A seita vegana
fundada por ex-estagiária da Nasa investigada por 6 assassinatos nos EUA
Um grupo americano
semelhante a uma seita, conhecido como Zizians, foi associado a uma série de
assassinatos nos Estados Unidos, o que levou a
várias prisões.
Mas, afinal, quem
são as pessoas por trás deste grupo, e em que elas acreditam?
Jack Lasota, de 34
anos, que supostamente lidera um grupo com algumas dezenas de seguidores,
conhecido como Zizians, foi presa no domingo (16/2) ao lado de Michelle Zajko,
32 anos, e Daniel Blank, 26 anos, sob acusações que incluem invasão de
propriedade e obstrução.
As autoridades
afirmam que estão investigando pelo menos seis assassinatos nos EUA que
supostamente estão ligados a membros do grupo, incluindo um duplo homicídio na
Pensilvânia, um ataque com faca na Califórnia e o assassinato de um guarda de
fronteira dos EUA em janeiro.
Quatro outros
supostos membros do grupo já foram acusados de assassinato.
·
A
origem do grupo
Lasota, uma
mulher transgênero, é supostamente a
líder do grupo.
Ela se formou em
ciência da computação pela Universidade do Alasca Fairbanks, em 2013 e, de
acordo com seu blog, se mudou para a região de San Francisco três anos depois.
Lá, ela escreveu
que se candidatou a uma série de empregos em empresas de tecnologia e startups —
incluindo um breve estágio na Nasa, a agência espacial americana —, e começou a
se associar com pessoas envolvidas no movimento racionalista, uma corrente
intelectual popular no Vale do Silício que enfatiza o poder da mente humana
para enxergar a verdade com clareza, eliminar vieses e pensamentos ruins, e
melhorar os indivíduos e a sociedade.
Lasota começou a
escrever em seu blog usando o pseudônimo "Ziz", mas logo se
desentendeu com os racionalistas tradicionais quando seus escritos tomaram
rumos bizarros.
O blog incluía
publicações com milhares de palavras, mesclando as experiências pessoais de
Lasota, teorias sobre tecnologia e filosofia e comentários esotéricos sobre
cultura pop, programação de computador e dezenas de outros assuntos.
Em determinado
momento, durante uma longa diatribe sobre a série The Office, inteligência
artificial e
outros assuntos, ela escreveu: "Percebi que não era mais capaz de suportar
as pessoas. Nem sequer os racionalistas. E eu viveria o resto da minha vida
completamente sozinha, escondendo minha reação a qualquer um com quem fosse
útil interagir. Eu havia abdicado da minha capacidade de ver a beleza para
poder ver o mal."
Outros temas
incluíam o veganismo — evitar
totalmente qualquer alimento ou produto de
origem animal — e o
anarquismo.
Em 2019, Lasota e
três outras pessoas foram presas durante um protesto do lado de fora de um
evento realizado por uma organização racionalista. As últimas postagens em seu
blog datam desta época.
·
Falso
obituário
Nos anos seguintes,
Lasota e outras pessoas se mudaram pelos EUA, de acordo com relatos, chegando a
morar em um barco e, mais tarde, em propriedades de terceiros na Califórnia e
na Carolina do Norte.
Em 2022, foi
emitido um mandado de prisão quando Lasota não compareceu a uma audiência no
tribunal, relacionada ao protesto fora da reunião da organização racionalista.
Mas seu advogado na época declarou que ela havia "falecido após um
acidente de barco na região da Baía de San Francisco".
Um obituário —
observando que Lasota amava "aventuras, amigos, a família, música,
mirtilos, ciclismo, games de computador e animais" — chegou a ser
publicado em um jornal do Alasca.
Mas a história
estava errada: Lasota ainda estava viva.
Jessica Taylor,
pesquisadora de inteligência artificial que diz ter conhecido vários membros do
grupo, contou à agência de notícias Associated Press que Lasota e os zizians
forçaram suas crenças racionalistas para justificar a violação das leis.
"Coisas como
achar que é razoável evitar o pagamento do aluguel, e se defender de ser
despejado", afirmou Taylor.
