Tratamento a
Bolsonaro e Trump é 'contraste marcante' entre Brasil e EUA, dizem jornais
americanos
Vários jornais fora
do Brasil deram destaque à denúncia das
autoridades brasileiras contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por um
suposto plano de golpe de Estado após ter perdido a eleição de 2022 para o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Bolsonaro foi
denunciado criminalmente na terça-feira (18/2) pela Procuradoria-Geral da
República. A denúncia ainda
precisa ser aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que, segundo
vários órgãos de imprensa brasileiros e estrangeiros, deve ocorrer na primeira
metade deste ano.
Nos EUA, os
principais jornais do país destacaram o contraste do tratamento dado pelas
autoridades a Bolsonaro com o que aconteceu com o presidente americano, Donald Trump, nos EUA.
O New York Times
escreve que, caso a denúncia contra Bolsonaro seja aceita, "os brasileiros
poderão assistir a um julgamento televisionado no Supremo Tribunal Federal que
pode acabar fazendo de Bolsonaro seu terceiro presidente (após Lula e Michel
Temer) nos últimos oito anos a ser enviado para a prisão."
"Isso
proporcionaria um contraste marcante com os Estados Unidos. Bolsonaro e Trump
foram ambos indiciados por acusações de fazer pressão para anular eleições. Mas
o caso de Trump foi arquivado quando ele retornou ao poder, enquanto Bolsonaro
está talvez em seu ponto político mais fraco até agora", diz o jornal
americano.
"Enquanto a
Suprema Corte dos EUA decidiu que Trump estava amplamente imune a processos por
suas ações como presidente, a Suprema Corte do Brasil agiu agressivamente
contra Bolsonaro e seu movimento de direita."
"O tribunal
supervisionou investigações, ordenou prisões e censurou vários dos apoiadores
de Bolsonaro nas redes sociais, argumentando que as ações antidemocráticas de
seu movimento exigiam uma resposta extraordinária. Agora, os 11 juízes do
tribunal poderão decidir o destino de Bolsonaro."
O New York Times ainda
escreve que "as acusações, apresentadas em um documento de 272 páginas,
sugerem que o Brasil chegou muito perto de mergulhar de volta, na verdade, em
uma ditadura militar após quase quatro décadas de sua democracia moderna".
"As acusações
são o capítulo mais recente de uma saga de anos para o Brasil que incluiu o
descrédito de Bolsonaro dos sistemas de votação do país; uma eleição tensa na
qual Bolsonaro nunca aceitou totalmente a derrota; uma invasão dos corredores
do poder por seus apoiadores; e uma investigação de alto nível que levou seu
companheiro de chapa [o general Braga Netto] à prisão desde dezembro."
·
'Tarifas
comerciais para pressionar o Brasil'
O Wall Street
Journal destacou que Bolsonaro é "um dos aliados mais próximos do
presidente Trump na América Latina" e levantou a possibilidade de o
governo Trump usar tarifas comerciais para pressionar o Brasil em favor de
Bolsonaro.
"Em entrevista
ao The Wall Street Journal em novembro, Bolsonaro disse que está contando com o
apoio do governo Trump para poder concorrer na próxima eleição presidencial do
Brasil em 2026 e retornar ao poder", disse o jornal.
"É amplamente
esperado que o Supremo Tribunal Federal do Brasil aceite as acusações, o que
daria início a um longo julgamento que, segundo cientistas políticos, deve
aprofundar as tensões políticas no país."
"Embora
Bolsonaro tenha sido impedido de concorrer a um cargo até 2030, ele disse ao
[Wall Street] Journal no ano passado que acreditava que Trump poderia aplicar
sanções econômicas contra o governo de Lula para ajudá-lo."
"Trump não
respondeu publicamente aos apelos de Bolsonaro. Mas pessoas próximas ao governo
Trump disseram que o presidente está aberto a usar tarifas comerciais para
pressionar o Brasil e outros países que ele vê como praticantes de algum tipo
de guerra jurídica de esquerda, usando tribunais para derrubar oponentes."
O Washington Post
também destacou o contraste entre o tratamento dado por Brasil e EUA a
Bolsonaro e Trump respectivamente.
"A decisão do
Brasil de investigar e, finalmente, acusar Bolsonaro por seu papel na tentativa
de subverter as instituições eleitorais do país — culminando, em última
análise, em um ataque violento à sua capital — marcou um forte contraste com as
consequências da insurreição de 6 de janeiro nos Estados Unidos, onde o
presidente Donald Trump evitou amplamente as consequências", diz o
Washington Post.
