César Fonseca:
Gonet isola a ultradireita e alinha a direita ao rumo da frente ampla lulista
em 2026
A ultradireita
fascista está em polvorosa depois da denúncia do Procurador Geral Paulo Gonet,
que coloca o STF na posição de abrir inquérito para julgar o ex-presidente
fascista, Jair Bolsonaro.
Como
demonstrou o histórico da eleição de 2018, que levou Bolsonaro ao poder, a
ultradireita só conseguiu a vitória porque teve o apoio da direita.
Agora, porém,
a direita vacila se continuaria ou não a apoiar o ex-presidente ultradireitista
diante da iminência de sua condenação a possíveis 40 anos de prisão pela
Suprema Corte.
A maioria dos
eleitores ultradireitistas, em 2026, voltaria a votar em um notório golpista
que atentou contra a democracia, conduzindo organização criminosa contra o
estado de direito, conforme denúncia do PGR, depois de análise das
investigações da Polícia Federal?
A direita que
apoiou Bolsonaro, em 2018, voltaria a fazê-lo ou iria, por falta de candidato
competitivo, unir-se à Frente Ampla lulista, com perfil de centro-esquerda,
como aconteceu em 2022?
Enfim,
repetiria a dose com o lulismo carregado de tintas conservadoras sob orientação
econômica dada por teto de gasto neoliberal, que, atualmente, divide a própria
esquerda?
Ou buscaria
uma alternativa a Bolsonaro, tipo governador paulista Tarcísio de Freitas, de
São Paulo, ideologicamente, bolsonarista, mas, aparentemente, sem condições de
vitória, como demonstram as pesquisas preliminares, que o levam a admitir não
ir à disputa por puro pragmatismo?
A opinião do
governador paulista mudaria ou não se tivesse o apoio de Bolsonaro, caso este
não possa disputar por estar inelegível por oito anos pelo TSE?
O problema é
saber se Bolsonaro, diante da iminência de ser condenado por uma larga pena,
estaria disposto a apoiar Tarcísio, ou levará essa indefinição quanto a uma
decisão até o fim, na esperança de receber eventual anistia e, desse modo,
poder disputar, novamente.
Ou então,
diante das impossibilidades gerais de ser outra vez candidato, resolver não
apoiar ninguém, salvo alguém da família, como o filho, deputado Eduardo
Bolsonaro?
Por sinal,
para essa possível eventualidade, Eduardo, vulgo bananinha, busca
insistentemente o apoio do presidente fascista americano Donald Trump como o
cabo eleitoral, que poderia ter força para levá-lo ao Planalto, no lugar do
pai, hoje, barrado pela justiça, não se sabe amanhã.
CONFRONTO COM
MILITARES
Bolsonaro,
nessa altura do campeonato, não contaria mais com o apoio dos militares, como
teve enquanto esteve no poder.
Por isso,
cogita-se entre analistas da cena política nacional, no Brasil e no exterior,
uma possibilidade remota segundo a qual Bolsonaro tentaria, como último
cartucho, culpar os militares pela sua desgraça.
Verdade ou
mentira?
Os militares,
ocupantes de mais de seis mil cargos, na Esplanada, que estavam ao lado dele,
teriam ou não dado apoio aos seus projetos, ou recusaram-nos em favor da
preservação das instituições, embora evidenciem provas de que estiveram
envolvidos nas articulações golpistas?
Se Bolsonaro,
em gesto de desespero para se salvar, dissesse que os generais que estavam ao
seu lado, como Braga Neto e Augusto Heleno, tinham o estímulo do alto comando
do exército, criaria ou não fato político, no sentido de convencer sua base
política radical de que fora usado pelos militares, em vez do contrário, isto
é, que buscou usá-los para a empreitada golpista?
Bolsonaro,
mesmo em desgraça, teria coragem para esse gesto de grande ousadia política,
marcado por desespero?
Os militares,
como demonstra a história brasileira, sempre foram às aventuras golpistas, por
se entenderem como fator de estabilidade política, até que conseguiram, em
1988, inserir na Constituição esse entendimento, conferindo-lhes papel de poder
moderador.
A radicalidade
lhes conferiu papel de golpista, em 1964, materializando exemplo de que agiram
determinadamente para romper com as instituições democráticas.
Mutatis
mutandis, não foi isso que voltou a acontecer, quando o general Villas Bôas,
comandante do Exército, forçou o STF a negar habeas corpus para Lula disputar,
em 2018, facilitando a vitória de Bolsonaro?
Rasteira
golpista clara contra a democracia que levou o país ao fascismo bolsonarista
entre 2018-2022.
Essa ação
antidemocrática de Villas Bôas confirmaria ou não as desconfianças de que
Bolsonaro agia com aval militar?
O fato é que
Bolsonaro sabe, realmente, se os militares da ativa estavam ou não ao seu lado
para tentar o golpe em 2022, com Lula já vitorioso nas urnas, ou caminharia
alegremente para o suicídio político?
Ele iria ou
não com essa informação para o túmulo, se pudesse influenciar sua base, num
último gesto de desespero, principalmente, sabendo que a 1ª turma do STF poderá
unanimemente encaminhar sua condição de réu para possível condenação e
consequente morte política?
DIREITA NA
ENCRUZILHADA
É nesse
contexto que a direita, que se aliou à ultradireita para apoiar o bolsonarismo
fascista, em 2018, será confrontada pela possível condenação de Bolsonaro a 40
anos de prisão.
O teste
decisivo, para ela, é 2026: voltaria ao desastre fascista, a apoiar o
bolsonarismo, agora em desgraça, ou repetiria o apoio à Frente Ampla lulista de
centro-esquerda, forçando sua rendição ao centro-direita, por meio de eventual
reforma ministerial em que pretende influir por ser, no Congresso, maioria
esmagadora em relação ao governo?
A real politik
lulista confrontará a maioria, que lhe impõe semiparlamentarismo de fato para
sobrepor-se ao presidencialismo de direita, ou partirá para conciliação para
não ser alvo de sabotagem parlamentarista?
Do ponto de
vista parlamentar, a ultradireita e a direita majoritárias no parlamento têm ou
não condições de forjar novo impeachment ao comandante da Frente Ampla, tipo o
que derrubou, em 2016, a ex-presidenta Dilma Rousseff?
Resta a
indagação: Lula ficaria de braços cruzados como ficou Dilma, ou convocaria sua
base política popular para defendê-lo do golpe parlamentarista que o novo
presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), defende,
escancaradamente, em sintonia com os bolsonaristas?
¨ Golpe expôs
o fascismo como uma grande vigarice. Por Moisés Mendes
Os fascistas brasileiros,
que nunca usariam nada vermelho, usam o boné de Trump porque não produziram
algo equivalente para o Brasil. Até tentaram criar, no desespero, já distantes
do poder, mas não funcionou.
O boné de Trump põe na
cabeça dos americanos o apelo de que é preciso lutar por uma América grande de
novo. O bolsonarismo nunca teve nenhuma ideia grandiloquente para colocar na
cabeça de ninguém, nem as que surgiam como farsas.
Trump e até Javier Milei
venderam projetos com alguma perspectiva de futuro, por mais cruéis que sejam.
Bolsonaro nunca teve plano algum, além do desmonte do Estado, como se vê agora
no contexto do conjunto de fatos que levaram a PGR a denunciar os golpistas.
Bolsonaro não teve um boné
com uma mensagem porque a estrutura do governo e a montagem do golpe, se fosse
preciso golpear, desde a eleição em 2018, visavam a viabilização de conluios,
negócios e pilantragens. E com participação ativa dos militares.
Bolsonaro, Trump e Milei
podem convergir num aspecto, com discordâncias pontuais, sobre como construir
governos fascistas com ou sem militares. O brasileiro, o americano e o
argentino montaram núcleos de poder que sempre envolveram ou envolvem facções
organizadas, espertezas, negócios e dinheiro.
