quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Saúde Mental: Como um hobby pode ajudar a quebrar o hábito de ficar rolando a tela do celular

É uma imagem familiar para muitos de nós: depois de um longo dia de trabalho, ficamos grudados no sofá com o telefone na mão. Talvez, por horas a fio. O que começa como uma maneira de relaxar a mente ou ficar por dentro das notícias, rapidamente se transforma em horas gastas compulsivamente em “doomscrolling” - ou seja, o ato de ficar rolando a tela por uma quantidade excessiva de tempo nas mídias sociais, consumindo conteúdo extremamente negativo. O medo de perder algo é o que leva muitos de nós a continuar fixados na tela.

Embora possa parecer que o doomscrolling - também chamado de ‘rolagem do desespero ou da desgraça’ devido ao material negativo que se absorve - ajuda você a se manter informado, pesquisas mostram que isso frequentemente resulta em considerável sofrimento psicológico. Em última análise, leva a um menor bem-estar mental, menor satisfação com a vida e menor engajamento no trabalho.

Mas, há muitas maneiras de acabar com esse mau hábito – e uma delas, em que as pessoas substituíram com sucesso o tempo gasto em seus telefones, é com um hobby.

Ao tomar a decisão consciente de mudar a nociva rotina — como pegar o telefone e ficar horas navegando na internet e lidando com desgraças — você pode substitui-la por algo mais gratificante.

Ter um hobby depois do trabalho está relacionado a um melhor bem-estar e pode contribuir para reduzir o estresse.

Atividades criativas, em particular, são conhecidas por encorajar um senso de realização pessoal por meio do desenvolvimento de novas habilidades. A realização pessoal é importante para a resiliência emocional.

Alguns dos passatempos mais benéficos para tentar para quebrar o doomscrolling são aqueles que incentivam a atenção plena. Isso significa, simplesmente, estar concentrado no que você está fazendo naquele momento – seja colorindo, tricotando, costurando etc.

Mindfulness é a prática de focar a atenção no momento presente e vivenciar seus pensamentos e sentimentos sem julgamento. Não é, necessariamente, sobre limpar a mente, mas sobre se envolver em uma atividade com a atenção total, e não se distrair com outros pensamentos.

Aqui estão algumas maneiras pelas quais hobbies conscientes podem ajudar você a acabar com o hábito de rolar a ‘tela das desgraças’.

1. Prendem a atenção de forma positiva

Quando você está concentrado em um trabalho manual, suas mãos estão ocupadas e, você, muito envolvido para lembrar de pegar o telefone. Hobbies criativos que exigem atenção, como tricô ou colorir, também podem atuar como uma “atividade de fluxo”, onde você perde a noção do tempo e se sente totalmente imerso no que está realizando. Isso pode ser um ótimo antídoto para perder horas passando por mídias sociais e absorvendo toxicidade.

2. São calmantes

Muitas pessoas que têm um hobby criativo dizem que as ações físicas repetitivas são meditativas e calmantes.

Os artesanatos também podem apoiar a regulação saudável das emoções – nossa capacidade de gerenciar e responder a experiências emocionais. Acalmar seu sistema nervoso pode neutralizar a tensão desencadeada pelo doomscrolling.

3. Proporcionam uma sensação de realização

O doomscrolling pode fazer com que as pessoas sintam perda de controle, enquanto hobbies conscientes proporcionam o contrário, uma sensação de controle junto com resultados tangíveis - seja um desenho colorido, um cachecol de tricô ou talvez uma bugiganga bordada.

A realização é considerada um dos principais ingredientes do bem-estar psicológico – e é um remédio essencial para a angústia.

4. Reduzem o estresse e a ansiedade

A arte oferece uma pausa na ruminação. Apenas dez minutos de coloração consciente regular – pelo menos três vezes por semana durante duas semanas – pode reduzir a ansiedade e os sentimentos de mau humor, além de melhorar a qualidade de vida.

Hobbies criativos também podem reduzir significativamente os níveis do nosso hormônio do estresse, o cortisol, o que promove uma sensação de relaxamento.

5. Oferecem um sentimento de pertencimento

Ao se envolver em um novo hobby, você também se junta a uma comunidade de pessoas com interesses semelhantes. Isso abre espaço para interações sociais mais positivas, e o senso de pertencimento está ligado a um melhor bem-estar.

·        Escolhendo o hobby certo

Atividades como colorir, tricotar, costurar e fazer crochê são um bom lugar para começar, pois envolvem movimentos repetitivos e relaxantes, juntamente com uma sensação de realização. Claro, você deve escolher um hobby que acha que vai gostar, pois não criará novos hábitos fazendo atividades que não quer fazer.

Aqui estão algumas outras coisas que você pode fazer para ter a melhor chance de sucesso.

Comece pequeno. Definir ativamente uma pequena e possível mudança de comportamento pode aumentar seu sucesso na construção de novos hábitos positivos. Então, para começar, escolha um projeto simples que não seja muito difícil de concluir – como colorir uma única página ou tricotar um pequeno quadrado. Ou defina uma meta de passar de 10 a 20 minutos por dia em seu hobby depois do trabalho antes de pegar o telefone. Vitórias iniciais e alcançáveis levam a uma sensação de realização e mantém você motivado.

Defina limites em torno do uso do telefone. Crie uma “zona livre sem telefone” e reserve um tempo para seu hobby. Isso ajudará a remover a tentação de rolar a tela e oferecerá um ambiente mais calmo para a criação.

Esteja presente. Observe as cores, texturas e movimentos envolvidos no que você está fazendo. Se sua mente começar a divagar, gentilmente traga seu foco de volta para a atividade que está praticando.

Participe de uma comunidade. Seja online ou pessoalmente, conectar-se com outras pessoas que têm o mesmo hobby pode aumentar seu senso de pertencimento e torná-lo ainda mais agradável. Isso também pode promover interações online mais positivas.

Quebrar seu hábito de rolar a tela não significa que você tem que abandonar completamente as mídias sociais. Mas trocar a rolagem por hobbies conscientes em seu tempo livre permite que estabeleça limites significativos e crie hábitos positivos. Ao priorizar seu bem-estar e se envolver com informações de forma equilibrada, seu cérebro obtém uma “pausa mental” de todo o conteúdo negativo.

 

¨      Como as redes sociais podem influenciar hábitos alimentares

Se seu filho adolescente estiver brincando com um novo telefone ou dispositivo inteligente depois das férias, pode ser que você tenha algumas preocupações. Mas será que está havendo atenção suficiente em como mais tempo de tela pode afetar o risco de uma criança ter um transtorno alimentar?

Pesquisas sugeriram uma ligação entre o uso de tempo de tela e redes sociais e o risco de desenvolver um transtorno alimentar.

Um estudo de setembro de 2024 mostrou que cada hora adicional de tempo de tela e uso de mídia social estava associada a maiores chances de apresentar sintomas de transtorno alimentar. Além disso, adolescentes que passam mais tempo online têm mais probabilidade de sofrer cyberbullying, outro fator de risco para um transtorno alimentar, de acordo com um estudo de 2023.

Binge-watching (assistir compulsivamente) e binge-scrolling (rolagem excessiva) também podem influenciar a compulsão alimentar, disse Jason Nagata, professor associado de pediatria na Universidade da Califórnia, em São Francisco. Seu estudo de 2021 descobriu que cada hora adicional de uso de mídia social estava relacionada a um risco 62% maior de desenvolver transtorno de compulsão alimentar um ano depois.

A conexão entre o risco de transtornos alimentares e o uso de mídias sociais é multifacetada, e a maneira de proteger a si e as crianças pode assumir diferentes formas, dizem especialistas.

<><> As mídias sociais são tão ruins?

Por que pode haver uma conexão tão forte entre redes sociais e transtornos alimentares? Há muitos fatores, incluindo comparações, exposições a ideais corporais inatingíveis e intensificação de comportamentos impulsivos, disse Nagata.

“Com a mídia social, uma das coisas que sabemos é que ela dá acesso maior e mais imediato aos adolescentes em torno de diferentes ideias. Isso é bom e ruim”, disse Erin Birely, conselheira profissional licenciada e coordenadora de serviços para ex-alunos do Renfrew Center, um centro de tratamento de transtornos alimentares com vários locais na Costa Leste.

As mídias sociais facilitam a entrada em comunidades, mas algumas podem incluir pessoas que não têm ideias saudáveis ​​sobre alimentação e imagem corporal, acrescentou Birely. Elas podem compartilhar comportamentos perigosos, o que pode influenciar o que você começa a ver como normal.

“As mídias sociais podem definitivamente aumentar a frequência com que as crianças olham para imagens que foram editadas ou colocadas de uma certa maneira, que continuam a perpetuar esse tipo de ideal de magreza ou ideais de imagem corporal que não são muito úteis”, complementou ela.

