sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

César Fonseca: Gonet isola a ultradireita e alinha a direita ao rumo da frente ampla lulista em 2026

A ultradireita fascista está em polvorosa depois da denúncia do Procurador Geral Paulo Gonet, que coloca o STF na posição de abrir inquérito para julgar o ex-presidente fascista, Jair Bolsonaro.

Como demonstrou o histórico da eleição de 2018, que levou Bolsonaro ao poder, a ultradireita só conseguiu a vitória porque teve o apoio da direita.

Agora, porém, a direita vacila se continuaria ou não a apoiar o ex-presidente ultradireitista diante da iminência de sua condenação a possíveis 40 anos de prisão pela Suprema Corte.  

A maioria dos eleitores ultradireitistas, em 2026, voltaria a votar em um notório golpista que atentou contra a democracia, conduzindo organização criminosa contra o estado de direito, conforme denúncia do PGR, depois de análise das investigações da Polícia Federal?

A direita que apoiou Bolsonaro, em 2018, voltaria a fazê-lo ou iria, por falta de candidato competitivo, unir-se à Frente Ampla lulista, com perfil de centro-esquerda, como aconteceu em 2022?

Enfim, repetiria a dose com o lulismo carregado de tintas conservadoras sob orientação econômica dada por teto de gasto neoliberal, que, atualmente, divide a própria esquerda?

Ou buscaria uma alternativa a Bolsonaro, tipo governador paulista Tarcísio de Freitas, de São Paulo, ideologicamente, bolsonarista, mas, aparentemente, sem condições de vitória, como demonstram as pesquisas preliminares, que o levam a admitir não ir à disputa por puro pragmatismo?

A opinião do governador paulista mudaria ou não se tivesse o apoio de Bolsonaro, caso este não possa disputar por estar inelegível por oito anos pelo TSE?

O problema é saber se Bolsonaro, diante da iminência de ser condenado por uma larga pena, estaria disposto a apoiar Tarcísio, ou levará essa indefinição quanto a uma decisão até o fim, na esperança de receber eventual anistia e, desse modo, poder disputar, novamente.

Ou então, diante das impossibilidades gerais de ser outra vez candidato, resolver não apoiar ninguém, salvo alguém da família, como o filho, deputado Eduardo Bolsonaro?

Por sinal, para essa possível eventualidade, Eduardo, vulgo bananinha, busca insistentemente o apoio do presidente fascista americano Donald Trump como o cabo eleitoral, que poderia ter força para levá-lo ao Planalto, no lugar do pai, hoje,  barrado pela justiça, não se sabe amanhã.

CONFRONTO COM MILITARES

Bolsonaro, nessa altura do campeonato, não contaria mais com o apoio dos militares, como teve enquanto esteve no poder.

Por isso, cogita-se entre analistas da cena política nacional, no Brasil e no exterior, uma possibilidade remota segundo a qual Bolsonaro tentaria, como último cartucho, culpar os militares pela sua desgraça.

Verdade ou mentira?

Os militares, ocupantes de mais de seis mil cargos, na Esplanada, que estavam ao lado dele, teriam ou não dado apoio aos seus projetos, ou recusaram-nos em favor da preservação das instituições, embora evidenciem provas de que estiveram envolvidos nas articulações golpistas?

Se Bolsonaro, em gesto de desespero para se salvar, dissesse que os generais que estavam ao seu lado, como Braga Neto e Augusto Heleno, tinham o estímulo do alto comando do exército, criaria ou não fato político, no sentido de convencer sua base política radical de que fora usado pelos militares, em vez do contrário, isto é, que buscou usá-los para a empreitada golpista?

Bolsonaro, mesmo em desgraça, teria coragem para esse gesto de grande ousadia política, marcado por desespero?

Os militares, como demonstra a história brasileira, sempre foram às aventuras golpistas, por se entenderem como fator de estabilidade política, até que conseguiram, em 1988, inserir na Constituição esse entendimento, conferindo-lhes papel de poder moderador.

A radicalidade lhes conferiu papel de golpista, em 1964, materializando exemplo de que agiram determinadamente para romper com as instituições democráticas.

Mutatis mutandis, não foi isso que voltou a acontecer, quando o general Villas Bôas, comandante do Exército, forçou o STF a negar habeas corpus para Lula disputar, em 2018, facilitando a vitória de Bolsonaro?

Rasteira golpista clara contra a democracia que levou o país ao fascismo bolsonarista entre 2018-2022.

Essa ação antidemocrática de Villas Bôas confirmaria ou não as desconfianças de que Bolsonaro agia com aval militar?

O fato é que Bolsonaro sabe, realmente, se os militares da ativa estavam ou não ao seu lado para tentar o golpe em 2022, com Lula já vitorioso nas urnas, ou caminharia alegremente para o suicídio político?

Ele iria ou não com essa informação para o túmulo, se pudesse influenciar sua base, num último gesto de desespero, principalmente, sabendo que a 1ª turma do STF poderá unanimemente encaminhar sua condição de réu para possível condenação e consequente morte política?

DIREITA NA ENCRUZILHADA

É nesse contexto que a direita, que se aliou à ultradireita para apoiar o bolsonarismo fascista, em 2018, será confrontada pela possível condenação de Bolsonaro a 40 anos de prisão.

O teste decisivo, para ela, é 2026: voltaria ao desastre fascista, a apoiar o bolsonarismo, agora em desgraça, ou repetiria o apoio à Frente Ampla lulista de centro-esquerda, forçando sua rendição ao centro-direita, por meio de eventual reforma ministerial em que pretende influir por ser, no Congresso, maioria esmagadora em relação ao governo?

A real politik lulista confrontará a maioria, que lhe impõe semiparlamentarismo de fato para sobrepor-se ao presidencialismo de direita, ou partirá para conciliação para não ser alvo de sabotagem parlamentarista?

Do ponto de vista parlamentar, a ultradireita e a direita majoritárias no parlamento têm ou não condições de forjar novo impeachment ao comandante da Frente Ampla, tipo o que derrubou, em 2016, a ex-presidenta Dilma Rousseff?

Resta a indagação: Lula ficaria de braços cruzados como ficou Dilma, ou convocaria sua base política popular para defendê-lo do golpe parlamentarista que o novo presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), defende, escancaradamente, em sintonia com os bolsonaristas?

 

¨      Golpe expôs o fascismo como uma grande vigarice. Por Moisés Mendes

Os fascistas brasileiros, que nunca usariam nada vermelho, usam o boné de Trump porque não produziram algo equivalente para o Brasil. Até tentaram criar, no desespero, já distantes do poder, mas não funcionou.

O boné de Trump põe na cabeça dos americanos o apelo de que é preciso lutar por uma América grande de novo. O bolsonarismo nunca teve nenhuma ideia grandiloquente para colocar na cabeça de ninguém, nem as que surgiam como farsas.

Trump e até Javier Milei venderam projetos com alguma perspectiva de futuro, por mais cruéis que sejam. Bolsonaro nunca teve plano algum, além do desmonte do Estado, como se vê agora no contexto do conjunto de fatos que levaram a PGR a denunciar os golpistas.

Bolsonaro não teve um boné com uma mensagem porque a estrutura do governo e a montagem do golpe, se fosse preciso golpear, desde a eleição em 2018, visavam a viabilização de conluios, negócios e pilantragens. E com participação ativa dos militares.

Bolsonaro, Trump e Milei podem convergir num aspecto, com discordâncias pontuais, sobre como construir governos fascistas com ou sem militares. O brasileiro, o americano e o argentino montaram núcleos de poder que sempre envolveram ou envolvem facções organizadas, espertezas, negócios e dinheiro.

Com a diferença de que Trump e Milei conseguiram vender uma ideia, o republicano pelo resgate do sentimento de americanismo e o outro pela destruição do Estado peronista e do que define como castas, na alegada luta antissistema.

A tentativa de golpe no Brasil expôs, quando chegamos à nova etapa rumo aos julgamentos e às condenações, que tudo era movido por interesses de grupos, sem nenhuma ambição maior pelo futuro do país.

Os militares eram serviçais de Bolsonaro, em esquemas de reciprocidade baseados nos mesmos princípios do crime organizado, como mostra a PGR. Vocês me protegem e nós todos nos protegemos.

Não há, em nenhum momento, como provam detalhes da denúncia de Paulo Gonet, nada que indique que Braga Netto, Augusto Heleno e os outros militares participassem de um plano estratégico para o Brasil, mesmo que fosse precário.

O plano era proteger e fortalecer Bolsonaro, dono de votos e de poder político, para que os militares compartilhassem do projeto de saquear o que fosse possível. Os generais trabalharam para Bolsonaro e conseguiram cargões e carguinhos, sabendo o que faziam. Como seus empregados.

E o que se vê agora é o começo do fim de Milei e de Bolsonaro, por terem fracassado como farsantes da ideologia da vigarice. Com um agravante para a democracia brasileira.

É difícil que a Argentina reproduza, no curto prazo, uma figura semelhante a Milei, que não teve nem tempo para criar avatares. O que pode permitir que o país se livre da experiência com o gângster da criptomoeda.

Mas no Brasil, mesmo sem boné nacional, o bolsonarismo já investe, com a ajuda da grande imprensa, na consagração de Tarcísio de Freitas como expressão da extrema direita moderada.

O bolsonarismo tem um sucessor, com a mesma ideia de desmonte do Estado, como faz em São Paulo, e com a afirmação de políticas de ‘segurança’ sustentadas por uma polícia assassina – segundo o jornal The Sun, a mais temida polícia do mundo. São apelos irresistíveis.

Tarcísio de Freitas pode ser um Bolsonaro melhorado, porque terá a chance de dissimular seus extremismos e jogar para a torcida que ordena: mande a PM matar o que se mexer e destrua Lula, o PT, a ameaça comunista, os gays e as feministas.

A previsível condenação de Bolsonaro e dos militares, com a extinção da facção agora denunciada, oferece a Tarcísio a chance de ser algo mais que Bolsonaro não foi, e com o boné de Trump enterrado na cabeça.

 

¨      Precisamos conversar sobre extrema-direita. Por Márcia Tiburi

A sensação de vitória sobre a extrema-direita que tomou o Brasil a partir de 2022 e até agora, com a proximidade da prisão de Bolsonaro, é uma sensação legítima, mas quem sabe como funciona a extrema-direita sabe também que a desilusão democrática está por vir. 

Depois do sufoco que envolveu o Golpe de 2016, a vitória de Bolsonaro em 2018 em meio ao caos político, econômico e sanitário e mais de 700 mil mortos na pandemia sob discursos delirantes de descaso do presidente, a democracia venceu por um triz em 2022, mas em 2026 vai ser ainda mais difícil do que naquele ano. Como eu falava já em 2018, a extrema direita está internacionalmente organizada e o Brasil faz parte disso. 

Certamente, um pouco do interesse do extremismo na política é ideologia, mas a maior parte de tanta dedicação ao poder é dinheiro mesmo. Por isso, os agentes do extremismo, reacionários violentos e sem escrúpulos, não brincam em serviço. Milei acaba de dar um golpe no mercado de criptomoedas enriquecendo seus parceiros e fazendo muita gente perder dinheiro. Trump fez algo bem parecido, mas sem tanto alarde. 

Os dois podem tudo em um mundo que eles ajudam a perverter por meio de táticas de psicopoder. Os dois representam, na verdade, o “homem branco como valor”, pois o homem branco é, no capitalismo, a identidade como capital. O que Milei faz é, na verdade, vender a si mesmo. Trump faz o mesmo, assim como Musk e todos os machos limítrofes do neoliberalismo delirante com suas armas apontadas para o planeta que visam destruir. 

A extrema-direita neoliberal está usando o termo “libertário” para enganar o povo. Os “libertários” apsisionadores. Antidemocráticos, se vendem com nomes pomposos tais como “anarcocapitalistas”. São fascistas, mas tem quem ache que não se pode dizer seu nome (e de fato tem certa razão, pois as redes em geral aderiram à ideologia, já que ela dá mais dinheiro). Não há outro objetivo nos fascismos do que enganar o povo, viciando as pessoas em ódio, para melhor conduzi-las. 

Por debaixo de tanto ódio, há muito medo e medo quer dizer destruição das emoções e da razão, pois uma pessoa com medo já não é dona de si. Mais ainda com pânico. 

Os autoritários e totalitários, reacionários, agressivos vendedores de ódio, sequestram palavras, distorcem sentidos e os utilizam para os próprios fins espúrios. É preciso criar confusão mental. Ganha quem for mais sem escrúpulos, afinal, a seriedade perdeu lugar para o grotesco e a falta de senso de realidade é a regra. 

Infelizmente, a democracia nunca está pronta. Ela é algo que se constrói a cada dia, em cada gesto, pessoal, social ou estatal. Precisamos acordar contra os golpistas, sejam de Estado, sejam da economia, sejam psíquicos, sejam religiosos. A democracia tem que ser o contrário de todo golpe e a atitude de Milei deixa claro para o que ele veio. 

 

¨      Oliveiros Marques: O agro é golpe

O que era uma certeza que já exalava odor de enxofre tornou-se, indubitavelmente, verdade com o levantamento do sigilo sobre a delação do então ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. O setor do agronegócio brasileiro teria participado, pelo menos, do financiamento da tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito e do plano de assassinato de Lula, de seu vice, Geraldo Alckmin, e do ministro do STF Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Os milhares de reais que circularam por sacolas de vinho, muito provavelmente não nacionais, das mãos do general Braga Neto aos executores do plano, passando pelo frete de Mauro Cid, teriam, segundo a denúncia, sua origem no “pessoal do agro”.

Pois bem, “pessoal do agro” é algo muito amplo. Como Braga Neto foi o carro-forte para o transporte dos numerários, ele deveria ser chamado à conversa para dizer quem é esse pessoal. Quais os seus nomes, os seus CPFs, os CNPJs de suas empresas. Esses senhores precisam ser trazidos à luz, verem seus nomes e suas vidas expostos à sociedade.

Essas informações são essenciais para que a Controladoria-Geral da União, o TCU, o Banco do Brasil, o Ministério da Agricultura ou qualquer outro órgão competente verifiquem se esses senhores possuem financiamentos subsidiados pelo governo federal, se são beneficiados pelo Plano Safra, se têm silos, caminhões, máquinas agrícolas, sementes, insumos ou até mesmo suas caminhonetes, lanchas e aviões financiados com dinheiro barato bancado por toda a sociedade brasileira, por meio dos subsídios que o governo federal concede a esse setor e que tanto contribuem para sua grandeza e seus resultados positivos ano a ano.

E para que buscar essas informações? Para cortar tudo de imediato e exigir a devolução de benefícios que, porventura, já tenham recebido. Retroativo a qual tempo? Não sei. Mas essa gente precisa sentir no bolso — parte do corpo humano que tanto gostam de exibir — que suas atitudes golpistas terão consequências. Porque, no resumo da ópera, foram desses recursos públicos, subsidiados por todos nós, que eles tiraram os milhares de reais que financiaram a tentativa de golpe, cujo ápice foi o 8 de janeiro.

 

Fonte: Brasil 247

 

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