante da Polícia Federal, condução técnica e de enorme
qualidade. O PGR Gonet, sob enorme pressões, montou um time de auxiliares e
mesmo com tantas desconfianças, maledicências contra si (da Extrema-direita e
esquerda), apresentou sua denúncia ao STF, trazendo Bolsonaro e mais 33 nomes,
militares de alta patente, generais estrelados, almirante, civis que ocuparam
cargos relevantes na República.
É realmente
algo inédito no Brasil, muitos duvidaram que sairia a denúncia, veio e de forma
tão forte, quase impensável no Brasil muito acostumado em acochambrar , dar um
jeitinho, uma gambiarra, uma anistia, esconder os responsáveis, nada disso
houve, as duzentas e quinze páginas estão respondendo uma a uma as ações
criminosas da quadrilha golpista.
Uma etapa
fundamental foi vencida, não pode ter retorno. Agora é com Alexandre de Moraes
e os demais ministros do STF de fazerem história, com provas, não com
convicções e golpes.
PS: Meu amigo,
o grande Jurista Bruno Salles, num cálculo rápido, levando em conta nos artigos
em que Bolsonaro foi enquadrado, daria 39 anos e 6 meses, fora as ações das
joias e da fraude no cartão de vacina.
Fonte: BBC News
Brasil/Brasil 247
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