sábado, 22 de fevereiro de 2025

Listz Vieira: Donald Trump – em busca da tirania

Em 18 de fevereiro último, as delegações diplomáticas dos EUA e da Rússia realizaram um encontro na Arábia Saudita para discutir o fim da guerra na Ucrânia e a futura ordem mundial. Decidiram “assentar as bases de uma negociação futura”. Tudo indica que foi o início de um processo de negociação, sem a presença da Ucrânia e da União Europeia.  Donald Trump quer destruir os organismos internacionais de decisão coletiva, como a ONU e a União Europeia, por exemplo. Donald Trump ligou direto para Vladimir Putin com o objetivo de discutir o fim da guerra na Ucrânia. Ignorou a Europa que seguia a política externa dos EUA nos termos dos tratados transatlânticos. E ignorou a ONU que se tornou inoperante face aos últimos conflitos internacionais. Donald Trump e Vladimir Putin têm um objetivo em comum: ambos querem enfraquecer a Europa e substituir a democracia pela tirania.

Historicamente, a democracia moderna nasceu em contraposição a regimes autoritários e déspotas, como a monarquia absoluta cujo poder derivava do direito divino dos reis. Na democracia, o “poder deriva do povo e em seu nome será exercido” princípio constante das Constituições dos países democráticos. Há outros conceitos mais sutis de democracia que não se limitaria a regimes políticos, mas a um modo de existência social. De qualquer forma, os princípios básicos de liberdade, igualdade, diversidade, direitos humanos, tantos os direitos individuais como coletivos, tanto os direitos civis, como os sociais e políticos, são parte integrante do conceito moderno de democracia. Mas a democracia permaneceu engessada em sua vestimenta formal. Anunciou direitos, mas não garantiu a condição de exercício desses direitos. Seria como dizer a um mendigo que ele tem o direito de viajar quando ele mal consegue sobreviver. Boa parte da população – em alguns países a maioria – não percebe os benefícios da democracia pois, em regimes ditatoriais, sua vida é a mesma, sua luta pela sobrevivência é a mesma. Frequentemente, utilizam “estratagemas de sobrevivência” misturando o legal com o ilegal, quando não caem diretamente na criminalidade.

As democracias liberais capitalistas concentraram renda nas mãos de uma minoria e aumentaram as desigualdades sociais. A social democracia, como versão mais humana e social do capitalismo, foi engolida pelo neoliberalismo na maioria dos países ocidentais. Os recursos públicos foram capturados pelo mercado e o Estado passou a ser demonizado, impedido muitas vezes de investir na infraestrutura para garantir o desenvolvimento do país. O mito da austeridade fiscal, defendido como um dogma pela mídia, bloqueia o investimento público e chama de gastos os recursos aplicados na área social, como saúde, educação, habitação, transporte, meio ambiente etc. Esse modelo de democracia formal que marginalizou a maioria da população entrou em crise. A extrema direita, com forte presença nas redes sociais e com a simpatia de boa parte da grande mídia, passou a atacar o “sistema”, obtendo apoio da boa parte da população pobre e miserável que quer mudança sem saber bem para que lado. Quer soluções “radicais” e não o discurso de defesa da democracia que não lhe beneficia. Quando chega no poder, essa extrema direita começa a destruir as instituições que garantem o funcionamento da democracia. Atacam a democracia, os direitos humanos, a diversidade cultural, a independência da Justiça e, no caso da Europa e dos EUA, os imigrantes.

É o caso agora do presidente criminoso dos EUA (criminoso segundo a própria Justiça norte-americana). Ele está destruindo a democracia e abrindo caminho para uma ditadura a partir de dentro. Ou seja, os golpes contra a democracia não vêm mais apenas de fora para dentro, como golpes militares clássicos. Muitas vezes, são presidentes eleitos que corroem por dentro as instituições democráticas com o objetivo de estabelecer um governo autoritário despótico. Além de Donald Trump, temos ainda o exemplo de Benjamin Netaniahu em Israel, Vladimir Putin na Rússia etc. Foi o que Jair Bolsonaro tentou no Brasil, sem sucesso. O capitalismo, em sua versão neoliberal dominante, não parece interessado em conviver com regimes democráticos. Claro que as situações variam conforme cada caso. Mas todas apontam para o crepúsculo da democracia no Ocidente e para o retorno da força bruta com poucos limites, ou mesmo sem nenhum. É a linguagem do poder pelo poder. A força bruta prevalece contra as conquistas da civilização. E grande parte da população, que não foi beneficiada pela democracia, passa a apoiar vendo no tirano um pai salvador, um enviado de Deus para resolver os problemas da nação.

