sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Pepe Escobar: Que comece o Novo Grande Jogo

Não era para ser uma Yalta. Mas uma Yalta 2.0 pode vir a acontecer em algum momento futuro. Na parada do Dia da Vitória em Moscou, em 9 de maio próximo, celebrando os 80 anos do fim da Grande Guerra Patriótica e da derrota da Alemanha nazista, Putin como anfitrião e  Xi Jinping como um dos principais convidados estarão presentes. E talvez Donald Trump também esteja. Por que não embarcar todos eles em um voo para a Crimeia e realizar uma Yalta 2.0 em – onde mais seria – Yalta?

“Doces sonhos são feitos disso”, citando os metafísicos pop do Eurythmics. Enquanto isso, não tivemos uma Yalta, nem ao menos uma Reykjavik; tivemos longas 4,5 horas no palácio real de Ed-Diriyah, no vale de  Wadi Hanifa. Rússia e Estados Unidos, finalmente,  se sentaram à mesa para discutir como adultos – pela primeira vez em três anos.

Uma deliciosa dose de excitação foi devidamente servida – relacionada às partes envolvidas no trabalho de “normalização das relações diplomáticas”. Até três meses atrás – no governo do Cadáver da Casa Branca” e de seu Secretário do Genocídio – essa possibilidade era tão remota quanto a de um meteorito se chocar contra a Terra (o que vai acontecer, mas em um futuro distante).  

O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, desempenhou a façanha sobre-humana de não desabar frente ao Poderoso Lavrov, o maior diplomata do planeta.  Lavrov e Rubio concordaram em criar de um mecanismo de consulta para eliminar “irritantes” (terminologia americana) nas relações Estados Unidos-Rússia  e cooperar em “questões de interesse geopolítico em comum), segundo o Departamento de Estado. Os BRICS talvez não sejam uma delas. 

Esse “eliminar irritantes’’ pode ser facilmente interpretado como linguagem cifrada para o Trump 2.0 tentando encontrar soluções para o tsunami de sanções e guerra econômica do governo anterior, que só produziram consequências espetacularmente desastrosas.  

Como era de se esperar, os americanos enfatizaram que “uma única reunião não é suficiente para solucionar o conflito ucraniano”. Claro que não. O consultor presidencial Yuri Ushakov observou que o próprio Putin decidirá “quando terão início os contatos com os Estados Unidos sobre a Ucrânia”, e quem serão os negociadores russos. 

Lavrov desmentiu categoricamente a existência de um plano de “três fases” para a Ucrânia, incluindo um cessar-fogo, eleições e a assinatura de um acordo final.  Com base em um cuidadoso exame do ocorrido até o presente, Lavrov sempre insistiu que os Estados Unidos “são incapazes de acordos”.   

O enviado especial de Trump Steve Witkoff estava positivamente radiante: 

“Não poderíamos ter imaginado um resultado melhor para esta sessão”. Bem, Witkoff certamente seguiu o dinheiro – a prioridade suprema de Trump – quando ele e a delegação americana ficaram totalmente “surpresos” ao saber que “as empresas dos Estados Unidos  perderam 300 bilhões de dólares ao deixar a Rússia”, tal como revelado pelo CEO do Fundo Russo de Investimentos Diretos Kirill Dmitriev.

Como ocorreu com o fiasco sobre os BRICS, parece que a Equipe Trump não vem fazendo seu dever de casa também no front empresarial.  

<><> Como a guerra geoeconômica foi vencida 

Com base no que ocorreu em Riad, é cedo demais para se gabar de Washington, no  Trump 2.0, ter declarado que a Ucrânia – com seu minúsculo narco-fuhrer – chegou ao fim. O que sobrou da Ucrânia sobreviverá de uma forma ou de outra, mas não há a menor clareza quanto ao “que” será a Ucrânia pós-guerrra. 

Quanto à Rússia estar na vanguarda do projeto de uma nova ordem mundial, parece que é isso mesmo. Um Novo Grande Jogo está começando agora, a uma distância de anos-luz da trama oitocentista original – britânica – e muito mais próxima de como o Novo Grande Jogo foi imaginado em inícios da década de 2010, quando os chineses criaram o conceito de Novas Rotas da Seda.    

Ver Washington e Rússia proclamando “levar em conta os interesses um do outro” significa automaticamente que o Império do Caos vem perdendo seu poderio e sendo forçado a sentar à mesa e ouvir (Lavrov ressaltou o fato de termos efetivamente ouvido um ao outro).  

