quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Lisa Lowe: Para compreender o fascismo tardio

No mundo contemporâneo, bombas destroem implacavelmente escolas, hospitais e suprimentos de água, expulsando pessoas de suas casas. Medidas de “austeridade” aprofundam os abismos econômicos globais, enquanto governos autoritários submetem os mais vulneráveis, pobres e desabrigados, à violência estatal e ao encarceramento. É um tempo, nas palavras escritas por Antonio Gramsci em uma prisão fascista um século atrás, em que “o velho mundo está morrendo e o novo não pode nascer”; em que os fracassos de uma antiga ordem político-econômica e os “sintomas mórbidos” dos Estados-nação imperiais assolados por crises de legitimação coexistem com alternativas emergentes que lutam para nascer. Ao redor do mundo, multidões vão às ruas para pedir um cessar-fogo em Gaza, protestar contra assassinatos policiais de homens e mulheres negros desarmados na América do Norte, exigir moradia para migrantes e o fim do encarceramento em massa, e proteger cursos d’água e terras da extração e da construção de oleodutos. O caos resultante do regime moribundo traz suas próprias atrocidades e novas formas de terror, mas também torna possíveis novas relações ainda não realizadas. Esses movimentos coletivos – atravessando diversas histórias coloniais e capitalistas, regiões e populações – compreendem condições diferenciadas, mas interligadas, de promessa e perigo que se unem neste momento histórico urgente e que parece às vezes incompreensível.

Leio o livro erudito, elegantemente pensado e pacientemente argumentado de Alberto Toscano, Late Fascism [Fascismo Tardio], como um esforço de nos oferecer os meios históricos e filosófico-políticos para compreender o fascismo em nosso tempo, ao ajustar as contas com o fascismo na longa duração. Como as linguagens políticas disponíveis estão saturadas por lógicas liberais, elas frequentemente velam e obstruem a compreensão do “presente político”. Contribuem para o reconhecimento equivocado do “fascismo” como espetacular e excepcional, em vez de integrante do casamento moderno entre democracia liberal e capitalismo. O Late Fascism de Toscano enfatiza que esse reconhecimento equivocado é um obstáculo primário para entender, organizar e lutar eficazmente contra as múltiplas contradições do nosso presente político.

Ao discutir a natureza e a etiologia do fascismo tardio, Toscano nos leva além dos exemplos europeus do período entre guerras do “tipo ideal” do fascismo e desconstrói a suposta oposição entre fascismo e democracia liberal. Enfatizando que o fascismo não é monolítico ou genérico, e não possui um modelo singular e estático para o qual possamos identificar analogias ao marcar uma lista de características, ele argumenta que devemos, em vez disso, abordar o fascismo como um processo com múltiplas origens, localidades e temporalidades, ocorrendo dinamicamente em relação a condições específicas. De certa forma (embora ele não se expresse exatamente assim), Toscano está argumentando que “o fascismo é uma estrutura, não um evento”, significando que ele não é uma aberração do período de guerra europeu, nem um estado natural original do qual emerge o antídoto da liberdade política liberal, mas sim uma característica persistente da história do liberalismo colonizador e do capitalismo colonial. A democracia liberal não é o antídoto do fascismo, mas sim sua condição de possibilidade. O governo fascista pode incluir, mas não se limita exclusivamente a, Estados autoritários ultranacionalistas. Dentro dos Estados liberais, ele anima a perda econômica e o abandono social, e armazena energias libidinais atávicas não resolvidas, liberadas pelas crises e crueldades da ordem social desigual, e as volta contra outros raciais, religiosos, sexuais e de gênero.

Toscano elabora ainda que podemos entender o fascismo como a constelação de formações reativas através de aparatos ideológicos e estatais, com o objetivo de manter ou sustentar uma ordem social em decadência. Ele não é separável dos colonialismos, mas sim intimamente interconectado tanto com o despossessão indígena histórica e contínua, quanto com o cativeiro e a escravidão nas plantations e a contrarrevolução; os fascismos se desdobram em oposição e em antecipação a rebeliões insurgentes que desafiam ou transformam o regime de propriedade existente, a partir dos povos, locais e regiões onde a ocupação e o governo tênue foram estabelecidos. Essa é a razão pela qual Toscano se baseia especialmente nas tradições radicais negras e anticoloniais para teorias incisivas sobre o fascismo — não apenas para evidenciar que reconhecemos mal o fascismo, se o limitarmos à Itália de Mussolini e à Alemanha de Hitler, mas também para argumentar que o fascismo é uma formação ancorada no capitalismo racial e colonial, que precede e persiste além do exemplo europeu. Entre as muitas contribuições valiosas do livro, é essa que abordo no restante dos meus comentários.
Pensadores anticoloniais têm sido os analistas mais incisivos dos fascismos. Em seu 
Discurso sobre o colonialismo, de 1950, o martinicano Aimé Césaire identificou as origens do fascismo no projeto de subjugação colonial ao afirmar que a Europa só conseguiu reconhecer a vergonha e a brutalidade da “humilhação do homem” quando empregadas pelos nazistas contra europeus brancos, algo que “até então havia sido reservado exclusivamente aos árabes da Argélia, aos coolies da Índia e aos negros da África”.1 Em Como a Europa subdesenvolveu a África, o guianês Walter Rodney escreveu que “o fascismo era um monstro nascido de pais capitalistas… o produto final de séculos de bestialidade capitalista, exploração, dominação e racismo exercidos fora da Europa”.2 O George Padmore, de Trinidad considerava o apartheid na África do Sul como o Estado fascista clássico, e o poeta afro-americano Langston Hughes frequentemente declarava que as condições enfrentadas pelos negros na América eram “fascistas”. Em outras palavras, antes que a violência nazista viesse a epitomar o fascismo, pensadores radicais negros já detalhavam fascismos associados à despossessão colonial e à escravidão racial.

