sábado, 22 de fevereiro de 2025

A seita vegana fundada por ex-estagiária da Nasa investigada por 6 assassinatos nos EUA

Um grupo americano semelhante a uma seita, conhecido como Zizians, foi associado a uma série de assassinatos nos Estados Unidos, o que levou a várias prisões.

Mas, afinal, quem são as pessoas por trás deste grupo, e em que elas acreditam?

Jack Lasota, de 34 anos, que supostamente lidera um grupo com algumas dezenas de seguidores, conhecido como Zizians, foi presa no domingo (16/2) ao lado de Michelle Zajko, 32 anos, e Daniel Blank, 26 anos, sob acusações que incluem invasão de propriedade e obstrução.

As autoridades afirmam que estão investigando pelo menos seis assassinatos nos EUA que supostamente estão ligados a membros do grupo, incluindo um duplo homicídio na Pensilvânia, um ataque com faca na Califórnia e o assassinato de um guarda de fronteira dos EUA em janeiro.

Quatro outros supostos membros do grupo já foram acusados de assassinato.

·        A origem do grupo

Lasota, uma mulher transgênero, é supostamente a líder do grupo.

Ela se formou em ciência da computação pela Universidade do Alasca Fairbanks, em 2013 e, de acordo com seu blog, se mudou para a região de San Francisco três anos depois.

Lá, ela escreveu que se candidatou a uma série de empregos em empresas de tecnologia e startups — incluindo um breve estágio na Nasa, a agência espacial americana —, e começou a se associar com pessoas envolvidas no movimento racionalista, uma corrente intelectual popular no Vale do Silício que enfatiza o poder da mente humana para enxergar a verdade com clareza, eliminar vieses e pensamentos ruins, e melhorar os indivíduos e a sociedade.

Lasota começou a escrever em seu blog usando o pseudônimo "Ziz", mas logo se desentendeu com os racionalistas tradicionais quando seus escritos tomaram rumos bizarros.

O blog incluía publicações com milhares de palavras, mesclando as experiências pessoais de Lasota, teorias sobre tecnologia e filosofia e comentários esotéricos sobre cultura pop, programação de computador e dezenas de outros assuntos.

Em determinado momento, durante uma longa diatribe sobre a série The Office, inteligência artificial e outros assuntos, ela escreveu: "Percebi que não era mais capaz de suportar as pessoas. Nem sequer os racionalistas. E eu viveria o resto da minha vida completamente sozinha, escondendo minha reação a qualquer um com quem fosse útil interagir. Eu havia abdicado da minha capacidade de ver a beleza para poder ver o mal."

Outros temas incluíam o veganismo — evitar totalmente qualquer alimento ou produto de origem animal — e o anarquismo.

Em 2019, Lasota e três outras pessoas foram presas durante um protesto do lado de fora de um evento realizado por uma organização racionalista. As últimas postagens em seu blog datam desta época.

·        Falso obituário

Nos anos seguintes, Lasota e outras pessoas se mudaram pelos EUA, de acordo com relatos, chegando a morar em um barco e, mais tarde, em propriedades de terceiros na Califórnia e na Carolina do Norte.

Em 2022, foi emitido um mandado de prisão quando Lasota não compareceu a uma audiência no tribunal, relacionada ao protesto fora da reunião da organização racionalista. Mas seu advogado na época declarou que ela havia "falecido após um acidente de barco na região da Baía de San Francisco".

Um obituário — observando que Lasota amava "aventuras, amigos, a família, música, mirtilos, ciclismo, games de computador e animais" — chegou a ser publicado em um jornal do Alasca.

Mas a história estava errada: Lasota ainda estava viva.

Jessica Taylor, pesquisadora de inteligência artificial que diz ter conhecido vários membros do grupo, contou à agência de notícias Associated Press que Lasota e os zizians forçaram suas crenças racionalistas para justificar a violação das leis.

"Coisas como achar que é razoável evitar o pagamento do aluguel, e se defender de ser despejado", afirmou Taylor.

Poulomi Saha, professora da Universidade da Califórnia em Berkeley, que estuda seitas, diz que, embora não haja uma definição legal estrita deste tipo de grupo, vários dos atributos do Zizians se alinham com a concepção cultural popular do termo.

"Trata-se de um grupo de indivíduos que parecem compartilhar alguns pontos de vista pouco ortodoxos", ela explica. "Isso, por si só, não renderia a eles o rótulo de seita... mas há esta figura de liderança, 'Ziz'."

Saha observa, no entanto, que ainda há uma incerteza significativa sobre as relações entre os membros do grupo e sobre o que pode ter motivado os supostos atos de violência nos últimos anos.

·        Escalada da violência

Pouco tempo depois da publicação do obituário, Lasota reapareceu com outros membros do grupo em Vallejo, na Califórnia, que fica ao norte de San Francisco. Vários membros estavam morando em vans e caminhões em um terreno de propriedade de um homem chamado Curtis Lind.

Em algum momento, os zizians supostamente pararam de pagar o aluguel, e Lind entrou com um processo para despejá-los.

Mas a disputa se intensificou e, em novembro de 2022, Lind foi atacado, esfaqueado 50 vezes, e ficou cego de um olho. Em um ato que a polícia chamaria mais tarde de legítima defesa, ele disparou uma arma que matou Emma Borhanian, ex-funcionária do Google que era um dos zizians, e que já havia sido presa no protesto racionalista.

Dois outros membros, Suri Dao e Somni Logencia, foram presos, acusados de tentativa de homicídio de Lind. Eles permanecem na prisão aguardando julgamento. Lasota também estava no local do ataque, mas não foi acusada de nenhum crime.

No mês seguinte, os pais de uma integrante do Zizians foram mortos em uma pequena cidade da Pensilvânia.

Richard Zajko, de 71 anos, e sua esposa, Rita, de 69 anos, foram encontrados baleados na cabeça em sua residência.

Eles eram os pais de Michelle Zajko, membro do Zizians, que foi brevemente detida pela polícia, mas não foi acusada de nenhum crime.

Lasota foi presa e acusada de obstrução da Justiça e perturbação da ordem em conexão com o incidente.

·        A busca continua

Apesar das ligações com esses dois ataques, o grupo passou despercebido, sem receber muita atenção do público até o início deste ano.

Em 17 de janeiro, Lind, o dono da propriedade na Califórnia que supostamente havia sido atacado por membros do grupo, foi assassinado.

O Departamento de Polícia de Vallejo informou que ele foi esfaqueado até a morte por um agressor que usava uma máscara e um gorro preto.

Mais tarde, a polícia acusou Maximilian Snyder de assassinato, e alegou que Snyder matou Lind para impedi-lo de testemunhar durante o julgamento de tentativa de homicídio.

Poucos dias depois, ocorreu o assassinato de um agente da patrulha de fronteira dos EUA no outro lado do país.

Dois zizians, Teresa Youngblut e Felix Bauckholt, foram parados pelo agente da patrulha de fronteira americana, David Maland, perto da fronteira canadense, em Vermont.

Começou uma troca de tiros. Bauckholt, cidadão alemão que também atendia pelo nome de Ophelia, foi morto no tiroteio junto com Maland.

Youngblut — que antes era conhecida como Milo — foi ferida e, posteriormente, presa sob acusações relacionadas a armas de fogo.

O tiroteio levou a uma busca mais ampla por membros do grupo depois que a polícia disse que a arma usada para matar Maland foi comprada por Michelle Zajko.

·        Fugitivos capturados

Após o tiroteio em Vermont, a polícia da Pensilvânia disse que havia descoberto novas evidências sobre o assassinato dos pais de Zajko, e Jack Lasota estava sendo procurada por não ter comparecido a várias audiências judiciais.

O paradeiro de Lasota e Michelle Zajko era desconhecido até domingo, quando elas foram presas com o companheiro de grupo Daniel Blank, em Maryland.