Com a diferença de que Trump
e Milei conseguiram vender uma ideia, o republicano pelo resgate do sentimento
de americanismo e o outro pela destruição do Estado peronista e do que define
como castas, na alegada luta antissistema.
A tentativa de golpe no
Brasil expôs, quando chegamos à nova etapa rumo aos julgamentos e às condenações,
que tudo era movido por interesses de grupos, sem nenhuma ambição maior pelo
futuro do país.
Os militares eram serviçais
de Bolsonaro, em esquemas de reciprocidade baseados nos mesmos princípios do
crime organizado, como mostra a PGR. Vocês me protegem e nós todos nos
protegemos.
Não há, em nenhum momento,
como provam detalhes da denúncia de Paulo Gonet, nada que indique que Braga
Netto, Augusto Heleno e os outros militares participassem de um plano
estratégico para o Brasil, mesmo que fosse precário.
O plano era proteger e
fortalecer Bolsonaro, dono de votos e de poder político, para que os militares
compartilhassem do projeto de saquear o que fosse possível. Os generais
trabalharam para Bolsonaro e conseguiram cargões e carguinhos, sabendo o que
faziam. Como seus empregados.
E o que se vê agora é o
começo do fim de Milei e de Bolsonaro, por terem fracassado como farsantes da
ideologia da vigarice. Com um agravante para a democracia brasileira.
É difícil que a Argentina
reproduza, no curto prazo, uma figura semelhante a Milei, que não teve nem
tempo para criar avatares. O que pode permitir que o país se livre da
experiência com o gângster da criptomoeda.
Mas no Brasil, mesmo sem
boné nacional, o bolsonarismo já investe, com a ajuda da grande imprensa, na
consagração de Tarcísio de Freitas como expressão da extrema direita moderada.
O bolsonarismo tem um
sucessor, com a mesma ideia de desmonte do Estado, como faz em São Paulo, e com
a afirmação de políticas de ‘segurança’ sustentadas por uma polícia assassina –
segundo o jornal The Sun, a mais temida polícia do mundo. São apelos
irresistíveis.
Tarcísio de Freitas pode ser
um Bolsonaro melhorado, porque terá a chance de dissimular seus extremismos e
jogar para a torcida que ordena: mande a PM matar o que se mexer e destrua
Lula, o PT, a ameaça comunista, os gays e as feministas.
A previsível condenação de
Bolsonaro e dos militares, com a extinção da facção agora denunciada, oferece a
Tarcísio a chance de ser algo mais que Bolsonaro não foi, e com o boné de Trump
enterrado na cabeça.
¨ Precisamos
conversar sobre extrema-direita. Por Márcia Tiburi
A sensação de
vitória sobre a extrema-direita que tomou o Brasil a partir de 2022 e até
agora, com a proximidade da prisão de Bolsonaro, é uma sensação legítima, mas quem
sabe como funciona a extrema-direita sabe também que a desilusão democrática
está por vir.
Depois do
sufoco que envolveu o Golpe de 2016, a vitória de Bolsonaro em 2018 em meio ao
caos político, econômico e sanitário e mais de 700 mil mortos na pandemia sob
discursos delirantes de descaso do presidente, a democracia venceu por um triz
em 2022, mas em 2026 vai ser ainda mais difícil do que naquele ano. Como eu
falava já em 2018, a extrema direita está internacionalmente organizada e o
Brasil faz parte disso.
Certamente, um
pouco do interesse do extremismo na política é ideologia, mas a maior parte de
tanta dedicação ao poder é dinheiro mesmo. Por isso, os agentes do extremismo,
reacionários violentos e sem escrúpulos, não brincam em serviço. Milei acaba de
dar um golpe no mercado de criptomoedas enriquecendo seus parceiros e fazendo
muita gente perder dinheiro. Trump fez algo bem parecido, mas sem tanto
alarde.
Os dois podem
tudo em um mundo que eles ajudam a perverter por meio de táticas de psicopoder.
Os dois representam, na verdade, o “homem branco como valor”, pois o homem
branco é, no capitalismo, a identidade como capital. O que Milei faz é, na
verdade, vender a si mesmo. Trump faz o mesmo, assim como Musk e todos os
machos limítrofes do neoliberalismo delirante com suas armas apontadas para o
planeta que visam destruir.
A
extrema-direita neoliberal está usando o termo “libertário” para enganar o
povo. Os “libertários” apsisionadores. Antidemocráticos, se vendem com nomes
pomposos tais como “anarcocapitalistas”. São fascistas, mas tem quem ache que
não se pode dizer seu nome (e de fato tem certa razão, pois as redes em geral
aderiram à ideologia, já que ela dá mais dinheiro). Não há outro objetivo nos
fascismos do que enganar o povo, viciando as pessoas em ódio, para melhor
conduzi-las.
Por debaixo de
tanto ódio, há muito medo e medo quer dizer destruição das emoções e da razão,
pois uma pessoa com medo já não é dona de si. Mais ainda com pânico.
Os
autoritários e totalitários, reacionários, agressivos vendedores de ódio,
sequestram palavras, distorcem sentidos e os utilizam para os próprios fins
espúrios. É preciso criar confusão mental. Ganha quem for mais sem escrúpulos,
afinal, a seriedade perdeu lugar para o grotesco e a falta de senso de realidade
é a regra.
Infelizmente,
a democracia nunca está pronta. Ela é algo que se constrói a cada dia, em cada
gesto, pessoal, social ou estatal. Precisamos acordar contra os golpistas,
sejam de Estado, sejam da economia, sejam psíquicos, sejam religiosos. A
democracia tem que ser o contrário de todo golpe e a atitude de Milei deixa
claro para o que ele veio.
¨ Oliveiros Marques: O agro é
golpe
O que era uma
certeza que já exalava odor de enxofre tornou-se, indubitavelmente, verdade com
o levantamento do sigilo sobre a delação do então ajudante de ordens do
ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. O setor do agronegócio
brasileiro teria participado, pelo menos, do financiamento da tentativa de
golpe contra o Estado Democrático de Direito e do plano de assassinato de Lula,
de seu vice, Geraldo Alckmin, e do ministro do STF Alexandre de Moraes, então
presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
Os milhares de
reais que circularam por sacolas de vinho, muito provavelmente não nacionais,
das mãos do general Braga Neto aos executores do plano, passando pelo frete de
Mauro Cid, teriam, segundo a denúncia, sua origem no “pessoal do agro”.
Pois bem,
“pessoal do agro” é algo muito amplo. Como Braga Neto foi o carro-forte para o
transporte dos numerários, ele deveria ser chamado à conversa para dizer quem é
esse pessoal. Quais os seus nomes, os seus CPFs, os CNPJs de suas empresas.
Esses senhores precisam ser trazidos à luz, verem seus nomes e suas vidas
expostos à sociedade.
Essas
informações são essenciais para que a Controladoria-Geral da União, o TCU, o
Banco do Brasil, o Ministério da Agricultura ou qualquer outro órgão competente
verifiquem se esses senhores possuem financiamentos subsidiados pelo governo
federal, se são beneficiados pelo Plano Safra, se têm silos, caminhões,
máquinas agrícolas, sementes, insumos ou até mesmo suas caminhonetes, lanchas e
aviões financiados com dinheiro barato bancado por toda a sociedade brasileira,
por meio dos subsídios que o governo federal concede a esse setor e que tanto
contribuem para sua grandeza e seus resultados positivos ano a ano.
E para que
buscar essas informações? Para cortar tudo de imediato e exigir a devolução de
benefícios que, porventura, já tenham recebido. Retroativo a qual tempo? Não
sei. Mas essa gente precisa sentir no bolso — parte do corpo humano que tanto
gostam de exibir — que suas atitudes golpistas terão consequências. Porque, no
resumo da ópera, foram desses recursos públicos, subsidiados por todos nós, que
eles tiraram os milhares de reais que financiaram a tentativa de golpe, cujo
ápice foi o 8 de janeiro.
Fonte: Brasil 247
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