O uso exclusivo da força rompe tradições, sejam boas ou más. Um exemplo recente ocorreu na recente Conferência de Munique sobre Segurança, encerrada em 16/2/2025, quando o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, criticou os países europeus presentes por “supressão da liberdade de expressão” e “falta de democracia”. Seguindo a linha de Donald Trump, humilhou a Europa como já havia humilhado em Paris, em 20 de janeiro passado, quando deu um sermão à União Europeia sobre a sua “regulamentação excessiva” da inteligência artificial. O destaque nessa Conferência em Munique foi para o presidente da Finlândia, Alexander Stubb, que citou Vladímir Lênin a quem atribuiu a seguinte frase: “há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”. O fato a ressaltar é que uma relação transatlântica sólida, um pilar do sistema internacional desde a Segunda Guerra Mundial, de repente, parece profundamente fraturada (Le Monde, 17/2/2025).

A situação é grave. O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, declarou rejeitar uma “paz ditada” por Washington e Moscou. E o primeiro ministro polonês, Donald Tusk, declarou que o “relacionamento transatlântico, a Aliança do Atântico Norte e nossa amizade com os EUA entraram em uma nova fase”. A Europa começou a pagar o preço de sua subserviência aos interesses dos EUA e de seu braço armado, a OTAN. Os EUA possuem cerca de 800 bases militares, terrestres, marítimas e aéreas, a maioria fora de seu território. A Europa assumiu como seu o inimigo declarado pelos EUA: a Rússia, velho inimigo da Guerra Fria. E ignorou os interesses comuns.

O general francês Vincent Desportes, antigo diretor da Escola de Guerra da França, em palestra há alguns anos no Instituto de Estudos Políticos de Paris, mais conhecido como Science Po, defendeu a reaproximação da Europa com a Rússia, tendo em vista os interesses comuns. Que o diga a Alemanha, cuja indústria e domicílios dependiam do gás importado da Rússia, agora interrompido após o atentado que destruiu o gasoduto Nord Stream que ligava a Rússia à Alemanha. E da Alemanha, grande parte do gás era redistribuído para outros países da Europa. Depois disso, a Alemanha entrou em crise, econômica e política.

Percebendo o avanço da multipolaridade no mundo e sentindo o enfraquecimento da hegemonia unilateral dos EUA, Donald Trump começou a destruir as instituições democráticas e praticamente declarou guerra à democracia, já ameaçada pelo avanço da extrema direita em vários países ocidentais. Chamado de “populista” pela mídia corporativa que chama Javier Milei de “libertário”, Donald Trump está lançando os alicerces de uma nova tirania baseada numa ideologia neofascista. Isso faz lembrar a famosa frase de Tocqueville que, ao combater a tirania, afirmou que a anarquia não é o maior dos males que uma democracia deve temer, mas o menor. Donald Trump começou a bombardear alguns simbolos importantes da civilização como direitos humanos, bem como as medidas de proteção ambiental contra as mudanças climáticas que ameaçam a sobrevivência da humanidade, seja pela destruição da biodiversidade ou pelo aquecimento global causado pela emissão de gases de efeito estufa e pelo desmatamento de florestas. A História dá voltas, tem avanços e retrocessos, não é um caminho linear em direção a um futuro grandioso. Nessa atual terceira década do século XXI, o espectro que ronda o mundo não é o comunismo, é o retorno da tirania reforçando a destruição dos valores da civilização e das condições ecológicas que sustentam a vida da humanidade no planeta.

