sábado, 22 de fevereiro de 2025

É possível contrair gripe aviária por meio de ovos?

gripe aviária continua a ganhar manchetes em todo o mundo, principalmente por conta dos casos que têm sido registrados nos Estados Unidos e em países da América Latina. E, quanto mais tempo durar essa onda, maior será o perigo que representa para os seres humanos. 

 Em 15 de fevereiro de 2025, o Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Agroalimentar da Argentina (Senasa) confirmou um caso de gripe aviária altamente patogênica em aves de quintal na província de Chaco, no nordeste da Argentina. Posteriormente, devido à proximidade com a fronteira, o governo do Uruguai declarou estado de alerta sanitário. 

E o Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Animal (Senacsa) do Paraguai solicitou que fossem aumentados os alertas e que se notificasse a presença de aves doentes ou mortas. Em janeiro de 2025, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) lançou um painel interativo justamente para monitorar a influenza aviária A (H5N1) nas Américas, a fim de ter um controle maior dos surtos em diferentes locais.

O H5N1, a cepa da influenza aviária A que está circulando atualmente nos Estados Unidos, prejudica principalmente as aves, mas já infectou mais de 200 mamíferos desde 2022, incluindo dezenas de gatos domésticos e centenas de rebanhos de gado. O vírus também contribuiu para a morte de dezenas de milhões de galinhas, causando escassez de ovos, disparada de preços e fechamento de mercados de aves em pelo menos um estado.

Relatos de outro vírus da gripe aviária chamado H5N9 em uma fazenda de patos na Califórnia, uma nova variante do H5N1 que se espalha no gado e um gato que possivelmente infectou seu dono aumentam a preocupação de que uma versão mais perigosa e infecciosa do vírus ainda possa evoluir.

À medida que o número de casos humanos também aumenta, alguns temem que possamos até mesmo acabar com outra pandemia em nossas mãos. 

“Quanto mais isso circular e quanto mais casos humanos ocorrerem, maior será o risco de surgir um vírus capaz de se transmitir eficientemente de humano para humano”, expliva Angela Rasmussen, virologista da Universidade de Saskatchewan, no Canadá. “Isso é o que realmente precisamos evitar para impedir a ocorrência de outra pandemia.” 

Veja a seguir a gravidade da gripe aviária, por que ela está afetando o fornecimento de alimentos e o que pode ser feito para proteger seus animais de estimação e entes queridos.

·        Qual é a gravidade da gripe aviária em humanos? 

A versão do vírus da gripe aviária que começou a infectar pessoas nos Estados Unidos em 2024 parece ser significativamente menos letal do que a versão por trás de casos humanos anteriores. Nos mais de 900 casos humanos de H5N1 (a maioria deles na Ásia) registrados de 2003 a 2023, por exemplo, mais da metade foi fatal. No atual surto norte-americano (que também vem apresentando alguns casos em outros países das Américas), apenas um dos 68 casos confirmados terminou em morte.

“Na maioria das vezes, os casos humanos nos Estados Unidos foram leves”, diz Peter Halfmann, virologista do Instituto de Pesquisa sobre Influenza da Universidade de Wisconsin-Madison. 

Os casos podem estar mais brandos por alguns motivos possíveis: o vírus pode ter se tornado menos virulento com o passar dos anos, a imunidade às cepas anuais de influenza pode ter nos proporcionado algum nível de proteção, e a maioria dos casos da doença até agora em humanos ocorreu por meio de interações com gado infectado – e o vírus não é tão grave nem tão mortal nessa espécie.

A forma do vírus H5N1 que infecta o gado é uma variante chamada B3.13, enquanto uma variante chamada D1.1 está por trás dos surtos em aves selvagens e em fazendas de aves domésticas e da única morte humana no país. Essa variante mais perigosa em aves também pode explicar por que os gatos domésticos infectados estão ficando especialmente doentes, pois é mais provável que eles interajam e ataquem aves infectadas que voam para o quintal.

No entanto, variantes mais graves ainda podem representar um risco maior para os seres humanos, pois o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos acaba de anunciar que a D1.1 foi detectada em vacas de Nevada. Um trabalhador do setor de laticínios também já testou positivo para a variante, e casos mais graves podem ocorrer se ela se espalhar amplamente no gado.

Por enquanto, porém, um fato promissor permanece verdadeiro: “Ainda não há evidências de transmissão entre humanos”, diz Rasmussen. 

·        É possível contrair a gripe aviária por meio de ovos, carne ou outros alimentos? 

Também é encorajador o fato de que nenhum dos casos humanos nos Estados Unidos foi definitivamente associado a alimentos, portanto, o risco de alimentos contaminados chegarem à mesa da cozinha continua baixo. Um dos motivos para isso é que o órgão norte-americano responsável testa toda a carne bovina que entra no mercado para garantir que não esteja contaminada. Em dezembro, a agência também começou a testar o leite em massa.

Um dado importantíssimo: o cozimento da carne nas temperaturas recomendadas também mata o H5N1 e a torna segura para consumo. A pasteurização faz o mesmo com o leite e os ovos. “Não tenho preocupações quanto à segurança do leite pasteurizado adequadamente ou da carne e dos ovos cozidos, pois esse vírus não é muito resistente e a pasteurização e o cozimento devem matá-lo facilmente”, afirma Scott Weese, patobiólogo e veterinário da Universidade de Guelph, no Canadá. 

No entanto, não se pode dizer o mesmo do leite não pasteurizado. “Houve relatos de uma infecção por H5N1 em uma criança na Califórnia associada ao consumo de leite cru, embora isso não tenha sido confirmado por diagnóstico”, diz Benjamin Anderson, epidemiologista que lidera a equipe de resposta à gripe aviária do Emerging Pathogens Institute na Universidade da Flórida. Mesmo assim, ele acrescenta, “considerando o que sabemos sobre como o leite cru pode conter concentrações muito altas de vírus, é provável que o consumo de leite contaminado resulte em uma possível infecção humana”.

A ração crua ou não pasteurizada para animais de estimação apresenta riscos semelhantes. É por isso que vários produtos lácteos não pasteurizados anunciados para uso em animais de estimação foram recolhidos devido à contaminação por gripe aviária – e a morte de um gato doméstico no Oregon (Estados Unidos) foi associada a alimentos crus contaminados para animais de estimação.

·        Como o vírus está afetando o suprimento de alimentos dos Estados Unidos? 

Embora os produtos alimentícios não representem um risco de infecção se forem processados e cozidos adequadamente, o vírus da gripe aviária ainda está causando um enorme impacto nas fazendas e mercearias norte-americana devido ao grande volume de animais afetados: mais de 900 rebanhos de gado infectados, cerca de 150 milhões de aves agrícolas e aquáticas contaminadas e mais de 20 milhões de galinhas poedeiras mortas – além de outros 13,2 milhões de galinhas abatidas em um esforço para conter a doença. 

Além disso, depois que os rebanhos infectados são eliminados, o fazendeiro ou fabricante “precisa se concentrar na limpeza e na inspeção de biossegurança antes de começar a estocar novamente – um processo separado que pode levar vários meses”, explica Meghan Davis, veterinária da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health.

Tudo isso, e o fato de que, mesmo que uma galinha infectada não morra, “ela não botará ovos”, é a razão pela qual a escassez de ovos é galopante e os preços continuam subindo, observa Lakdawala. 

A infestação de gado nos Estados Unidos prejudica ainda mais a produção e a distribuição de leite, pois “a maioria das vacas leiteiras infectadas não produz leite e até mesmo perde temporariamente a capacidade de recuperar a produção de leite após a recuperação da doença”, diz Halfmann.  

A reinfecção também pode ocorrer, aumentando ainda mais os atrasos, especialmente quando os sintomas mais leves passam despercebidos.

·        Como se manter a salvo da gripe aviária?

Embora o risco de gripe aviária continue baixo para a maioria das pessoas, há várias medidas de bom senso que podem ser tomadas para ajudar a evitar que o vírus infecte seu animal de estimação ou seus entes queridos.

Uma dessas medidas é comprar apenas produtos de origem animal pasteurizados e cozinhar bem a carne. E se você precisar beber leite não pasteurizado, Anderson recomenda fervê-lo primeiro para reduzir o risco de infecção.

Também é importante que tanto os seres humanos quanto os animais de estimação fiquem longe de animais mortos, doentes ou com comportamento estranho na natureza, “especialmente pássaros e gatos”, diz Lakdawala, porque o vírus pode ser transmitido por meio de secreções de animais infectados. 

Davis diz que também é aconselhável usar equipamentos de proteção, como protetores faciais, máscaras, macacões e luvas, caso você trabalhe com vacas leiteiras, aves, pássaros selvagens ou animais doentes em fazendas, zoológicos ou veterinários.

Manter-se atualizado com a vacina contra a gripe “também pode ajudar a reduzir a gravidade de uma infecção por gripe aviária se um indivíduo for infectado”, acrescenta Halfmann.

A proteção contra a gripe sazonal também reduz riscos mais amplos que poderiam prejudicar mais pessoas. “Queremos limitar a transmissão da gripe humana, uma vez que uma situação muito preocupante seria alguém ter gripe aviária e gripe sazonal, o que poderia criar a chance de ocorrência de um novo vírus da gripe com capacidade de transmissão entre as pessoas”, diz Weese.

Essa é uma das razões pelas quais os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos  emitiram uma recomendação para aumentar os testes de gripe aviária entre as pessoas que chegam ao hospital com sintomas semelhantes aos da gripe. Fazer isso também pode ajudar a identificar subtipos do vírus e revelar onde as infecções estão ocorrendo para garantir que a transmissão entre humanos não comece a acontecer sem o nosso conhecimento.

“Ainda estamos em uma situação em que o vírus circulante é pouco infeccioso para os seres humanos”, diz Webby, ‘mas uma única mutação pode mudar isso rapidamente e as pessoas devem ser educadas e conscientizadas’. 

 

Fonte: National Geographic Brasil

 

Nenhum comentário: