Saúde Mental: Como um
hobby pode ajudar a quebrar o hábito de ficar rolando a tela do celular
É
uma imagem familiar para muitos de nós: depois de um longo dia de trabalho,
ficamos grudados no sofá com o telefone na mão. Talvez, por horas a fio. O que
começa como uma maneira de relaxar a mente ou ficar por dentro das notícias,
rapidamente se transforma em horas gastas compulsivamente em “doomscrolling” -
ou seja, o ato de ficar rolando a tela por uma quantidade excessiva de tempo
nas mídias sociais, consumindo conteúdo extremamente negativo. O medo de perder
algo é o que leva muitos de nós a continuar fixados na tela.
Embora
possa parecer que o doomscrolling - também chamado de ‘rolagem do desespero ou
da desgraça’ devido ao material negativo que se absorve - ajuda você a se
manter informado, pesquisas mostram que isso frequentemente resulta em
considerável sofrimento psicológico. Em última análise, leva a um menor
bem-estar mental, menor satisfação com a vida e menor engajamento no trabalho.
Mas,
há muitas maneiras de acabar com esse mau hábito – e uma delas, em que as
pessoas substituíram com sucesso o tempo gasto em seus telefones, é com
um hobby.
Ao
tomar a decisão consciente de mudar a nociva rotina — como pegar o telefone e
ficar horas navegando na internet e lidando com desgraças — você pode
substitui-la por algo mais gratificante.
Ter
um hobby depois do trabalho está relacionado a um melhor
bem-estar e pode contribuir para reduzir o estresse.
Atividades
criativas, em particular, são conhecidas por encorajar um senso de realização
pessoal por meio do desenvolvimento de novas habilidades. A realização pessoal
é importante para a resiliência emocional.
Alguns
dos passatempos mais benéficos para tentar para quebrar o doomscrolling são
aqueles que incentivam a atenção plena. Isso significa, simplesmente, estar
concentrado no que você está fazendo naquele momento – seja colorindo,
tricotando, costurando etc.
Mindfulness
é a prática de focar a atenção no momento presente e vivenciar seus pensamentos
e sentimentos sem julgamento. Não é, necessariamente, sobre limpar a mente, mas
sobre se envolver em uma atividade com a atenção total, e não se distrair com
outros pensamentos.
Aqui
estão algumas maneiras pelas quais hobbies conscientes podem ajudar você a
acabar com o hábito de rolar a ‘tela das desgraças’.
1. Prendem a
atenção de forma positiva
Quando
você está concentrado em um trabalho manual, suas mãos estão ocupadas e, você,
muito envolvido para lembrar de pegar o telefone. Hobbies criativos que exigem
atenção, como tricô ou colorir, também podem atuar como uma “atividade de
fluxo”, onde você perde a noção do tempo e se sente totalmente imerso no que
está realizando. Isso pode ser um ótimo antídoto para perder horas passando por
mídias sociais e absorvendo toxicidade.
2. São calmantes
Muitas
pessoas que têm um hobby criativo dizem que as ações físicas repetitivas são
meditativas e calmantes.
Os
artesanatos também podem apoiar a regulação saudável das emoções – nossa
capacidade de gerenciar e responder a experiências emocionais. Acalmar seu
sistema nervoso pode neutralizar a tensão desencadeada pelo doomscrolling.
3. Proporcionam uma
sensação de realização
O
doomscrolling pode fazer com que as pessoas sintam perda de controle, enquanto
hobbies conscientes proporcionam o contrário, uma sensação de controle junto
com resultados tangíveis - seja um desenho colorido, um cachecol de tricô ou
talvez uma bugiganga bordada.
A
realização é considerada um dos principais ingredientes do bem-estar
psicológico – e é um remédio essencial para a angústia.
4. Reduzem o
estresse e a ansiedade
A
arte oferece uma pausa na ruminação. Apenas dez minutos de coloração consciente
regular – pelo menos três vezes por semana durante duas semanas – pode reduzir
a ansiedade e os sentimentos de mau humor, além de melhorar a qualidade de
vida.
Hobbies
criativos também podem reduzir significativamente os níveis do nosso hormônio
do estresse, o cortisol, o que promove uma sensação de relaxamento.
5. Oferecem um
sentimento de pertencimento
Ao
se envolver em um novo hobby, você também se junta a uma comunidade de pessoas
com interesses semelhantes. Isso abre espaço para interações sociais mais
positivas, e o senso de pertencimento está ligado a um melhor bem-estar.