Quando ambas as delegações ressaltam que um encontro pessoal entre Trump e Putin seria muito difícil de programar, podemos interpretar que  isso, em linguagem cifrada, significa que o Deep State dos Estados Unidos será forçado a criar uma narrativa palatável para o que de fato é uma patente derrota  estratégica em uma guerra por procuração fracassada. 

Mais além da proverbial torrente de versões sobre quais seriam os verdadeiros motivos de Trump se aproximar da Rússia, gerando até mesmo deliciosas insinuações sobre uma viagem alucinatória em um tapete mágico – ao som do Steppenwolf e do Jefferson Airplane – é bem possível que essa seja apenas uma viagem fictícia. 

Ou algo muito mais sinistro: Trump atiçando a ralé europeia para uma nova Grande Guerra contra a Rússia antes de 2030, que os americanos assistirão de longe. 

O que é certo é que Trump quer normalizar a Rússia para parar de perder dinheiro na Ucrânia – aqueles trouxas europeus que entrem com a grana – e se concentrar no que realmente importa: a guerra tecnológica e geoeconômica com a China, que Pequim já ganhou em diversos setores sem lançar um único HIMARS, em vez de se concentrar nos sucessos do plano Made In China 2025.  

Quanto aos otários europeus, que Trump decididamente abomina, eles se reuniram em Paris para um glorioso evento contracúpula: a Liga dos Perdedores, para discutir – o que mais seria? – suas Guerras Eternas e o que eles farão para enviar suas tropas “pacificadoras” – que eles não têm, com armas que eles não têm – para a Ucrânia.  

Aquele vira-lata que posa de primeiro-ministro britânico está prometendo colocar “botas no solo”, enquanto a tóxica  Medusa von der Lugen continua a vociferar no seu melhor estilo chihuahua belicista. Até mesmo outros cães raivosos como a Polônia, juntamente com os poodles Alemanha, Itália e Espanha,  disseram “não” à avalanche de coturnos Dr. Martens britânicos.

Nas atuais circunstâncias, o que aconteceu em Riad foi apenas um primeiro passo – uma espécie de reconciliação Estados Unidos-Rússia, semelhante à longa détente de fins dos anos 60 até meados dos anos 70; ao Gorbachev-Reagan em 1986-1989, ao Gorbachev-Papai Bush em 1989-1991 (que acabou com o colapso da URSS); e ao Medvedev-Obama em 2009 (que acabou com a destruição da Líbia).

Até o momento, portanto, temos zero fatos. Além dos que as forças russas continuam criando nos campos de batalha da Novorossiya. Esses fatos novos criados no terreno tornarão as coisas ainda mais tenebrosas para os americanos, já que a ultraproblemática negociação sobre a Ucrânia se prolongará pelo menos por alguns meses.  

Deixemos a última palavra com o sensato Lavrov:  “Quando os interesses nacionais se alinham, temos que fazer todo o possível para unir esforços nessa direção, em prol de projetos mutuamente benéficos, tanto na esfera geopolítica quanto nas questões econômicas”. Lavrov está convencido de que os americanos, agora, “entendem melhor nossa posição”. 

Será esse o caso – ou esse seria apenas mais um episódio de um  incansável reality show? Que comece o Novo Grande Jogo.

 

¨      O Suicídio Europeu. Por João Claúdio Platenik Pitillo

A Europa Ocidental sempre utilizou como política basilar a “Autonomia Estratégica”, era uma maneira de se manter eqüidistante, dos Estados Unidos. Uma espécie de biombo para se esconder de alguns arroubos imperialista da Casa Branca. Com o fim da URSS e do Bloco Socialista essa política foi sendo minada pelos sucessivos governos neoliberais europeus, que não viam mais a necessidade de se diferenciarem tanto do imperialismo estadunidense. Depois de muitas parcerias bélicas contra os países do Sul Global (Guerra do Afeganistão, Invasão do Iraque, Destruição da Líbia, Destruição da Síria e etc) foi com a Guerra da Ucrânia que a submissão européia aos ditames de Washington chegou ao ponto máximo.