Poulomi Saha,
professora da Universidade da Califórnia em Berkeley, que estuda seitas, diz
que, embora não haja uma definição legal estrita deste tipo de grupo, vários
dos atributos do Zizians se alinham com a concepção cultural popular do termo.
"Trata-se de
um grupo de indivíduos que parecem compartilhar alguns pontos de vista pouco
ortodoxos", ela explica. "Isso, por si só, não renderia a eles o
rótulo de seita... mas há esta figura de liderança, 'Ziz'."
Saha observa, no
entanto, que ainda há uma incerteza significativa sobre as relações entre os
membros do grupo e sobre o que pode ter motivado os supostos atos de violência
nos últimos anos.
·
Escalada
da violência
Pouco tempo depois
da publicação do obituário, Lasota reapareceu com outros membros do grupo em
Vallejo, na Califórnia, que fica ao norte de San Francisco. Vários membros
estavam morando em vans e caminhões em um terreno de propriedade de um homem
chamado Curtis Lind.
Em algum momento,
os zizians supostamente pararam de pagar o aluguel, e Lind entrou com um
processo para despejá-los.
Mas a disputa se
intensificou e, em novembro de 2022, Lind foi atacado, esfaqueado 50 vezes, e
ficou cego de um olho. Em um ato que a polícia chamaria mais tarde de legítima
defesa, ele disparou uma arma que matou Emma Borhanian, ex-funcionária do
Google que era um dos zizians, e que já havia sido presa no protesto
racionalista.
Dois outros
membros, Suri Dao e Somni Logencia, foram presos, acusados de tentativa de
homicídio de Lind. Eles permanecem na prisão aguardando julgamento. Lasota
também estava no local do ataque, mas não foi acusada de nenhum crime.
No mês seguinte, os
pais de uma integrante do Zizians foram mortos em uma pequena cidade da
Pensilvânia.
Richard Zajko, de
71 anos, e sua esposa, Rita, de 69 anos, foram encontrados baleados na cabeça
em sua residência.
Eles eram os pais
de Michelle Zajko, membro do Zizians, que foi brevemente detida pela polícia,
mas não foi acusada de nenhum crime.
Lasota foi presa e
acusada de obstrução da Justiça e perturbação da ordem em conexão com o
incidente.
·
A
busca continua
Apesar das ligações
com esses dois ataques, o grupo passou despercebido, sem receber muita atenção
do público até o início deste ano.
Em 17 de janeiro,
Lind, o dono da propriedade na Califórnia que supostamente havia sido atacado
por membros do grupo, foi assassinado.
O Departamento de
Polícia de Vallejo informou que ele foi esfaqueado até a morte por um agressor
que usava uma máscara e um gorro preto.
Mais tarde, a
polícia acusou Maximilian Snyder de assassinato, e alegou que Snyder matou Lind
para impedi-lo de testemunhar durante o julgamento de tentativa de homicídio.
Poucos dias depois,
ocorreu o assassinato de um agente da patrulha de fronteira dos EUA no outro
lado do país.
Dois zizians,
Teresa Youngblut e Felix Bauckholt, foram parados pelo agente da patrulha de
fronteira americana, David Maland, perto da fronteira canadense, em Vermont.
Começou uma troca
de tiros. Bauckholt, cidadão alemão que também atendia pelo nome de Ophelia,
foi morto no tiroteio junto com Maland.
Youngblut — que
antes era conhecida como Milo — foi ferida e, posteriormente, presa sob
acusações relacionadas a armas de fogo.
O tiroteio levou a
uma busca mais ampla por membros do grupo depois que a polícia disse que a arma
usada para matar Maland foi comprada por Michelle Zajko.
·
Fugitivos
capturados
Após o tiroteio em
Vermont, a polícia da Pensilvânia disse que havia descoberto novas evidências
sobre o assassinato dos pais de Zajko, e Jack Lasota estava sendo procurada por
não ter comparecido a várias audiências judiciais.
O paradeiro de
Lasota e Michelle Zajko era desconhecido até domingo, quando elas foram presas
com o companheiro de grupo Daniel Blank, em Maryland.
