quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Plano golpista: Cid pediu pena máxima de 2 anos e proteção para contar o que sabia

Ao firmar o acordo de delação premiada com a Polícia Federal, o tenente-coronel Mauro Barbosa Cid – ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro – indicou quais benefícios pretendia obter com a colaboração.

As informações constam na íntegra do acordo, cujo sigilo foi derrubado nesta quarta-feira (19) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

>>> Em troca das informações, Mauro Cid pediu:

·        que suas condenações pelo envolvimento nos crimes apurados sejam perdoadas, ou que a pena de prisão seja de no máximo 2 anos;

·        que bens e valores apreendidos com o militar sejam restituídos;

·        que os benefícios sejam estendidos ao pai, à esposa e à filha mais velha de Mauro Cid;

·        que a Polícia Federal garanta a segurança de Mauro Cid e familiares.

Os benefícios são concedidos ao longo do tempo, e podem ser revogados se o acordo de delação for rescindido, por exemplo.

A lei brasileira diz que, se o acordo de delação foi rescindido por alguma falha do delator, os benefícios são retirados – mas as informações prestadas nos depoimentos continuam válidas para a Justiça.

Em novembro de 2024, por exemplo, Moraes chegou a pedir esclarecimentos de Mauro Cid sobre inconsistências na delação para avaliar a validade do acordo. Cid prestou informações adicionais, e a delação foi mantida.

·        Os 'deveres' de Mauro Cid

Em troca desses benefícios, Mauro Cid se comprometeu a:

·        esclarecer "todos os crimes que praticou, participou ou tenha conhecimento" no âmbito dos inquéritos;

·        falar a verdade "incondicionalmente em todas as investigações';

·        cooperar com a Polícia Federal para "analisar documentos e provas, reconhecer pessoas, prestar depoimentos e auxiliar peritos";

·        entregar "todos os documentos, papéis, escritos, fotografias, gravações de sinais de áudio e vídeo, banco de dados, arquivos eletrônicos, senhas de acesso etc."

·        indicar o nome e os contatos de qualquer pessoa que tenha elementos ou provas úteis;

·        afastar-se de "toda e qualquer atividade criminosa, especificamente não vindo mais a contribuir, de qualquer forma, com as atividades da organização criminosa investigada";

·        comunicar imediatamente à PF se for contatado por qualquer investigado.

¨      Grupo moderado temia que radicais levassem Bolsonaro a assinar 'doideira', diz Mauro Cid em delação

Os apoiadores de Jair Bolsonaro considerados moderados temiam que a ala mais radical levasse o presidente a assinar uma "doidera", revelou Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, em delação premiada. O sigilo da delação foi derrubado nesta quarta-feira (19) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

"Esse grupo temia que o grupo radical trouxesse um assessoramento e levasse o presidente Jair Bolsonaro a assinar uma 'doidera'. (...) Estavam preocupados com o grupo radical que estava tentando convencer o então presidente a fazer alguma coisa, um golpe", diz um trecho da delação.

Cid contou que, após o resultado das eleições de 2022, Jair Bolsonaro passou a receber diversas pessoas no Palácio da Alvorada que o aconselhavam. Os apoiadores se dividiam em três grupos: conservadores, moderados e radicais.

>>>> Veja abaixo quem pertencia a cada grupo e como atuavam:

<><> Conservadores:

·        Senador Flávio Bolsonaro

·        AGU Bruno Bianco

·        Ciro Nogueira (então Ministro da Casa Civil)

·        Brigadeiro Batista Júnior (então Comandante da Aeronáutica)

Grupo aconselhava Bolsonaro a se colocar como um grande líder da oposição e mandar o povo que estava nos quartéis para casa.

<><> Moderados

Acreditavam que o país estava passando por abusos jurídicos e não concordavam com "a condução das relações institucionais", mas entendiam que nada poderia ser feito diante do resultado das eleições.

Este grupo se subdividia em dois. O primeiro grupo era formado generais da ativa que tinham mais contato com Bolsonaro:

·        General Freire Gomes (Comandante do Exército)

·        General Arruda ( Chefe do DEC - Departamento de Engenharia e Construção)

·        General Teófilo (Comando de Operações Terrestres)

·        General Paulo Sérgio (então Ministro da Defesa)

Havia ainda um outro grupo de moderados que entendia que Bolsonaro devia sair do país. Faziam parte:

·        Paulo Junqueira - empresário do agronegócio que financiou a viagem de Bolsonaro para os EUA

·        Naban Garcia

·        Senador Magno Malta (que também transitava no grupo mais radical, mas acreditava que Bolsonaro deveria deixar o país)

Radicais

Ala mais radical também se dividia em dois grupos. No primeiro, estavam os "menos radicais", que queriam encontrar uma fraude nas urnas. De acordo com Cid, era o grupo mais pressionado por Bolsonaro. Estavam neste grupo:

·        General Pazzuelo

·        Valdemar Costa Neto (presidente do PL)

·        Major Denicole

·        Senador Heinz

Já a ala mais radical era a favor de um braço armado e incentivava o golpe de estado. "[ala] queria que ele assinasse o decreto; acreditavam que quando o Presidente desse a ordem, ele teria apoio do povo e dos CACs", diz um trecho da delação de Mauro Cid.

De acordo com a delação, este não era um grupo organizado, mas pessoas que se encontravam esporadicamente com Bolsonaro. Faziam parte:

·        Felipe Martins

·        Onyx Lorenzoni

·        Senador Jorge Seiff

·        Gilson Machado

·        Senador Magno Malta

·        Deputado Eduardo Bolsonaro

·        General Mario Fernandes

·        Michelle Bolsonaro

¨      Mauro Cid contou em delação que Flávio Bolsonaro era contra o golpe e Eduardo, a favor

Os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), discordavam sobre qual deveria ser a reação do pai após a derrota nas eleições de 2022. Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, contou em delação premiada que Flávio era contra um golpe de Estado, enquanto Eduardo apoiava a ideia.

sigilo da delação foi derrubado nesta quarta-feira (19) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Segundo o delator, Flávio fazia parte de um grupo conservador que defendia aceitar o resultado das eleições em vez de tentar revertê-lo. Os conservadores aconselhavam Bolsonaro a assumir o papel de líder da oposição, considerando essa a estratégia mais eficaz diante do cenário político.

“[Mauro Cid diz] que tinha um grupo bem conservador, de linha bem política; que [o grupo] aconselhava o presidente [Bolsonaro] a mandar o povo para casa e a colocar-se como um grande líder da oposição; que diziam que o povo só queria um direcionamento; que para onde o presidente mandasse, o povo iria”, indica a delação.

Um outro grupo, chamado por Cid de “radical”, era subdividido em duas alas: a "menos radical", que buscava encontrar indícios de fraude nas urnas eletrônicas para justificar uma contestação do resultado, e a “mais radical”, que defendia a ideia de um golpe de Estado por meio de um decreto. Eduardo estaria entre os mais radicais, segundo o delator.

O grupo pró-golpe acreditava que Bolsonaro teria apoio popular caso decidisse manter-se no poder e que, “quando desse a ordem”, também seria apoiado por CACs (Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores). A ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, também fazia parte desse grupo, segundo Mauro Cid.

¨      Mauro Cid: Michelle instigou Bolsonaro de "forma ostensiva" a dar golpe de Estado

Em sua delação premiada à Polícia Federal, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), afirmou que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro atuou ativamente para convencer o então presidente a realizar um golpe de Estado. Segundo ele, Michelle integrava um grupo de aliados que pressionavam Bolsonaro de "forma ostensiva". O sigilo da delação de Mauro Cid foi derrubado nesta quarta-feira (19) pelo ministro do Supremo Tribunal (STF) Alexandre de Moraes.

Segundo o Metrópoles, nas quase 500 páginas de informações entregues às autoridades, Cid detalhou que essa ala mais radical era composta por nomes como Onyx Lorenzoni, Jorge Seiff, Gilson Machado, Magno Malta, Eduardo Bolsonaro e o general Mario Fernandes, secretário-executivo do general Luiz Eduardo Ramos, além da própria ex-primeira-dama.

 “O general Mario Fernandes atuava de forma ostensiva, tentando convencer os demais integrantes das forças a executarem um golpe de Estado. Compunha também o referido grupo a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Tais pessoas conversavam constantemente com o ex-presidente, instigando-o para dar um golpe de Estado. Eles afirmavam que o ex-presidente tinha o apoio do povo e dos CACs para dar o golpe”, declarou Cid na sua delação, de acordo com a reportagem.

Em novembro de 2023, quando um trecho da delação foi divulgado pela imprensa, o advogado de Bolsonaro e Michelle, Paulo Cunha Bueno, classificou as alegações como "absurdas e sem qualquer amparo na verdade e, via de efeito, em elementos de prova". Segundo ele, o ex-presidente e sua família "jamais estiveram conectados a movimentos que projetassem a ruptura institucional do país".