É de conhecimento geral, que a Europa atravessa uma crise econômica por conta da falta do gás russo. É sabido que também a ausência da energia elétrica russa, está fazendo falta para alguns países europeus, assim como, a política de sanções retirou dos mercados russos e bielorrussos uma série de produtos e serviços europeus, fazendo com a crise avançasse em muitas áreas da economia européia. Isso, sem falar na grande quantidade de recursos financeiros e bélicos que são enviados para a Ucrânia constantemente. Esse processo aconteceu a partir da diretiva dos Estados Unidos contra a Rússia, arrastando toda a União Europeia para uma guerra custosa.

Com a crise se acentuando em países como França, Inglaterra e Alemanha, um efeito cascata acabou acontecendo em direção às economias menores do bloco, até as mais estáveis historicamente começam a dar sinais de desgaste. A Noruega é mais um caso desses. A sua participação nas sanções anti-russas tem causado danos significativos a economia. Os produtos pesqueiros (desde a sua independência da Suécia em 1905) representam 15% das exportações e aproximadamente a mesma participação no PIB total do país. Na principal região de pesca em Finnmark, no nordeste do país, estes números são pelo menos duas vezes superiores aos números nacionais. Nessa região, tradicionalmente, a pesca era feita em águas russas e adjacentes - com base em acordos sobre a troca de quotas de pesca envolvendo Rússia e Noruega, isso embasava fortemente a atividade pesqueira norueguesa e as suas empresas de beneficiamento.

Com as sanções contra a Rússia, a referida parceria foi desfeita e as  autoridades de Oslo não conseguiram compensar os custos para a população e as empresas locais, o que levou a um agravamento acentuado dos problemas demográficos no norte do país. Cinco municípios do correm o risco de perder até um terço de todos os residentes nos próximos 10 anos, devido ao êxodo da população local em busca de trabalho em outras regiões. 

As sanções, que podem ser comparadas a um “tiro no pé”, são implementadas não só na redução das quotas de pesca com a Rússia, mas na redução máxima do fornecimento de produtos pesqueiros (industrializados) à Federação Russa. Ao mesmo tempo, o governo russo introduziu contra-sanções económicas contra a Noruega em Julho-Agosto de 2022. Como resultado, as exportações para a Federação Russa dos países do fiorde diminuíram mais de 60%.

A situação na indústria pesqueira da Noruega está se deteriorando rapidamente: a produção está diminuído, os pescadores estão sendo despedidos e as cooperativas estão encerrando as suas atividades. Chega-se ao ponto em que as empresas pesqueiras norueguesas estarem tentando, exportar extra-oficialmente produtos para a Federação Russa através das Ilhas Faroé, que apesar de dinamarquesas, possuem autonomia governamental. As mesmas não participam das sanções anti-russas. Também tentam exportar seus produtos pesqueiros através da Belarus, da Sérvia e do Cazaquistão, sob o disfarce de produtos provenientes destes países, em uma manobra de reexportação.

A coordenação das quotas de pesca para 2025 é uma das poucas questões sobre as quais foi alcançado um acordo entre Moscou e um membro da OTAN após o início das hostilidades na Ucrânia. Isto indica que as sanções anti-russas estão gradualmente perdendo os seus apoiadores, não só nesta indústria norueguesa, mas também no governo do país. Assim, a Ministra das Pescas norueguesa, Marianne Syvertsen Ness, congratulou-se com a conclusão de um acordo com a Federação Russa para 2025, sublinhando que “cria-se a base para uma gestão sustentável de longo prazo dos recursos biológicos marinhos nas regiões do norte”.

As sanções anti-russas estão sendo cada vez mais contestadas pelos europeus, à medida que prejudicam cada vez mais as economias dos seus países. Apesar das declarações bélicas, os aliados da Noruega na OTAN “não hesitam” em aumentar as importações de gás da Federação Russa, mesmo com essa retórica violenta. Em 2024, este número aumentou entre 18 e 20% em comparação com o ano anterior. Nesse contexto, a população européia está pagando uma conta relativa as aventuras dos neoliberais da OTAN, que liderados por Washington acreditavam poder submeter o mundo por intermédio da força. Mas, parece que a eleição de Donald Trump está mudando essa lógica. A dúvida que paira é que se essa mudança na Casa Branca ajudará a deter a política suicida que a Europa abraçou?

 

¨      Trump se rebaixa e concede entrevista ao lado de Musk, que fala mais do que ele

O presidente Donald Trump, agora em seu segundo mandato, concedeu uma entrevista que escancarou uma realidade desconfortável para seus apoiadores: quem realmente comanda o governo dos Estados Unidos é o bilionário Elon Musk. Durante o programa "Hannity", da Fox News, Trump foi ofuscado por Musk, que monopolizou a conversa e ditou as diretrizes da gestão federal.

A entrevista, que deveria destacar os primeiros 100 dias do novo governo Trump, transformou-se em um palanque para Musk promover a chamada "transparência total" de sua gestão à frente do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), criado para cortar regulações e gastos do governo. "Você sabe o que é melhor do que dizer 'confie em mim'? É a transparência total", disse Musk, ao explicar que qualquer cidadão pode acompanhar todas as ações do DOGE pelo site DOGE.gov.

Trump, que tecnicamente deveria ser a figura central da entrevista, limitou-se a elogiar Musk e sua suposta missão de salvar os Estados Unidos da ruína financeira. "É um trabalho ingrato, mas ele está nos ajudando a salvar o país. Nosso país está com problemas sérios, e eu tive que chamar o melhor cara", disse Trump, sem ao menos se posicionar como o verdadeiro líder da administração.

Durante toda a entrevista, foi Musk quem ditou o tom, as propostas e os planos da administração, com Trump limitando-se a acenos e frases de apoio.

Desde que Musk assumiu o comando do DOGE, o departamento tem promovido cortes agressivos em agências essenciais, como a U.S. Agency for International Development, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos e o Departamento de Educação. Para os democratas, essa política não passa de um desmonte do Estado disfarçado de "eficiência", o que tem gerado críticas contundentes.

Musk, no entanto, não demonstrou qualquer preocupação com as críticas, chamando os opositores de "parasitas que se beneficiam de dinheiro desperdiçado e fraudulento". O bilionário ainda afirmou que os cortes podem cometer "alguns erros", mas garantiu que os problemas seriam corrigidos rapidamente.

Trump, que durante toda sua carreira política se vendeu como um líder autossuficiente e implacável, agora parece ter se reduzido a um coadjuvante de luxo na própria administração. A entrevista à Fox News confirmou o que muitos já suspeitavam: não é Trump quem governa os Estados Unidos, mas sim Elon Musk, que age como o verdadeiro comandante do governo, enquanto o presidente apenas assiste e assente.

¨      Trump amplia 'tarifaço' para madeira e produtos florestais e deve afetar o Brasil

 O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que ampliará as tarifas sobre produtos estrangeiros, incluindo madeira e outros itens florestais. Durante uma conferência em Miami, Trump revelou planos de impor uma tarifa de 25% sobre esses produtos, que devem entrar em vigor por volta de 2 de abril. Esta medida se soma aos planos já divulgados para tarifas sobre carros importados, semicondutores e medicamentos.

Ele ainda enfatizou que as novas tarifas gerarão grandes receitas para os Estados Unidos, mas também sugeriu que os países poderiam obter alívio caso reduzissem ou eliminassem suas próprias tarifas sobre os produtos norte-americanos.

As tarifas de 25% seriam aplicadas, entre outros, à madeira e aos produtos derivados de florestas, um setor importante para o Brasil, que é o maior exportador mundial de celulose. 

<><> O impacto sobre o Brasil

Os Estados Unidos são o principal destino das exportações brasileiras de produtos madeireiros, e uma tarifa de 25% pode afetar severamente esse comércio. Desde 1997, o Brasil exportou US$ 59,5 bilhões em produtos madeireiros para os Estados Unidos, com US$ 3,7 bilhões registrados apenas no ano de 2024, segundo o Metrópooles. De acordo com o Serviço Florestal Brasileiro, o principal produto de madeira exportado é a celulose, essencial para as indústrias de papel, embalagens, tecidos, cosméticos e até biocombustíveis.

O impacto dessas novas tarifas poderá afetar ainda mais o comércio de madeira entre os dois países, que já vivencia uma recuperação significativa após um período de estagnação. No primeiro semestre de 2024, as exportações brasileiras de madeira para os EUA cresceram 17,11% em comparação ao mesmo período de 2023, com 56.185 TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) embarcados, conforme dados do Dataliner divulgados pelo Grupo Allog. Em 2023, o total de exportações foi de 101.056 TEUs, o que representa uma quantidade significativa de madeira enviada ao mercado norte-americano.

Com a imposição de tarifas, os produtores brasileiros podem ser forçados a reavaliar suas estratégias de exportação, possivelmente redirecionando sua produção para outros mercados ou enfrentando uma redução nos lucros.

 

Fonte: Brasil 247

 

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