"Após seu
retorno à Casa Branca, Trump rapidamente perdoou praticamente todos os
envolvidos no tumulto de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio dos EUA."
As denúncias contra
Bolsonaro também repercutiram em outros países.
O jornal britânico
The Guardian disse que "talvez o mais chocante seja que o relatório de 272
páginas do procurador-geral alegou que Bolsonaro estava ciente de uma suposta
conspiração - que, segundo ele, 'recebeu o nome sinistro de 'Punhal Verde
Amarelo' - para semear o caos político por meio do assassinato de autoridades
importantes, incluindo Lula e o juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de
Moraes."
Segundo o Guardian,
especialistas dizem que Bolsonaro pode pegar entre 38 e 43 anos de prisão se
condenado.
O Financial Times,
de Londres, também destacou que, se condenado, "Bolsonaro, um aliado do
presidente dos EUA, Donald Trump, pode enfrentar uma longa pena de
prisão".
"Bolsonaro, um
ex-capitão do exército e queridinho do movimento de direita do Brasil, já se
pintou como vítima de perseguição política. Ele já foi declarado inelegível
para concorrer a cargos públicos até 2030 por causa de ataques ao sistema
eleitoral do país."
Na Argentina, o La
Nación também destacou a denúncia contra Bolsonaro. O jornal também noticiou
que o único cidadão argentino que estava entre os investigados não foi
denunciado.
"Após os
incidentes, a promotoria incluiu na lista de réus o argentino Fernando Cerimedo,
especialista em marketing digital que foi consultor político do presidente
Javier Milei quando ele estava começando na política. Próximo da família
Bolsonaro, ele foi acusado de espalhar informações falsas durante transmissões
online sobre a apuração dos votos na eleição presidencial de 2022", afirma
o La Nación.
"No entanto,
Cerimedo foi excluído da investigação, por isso se manifestou em suas redes
sociais: 'Por fim e como sempre afirmei, nunca participei de nenhuma tentativa
de golpe no Brasil. Hoje o Ministério Público me excluiu da denúncia por não
ter relação com aquele suposto evento.'"
¨ Como Bolsonaro e aliados reagiram à denúncia da PGR
contra o ex-presidente
O
ex-presidente Jair Bolsonaro foi denunciado
criminalmente na terça-feira (18/2) pela Procuradoria-Geral da República (PGR),
acusado de ter liderado um suposto plano de golpe de Estado após ter perdido a
eleição de 2022 para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Outras 33 pessoas
foram denunciadas com ele, incluindo seu ex-ministro da Casa Civil, general Braga Netto, que concorreu a
vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022.
Bolsonaro
demonstrou surpresa ao ser informado sobre as acusações feitas contra ele pela
Procuradoria-Geral da República (PGR) no chamado inquérito do golpe, segundo
nota de sua defesa destinada à imprensa.
"A defesa do
Presidente Jair Bolsonaro recebe com estarrecimento e indignação a denúncia da
Procuradoria-Geral da República, divulgada hoje pela mídia, por uma suposta
participação num alegado golpe de Estado.
O Presidente jamais
compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado
Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam.
A despeito dos
quase dois anos de investigações — período em que foi alvo de exaustivas
diligências investigatórias, amplamente suportadas por medidas cautelares de cunho
invasivo, contemplando, inclusive, a custódia preventiva de apoiadores próximos
—, nenhum elemento que conectasse minimamente o Presidente à narrativa
construída na denúncia, foi encontrado.
Não há qualquer
mensagem do Presidente da República que embase a acusação, apesar de uma
verdadeira devassa que foi feita em seus telefones pessoais.
A inepta denúncia
chega ao cúmulo de lhe atribuir participação em planos contraditórios entre si
e baseada numa única delação premiada, diversas vezes alteradas, por um delator
que questiona a sua própria voluntariedade. Não por acaso ele mudou sua versão
por inúmeras vezes para construir uma narrativa fantasiosa.
O Presidente Jair
Bolsonaro confia na Justiça e, portanto, acredita que essa denúncia não
prevalecerá por sua precariedade, incoerência e ausência de fatos verídicos que
a sustentem perante o Judiciário."
A defesa de Braga
Netto classificou a denúncia de "fantasiosa" e reclamou de violações
de direitos nas investigações.
Ele é acusado de
ser um dos integrantes do "núcleo crucial da organização criminosa",
de onde teriam partido decisões e ações do plano golpista.
"O General
Braga Betto está preso há mais de 60 dias e ainda não teve amplo acesso aos
autos, encontra-se preso em razão de uma delação premiada que não lhe foi
permitido conhecer e contraditar", diz nota divulgada por sua defesa.
"Além disso, o
General Braga Netto teve o seu pedido para prestar esclarecimentos sumariamente
ignorado pela PF e pelo MPF, demonstrando o desprezo por uma apuração
criteriosa e imparcial", continuam os advogados.
"É
inadmissível numa democracia, no Estado Democrático de Direito, tantas
violações ao direito de defesa serem feitas de maneira escancarada",
argumentam ainda.
Fabio Wajngarten,
ex-secretário de Comunicação do governo Jair Bolsonaro e advogado informal do
ex-presidente, reagiu à denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) com
uma provocação.
"Considerando
que o presidente Valdemar Costa Neto não foi denunciado e, portanto, não é mais
investigado, amanhã ele já pode voltar a conversar com o presidente Jair
Bolsonaro? Vamos fazer o PL ainda MAIOR? 2026 é logo ali. Vai ser
ATROPELO", escreveu Wajngarten em seu perfil no X, antigo Twitter.
Costa Neto e
Bolsonaro tinham sido proibidos de se comunicar por ordem do ministro Alexandre
de Moraes, já que ambos estavam sendo investigados no inquérito do golpe.
O filho do
ex-presidente e senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) classificou a denúncia como
"vazia" e alegou falta de provas contra seu pai.
"A tentativa
de golpe em prédios públicos vazios virou uma denúncia vazia, sem absolutamente
nenhuma prova contra Bolsonaro. Mesmo depois de Alexandre de Moraes ter
esculachado o Ministério Público Federal na fabricação dos inquéritos e
torturado Mauro Cid para 'delatar' o que não existiu, o PGR se rebaixa."
"A rapidez com
que a Polícia Federal concluiu o inquérito e enviou o relatório ao STF, sem a
devida observância dos direitos constitucionais ao contraditório e à ampla
defesa, levanta dúvidas sobre a imparcialidade e a isenção necessárias em
investigações desse tipo", declarou em comunicado.
Deputados do PL,
como Carlos Jordy (PL-RJ) e Eli Borges (PL-TO) minimizaram a denúncia,
classificando-a como 'encomendada' e 'sem risco de danificar imagem de
Bolsonaro'. Zucco (PL-RS), também deputado, afirmou que a denúncia "carece
de fundamentação jurídica sólida e parece baseada em interpretações
subjetivas".
<><> A
denúncia
A denúncia da
Procuradoria-Geral da República acusa Bolsonaro de ter liderado um suposto
plano de golpe de Estado após ter perdido a eleição de 2022 para o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Agora, a Primeira
Turma do Superior Tribunal Federal (STF), formada por cinco membros da corte,
vai analisar se aceita a denúncia e abre um processo contra o ex-presidente —
mas não há um prazo para essa decisão.
Integram essa Turma
os ministros Alexandre de Moraes (relator do caso), Cármen Lúcia, Luiz Fux,
Cristiano Zanin e Flávio Dino.
A PGR pede que
Bolsonaro responda pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado
Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado pela
violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de
patrimônio tombado.
¨ Bolsonaro pode ser preso?
O
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi denunciado nesta
terça-feira (18/02) pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sob acusação
de tentativa de golpe de Estado e outros crimes, mas isso não significa que ele
tenha se tornado réu, ou sido condenado por um crime ou que será preso
imediatamente.
A acusação formal
contra Bolsonaro foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) e agora há
uma série de etapas a serem percorridas entre a denúncia em si e eventuais
processo judicial, condenação e prisão.
Uma pessoa só pode
cumprir pena na prisão no final de um processo, caso haja condenação e tenham
se esgotado todas as possibilidades de recurso.
Existe ainda a
possibilidade de uma pessoa ser presa antes disso, mas apenas se for detida em
flagrante ou se a Justiça entender que ela apresenta um perigo imediato para a
sociedade ou pode atrapalhar o andamento do processo.
No momento, o
próximo passo após a denúncia da PGR será a análise por parte do ministro Alexandre
de Moraes,
do Supremo Tribunal
Federal (STF).
