É possível contrair
gripe aviária por meio de ovos?
A gripe aviária continua a
ganhar manchetes em todo o mundo, principalmente por conta dos casos que têm
sido registrados nos Estados Unidos e em países da América Latina. E,
quanto mais tempo durar essa onda, maior será o perigo que representa para os
seres humanos.
Em 15
de fevereiro de 2025, o Serviço Nacional de Qualidade e Saúde
Agroalimentar da Argentina (Senasa) confirmou um caso de gripe aviária
altamente patogênica em aves de quintal na província de Chaco, no nordeste
da Argentina. Posteriormente,
devido à proximidade com a fronteira, o governo do Uruguai declarou estado
de alerta sanitário.
E o Serviço
Nacional de Saúde e Qualidade Animal (Senacsa) do Paraguai solicitou
que fossem aumentados os alertas e que se notificasse a presença de
aves doentes ou mortas. Em janeiro de 2025, a Organização
Pan-Americana de Saúde (Opas) lançou um painel interativo justamente
para monitorar a influenza aviária A (H5N1) nas Américas, a fim de
ter um controle maior dos surtos em diferentes locais.
O H5N1,
a cepa da influenza aviária A que está circulando atualmente nos
Estados Unidos, prejudica principalmente as aves, mas já infectou mais de
200 mamíferos desde 2022, incluindo dezenas de gatos domésticos e centenas de
rebanhos de gado. O vírus também contribuiu para a morte de dezenas
de milhões de galinhas, causando escassez de ovos, disparada de preços e
fechamento de mercados de aves em pelo menos um estado.
Relatos de outro
vírus da gripe aviária chamado H5N9 em uma fazenda de patos na
Califórnia, uma nova variante do H5N1 que se espalha no gado e um gato que
possivelmente infectou seu dono aumentam a preocupação de que uma versão
mais perigosa e infecciosa do vírus ainda possa evoluir.
À medida que
o número de casos humanos também aumenta, alguns temem que possamos até
mesmo acabar com outra pandemia em nossas mãos.
“Quanto mais isso
circular e quanto mais casos humanos ocorrerem, maior será o risco de
surgir um vírus capaz de se transmitir eficientemente de humano para humano”,
expliva Angela Rasmussen, virologista da Universidade de Saskatchewan, no
Canadá. “Isso é o que realmente precisamos evitar para impedir a
ocorrência de outra pandemia.”
Veja a
seguir a gravidade da gripe aviária, por que ela está afetando o
fornecimento de alimentos e o que pode ser feito para proteger seus animais de
estimação e entes queridos.
·
Qual
é a gravidade da gripe aviária em humanos?
A versão do
vírus da gripe aviária que começou a
infectar pessoas nos Estados Unidos em 2024 parece ser
significativamente menos letal do que a versão por trás de casos
humanos anteriores. Nos mais de 900 casos humanos de H5N1 (a maioria deles na
Ásia) registrados de 2003 a 2023, por exemplo, mais da metade foi fatal.
No atual surto norte-americano (que também vem apresentando alguns
casos em outros países das Américas), apenas um dos 68
casos confirmados terminou em morte.
“Na maioria das
vezes, os casos humanos nos Estados Unidos foram leves”, diz Peter Halfmann,
virologista do Instituto de Pesquisa sobre Influenza da Universidade de
Wisconsin-Madison.
Os casos podem
estar mais brandos por alguns motivos possíveis: o vírus pode ter se
tornado menos virulento com o passar dos anos, a imunidade às cepas
anuais de influenza pode ter nos proporcionado algum nível de proteção, e
a maioria dos casos da doença até agora em humanos ocorreu por meio de
interações com gado infectado – e o vírus não é tão grave nem tão mortal
nessa espécie.
A forma
do vírus H5N1 que infecta o gado é uma
variante chamada B3.13, enquanto uma variante chamada D1.1 está
por trás dos surtos em aves selvagens e em fazendas de aves
domésticas e da única morte humana no país. Essa variante mais
perigosa em aves também pode explicar por que os gatos domésticos
infectados estão ficando especialmente doentes, pois é mais provável que eles
interajam e ataquem aves infectadas que voam para o quintal.
No
entanto, variantes mais graves ainda podem representar um
risco maior para os seres humanos, pois o Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos acaba de anunciar que a D1.1 foi detectada em vacas de
Nevada. Um trabalhador do setor de laticínios também já testou positivo para a
variante, e casos mais graves podem ocorrer se ela se espalhar amplamente
no gado.
Por enquanto,
porém, um fato promissor permanece verdadeiro: “Ainda não há evidências de
transmissão entre humanos”, diz Rasmussen.
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É
possível contrair a gripe aviária por meio de ovos, carne ou outros
alimentos?
Também é
encorajador o fato de que nenhum dos casos humanos nos Estados Unidos
foi definitivamente associado a alimentos, portanto, o risco de alimentos
contaminados chegarem
à mesa da cozinha continua baixo. Um dos motivos para isso é que o
órgão norte-americano responsável testa toda a carne bovina que entra no
mercado para garantir que não esteja contaminada. Em dezembro, a agência
também começou a testar o leite em massa.
Um dado
importantíssimo: o cozimento da carne nas temperaturas recomendadas também
mata o H5N1 e a torna segura para consumo. A pasteurização faz o
mesmo com o leite e os ovos. “Não tenho
preocupações quanto à segurança do leite pasteurizado adequadamente ou da carne
e dos ovos cozidos, pois esse vírus não é muito resistente e a pasteurização e
o cozimento devem matá-lo facilmente”, afirma Scott Weese, patobiólogo e
veterinário da Universidade de Guelph, no Canadá.
No
entanto, não se pode dizer o mesmo do leite não pasteurizado. “Houve
relatos de uma infecção por H5N1 em uma criança na Califórnia
associada ao consumo de leite cru, embora isso não tenha sido confirmado
por diagnóstico”, diz Benjamin Anderson, epidemiologista que lidera a equipe de
resposta à gripe aviária do Emerging Pathogens Institute na Universidade da
Flórida. Mesmo assim, ele acrescenta, “considerando o que sabemos sobre
como o leite cru pode conter concentrações muito altas de vírus, é
provável que o consumo de leite contaminado resulte em uma possível infecção
humana”.
A ração crua
ou não pasteurizada para animais de estimação apresenta riscos
semelhantes. É por isso que vários produtos lácteos não pasteurizados
anunciados para uso em animais de estimação foram recolhidos devido à
contaminação por gripe aviária – e a morte de um gato doméstico no
Oregon (Estados Unidos) foi associada a alimentos crus contaminados
para animais de estimação.
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Como
o vírus está afetando o suprimento de alimentos dos Estados Unidos?
Embora os
produtos alimentícios não representem um risco de infecção se forem processados
e cozidos adequadamente, o vírus da gripe aviária ainda está
causando um enorme impacto nas fazendas e mercearias norte-americana
devido ao grande volume de animais afetados: mais de 900 rebanhos de
gado infectados, cerca de 150 milhões de aves agrícolas e
aquáticas contaminadas e mais de 20 milhões de galinhas poedeiras
mortas – além de outros 13,2 milhões de galinhas abatidas em um esforço
para conter a doença.
Além disso, depois
que os rebanhos infectados são eliminados, o fazendeiro ou fabricante
“precisa se concentrar na limpeza e na inspeção de biossegurança
antes de começar a estocar novamente – um processo separado que pode levar
vários meses”, explica Meghan Davis, veterinária da Johns Hopkins Bloomberg
School of Public Health.
Tudo isso, e o fato
de que, mesmo que uma galinha infectada não morra, “ela não botará ovos”, é a razão pela
qual a escassez de ovos é galopante e os preços continuam subindo, observa
Lakdawala.
A infestação
de gado nos Estados Unidos prejudica ainda mais a produção e a
distribuição de leite, pois “a maioria das vacas leiteiras infectadas não
produz leite e até mesmo perde temporariamente a capacidade de recuperar a
produção de leite após a recuperação da doença”, diz Halfmann.
A reinfecção
também pode ocorrer, aumentando ainda mais os atrasos, especialmente quando os
sintomas mais leves passam despercebidos.
·
Como
se manter a salvo da gripe aviária?
Embora o risco
de gripe aviária continue baixo para a maioria das pessoas, há
várias medidas de bom senso que podem ser tomadas para ajudar a
evitar que o vírus infecte seu animal de
estimação ou
seus entes queridos.
Uma dessas medidas
é comprar apenas produtos de origem animal pasteurizados e cozinhar bem a
carne. E se você precisar beber leite não pasteurizado, Anderson recomenda
fervê-lo primeiro para reduzir o risco de infecção.
Também é importante
que tanto os seres humanos quanto os animais de estimação fiquem longe de
animais mortos, doentes ou com comportamento estranho na natureza,
“especialmente pássaros e gatos”, diz Lakdawala, porque o vírus pode ser
transmitido por meio de secreções de animais infectados.
Davis diz que
também é aconselhável usar equipamentos de proteção, como protetores
faciais, máscaras, macacões e luvas, caso você trabalhe com vacas
leiteiras, aves,
pássaros selvagens ou animais doentes em fazendas, zoológicos ou
veterinários.
Manter-se
atualizado com a vacina contra a gripe “também pode ajudar a reduzir a
gravidade de uma infecção por gripe aviária se um indivíduo for infectado”,
acrescenta Halfmann.
A proteção
contra a gripe sazonal também reduz
riscos mais amplos que poderiam prejudicar mais pessoas. “Queremos limitar
a transmissão da gripe humana, uma vez que uma situação muito preocupante
seria alguém ter gripe aviária e gripe sazonal, o que poderia criar a chance de
ocorrência de um novo vírus da gripe com capacidade de transmissão entre as
pessoas”, diz Weese.
Essa é uma das
razões pelas quais os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados
Unidos emitiram uma recomendação para aumentar os testes de gripe
aviária entre as pessoas que chegam ao hospital com sintomas semelhantes
aos da gripe. Fazer isso também pode ajudar a identificar subtipos do
vírus e revelar onde as infecções estão ocorrendo para garantir que a
transmissão entre humanos não comece a acontecer sem o nosso conhecimento.
“Ainda estamos em
uma situação em que o vírus circulante é pouco infeccioso para os seres
humanos”, diz Webby, ‘mas uma única mutação pode mudar isso rapidamente e as
pessoas devem ser educadas e conscientizadas’.
Fonte: National
Geographic Brasil
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