O deputado federal Eduardo Bolsonaro também negou envolvimento: “Querer envolver meu nome nessa narrativa não passa de fantasia, devaneio”, afirmou.

A retirada do sigilo da delação ocorre um dia após Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas serem denunciadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O ex-mandatário é acusado de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.

A delação de Mauro Cid serviu como um dos principais elementos para as investigações que resultaram na denúncia. Bolsonaro e os demais acusados também foram indiciados por dano qualificado, devido a atos de violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, causando prejuízo significativo e deterioração de bens públicos.

¨      Cid diz em delação que blindou Braga Netto em um primeiro momento por 'hierarquia'

O tenente-coronel Mauro Barbosa Cid afirmou, em depoimento no âmbito do acordo de delação premiada com a Polícia Federal, que blindou o ex-ministro Braga Netto em suas primeiras declarações por questões de hierarquia.

Braga Netto é general do Exército – a patente mais alta da Força Armada, bem superior à de Mauro Cid.

Em um dos depoimentos da delação, o delegado da Polícia Federal Fábio Shor pergunta a Mauro Cid por que ele não tinha citado a "participação efetiva" de Braga Netto nos planos, "especialmente no financiamento dos militares".

🔎 Braga Netto foi ministro da Defesa e candidato à vice-presidência na chapa de reeleição de Bolsonaro. Foi na casa do general, inclusive, que militares se reuniram em 2022 para tramar etapas seguintes do plano, segundo a investigação da PF.

Mauro Cid diz que não tinha "receio" de Braga Netto, mas sim, um respeito pela hierarquia.

"Não por causa disso [receio] efetivamente, mas pelo respeito que a gente tem com uma autoridade, um general Quatro Estrelas, que às vezes é muito caro, dosa muitas palavras para evitar estar acusando ou falando de uma autoridade, ainda mais um general Quatro Estrelas. [...] Mais pelo íntimo interno, do ethos militar", responde Cid.

🔎 Cid foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro ao longo de quase todo o mandato, e firmou delação premiada com a Polícia Federal para prestar informações em diversos inquéritos, incluindo o da tentativa de golpe de Estado.

🔎 Na terça-feira (18), a Procuradoria-Geral da República denunciou Jair Bolsonaro e outros 33 suspeitos de terem arquitetado uma tentativa de golpe entre 2021 e janeiro de 2023 para impedir a derrota de Bolsonaro nas urnas e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

🔎 O sigilo da delação de Mauro Cid foi derrubado pelo relator dos inquéritos, Alexandre de Moraes, nesta quarta.

¨      Cid confirma que recebeu dinheiro de Braga Netto no Alvorada

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), confirmou ter recebido do ex-ministro da Casa Civil e da Defesa Braga Netto dinheiro, dentro de uma sacola de vinho, no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República.

A afirmação do militar está em um dos depoimentos que Cid prestou a autoridades no contexto de sua colaboração premiada homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF).

"O general Braga Netto me entregou o dinheiro, eu tenho quase certeza que foi no Alvorada, até me lembro que eu botei na minha mesa ali na biblioteca do Alvorada e depois o [Rafael Martins] de Oliveira veio buscar o dinheiro comigo na próprio Alvorada", contou Cid na ocasião.

O ex-ajudante de ordens, contudo, afirmou não se lembrar o dia, ou saber da quantia no pacote.

"Eu não sei dizer o valor porque estava na casa, estava lacrado, não mexi, porque ele me entregou eu passei para ele", completou Cid.

Em outro momento do depoimento, Cid descreveu o pacote que recebeu de Braga Netto.

"Ele me entregou um, era tipo uma coisinha de vinho assim, de presente de vinho, com dinheiro. Eu não contei, não sei quanto, estava grampeado e, aí, o [Rafael Martins] de Oliveira veio buscar o dinheiro. Então, eu peguei o dinheiro e passei para o [Rafael Martins] de Oliveira", prosseguiu.

O tenente-coronel mencionou também a reunião realizada em 28 de novembro de 2022, com oficiais formados no Curso de Forças Especiais – os chamados "kids pretos".

Segundo Cid, no encontro havia "militares mais exaltados, outros menos", mas ele não soube dizer quem estava em cada lado.

 

Fonte: g1 

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