Toscano invoca A Reconstrução Negra na América (1935), de W.E.B. Du Bois, como um texto-chave na análise do entrelaçamento entre fascismo e democracia liberal. Du Bois argumentou que a escravidão estava no cerne do capitalismo liberal moderno. A brutal mercantilização de seres humanos pela escravidão não apenas desmentia as reivindicações de democracia liberal dos EUA. A possibilidade de rebelião escrava também tinha a força para transformar o sistema de desigualdade racial violenta que tornava possível aos liberais falar em “liberdade universal”. Du Bois afirmou que a escravidão não era uma aberração da democracia liberal nos Estados Unidos; ela era, e continuou a ser, sistêmica e constitutiva da democracia norte-americana, e da extensão do poder dos Estados Unidos ao redor do mundo. O livro conta a história de meio milhão de trabalhadores negros que, por meio de seu êxodo massivo das plantations escravistas do sul, criaram um ambiente semelhante ao de greve geral. Ele paralisou o sistema de plantations, derrubou a Confederação e, forçou o Norte a assumir a abolição da escravidão como sua causa.

Mas A Reconstrução Negra acaba por relatar o que Du Bois chama de “contrarrevolução da propriedade”: o bloqueio da liberdade negra pela consolidação de uma aliança branca entre industriais do norte e oligarcas do sul, e a persuasão dos trabalhadores camponeses brancos a se afastarem de uma aliança inter-racial com os trabalhadores negros. A “contrarrevolução da propriedade” exemplificou precisamente uma formação fascista que sustentou o capital branco e a supremacia branca contra uma potencial “insurgência” que tinha o poder de acabar com a escravidão e o apartheid racial, e que poderia ter transformado uma ordem social construída sobre a acumulação por meio da subjugação de seres humanos cativos.

Toscano se concentra especialmente no que Cedric Robinson chamou de “construção negra do fascismo”. Ele mostra como teóricos sub-valorizados do fascismo norte-americano – desde os Panteras Negras no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, até os escritos e correspondências prisionais dos presos políticos Angela Davis e George Jackson. Ao fazê-lo, convida a repensar o debate teórico sobre o fascismo em relação à situação dos negros norte-americanos encarcerados sob o capitalismo racial. Como presos políticos, Davis e Jackson entendiam o fascismo como uma forma de contrarrevolução preventiva, usando estruturas carcerário-judiciais para suprimir ameaças percebidas à ordem social capitalista estruturada na dominação branca. Em outras palavras, os fascismos são sinais de crises do capitalismo racial e do excesso imperial, parasitando tanto as fraquezas da ordem político-econômica quanto a vulnerabilidade da oposição a ela. Toscano comenta que o fascismo é “reativo, não apenas em conteúdo social, mas em forma temporal – seja respondendo imediatamente a um potencial levante revolucionário triunfante ou, de forma mediada, a um desafio já derrotado ou em declínio”.

Ao entender que o capitalismo é inerentemente instável, podemos observar que ele entra em crise quando a contradição entre acumulação e exploração atinge um nível insustentável, expresso como superprodução, diminuição dos lucros e desemprego, por um lado, e o aumento das desigualdades de riqueza, segregação racial e policiamento de comunidades pobres e não-brancas, por outro. Nos Estados Unidos, essas contradições produziram dialeticamente antagonismos ao longo dos anos 1970 que irromperam em movimentos radicais de Poder Negro, Pardo, Amarelo e Vermelho, greves trabalhistas, rebeliões urbanas e movimentos sociais, desde feministas negras até anti-apartheid e anti-guerra. A eles, o Estado respondeu com o aumento da capacidade militar, policial e prisional do Estado. Ruth Wilson Gilmore nos ensinou muito sobre como essas contradições levaram à expansão do sistema prisional dos EUA nos anos 1980. Para justificar a si mesmo e seu monopólio da força, o Estado trabalhou ideologicamente para compelir a identificação com a cidadania multicultural, e puniu aquelas “ameaças” à segurança nacional dessa cidadania ao distinguir entre o uso “legítimo” da força pela polícia e pelas forças armadas, e a violência “ilegítima” da dissidência e da rebelião.