Um relatório da polícia afirmou que um morador de Frostburg, a cerca de 260 quilômetros a noroeste de Washington DC, havia ligado para a polícia dizendo que queria três pessoas "suspeitas" fora de sua propriedade, depois que elas pediram para acampar em seu terreno por um mês.

A Polícia Estadual de Maryland informou que o trio foi acusado de invasão de propriedade e obstrução, e que Lasota e Zajko foram acusadas adicionalmente de violações relacionadas a armas. Todos os três tiveram o pedido de fiança negado.

O advogado de Lasota, Daniel McGarrigle, se recusou a comentar a prisão, mas enviou à BBC uma declaração que havia feito anteriormente sobre sua cliente, dizendo: "Faço um apelo aos membros da imprensa e ao público que se abstenham de especulações e conclusões prematuras".

¨      3 seitas 'apocalípticas' que levaram seus membros a suicídio em massa

descoberta de uma vala comum, no Quênia, com mais de 80 corpos de seguidores de uma seita — que teriam sido doutrinados por seu líder para morrer de inanição e abandonar sua "vida terrena" — revela o poder de pregadores messiânicos.

Infelizmente, essa é uma história que se repetiu inúmeras vezes nas últimas décadas com desfechos assustadores.

A seguir, apresentamos três casos em que pregadores com teorias absurdas do fim do mundo e promessas de salvação levaram seus seguidores ao suicídio coletivo.

<><> O Templo do Povo, Jonestown, Guiana - 1978

O Templo do Povo foi um grupo religioso fundado nos anos 1950, envolto em mistério e liderado por uma figura marcante: o americano Jim Jones.

O ideal de Jones era criar "um paraíso socialista" no qual não haveria fronteiras de raça ou nacionalidade. Mas esse sonho não se encaixava muito bem em seu país.

Em 1975, Jones convenceu cerca de 900 seguidores a se mudarem para a Guiana, ex-colônia britânica vizinha à Venezuela, onde fundou uma comunidade utópica conhecida como Jonestown.

Os membros do templo foram em grande parte atraídos pelo discurso sedutor de Jones. Esse fascínio logo se transformou em lealdade, que mais tarde se converteu em fanatismo.

E terminou em idolatria.

Pouco a pouco, a personalidade de Jones começou a se tornar errática e paranoica.

Em seus longos discursos, ele falava sobre supostas ameaças contra seu "paraíso" por parte da CIA, a agência de inteligência americana, cujos agentes ele acusava de serem "traidores" e "porcos capitalistas".

Também houve relatos de abusos contra membros da seita. Nas chamadas "noites brancas", eles simulavam suicídios coletivos.

A informação chegou aos ouvidos do deputado pela Califórnia Leo Ryan, que organizou uma viagem a Jonestown para investigar a situação.

Mas a missão terminou tragicamente quando membros do Templo do Povo atiraram em Ryan e em vários de seus acompanhantes.

Foi então que Jones mandou reunir todos os membros da comunidade, a quem pediu uma "noite branca" final.

"Vamos acabar com isso já. Vamos acabar com esta agonia", é possível ouvir ele anunciando em gravações obtidas por uma investigação do FBI, a polícia federal americana.

Os membros da congregação, alguns voluntariamente e outros forçados —incluindo 300 crianças e bebês — tomaram um refresco adulterado com cianeto. No total, mais de 900 pessoas morreram.

Algumas pessoas que haviam se escondido sobreviveram. Jones foi encontrado morto com um tiro na cabeça.

O massacre foi registrado como o maior suicídio coletivo da história.

<><> Ramo Davidiano, Waco, Texas - 1993

O Ramo Davidiano era uma seita com sede perto de Waco, no estado americano do Texas, fundada em 1955 e derivada do grupo religioso davidiano da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Em 1981, Vernon Howell, um jovem que vinha de uma família disfuncional e tinha antecedentes criminais por relações sexuais com uma menor de idade, entrou para a seita davidiana.

Após uma disputa pelo domínio da seita, Howell emergiu como o líder supremo dos davidianos e mudou seu nome para David Koresh, na tentativa de reivindicar sua conexão divina com David, o rei dos judeus, e com Ciro, o Grande, da Pérsia (Koresh significa Ciro em hebraico).

Ele assumiu um papel messiânico, se autodeclarando como o último profeta e afirmando ter recebido o mesmo nível de inspiração de Jesus quando foi batizado.

Seus ensinamentos apocalípticos da Bíblia, incluindo suas interpretações do Livro do Apocalipse e dos Sete Selos, em que previa os eventos que anunciavam o Apocalipse, atraíram muitos seguidores.

Para se preparar para esse apocalipse, Koresh estabeleceu um "Exército de Deus" e começou a acumular um arsenal de armas no complexo davidiano conhecido como Mount Carmel.

Ele também introduziu a ideia de praticar "casamentos espirituais" com inúmeras mulheres da seita de todas as idades. Acredita-se que ele teve mais de dez filhos com elas.

As acusações de abusos sexuais e tráfico de armas levaram o Departamento de Justiça dos EUA a cercar o complexo com 76 agentes com treinamento militar e mandados de busca e prisão.

cerco durou 51 dias e, apesar das negociações iniciais e da liberação de alguns membros, inclusive menores de idade, no dia 19 de abril as autoridades deram início a uma investida final no complexo.

Eles lançaram gás lacrimogêneo, houve troca de tiros e, algumas horas depois, começou um grande incêndio.

Em questão de minutos, o Mount Carmel foi reduzido a cinzas, e os 79 davidianos que estavam dentro do complexo morreram.

Não foi possível estabelecer a origem do incêndio. Koresh havia morrido antes com um tiro na cabeça, mas tampouco se sabe se foi suicídio ou se alguém o matou.

Embora um relatório oficial tenha concluído que a responsabilidade em última análise pela tragédia era de Koresh e seus seguidores por iniciar o incêndio, as decisões e ações tomadas pelas agências governamentais envolvidas no cerco foram duramente criticadas.

<><> Heaven's Gate, Rancho Santa Fé, Califórnia - 1997

Heaven's Gate (que pode ser traduzido como "Portão dos Céus") é considerada uma das primeiras seitas religiosas da era da internet.

Eles usavam a tecnologia digital para difundir suas crenças para um público mais amplo e também como forma de gerar renda.

Foi fundada no início dos anos 1970 por Marshall Applewhite e sua esposa Bonnie Nettles, uma enfermeira que ele conheceu enquanto estava em uma instituição psiquiátrica.

Eles viajaram pelos Estados Unidos recrutando um grupo de seguidores que chamaram de "a tripulação" e acabaram se estabelecendo no sul da Califórnia. Quando Nettles morreu em 1985, Applewhite continuou à frente da congregação.

A filosofia do grupo era uma mistura de princípios da Igreja Presbiteriana e crenças sobre óvnis (sigla usada para designar "objetos voadores não identificados"). Applewhite pregava que ele era o Advento de Cristo, que Deus era um alienígena e que o fim do mundo estava próximo.

Em seus sermões, ele combinava ficção científica com o Antigo Testamento para incitar seus seguidores a "superar suas vibrações genéticas como uma forma de sair de seus veículos para que seus espíritos pudessem ressurgir a bordo de uma nave espacial e alcançar o próximo nível evolutivo acima do ser humano".

Foi assim que os convenceu a consumir purê de maçã e barbitúricos, acompanhados de doses de vodca.

Desta maneira, suas almas liberadas ascenderiam a uma nave espacial que viajava no rastro do cometa Hale-Bopp, que estava passando pela Terra na época, e que os levaria ao seu novo lar no espaço.

Em 26 de março de 1997, a polícia encontrou os corpos de 39 pessoas — incluindo o de Applewhite — cobertos com mantos de cor púrpura, com sacos plásticos na cabeça e vestidos com moletons preto e branco e tênis Nike.

 

Fonte: BBC News

 

Nenhum comentário: