quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Eduardo Vasco: O golpe contra Lula já começou. E não vem do bolsonarismo

O “ajuste fiscal” feito pelo governo no final do ano foi a gota d’água para a burguesia. Nas semanas anteriores, o chamado “mercado” – o capital financeiro, isto é, a burguesia e o imperialismo – fez um terrorismo na imprensa, na bolsa e no câmbio, forçando o governo a aplicar o “ajuste”. Ele veio, afetou, como de costume, o povo pobre, a classe operária. Mas foi, apesar disso, um banho de água fria para os banqueiros. Nem de longe era o que eles esperavam. Assim como o “ajuste fiscal” de Dilma.

A burguesia percebeu que já não havia a menor chance de fazer Lula aplicar a política que ela necessita. Se, desde o princípio, ela não colaborava com o governo – apesar deste insistir em uma colaboração –, depois disso ela iniciou uma campanha para desestabilizá-lo. A popularidade de Lula caiu de 35% em dezembro para 24% em fevereiro, pelo Datafolha. A causa teria sido o aumento dos alimentos e do combustível e a crise do Pix. A causa real é mais profunda.

Os trabalhadores e o povo elegeram Lula e tinham – a maioria ainda tem – grande expectativa para que seu governo realmente derrotasse o golpe de 2016. A eleição por si só não derrotou golpe nenhum. O governo também não. As reformas neoliberais de Temer e Bolsonaro ainda não foram revertidas. Elas anulam a eficiência de qualquer medida que o governo possa tomar, pois as medidas atuais não passam de um remendo do desmonte produzido.

Além de visar apenas remendar a destruição, Lula ainda adota uma política dúbia, na tentativa de se equilibrar entre as necessidades do povo e as exigências da burguesia. Só que esse equilíbrio é extremamente delicado, como se vê. E, na situação de prevalência da estrutura neoliberal iniciada entre os anos 80 e 90 e aprofundada a partir de 2016, é um prejuízo para o povo. Um prejuízo para o próprio PT – pesquisa recente mostrou o óbvio: a devastação neoliberal que conduziu à desorganização do movimento sindical prejudicou também os votos da esquerda nas eleições.

A burguesia, contudo, precisa de mais. Ela não depôs Dilma para que Lula voltasse e aplicasse a mesma política de Dilma. Se é assim, então ela vai depor Lula como depôs Dilma. Ou, se for preciso esperar até 2026, roubar a eleição na mão grande.

Quando saiu a pesquisa Datafolha, a bolsa subiu e o dólar caiu. “A reprovação do governo foi recorde. Então, isso trouxe um otimismo maior para o mercado”, disse ao Estadão um funcionário dos banqueiros, que reconheceu abertamente que, entre os especuladores, “veio uma onda de otimismo com essa possibilidade maior de eventualmente ele não ser reeleito nas próximas eleições”. “Ele não costuma apoiar medidas que possam trazer corte de gastos nem uma maior previsibilidade em relação ao equilíbrio das contas públicas. O otimismo vem com a expectativa de uma mudança de governo no ano que vem”, afirmou outro.

Os grandes capitalistas estão incomodados com os baixos níveis de desemprego. Querem políticas que elevem a competição entre os trabalhadores, jogando milhões de volta ao exército de reserva para rebaixarem o salário. No final do ano passado, após o banho de água fria do “pacotinho” de gastos, como batizou a imprensa à época, uma pesquisa mostrou que 90% do “mercado” já estava contra o governo. Enquanto isso, o baixo desemprego mascara a sua falta de qualidade: informalidade reinante, com praticamente nenhum direito trabalhista. A “uberização” e a “ifoodização” são a etapa mais degradante da pejotização fruto da pulverização da CLT.

As repercussões distorcidas nos jornais sobre as falas de Lula, as pesquisas de opinião dos institutos do próprio “mercado” e as declarações abertas dos dirigentes do centrão de que preferem apoiar até mesmo Bolsonaro do que Lula em 2026 são indicativos suficientes: o golpe já começou. Ele não está, claro, absolutamente modelado, pois ainda toma forma. Mas já começou. E seu objetivo é substituir Lula por alguém que aplique o mais severo dos “ajustes fiscais”, à semelhança de Milei na Argentina (tão elogiado pelos banqueiros e a imprensa brasileira). Se não for possível um Tarcísio de Freitas ou alguém do centrão, irão perdoar Bolsonaro e colocá-lo novamente na presidência.

Não é possível que se seja tão ingênuo ao ponto de acreditar que a exploração de petróleo na Margem Equatorial – que será feita, se depender de Lula – seja tolerável para essa gente. O PIG já se opõe. E aí o governo mexe com interesses de gente mais poderosa do que a ridícula burguesia brasileira. Quantos governos o imperialismo americano já derrubou porque ameaçavam tomar conta do petróleo de forma independente?

Ora, Donald Trump pode não ser predador do petróleo russo, mas é óbvio para todo o mundo que sua política é a de fortalecimento do controle americano deste hemisfério. Como alguns dizem, é a retomada da Doutrina Monroe (ou melhor, um reforço). E nisso os banqueiros e o deep state americanos não têm divergências com Trump. Se os trumpistas usam seus fantoches bolsonaristas para desestabilizar o governo brasileiro, o imperialismo em si usa a bolsa, o câmbio, os preços, a imprensa tradicional, as principais ONGs e as instituições e políticos do centrão. Também há, como no golpe contra Dilma, um resíduo esquerdista para influenciar parcela da pequena burguesia pseudorradical.

Mas o maior perigo reside nas próprias organizações de massas da base lulista: elas estão paralisadas. Se não se movimentarem, verão uma reprise de 2016. Será preciso se mover desde já, e depressa, pelas reivindicações dos trabalhadores. Será preciso realizar um enfrentamento político contra a burguesia e o imperialismo, no interesse da massa que elegeu Lula e que sofre com a inviável política de equilibrista e a guerra aberta pelo “mercado”.

 

¨      Degradação da política arruinou a coligação que Lula tinha negociado

Um contraste com enorme eloquência. Os contrários ao presidente Lula entraram no terceiro ano do mandato presidencial com pressão total, a que não faltam indícios de coordenação –empresariado, economistas financeiros, congressistas da oposição e parte da mídia.

Por seu lado, o próprio Lula, o ministério e o PT mantêm a passividade de quem sequer percebesse a existência de adversários.

PARALISIA OFICIAL

A inoperância é a mais forte das impressões dadas pelo governo, como um todo. Novidade é a sua extensão ao confronto político mais aceso, que foi especialidade dos petistas.

Nem para estranhar ou explicar a queda de Lula nas pesquisas de opinião, repentina e forte, o governo fez mais do que aceitar a hipótese da mídia: carestia.

No mínimo, um governo desperto atentaria para a intensificação – uma onda, mesmo – de aumentos não justificáveis nem pela subida do dólar. Valor, aliás, retornado ao nível precedente na moeda, não nos preços.

ALGUNS AJUSTES 

Há três meses, a reforma do ministério é assunto constante. Nada houve nesse gênero, nem com a redução da reforma a “alguns ajustes”, nas palavras de Lula.

Com as eleições dos presidentes do Senado e da Câmara, caiu o último dos motivos alegados para a protelação dos “ajustes”.

A reforma do ministério é uma necessidade desde o segundo dia do governo. Ou desde a sua posse. A ideia de negociação participativa, básica na composição ministerial, estava superada pela degradação da política. Levou Lula a concessões excessivas, em número e em qualidade.

CONVENIÊNCIAS 

O critério de Arthur Lira e dos partidos do Centrão, para suas indicações, combinou conveniências na política interna dos congressistas e interesses regionais (políticos e negociais). A qualificação dos indicados não foi cogitada.

Para o propósito de reerguer o conceito do país nas relações internacionais, Lula transferiu ao chefe da Casa Civil a condução do ministério, tarefa dele mesmo no êxito de seus mandatos passados.

A novidade não funcionou, nem sequer para a meia dúzia de ministros à altura de seus cargos.  O despropósito de 38 ministérios só serviu para transações inúteis com Lira e o Centrão, que logo condicionaram as limitadas aprovações ao dá cá/toma lá. De bilhões.

RUMO A 2026 

Diante desse quadro, a direita, com uso da mídia, precipitou o tema da disputa eleitoral de 2026. E isso faz crescerem as implicações das necessárias mudanças no ministério. Delas e da aplicação que que Lula dê aos seus atributos pessoais, pouco usados na atividade dispersiva de meio mandato, estão influências para muitos elementos do futuro.

Recuperação e êxito do governo, ou insucesso, terão incidência direta, por exemplo, nas possibilidades de “esquerda e direita” em 2026. Talvez até na designação dos candidatos. Muito do futuro está sendo jogado agora.

¨      Malafaia manda bolsonaristas desistirem do impeachment de Lula

Responsável por organizar algumas das manifestações pró-Jair Bolsonaro nos últimos anos, o pastor Silas Malafaia deu um “pito” nos aliados do ex-presidente que defendem que os atos de 16 de março tenham o “impeachment” de Lula entre as pautas.

À coluna, Malafaia defendeu a postura de Bolsonaro, que anunciou que participará da manifestação no Rio de Janeiro para defender o projeto de anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro, e não para pedir o impeachment do atual presidente da República.

ENTRA ALCKMIN 

“O que o sistema quer é isso, derruba Lula e entra (Geraldo) Alckmin. Essa conversa fiada de que impeachment de Dilma ajudou Bolsonaro, é para quem não conhece a história. O povo deu uma resposta, não foi para o impeachment de Dilma que ajudou Bolsonaro, foi para o desgoverno e a corrupção, tá certo? De 14 anos de governo do PT. Quem está falando isso ou desconhece a história ou quer se ou quer se aproveitar de momento político. Acho que nós temos que ter uma visão lá na frente”, afirmou Malafaia.

O pastor defendeu que Lula e Alckmim “têm que ser derrotado é nas urnas”. “Não tem que dar prêmio para Alckmin substituir Lula. Eles (bolsonaristas que defendem o impeachment) só veem o momento e são pautados pela opinião de redes sociais”, declarou o religioso.

NAS REDES SOCIAIS 

A crítica de Malafaia é direcionada principalmente ao deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). O parlamentar mineiro tem usado as redes sociais para defender o impeachment de Lula como principal pauta dos atos marcados para 16 de março, em São Paulo.

“O que fizeram na campanha de prefeito, estão fazendo de novo: desmoralizando Bolsonaro. Não é a mim, não. Desmoralizam Bolsonaro. E depois vêm com ‘aí que eu morro, que dou minha vida, que o que ele quer, eu faço’. Isso é conversa de hipócrita, de soberbo e vaidoso. Não têm a dignidade de ligar para o cara e dizer: ‘Presidente, é isso mesmo? Vamos, vamos marchar nisso? Então, OK.’”, disse o pastor à coluna.

BOLSONARO NO RIO 

Como a coluna noticiou no sábado (15/2), Bolsonaro pretende ir à manifestação no Rio de Janeiro, e não em São Paulo.

O ex-presidente disse que sua principal pauta será o projeto de anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro, e não o impeachment de Lula.

“É previsão, não é certeza porque preciso acertar com mais gente… eu gostaria de ir ao Rio de Janeiro, no dia 16. E a pauta lá seria anistia e as questões nacionais”, disse Bolsonaro à coluna.

É muita estranha essa movimentação de Elon Musk para derrubar Lula

Assisti aqui no Rio ao filme “Trilha Sonora para um Golpe de Estado”, do cineasta belga Johan Grimonprez, um dos favoritos ao Oscar de Melhor Documentário deste ano, vencedor do Prêmio Especial do Júri por Inovação Cinematográfica no Festival de Sundance.

O roteiro mistura jazz e descolonização nesta passagem histórica, que reescreve o episódio da Guerra Fria que levou os músicos Abbey Lincoln e Max Roach a invadirem o Conselho de Segurança da ONU em protesto contra o assassinato de Patrice Lumumba — político que liderou a independência da República Democrática do Congo.

CONGO E BRASIL 

Pensando aqui, sobre a queda da popularidade de Lula, repentina e violenta, divulgada pelo Datafolha, de 42 para 24 por cento, comparei o cenário com o vivido por Patrice Lumumba.

A luta do líder nacionalista congolês foi um grito de dor para salvar seu povo do colonialismo belga.
Assumiu o cargo de Premier em 30 de junho de 1961 e assassinado cinco meses depois, a mando do rei belga e do presidente americano Eisenhower.

Houve de tudo, assassinatos, destruição de aldeias inteiras, mercenários pagos pelos belgas e traidores da pátria, como o coronel Desirée Mobutu, um genocida corrupto, que roubou as riquezas minerais do Congo dividindo com belgas e americanos..
Não foi diferente dos assassinatos na América Latina, nas décadas de 60 e 70.

QUEDA DE JANGO 

Aqui em 1964, Jonh Kenedy ordenou à CIA para preparar a queda de João Goulart. Iniciou-se uma sequência de paralisações na atividade produtiva, greves, aumento de alimentos e falta de arroz e feijão nas feiras e mercados.

Agora, me parece que o processo de desmantelamento do governo Lula está a todo vapor. Até o assunto impeachment entrou na pauta, após a fala do deputado Sóstenes Cavalcante, da bancada da Bíblia e líder do PL na Câmara.
O deputado Hugo Motta, presidente da Câmara e unha e carne de Eduardo Cunha, que pautou o impeachment de Dilma não é confiável.

Não se justifica, a alta nos preços do café, da laranja e de outros produtos essenciais, um absurdo. O empresário Elon Musk, número dois de Trump, trabalha para derrubar Lula e implodir o STF, ao impulsionar suas plataformas sociais.

NOVO RETROCESSO 

Não se trata de defender o governo ou qualquer personagem sentado no trono presidencial, mas de deixar um alerta sobre a marcha para um novo retrocesso no Brasil, através de um golpe parlamentar ou mesmo de uma intervenção militar com apoio de Donald Trump, assim como Kenedy atuou contra João Goulart.

Os motivos são de ordem estratégica para os americanos, remeto à liderança do Brasil nos BRICS, à proximidade diplomática e ao crescente comércio com a China; à fala sobre a substituição do dólar pelas moedas locais nas transações comerciais; e principalmente à captura das riquezas minerais intocadas da Amazônia para exploração pelos novos detentores do poder nos EUA.

O Brasil vai virar o Congo, se as elites do agro e da Indústria embarcarem em nova intervenção militar. É melhor deixar o povo escolher seus representantes nas urnas para o bem ou para o mal. Na próxima eleição, tira o elemento ruim e bota outro lá no Planalto. No golpe, são sempre os mesmos e matam a gente sem pudor algum e com requintes de crueldade.

 

¨      Assim como Lula interditou a esquerda, Bolsonaro quer interditar a direita

O slogan “Lula Livre”, que ganhou força quando o ex-presidente estava preso por condenações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, serviu essencialmente aos interesses de Lula e do PT. A narrativa, ao invés de fortalecer a esquerda como um todo, aprisionou o campo progressista à candidatura do próprio Lula em 2018. Agora, a história se repete na direita.

A pauta da anistia para os condenados pelos atos de 8 de janeiro e a tentativa de reduzir o prazo de inelegibilidade da Lei da Ficha Limpa de oito para dois anos interessam apenas a Bolsonaro, não à direita de forma geral.

PROTAGONISMO 

São medidas que reforçam seu protagonismo e minam o surgimento de novas lideranças conservadoras e comprometidas com a democracia no País.

Em 2018, mesmo preso, Lula conseguiu se manter politicamente relevante e praticamente inviabilizou a construção de candidaturas alternativas e competitivas na esquerda. A percepção de que apenas ele teria força eleitoral para derrotar Bolsonaro consolidou sua hegemonia e interditou o caminho para candidatos alternativos.

Agora, a defesa da anistia aos envolvidos nos ataques às instituições democráticas e a proposta de flexibilização da inelegibilidade têm o mesmo efeito para Bolsonaro.

SEM RENOVAÇÃO 

Essas pautas impedem a direita de se renovar, mantendo-o no centro da discussão política e garantindo sua influência na eleição de 2026, seja como candidato, seja como fiador de uma candidatura de sua estrita confiança.

O maior beneficiado por essa movimentação é o próprio ex-presidente. Se anistiado, ele pode disputar as eleições novamente. Mas, mesmo sem concorrer, seguirá como líder incontestável da direita, dificultando o surgimento de novos nomes competitivos.

Construir uma candidatura viável à Presidência da República em um sistema presidencialista multipartidário já é um grande desafio. Além de exigir um nome carismático e com projeção nacional, a empreitada demanda altos investimentos e um grande esforço político dos partidos.

MENOS RISCOS 

Muitas legendas preferem focar em candidaturas legislativas ou estaduais, que oferecem menor risco e retorno eleitoral mais previsível. Nesse cenário, figuras carismáticas de perfil populista como Bolsonaro bloqueiam o surgimento de alternativas.

O novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), parece ter caído nessa armadilha. Ao minimizar os eventos de 8 de janeiro e considerar legítima a proposta de flexibilizar a Lei da Ficha Limpa, ele reforça a ideia de que apenas Bolsonaro teria condições de derrotar Lula.

No fim das contas, a anistia e a flexibilização da inelegibilidade não servem à direita, mas a Bolsonaro. O que está em jogo não é o futuro do campo conservador, mas a manutenção de um projeto político personalista, que impede a renovação e mantém o ex-presidente como peça central do jogo eleitoral.

 

Fonte: Brasil 247/Poder 360/Tribuna da Internet/Agencia Estado

 

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