Ele é o relator de
inquéritos que investigam movimentos e atos golpistas — Bolsonaro e outros 33
denunciados são acusados, entre outros crimes, de organização criminosa armada,
tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de
Estado.
Depois de analisar
e ouvir as partes envolvidas, Moraes vai decidir se aceita ou não a abertura de
um processo contra Bolsonaro e os demais denunciados. Não há prazo para isso.
Se aceita a
denúncia, o caso seguiria para a análise da Primeira Turma do STF — formada
por, além de Moraes, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Flávio Dino.
Se a maioria dos
ministros da turma aceitar a denúncia, os acusados se tornam oficialmente réus
e começa um processo criminal contra eles.
Após o processo
correr e serem apresentadas as alegações finais da acusação e da defesa - ou
seja seus argumentos finais -, a Primeira Turma decidiria se condena ou não os
acusados.
Normalmente um réu,
caso condenado, tem direito a recorrer à segunda instância da Justiça, ao
Superior Tribunal de Justiça (STJ) e, em alguns casos, ao STF.
Entretanto, um
eventual processo envolvendo Bolsonaro já correria no Supremo, que já é a mais
alta instância da Justiça. Ou seja, possíveis réus nesse caso até poderiam
apresentar recursos no próprio STF, mas não seria possível recorrer a outra
instância.
Esses inquéritos e
denúncias estão tramitando na STF porque a maioria dos ministros entendeu que
acusações de ataques às instituições democráticas, como os atos de 8 de janeiro de
2023,
devem ser analisadas pela Corte constitucional.
Após a divulgação
da denúncia, a defesa de Bolsonaro afirmou ter recebido "com
estarrecimento e indignação" a notícia.
"A despeito
dos quase dois anos de investigações — período em que foi alvo de exaustivas
diligências investigatórias, amplamente suportadas por medidas cautelares de
cunho invasivo, contemplando, inclusive, a custódia preventiva de apoiadores
próximos —, nenhum elemento que conectasse minimamente o Presidente à narrativa
construída na denúncia, foi encontrado", diz a defesa.
"O presidente
jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado
Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam", assegura nota
representando o ex-presidente.
¨ Empresa de Trump entra com processo contra Alexandre de
Moraes após denúncia contra Bolsonaro, diz NYT
O jornal americano
The New York Times noticiou nesta quarta-feira (19/2) que a empresa de mídia do
presidente americano, Donald Trump, está processando o ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, por censurar de forma ilegal vozes
de direita nas redes sociais.
Segundo o jornal, o
grupo empresarial Trump Media & Technology Group, do qual Trump é dono
majoritário, processou Moraes em um tribunal federal em Tampa, cidade americana
no Estado da Flórida, na manhã desta quarta-feira.
A Trump Media &
Technology Group administra a Truth Social, a rede social de Trump. O jornal
diz ainda que a Rumble, uma plataforma de vídeo baseada na Flórida, também se
juntou ao grupo de Trump no processo. Ambas as plataformas dizem pregar a
liberdade de expressão.
As empresas estão
acusando Moraes de censurar discursos políticos nos EUA ao infringir a Primeira
Emenda da Constituição americana (que trata da liberdade de expressão) por ter ordenado
a Rumble a retirar contas de alguns comentaristas de direita do Brasil.
"A medida
incomum ficou ainda mais extraordinária dado o momento escolhido: apenas horas
antes, o juiz brasileiro havia recebido uma denúncia que pode obrigá-lo a
emitir uma ordem de prisão contra Jair Bolsonaro, o ex-presidente brasileiro e
aliado de Trump", afirma o jornal em uma reportagem, em referência às
denúncias apresentadas contra Bolsonaro.
Bolsonaro foi
denunciado criminalmente na terça-feira (18/2) pela Procuradoria-Geral da
República (PGR), acusado de ter liderado um suposto plano de golpe de Estado
após ter perdido a eleição de 2022 para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
As empresas alegam
que as ordens de Moraes podem afetar a forma como as contas "censuradas"
aparecem nos EUA, o que seria uma infração da lei americana.
A empresa de Trump
não está sujeita às ordens de Moraes. Mas o grupo alega no processo que usa
tecnologias da Rumble, e que poderia ser afetada pelas decisões.
O New York Times
disse que a porta-voz de Moraes não se pronunciou sobre o assunto.
Fonte: BBC News
Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário