quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Jair de Souza: O papel de Lula e a mobilização popular

A partir da divulgação de levantamentos de opinião realizados por alguns institutos de sondagem, acenderam-se várias luzes de alerta prognosticando incertezas para o futuro próximo.

Quanto a isto, julgo de fundamental relevância que tenhamos clareza sobre uma questão: na conjuntura em que estamos no momento, Lula ainda é o mais expressivo trunfo com que o povo brasileiro conta para impedir que a extrema direita bolsonarista, ou alguma de suas variantes limpinha e cheirosa, retorne ao comando do aparelho de Estado no Brasil no próximo pleito eleitoral.

O debilitamento do atual governo no momento e nas condições em que estamos só favorecerá os eternos inimigos viscerais da imensa maioria de nossa população, ou seja, os setores mais reacionários de nossas classes dominantes.

Por isso, é importante que todos os que se sentem vinculados às aspirações populares entendam que contribuir para socavar as bases de sustentação do atual governo equivale efetivamente a ajudar essas forças ultrarreacionárias a alcançar seu propósito.

Por outro lado, também não me parece correto que, visto a indispensabilidade de Lula para que o aparelho de Estado não caia novamente nas mãos do que há de mais retrógrado entre nossas oligarquias entreguistas, a militância de esquerda se veja coagida de tecer críticas à gestão governamental, mesmo nos casos em que são tomadas decisões que contrariam os interesses das massas trabalhadoras.

É que em um governo de frente ampla cada um dos setores que compõem seu amplo espectro tratará de pressioná-lo no sentido de que suas prioridades sejam atendidas ao máximo possível.

Assim, as divergências de enfoques e de objetivos não se extinguem no seio deste bloco de sustentação, ou seja, permanece válida a conhecida luta de classes e suas consequências.

Então, quanto menos pressão houver por parte das forças do campo popular, mais voltado aos anseios dos outros integrantes da frente o governo será.

Se partirmos do princípio que nossa proposta é a edificação de uma nova sociedade, na qual os valores e interesses coletivos do conjunto dos trabalhadores sejam predominantes, concluiremos que tal objetivo não poderá ser atingido tão somente em função da genialidade, da boa vontade e da disposição de um líder.

Sem a participação ativa, efetiva e consciente dos principais beneficiários de um projeto desta magnitude, a possibilidade de sua concretização é quase que nula.

Por isso, a constatação de que todas as expectativas de mudanças em favor do povo ainda dependem essencialmente da figura de Lula é um indício de que o trabalho de conscientização e organização das bases não tem sido executado como deveria ser. A falta de autonomia do campo popular e sua inteira dependência das decisões de seu principal condutor é muito mais um indicativo de debilidade do que de fortaleza.

Evidentemente, algo não foi encaminhado como deveria ter sido. Esta é a conclusão a extrair ao constatar que nem os principais partidos de esquerda, nem suas entidades sindicais mais combativas, e nem seu mais expressivo dirigente se empenharam em educar, organizar e estimular a população a partir de seus locais de moradia e trabalho com vista a possibilitar que o povo assumisse protagonismo ativo no processo de lutas. E isto pode ser observado na atuação do atual governo.

Assim, ao não priorizar o trabalho de preparação e mobilização das massas populares para que estas pudessem disputar com as outras forças a hegemonia na gestão governamental, seus interesses mais relevantes foram sendo relegados a segundo plano, em benefício dos setores não populares componentes da frente.

É inegável que poder contar com um líder com a habilidade pessoal e o carisma de nosso Lula é uma dádiva que o povo brasileiro precisa se esmerar por preservar e evitar que venha a ser derruída.

Porém, tão somente isto não basta para que se possa de fato mudar os pilares de sustentação da sociedade, com vista a que, em seu lugar, se erijam outros realmente capazes de zelar para que essas maiorias trabalhadoras se tornem a força social hegemônica.

Estou entre os que acreditam que, para defender Lula e seu imprescindível papel no comando da saga do povo trabalhador brasileiro em busca de sua libertação das amarras das classes dominantes, é imperativo que nossa dedicação e nosso apoio lhes sejam proporcionados no intuito de levá-lo a cumprir a função que desejamos que cumpra. Assim, a crítica construtiva continua sendo uma ferramenta de inestimável valor para gerar condições que permitam que nossos sonhos se materializem.

Portanto, considero que a tarefa prioritária de Lula para a presente etapa da luta é fazer com que o peso de sua liderança sirva para dotar as massas populares do nível de consciência política e de organização que lhes proporcione condições para seu envolvimento ativo na consecução das transformações que precisam ser efetivadas e sustentadas.

Em decorrência do anteriormente exposto, penso que a mais relevante contribuição que Lula tem a oferecer nestes dois anos que lhe restam para concluir sua atual gestão é preparar e convocar o povo para uma participação ativa e consciente em tudo o que se relaciona com o destino da nação.

Para tanto, é fundamental que Lula e todos os que se identificam com os reais interesses do povo trabalhador se engajem decididamente no trabalho que a empreitada requer. E, temos de entender, passos vigorosos neste rumo devem ser imediatamente dados, uma vez que muito tempo já foi perdido.

Se Lula almeja de verdade a passar para a história não apenas como o mais eficiente gestor do capitalismo brasileiro, e sim como o forjador do caminho que conduzirá os trabalhadores de nosso país a conquistar o direito de viver em um mundo não submetido ao poder e domínio dos capitalistas, sua grandiosidade se verá ressaltada à medida que a força do povo organizado, consciente e mobilizado se fizer sentir de modo inequívoco. E é essencial que este movimento consiga seguir avançando, mesmo quando o próprio Lula já não puder estar em sua condução.

Em resumo, o grande desafio colocado a Lula e a todos os que querem que nosso povo venha a vencer a eterna barreira imposta pela correlação de forças adversa é confiar muito mais na capacidade das massas em superar essas dificuldades.

Como nos ensina a história, só as grandes mobilizações de massas têm o poder de passar por cima da camisa-de-força imposta por instituições que funcionam voltadas para a manutenção do status quo. Para tal, investir no trabalho político e de organização popular parece ser o único meio de romper o arcabouço da paralisia em que as classes dominantes querem manter-nos aprisionados.

¨      Veja as medidas que Lula vai adotar para tentar recuperar popularidade

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enfrentando a maior crise de popularidade de seus três mandatos, está intensificando suas iniciativas econômicas com a expectativa de reverter o cenário negativo e melhorar sua imagem política, especialmente com o ano eleitoral de 2026 em vista, conforme reportagem do Globo.

Entre as ações do governo, destacam-se o lançamento do programa “Gás para Todos”, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês, e mudanças no crédito consignado privado, que são vistas como medidas capazes de gerar resultados positivos para o governo nos próximos meses.

Além disso, o governo já implementou a gratuidade completa de medicamentos no programa Farmácia Popular e avançou com o pagamento do Pé-de-Meia, que distribui bolsas a estudantes do ensino médio.

O impacto fiscal de algumas dessas medidas, como a desoneração do Imposto de Renda, é estimado em cerca de R$ 35 bilhões.

Para compensar essa renúncia fiscal, o governo planeja aumentar a tributação sobre as faixas de renda mais altas, uma proposta que ainda enfrenta resistência no Congresso.

<><> Queda na popularidade e respostas econômicas

A pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira apontou uma queda de 11 pontos percentuais na avaliação positiva de Lula, que atingiu 24%, a menor marca desde o início de seus mandatos.

A maior queda foi registrada entre os mais pobres e a população do Nordeste, base tradicional do apoio ao presidente.

A crise do Pix e o aumento da inflação, especialmente dos alimentos, são apontados por aliados como os principais fatores para a queda na popularidade.

Em resposta a esses desafios, o governo tem enfatizado as medidas econômicas, que incluem a reforma no crédito consignado, a isenção do Imposto de Renda para rendas até R$ 5 mil e o programa “Gás para Todos”, que pretende distribuir gás de cozinha para famílias de baixa renda.

Lula mencionou esses projetos em seus discursos, ressaltando a importância do gás como parte da cesta básica e o alto custo de um botijão em algumas regiões, como o Amapá, onde o preço chega a R$ 150.

<><> Medidas já em vigor e outras em breve

A única medida que já está em vigor é a ampliação da lista de medicamentos gratuitos no programa Farmácia Popular.

Recentemente, o Ministério da Saúde anunciou que todos os 41 itens do programa seriam distribuídos sem custo para o público elegível, incluindo fraldas geriátricas e remédios para tratamento de diabetes em casos relacionados a doenças cardiovasculares.

O orçamento do programa para 2025 é de R$ 3,8 bilhões, conforme o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA).

O governo também prevê o envio, antes do Carnaval, das propostas de remodelagem do crédito consignado privado e da isenção do Imposto de Renda. A mudança no crédito consignado deverá ser feita por Medida Provisória (MP) e, segundo a expectativa, pode estar em vigor já em março.

O novo sistema de concessão de crédito, centralizado na plataforma governamental eSocial, deve permitir juros mais baixos e facilitar a análise de risco pelas instituições financeiras, sem a necessidade de convênios bilaterais entre empregadores e bancos.

<><> Desafios e incertezas no Congresso

Um dos maiores desafios do governo está na aprovação das medidas fiscais, especialmente a desoneração do Imposto de Renda. A isenção para quem ganha até R$ 5 mil mensais, que representa um custo fiscal de R$ 35 bilhões, só começaria a valer em 2026, caso seja aprovada este ano.

Para compensar essa renúncia de receita, o governo propôs aumentar a tributação das rendas mais altas, uma medida que enfrenta resistência, especialmente no Congresso. O novo presidente da Câmara, Hugo Motta, já se manifestou contra o aumento de impostos.

A reação do mercado financeiro também foi negativa quando a reforma do Imposto de Renda foi divulgada, gerando instabilidade no câmbio e uma forte valorização do dólar. A equipe econômica, no entanto, acredita que a compensação fiscal proposta será suficiente para convencer os parlamentares e minimizar os impactos negativos.

<><> Programas polêmicos e suas implicações fiscais

Os programas “Gás para Todos” e “Pé-de-Meia” também estão gerando controvérsias. Ambos foram inicialmente concebidos para serem financiados fora do Orçamento, o que permitiria que não fossem limitados pelas restrições do arcabouço fiscal.

O programa “Gás para Todos”, que prevê a distribuição de gás de cozinha para a população de baixa renda, está orçado em R$ 3,5 bilhões para 2025, mas o governo já indicou que a demanda pode elevar esse custo para R$ 10 bilhões.

O “Pé-de-Meia”, por sua vez, também enfrenta dificuldades para ser incluído no Orçamento, após o Tribunal de Contas da União (TCU) exigir que o governo envie um projeto ao Congresso para formalizar o gasto. O impacto financeiro do programa pode atingir R$ 10 bilhões, mas os fundos podem ser usados até a aprovação da proposta.

<><> Cenário político e eleitoral de 2026

Com a aproximação das eleições de 2026, Lula e seus aliados começam a se concentrar na necessidade de resultados rápidos para melhorar sua imagem política.

O governo, ainda que evitando compromissos definitivos, planeja uma possível candidatura de Lula à reeleição. No entanto, a queda na popularidade e as dificuldades políticas enfrentadas nos últimos meses geram incertezas sobre a viabilidade dessa candidatura.

Diante disso, o governo intensifica a implementação de programas sociais e medidas econômicas na tentativa de melhorar a percepção pública, especialmente entre os segmentos mais vulneráveis da sociedade, como as famílias de baixa renda.

A expectativa é que, ao longo dos próximos meses, essas ações possam ajudar a reverter o cenário de desgaste e criar uma base de apoio mais sólida para as eleições de 2026.

 

Fonte: Vionundo/O Cafezinho

 

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