Embora a expansão das funções repressivas do Estado tenha multiplicado os espaços em que as comunidades são tornadas vulneráveis à violência estatal, tal violência não se restringe apenas ao encarceramento, militarização ou policiamento. Comunidades racializadas pobres, imigrantes e anteriormente colonizadas têm sido devastadas pela privatização neoliberal, desregulamentação e extrativismo que protegem corporações e minam a proteção do trabalho e do meio ambiente indígena; pela suburbanização e vigilância direcionada de espaços sociais urbanos; e pelos pânicos morais em torno do “crime urbano”, imigrantes, mulheres negras e não-brancas e comunidades queer. Essas, também, são operações relacionadas e implicadas na expansão do Estado carcerário dos EUA.

Angela Davis e George Jackson, em seus escritos e correspondências prisionais, discutem a expansão do sistema prisional pelo Estado norte-americano como uma forma exemplar de fascismo, combinando capitalismo monopolista, imperialismo e crises capitalistas com a supressão contrarrevolucionária da dissidência política. Em Late Fascism, Toscano discute uma das cartas da prisão de George Jackson, em Blood in my Eye (1972). Jackson escreve:

Quando sou entrevistado por um membro da velha guarda e aponto para o concreto e o aço, o minúsculo dispositivo eletrônico de escuta escondido na ventilação, a falange de capangas espiando-nos, seu gravador de plástico disfuncional que custou uma semana de trabalho, e aponto que tudo isso são manifestações de fascismo, ele invariavelmente tenta me refutar definindo o fascismo simplesmente como um assunto econômico-geopolítico onde se permite que apenas um partido exista e nenhuma atividade de oposição é permitida.

Jackson identifica a prisão como um aparato do fascismo a partir da perspectiva de um prisioneiro político negro acusado de atividade revolucionária armada, e logo em seguida assassinado por guardas prisionais. Como prisioneiro político negro, enquadrado como “ameaça” insurgente ao monopólio da força do Estado, Jackson escreve de forma transparente sobre a formação contrarrevolucionária do fascismo e enfatiza a materialidade do complexo industrial prisional, desde as tecnologias de vigilância até o trabalho desvalorizado do pessoal prisional. Jackson está comentando sobre o fascismo como o que Gilmore mais tarde chamaria de “reestruturação do Estado capitalista” enquanto ele tenta avançar mas fracassa. Gilmore enfatiza que a “solução prisional” do Estado racial americano do pós-guerra para o fracasso do capitalismo não é um fenômeno isolado. As decisões de construir prisões que encarceram desproporcionalmente homens e mulheres negros – e de investir em punição industrial, policiamento e militarismo em vez de bem-estar público, saúde ou escolas – foram centrais para uma reorganização estrutural do “cenário de acumulação e despossessão” do pós-guerra. Como observa Toscano, o fascismo não é apenas uma reestruturação contrarrevolucionária do Estado capitalista. Também é uma ação incipiente e antecipatória contra um acerto de contas adiado, suprimido ou em curso.

Alberto Toscano é um dos teóricos políticos mais significativos e originais da atualidade. Em Fascismo Tardio, ele lida com um vasto espectro do pensamento antifascista: de Ernst Bloch, George Bataille e Leo Lowenthal a Angela Davis e George Jackson; de Stuart Hall e Ruth Wilson Gilmore a Jairus Banerji e Furio Jesi. Os resultados são reveladores. Ao retratar o fascismo não como um monolito, mas como uma gama de respostas à crise colonial e capitalista racial, ele ajuda a desalojar o fascismo do impasse da analogia, fornecendo os recursos para entender efetivamente nosso presente histórico. Além disso, o exame de Toscano sobre a longa duração do fascismo refere-se à colonialidade do presente. Nas palavras de Cedric Robinson, ele “ressuscita eventos que foram sistematicamente apagados de nossa consciência intelectual”, e nos permite entender nossas condições presentes de uma nova maneira.

 

¨      Trump, crise  e derrotismo. Por Isis Mustafa        

A disseminação do medo é uma das melhores ferramentas que a burguesia fascista tem para impor seu poder político. Por vários motivos, mas principalmente porque o terror é eficaz em criar paralisia. Por medo de sofrer um assalto, as pessoas evitam sair de casa a noite; com receio da violência policial, recomenda-se que os jovens não participem de manifestações; é pelo medo da retaliação que se pensa duas vezes antes de levantar a voz contra uma injustiça no trabalho; dizem que é por medo de não conseguir aprovar seus projetos que o governo não está enfrentando a direita e o Centrão no Congresso Nacional.