Um relatório da
polícia afirmou que um morador de Frostburg, a cerca de 260 quilômetros a
noroeste de Washington DC, havia ligado para a polícia dizendo que queria três
pessoas "suspeitas" fora de sua propriedade, depois que elas pediram
para acampar em seu terreno por um mês.
A Polícia Estadual
de Maryland informou que o trio foi acusado de invasão de propriedade e obstrução,
e que Lasota e Zajko foram acusadas adicionalmente de violações relacionadas a
armas. Todos os três tiveram o pedido de fiança negado.
O advogado de
Lasota, Daniel McGarrigle, se recusou a comentar a prisão, mas enviou à BBC uma
declaração que havia feito anteriormente sobre sua cliente, dizendo: "Faço
um apelo aos membros da imprensa e ao público que se abstenham de especulações
e conclusões prematuras".
¨ 3 seitas 'apocalípticas' que levaram seus membros a
suicídio em massa
A descoberta de uma
vala comum, no Quênia, com mais de 80 corpos de seguidores de uma seita — que teriam
sido doutrinados por seu líder para morrer de inanição e abandonar sua
"vida terrena" — revela o poder de pregadores messiânicos.
Infelizmente, essa
é uma história que se repetiu inúmeras vezes nas últimas décadas com desfechos
assustadores.
A seguir,
apresentamos três casos em que pregadores com teorias absurdas do fim do mundo
e promessas de salvação levaram seus seguidores ao suicídio coletivo.
<><> O
Templo do Povo, Jonestown, Guiana - 1978
O Templo do Povo
foi um grupo religioso fundado nos anos 1950, envolto em mistério e liderado
por uma figura marcante: o americano Jim Jones.
O ideal de Jones
era criar "um paraíso socialista" no qual não haveria fronteiras de
raça ou nacionalidade. Mas esse sonho não se encaixava muito bem em seu país.
Em 1975, Jones
convenceu cerca de 900 seguidores a se mudarem para a Guiana, ex-colônia
britânica vizinha à Venezuela, onde fundou uma comunidade utópica conhecida
como Jonestown.
Os membros do
templo foram em grande parte atraídos pelo discurso sedutor de Jones. Esse
fascínio logo se transformou em lealdade, que mais tarde se converteu em
fanatismo.
E terminou em
idolatria.
Pouco a pouco, a
personalidade de Jones começou a se tornar errática e paranoica.
Em seus longos
discursos, ele falava sobre supostas ameaças contra seu "paraíso" por
parte da CIA, a agência de inteligência americana, cujos agentes ele acusava de
serem "traidores" e "porcos capitalistas".
Também houve
relatos de abusos contra membros da seita. Nas chamadas "noites
brancas", eles simulavam suicídios coletivos.
A informação chegou
aos ouvidos do deputado pela Califórnia Leo Ryan, que organizou uma viagem a
Jonestown para investigar a situação.
Mas a missão
terminou tragicamente quando membros do Templo do Povo atiraram em Ryan e em
vários de seus acompanhantes.
Foi então que Jones
mandou reunir todos os membros da comunidade, a quem pediu uma "noite
branca" final.
"Vamos acabar
com isso já. Vamos acabar com esta agonia", é possível ouvir ele
anunciando em gravações obtidas por uma investigação do FBI, a polícia federal
americana.
Os membros da
congregação, alguns voluntariamente e outros forçados —incluindo 300 crianças e
bebês — tomaram um refresco adulterado com cianeto. No total, mais de 900
pessoas morreram.
Algumas pessoas que
haviam se escondido sobreviveram. Jones foi encontrado morto com um tiro na
cabeça.
O massacre foi
registrado como o maior suicídio coletivo da história.
<><> Ramo
Davidiano, Waco, Texas - 1993
O Ramo Davidiano
era uma seita com sede perto de Waco, no estado americano do Texas, fundada em
1955 e derivada do grupo religioso davidiano da Igreja Adventista do Sétimo
Dia.
Em 1981, Vernon
Howell, um jovem que vinha de uma família disfuncional e tinha antecedentes
criminais por relações sexuais com uma menor de idade, entrou para a seita
davidiana.
Após uma disputa
pelo domínio da seita, Howell emergiu como o líder supremo dos davidianos e
mudou seu nome para David Koresh, na tentativa de reivindicar sua conexão
divina com David, o rei dos judeus, e com Ciro, o Grande, da Pérsia (Koresh
significa Ciro em hebraico).
Ele assumiu um
papel messiânico, se autodeclarando como o último profeta e afirmando ter
recebido o mesmo nível de inspiração de Jesus quando foi batizado.
Seus ensinamentos
apocalípticos da Bíblia, incluindo suas interpretações do Livro do Apocalipse e
dos Sete Selos, em que previa os eventos que anunciavam o Apocalipse, atraíram
muitos seguidores.
Para se preparar
para esse apocalipse, Koresh estabeleceu um "Exército de Deus" e
começou a acumular um arsenal de armas no complexo davidiano conhecido como
Mount Carmel.
Ele também
introduziu a ideia de praticar "casamentos espirituais" com inúmeras
mulheres da seita de todas as idades. Acredita-se que ele teve mais de dez
filhos com elas.
As acusações de
abusos sexuais e tráfico de armas levaram o Departamento de Justiça dos EUA a cercar
o complexo com 76 agentes com treinamento militar e mandados de busca e prisão.
O cerco durou 51 dias e, apesar das
negociações iniciais e da liberação de alguns membros, inclusive menores de
idade, no dia 19 de abril as autoridades deram início a uma investida final no
complexo.
Eles lançaram gás
lacrimogêneo, houve troca de tiros e, algumas horas depois, começou um grande
incêndio.
Em questão de
minutos, o Mount Carmel foi reduzido a cinzas, e os 79 davidianos que estavam
dentro do complexo morreram.
Não foi possível
estabelecer a origem do incêndio. Koresh havia morrido antes com um tiro na
cabeça, mas tampouco se sabe se foi suicídio ou se alguém o matou.
Embora um relatório
oficial tenha concluído que a responsabilidade em última análise pela tragédia
era de Koresh e seus seguidores por iniciar o incêndio, as decisões e ações
tomadas pelas agências governamentais envolvidas no cerco foram duramente
criticadas.
<><> Heaven's
Gate, Rancho Santa Fé, Califórnia - 1997
Heaven's Gate (que
pode ser traduzido como "Portão dos Céus") é considerada uma das
primeiras seitas religiosas da era da internet.
Eles usavam a
tecnologia digital para difundir suas crenças para um público mais amplo e também
como forma de gerar renda.
Foi fundada no
início dos anos 1970 por Marshall Applewhite e sua esposa Bonnie Nettles, uma
enfermeira que ele conheceu enquanto estava em uma instituição psiquiátrica.
Eles viajaram pelos
Estados Unidos recrutando um grupo de seguidores que chamaram de "a
tripulação" e acabaram se estabelecendo no sul da Califórnia. Quando
Nettles morreu em 1985, Applewhite continuou à frente da congregação.
A filosofia do
grupo era uma mistura de princípios da Igreja Presbiteriana e crenças sobre
óvnis (sigla usada para designar "objetos voadores não
identificados"). Applewhite pregava que ele era o Advento de Cristo, que
Deus era um alienígena e que o fim do mundo estava próximo.
Em seus sermões,
ele combinava ficção científica com o Antigo Testamento para incitar seus
seguidores a "superar suas vibrações genéticas como uma forma de sair de
seus veículos para que seus espíritos pudessem ressurgir a bordo de uma nave
espacial e alcançar o próximo nível evolutivo acima do ser humano".
Foi assim que os
convenceu a consumir purê de maçã e barbitúricos, acompanhados de doses de
vodca.
Desta maneira, suas
almas liberadas ascenderiam a uma nave espacial que viajava no rastro do cometa
Hale-Bopp, que estava passando pela Terra na época, e que os levaria ao seu
novo lar no espaço.
Em 26 de março de
1997, a polícia encontrou os corpos de 39 pessoas — incluindo o de Applewhite —
cobertos com mantos de cor púrpura, com sacos plásticos na cabeça e vestidos
com moletons preto e branco e tênis Nike.
Fonte: BBC News
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