Além das imagens potencialmente prejudiciais que estão sendo divulgadas, muitos influenciadores são pagos para promover produtos que incentivam a perda de peso, disse Jennifer Rollin, fundadora do Eating Disorder Center em Rockville, Maryland.

Há uma conscientização de que anúncios em revistas podem fazer com que as pessoas se sintam mal com sua aparência, fazendo com que elas comprem um produto na esperança de fazer uma mudança, mas essas táticas são mais difíceis de reconhecer nas mídias sociais, acrescentou ela.

O problema não é apenas o que os adolescentes veem, mas também a compreensão que eles têm de que os outros podem vê-los – quer estejam sofrendo bullying ou sendo elogiados, disse Nagata.

“Esse feedback pode levar a um ciclo vicioso e pressões adicionais para retratar uma determinada marca”, disse ele. “Os adolescentes podem passar muito tempo pensando ou planejando postagens em mídias sociais, o que pode levar à ansiedade e ao estresse.”

<>< onteúdo problemático pode ser difícil de detectar

Alguns dos conteúdos problemáticos são óbvios — exercícios para “afinar” sua cintura ou conselhos sobre dieta — mas, devido à forma como a cultura alimentar se tornou normalizada, alguns dos conteúdos mais impactantes podem passar completamente despercebidos, disse Rollin.

“O mais perigoso é realmente a normalização de comportamentos incrivelmente desordenados… normalizar esse foco na perda de peso e na obsessão pela imagem corporal”, acrescentou.

Mesmo um feed de rede social com pessoas que não estão tentando fazer os outros perderem peso, mas que destacam um tipo de corpo, pode não ajudar na prevenção de transtornos alimentares, disse Rollin.

Se você ou seu filho adolescente têm feeds que não mostram uma diversidade de tipos de corpo ou uma variedade de conteúdo que pode não ter nada a ver com imagem (como hobbies, viagens ou experiências), pode ser fácil ficar muito obcecado com corpos.

Na verdade, adicionar contas com diversidade de corpos e experiências a um feed de mídia social pode ser uma proteção contra transtornos alimentares, disse Rollin.

<><> É hora de excluir os aplicativos?

As mídias sociais não são a única causa dos transtornos alimentares, e proibi-las nem sempre é necessário, disse Birely.

Para os adolescentes, adiar o acesso o máximo possível pode ajudar, e é importante estar ciente de como os indivíduos usam o aplicativo e como se sentem quando o fazem para decidir se é melhor fazer uma pausa, deixar de seguir certas contas ou excluir aplicativos completamente, disse Rollin.

Mas também há redes de apoio e outros benefícios nas mídias sociais, acrescentou Birely.

“Às vezes, pode ser uma boa maneira de realmente ajudar (adolescentes) a aprender como tolerar e gerenciar esses riscos”, disse a profissional. “Como toleramos as emoções que surgem quando vemos (conteúdo desencadeador)?”

Por mais que uma família limite as mídias sociais, é importante manter conversas abertas entre adultos, adolescentes ou crianças mais novas sobre o que eles veem nessas plataformas e como isso pode fazê-los sentir, disse Nagata.

Tente evitar o uso de telas durante as refeições para incentivar a conversa e ficar de olho nos hábitos alimentares das crianças.

“Os sinais de alerta para transtornos alimentares incluem quando um indivíduo se torna preocupado ou obcecado com peso, aparência, tamanho corporal, comida ou exercícios de uma forma que piora sua qualidade de vida e funcionamento diário”, disse Nagata. “Eles podem se afastar de atividades ou amigos habituais por causa de preocupações com tamanho corporal e aparência.”

A aparência de uma pessoa por si só não pode necessariamente indicar um transtorno alimentar, e pessoas de todos os gêneros, raças, etnias, orientações sexuais, idades e tamanhos podem ser afetadas, acrescentou.

Se você acha que você ou seu filho adolescente pode estar sofrendo de um transtorno alimentar ou ansiedades prejudiciais à comida, você deve procurar ajuda profissional de um profissional de saúde ou terapeuta, indica Nagata.

“Os transtornos alimentares são melhor atendidos por uma equipe interdisciplinar, incluindo um profissional de saúde mental, médico e nutricional”, concluiu ele.

 

Fonte: Por Emma Palmer-Cooper, para  The Conversation Brasil/CNN Brasil

 

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