Desse ponto de vista, a ofensiva após a vitória eleitoral de Donald Trump certamente tem como um de seus objetivos afirmar a dominação do império norte-americano para impor medo ao mundo, com medidas que, além de bastante radicais, estão sendo decretadas sem vacilações, como quem diz ser o todo-poderoso, o implacável, o imperador. 

Quem manda são os ricaços 

A fotografia da posse de Trump ao lado dos magnatas da Amazon, Google, Meta, Apple, X e até da chinesa Tiktok mostra o compromisso deste segundo mandato: servir aos interesses dos homens mais ricos e alguns dos principais expoentes da burguesia mundial. 

Exemplo disso é que o nazista Elon Musk, patrocinador bastante generoso da campanha de Trump, será o novo conselheiro do presidente, com a criação do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), que tem como objetivo, nas suas palavras, “expor o desperdício insano e a corrupção governamental”. De fato, Musk fez um ótimo investimento e agora está muito bem localizado para beneficiar os negócios das suas empresas com o Estado.

Vale observar que as taxações têm como alvo as mercadorias e matéria-prima de países dependentes, uma tática para forçar negociação de políticas anti-imigratórias e outras ações xenofóbicas, além de aumentar o protecionismo da indústria interna, ao mesmo tempo que impõe maior tensão com outros imperialistas. É a radicalidade do fascismo colocando a casa em ordem para as gigantes estadunidenses.

<><> Falsa saída para a crise 

Trump está transformando o seu conhecido discurso nazista, racista, misógino e homofóbico em medidas concretas com a política de guerra, os decretos anti-imigrantes e a caça aos direitos sociais. 

Mas da mesma forma que a bravata fascista não é novidade, as verdades que tenta esconder também não são. O fato é que se faz necessário eleger responsáveis pela crise econômica, social e moral dos EUA, ao mesmo tempo em que se afirma na disputa pela hegemonia mundial. 

E que baita crise! O salário mínimo no país é um verdadeiro salário de fome e estudo do Bank do America Institute mostra que 30% das famílias gastam cerca de 95% da renda mensal em moradia e alimentação; além disso, em 2024 existiam 771.480 norte-americanos em situação de rua, sendo 150 mil crianças e adolescentes.

A revolta cresce e crescem também os choques de classe. Greves em gigantes como Amazon e Starbucks estouraram no último ano. Em outubro, os operários portuários cruzaram os braços e conquistaram 62% de aumento salarial, seguindo o exemplo dos 350 mil trabalhadores da indústria automobilística que no ano anterior paralisaram durante três meses. 

Em 1935, no 7º Congresso da Internacional Comunista, um comunista búlgaro chamado Georgi Dimitrov pronunciou o histórico discurso “Unidade Operária Contra o Fascismo”, onde previa a aproximação da guerra mundial e alertava: “o fascismo consegue atrair para si as massas, porque apela de forma demagógica para suas necessidades e exigências mais candentes. O fascismo não só instiga os preconceitos profundamente arraigados nas massas, como especula também com os melhores sentimentos destas, com sua sede de justiça […]

Responsabilizar imigrantes e LGBTs pela frustração americana é uma questão de sobrevivência. Fica evidente que a vitória de Trump é a necessidade histórica de um sistema caduco, respirando por aparelhos, mas bastante feroz. 

<><> O imperialismo não é invencível

Mas esse clima de medo não depende só do agressor: o derrotismo que impera nas análises de parte da esquerda contribui diretamente para o imobilismo. Para eles, a ordem é não enfurecer o invencível Trump. O que está por trás desse discurso é a mesma lógica que desmobilizou os atos por prisão de Bolsonaro e os generais golpistas que aconteceriam em 8 de janeiro deste ano para não provocar os militares. Alegando que está muito difícil mobilizar a classe trabalhadora, conduzem o movimento para o pântano.

Enquanto isso, a direita está convocando novos atos golpistas para março. Ou seja, do lado de lá eles mantêm a ofensiva.

Por isso, acredito que o caminho é espelhar nossas ações naquilo que mobiliza os combatentes da resistência Palestina: consciência sobre os limites eminentes do imperialismo capitalista e da consequente força do povo que luta. É preciso sair debaixo da cama e ir ao trabalho, aumentar a organização popular, canalizando a revolta contra as injustiças e dificuldades da vida para fortalecer a via revolucionária. Caso contrário, deixaremos as ruas para a direita, mais uma vez. Sem suor e sem trabalho, nenhuma obra se completa

 

Fonte: Verso Books | Tradução: Antonio Martins, em Outras Palavras/Opera Mundi 

 

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