·
Escolhendo
o hobby certo
Atividades
como colorir, tricotar, costurar e fazer crochê são um bom lugar para começar,
pois envolvem movimentos repetitivos e relaxantes, juntamente com uma sensação
de realização. Claro, você deve escolher um hobby que acha que vai gostar, pois
não criará novos hábitos fazendo atividades que não quer fazer.
Aqui
estão algumas outras coisas que você pode fazer para ter a melhor chance de
sucesso.
Comece
pequeno. Definir ativamente uma pequena e possível mudança de comportamento
pode aumentar seu sucesso na construção de novos hábitos positivos. Então, para
começar, escolha um projeto simples que não seja muito difícil de concluir –
como colorir uma única página ou tricotar um pequeno quadrado. Ou defina uma
meta de passar de 10 a 20 minutos por dia em seu hobby depois do trabalho antes
de pegar o telefone. Vitórias iniciais e alcançáveis levam a uma sensação de
realização e mantém você motivado.
Defina
limites em torno do uso do telefone. Crie uma “zona livre sem telefone” e
reserve um tempo para seu hobby. Isso ajudará a remover a tentação de rolar a
tela e oferecerá um ambiente mais calmo para a criação.
Esteja
presente. Observe as cores, texturas e movimentos envolvidos no que você está
fazendo. Se sua mente começar a divagar, gentilmente traga seu foco de volta
para a atividade que está praticando.
Participe
de uma comunidade. Seja online ou pessoalmente, conectar-se com outras pessoas
que têm o mesmo hobby pode aumentar seu senso de pertencimento e torná-lo ainda
mais agradável. Isso também pode promover interações online mais positivas.
Quebrar
seu hábito de rolar a tela não significa que você tem que abandonar completamente
as mídias sociais. Mas trocar a rolagem por hobbies conscientes em seu tempo
livre permite que estabeleça limites significativos e crie hábitos positivos.
Ao priorizar seu bem-estar e se envolver com informações de forma equilibrada,
seu cérebro obtém uma “pausa mental” de todo o conteúdo negativo.
¨ Como as redes sociais podem influenciar
hábitos alimentares
Se seu filho adolescente estiver brincando com um novo
telefone ou dispositivo inteligente depois das férias, pode ser que você tenha
algumas preocupações. Mas será que está havendo atenção suficiente em como mais
tempo de tela pode afetar o risco de uma criança ter um transtorno alimentar?
Pesquisas sugeriram uma ligação entre o uso de tempo de
tela e redes sociais e o risco de desenvolver um
transtorno alimentar.
Um estudo de setembro de 2024 mostrou que cada hora adicional
de tempo de tela e uso de mídia social estava associada a maiores chances
de apresentar sintomas de transtorno alimentar. Além disso,
adolescentes que passam mais tempo online têm mais probabilidade de
sofrer cyberbullying, outro fator de risco para um
transtorno alimentar, de acordo com um estudo de 2023.
Binge-watching (assistir
compulsivamente) e binge-scrolling (rolagem excessiva) também podem
influenciar a compulsão alimentar, disse Jason Nagata, professor associado de
pediatria na Universidade da Califórnia, em São Francisco. Seu estudo de 2021
descobriu que cada hora adicional de uso de mídia social estava relacionada a um
risco 62% maior de desenvolver transtorno de compulsão alimentar um ano
depois.
A conexão entre o risco de transtornos
alimentares e o uso de mídias sociais é multifacetada, e a maneira de proteger
a si e as crianças pode assumir diferentes formas, dizem especialistas.
<><> As mídias sociais são
tão ruins?
Por que pode haver uma conexão tão forte
entre redes sociais e transtornos alimentares? Há muitos fatores, incluindo
comparações, exposições a ideais corporais inatingíveis e intensificação de
comportamentos impulsivos, disse Nagata.
“Com a mídia social, uma das coisas que
sabemos é que ela dá acesso maior e mais imediato aos adolescentes em torno de
diferentes ideias. Isso é bom e ruim”, disse Erin Birely, conselheira
profissional licenciada e coordenadora de serviços para ex-alunos do Renfrew
Center, um centro de tratamento de transtornos alimentares com vários locais na
Costa Leste.
As mídias sociais facilitam a entrada em
comunidades, mas algumas podem incluir pessoas que não têm ideias saudáveis sobre
alimentação e imagem corporal, acrescentou Birely. Elas podem compartilhar
comportamentos perigosos, o que pode influenciar o que você começa a ver como
normal.
“As mídias sociais podem definitivamente
aumentar a frequência com que as crianças olham para imagens que foram editadas
ou colocadas de uma certa maneira, que continuam a perpetuar esse tipo de ideal
de magreza ou ideais de imagem corporal que não são muito úteis”, complementou
ela.
Além das imagens potencialmente
prejudiciais que estão sendo divulgadas, muitos influenciadores são pagos para
promover produtos que incentivam a perda de peso, disse Jennifer Rollin,
fundadora do Eating Disorder Center em Rockville, Maryland.
Há uma conscientização de que anúncios em
revistas podem fazer com que as pessoas se sintam mal com sua aparência,
fazendo com que elas comprem um produto na esperança de fazer uma mudança, mas
essas táticas são mais difíceis de reconhecer nas mídias sociais, acrescentou
ela.
O problema não é apenas o que os
adolescentes veem, mas também a compreensão que eles têm de que os outros podem
vê-los – quer estejam sofrendo bullying ou sendo elogiados, disse Nagata.
“Esse feedback pode levar a um ciclo
vicioso e pressões adicionais para retratar uma determinada marca”, disse ele.
“Os adolescentes podem passar muito tempo pensando ou planejando postagens em
mídias sociais, o que pode levar à ansiedade e ao estresse.”
<>< onteúdo problemático pode
ser difícil de detectar
Alguns dos conteúdos problemáticos são
óbvios — exercícios para “afinar” sua cintura ou conselhos sobre dieta — mas,
devido à forma como a cultura alimentar se tornou normalizada, alguns dos
conteúdos mais impactantes podem passar completamente despercebidos, disse
Rollin.
“O mais perigoso é realmente a
normalização de comportamentos incrivelmente desordenados… normalizar esse foco
na perda de peso e na obsessão pela imagem corporal”, acrescentou.
Mesmo um feed de rede social com pessoas
que não estão tentando fazer os outros perderem peso, mas que destacam um tipo
de corpo, pode não ajudar na prevenção de transtornos alimentares, disse
Rollin.
Se você ou seu filho adolescente têm
feeds que não mostram uma diversidade de tipos de corpo ou uma variedade de
conteúdo que pode não ter nada a ver com imagem (como hobbies, viagens ou
experiências), pode ser fácil ficar muito obcecado com corpos.
Na verdade, adicionar contas
com diversidade de corpos e experiências a um feed de mídia social pode ser uma
proteção contra transtornos alimentares, disse Rollin.
<><> É hora de excluir os
aplicativos?
As mídias sociais não são a única causa
dos transtornos alimentares, e proibi-las nem sempre é necessário, disse
Birely.
Para os adolescentes, adiar o acesso o
máximo possível pode ajudar, e é importante estar ciente de como os indivíduos usam
o aplicativo e como se sentem quando o fazem para decidir se é melhor fazer uma
pausa, deixar de seguir certas contas ou excluir aplicativos completamente,
disse Rollin.
Mas também há redes de apoio e outros
benefícios nas mídias sociais, acrescentou Birely.
“Às vezes, pode ser uma boa maneira de
realmente ajudar (adolescentes) a aprender como tolerar e gerenciar esses
riscos”, disse a profissional. “Como toleramos as emoções que surgem quando
vemos (conteúdo desencadeador)?”
Por mais que uma família limite as mídias
sociais, é importante manter conversas abertas entre adultos, adolescentes ou
crianças mais novas sobre o que eles veem nessas plataformas e como isso pode
fazê-los sentir, disse Nagata.
Tente
evitar o uso de telas durante as refeições para incentivar a conversa e ficar
de olho nos hábitos alimentares das crianças.
“Os sinais de alerta para transtornos
alimentares incluem quando um indivíduo se torna preocupado ou obcecado com
peso, aparência, tamanho corporal, comida ou exercícios de uma forma que piora
sua qualidade de vida e funcionamento diário”, disse Nagata. “Eles podem se
afastar de atividades ou amigos habituais por causa de preocupações com tamanho
corporal e aparência.”
A aparência de uma pessoa por si só não
pode necessariamente indicar um transtorno alimentar, e pessoas de todos os
gêneros, raças, etnias, orientações sexuais, idades e tamanhos podem ser
afetadas, acrescentou.
Se você acha que você ou seu filho
adolescente pode estar sofrendo de um transtorno alimentar ou ansiedades
prejudiciais à comida, você deve procurar ajuda profissional de um profissional
de saúde ou terapeuta, indica Nagata.
“Os transtornos alimentares são melhor
atendidos por uma equipe interdisciplinar, incluindo um profissional de saúde
mental, médico e nutricional”, concluiu ele.
Fonte: Por Emma
Palmer-Cooper, para The Conversation
Brasil/CNN Brasil
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