 

¨      A estratégia de Donald Trump em Munique. Por Scott Ritter

Quando me pediram para explicar Donald Trump, senti como se tivesse sido escalado para o personagem Arlequim, solicitado a interpretar os devaneios do fotojornalista anônimo para um mundo de Marlows e Willards descrentes e ignorantes. Tentar explicar o que aconteceu nos últimos dias em Munique é como tentar explicar uma viagem regada a ácido pela toca do coelho com Alice. Você não pode. Especialmente para aqueles que não pagaram a conta e se juntaram a você naquele passeio no tapete mágico. “Compreender Trump” é um exercício de futilidade para aqueles que ainda escolhem ver o mundo através do prisma do que passa por normalidade. Quem acredita em normas definidas por práticas estabelecidas? Não há nada de normal em Trump. E ele está rompendo com práticas estabelecidas em um ritmo que desmente a compreensão. Não há mais espaço para práticas estabelecidas. É uma revolução, querida. E se você não entende isso, então nada faz sentido. Já faz algum tempo que estou no tapete mágico de Donald Trump, convencido de que a alternativa a essa jornada ao coração das trevas da América não era nada menos que o Armagedom nuclear. Eu não deixei cair o ácido. Sou o equivalente a Marlow e Willard, exceto que tenho a longevidade de um Arlequim ou de um fotojornalista anônimo quando se trata de ver padrões no caos.

Participo da viagem de Donald Trump desde 2015. E aqui está a minha opinião.

A Conferência de Segurança de Munique é uma conferência anual sobre política de segurança internacional que acontece em Munique desde 1963. Seu lema é “Paz através do diálogo”. Embora a Conferência de Segurança de Munique atraia um público global, ele atende quase exclusivamente ao público transatlântico, aos acólitos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da União Europeia (UE). O papel dos Estados Unidos tem sido servir como um mentor autoritário, acenando com a cabeça em aprovação nas primeiras filas da plateia e enviando autoridades de alto escalão para falar com seus subordinados europeus do pódio do poder. A Conferência de Segurança de Munique é uma espécie de audição, onde as elites políticas e de segurança da Europa se esforçam para dividir o palco com um membro do establishment americano que lhes dará tapinhas na cabeça, lhes dará um petisco e lhes dirá o bom trabalho que estão fazendo. Na era pós-Guerra Fria, a Europa permitiu-se ser uniformemente influenciada por essa dinâmica senhor-servo. A Conferência de Segurança de Munique nasceu da cautela pragmática demonstrada por seu fundador, Ewald-Heinrich von Kleist- Schmenzin, um co-conspirador na conspiração empreendida pelo Conde Claus von Stauffenberg para assassinar Adolf Hitler em 1944. Von Kleist imaginou a Conferência de Segurança de Munique como um fórum para promover a paz na Europa, para usar o diálogo como um mecanismo para prevenir uma futura guerra europeia.

A visão de Von Kleist, no entanto, vacilou diante da ambição dos Estados Unidos no pós-Guerra Fria de sustentar seu papel como a única superpotência remanescente do mundo, usando instituições transatlânticas e europeias, como a OTAN e a União Europeia, como facilitadoras para a hegemonia contínua dos EUA por meio da implementação ininterrupta da “ordem internacional baseada em regras”. A hipocrisia do Ocidente – a OTAN, a União Europeia e seu senhor supremo, os EUA – foi magistralmente denunciada pelo presidente russo Vladimir Putin em 2007, durante sua brilhante apresentação na Conferência de Segurança de Munique. Mas as elites que se reúnem na Conferência de Segurança de Munique não estão lá para receber sermões ou aprender, mas sim para promulgar os objetivos estratégicos dos EUA, disfarçando-os como iniciativas europeias nascidas de valores europeus. Exceto, como qualquer um que tenha estudado a dinâmica da Conferência de Segurança de Munique sabe – não há mais valores europeus verdadeiros. O objetivo antes louvável de evitar uma repetição da Segunda Guerra Mundial em solo europeu foi substituído por uma câmara de eco estúpida e servil de belicismo imperial americano.

<><> Sérvia. Líbia. Afeganistão. Ucrânia.

A Conferência de Segurança de Munique se tornou nada mais que um carimbo da política externa e de segurança nacional dos Estados Unidos. Os valores europeus de hoje nada mais são do que um verniz de artificialidade, o equivalente a uma colher cheia de açúcar para ajudar os europeus a engolir a amarga realidade de seu servilismo coletivo. Qualquer estudante da América, no entanto, teria percebido o crescente descontentamento do povo americano com as guerras intermináveis promovidas e promulgadas pelo chamado Complexo Militar Industrial-Congressional (CMIC), sobre o qual o presidente Dwight D. Eisenhower alertou em seu discurso de despedida em janeiro de 1961. O establishment americano deixou-se consumir pelas práticas predatórias do Complexo Militar Industrial-Congressional. O povo americano não o fez. E a partir de 2016, o povo americano começou a deixar o establishment saber que não iria mais tolerar essas políticas predatórias, que infectavam todos os aspectos da vida americana. A Revolução Trump começou em 2015, quando ele desceu a escada rolante de seu castelo na Trump Tower para anunciar sua candidatura ao cargo de presidente dos Estados Unidos. E não parou mais desde então. Donald Trump destruiu o edifício corrupto da política republicana clássica ao vencer as primárias republicanas em 2016. Sua vitória na eleição presidencial de 2016 provocou uma onda de choque no establishment, que passou os quatro anos seguintes minando a Revolução Trump interna e externamente. E nos quatro anos seguintes, sob os auspícios de seu garoto-propaganda, Joe Biden, o establishment usou todas as ferramentas de truques sujos do establishment (incluindo processos politicamente motivados em várias frentes e, possivelmente, assassinatos) para impedir a ressurreição de Donald Trump.

Mas a revolução era real, algo que o establishment optou por não acreditar, e Donald Trump – contra todas as probabilidades – ganhou um segundo mandato como o homem mais poderoso do mundo. Só que dessa vez ele havia aprendido as lições do passado. Que ele só podia confiar nas pessoas que vinham de sua órbita pessoal, e não nos antigos servidores do estado profundo. Que as instituições de poder que estavam profundamente enraizadas no corpo da enorme burocracia não eleita que guiava a América, independentemente de quem estivesse no comando do poder executivo, eram o inimigo. E que, como presidente, ele tinha poder praticamente ilimitado para promulgar as mudanças que o povo americano exigia.

Donald Trump parece ter incorporado aspectos do ciclo OODA de John Boyd em seu pensamento estratégico. John Boyd era um piloto de caça da Força Aérea que acreditava que se você assumisse o controle de um combate aéreo – uma luta de cães – fazendo o oponente reagir a você, você venceria todas as vezes. Boyd chamou isso de “entrar no ciclo de tomada de decisão” do inimigo, que ele dividiu em um ciclo de quatro fases que ele chamou de ciclo OODA (Observar, Orientar, Decidir, Agir). Se você pudesse implementar o ciclo OODA mais rápido que seu inimigo, então você estaria “dentro” do ciclo de tomada de decisão dele. E eles morreriam. O aspecto principal do ciclo OODA é o “ciclo” – este não foi um exercício único, mas uma série de ações conectadas, cada uma alimentando a outra. Você tomou uma ação e então observou a reação do inimigo. Você se orienta na reação e decide qual opção é melhor antes de agir. O inimigo agora reage. E o ciclo se repete. Até que o inimigo morra. O objetivo é não desistir depois de lutar, para manter o inimigo reagindo às suas ações até que você o tenha onde deseja. Em Munique, vemos a adaptação clássica do ciclo OODA por Donald Trump para destruir seus inimigos da OTAN e da União Europeia. Agora, nesta conjuntura, alguns podem perguntar: “Espere um minuto. Como a OTAN e a União Europeia se tornaram inimigas de Donald Trump?” A resposta é bem clara – porque eles são uma extensão das elites estabelecidas dos EUA às quais Donald Trump declarou guerra.

Essas são as elites europeias que conspiraram contra Donald Trump durante seu primeiro mandato, que ansiavam pelo ex-presidente Barack Obama enquanto adiavam a promulgação das reformas impostas por Donald Trump na esperança de que o ciclo eleitoral americano expurgasse Trump do cenário político americano. Essas são as pessoas e instituições que redobraram a pressão sobre a belicosidade americana, permitindo-se cair na armadilha da Ucrânia, que foi criada para destruir a Rússia em benefício exclusivo dos Estados Unidos, destruindo a Europa no processo. Os europeus, sempre submissos, estavam cegos demais por sua disposição de servir para ver que eram tão cordeiros sacrificiais quanto a Ucrânia. E, quando parecia que Donald Trump sairia vitorioso, foram os europeus – na OTAN e na União Europeia – que conspiraram com o governo de Joe Biden para “tornar políticas à prova de Trump”, na esperança de que pudessem, mais uma vez, simplesmente sobreviver a quatro anos de trumpismo enquanto o establishment dos EUA continha e minava Donald Trump internamente. Mas Donald Trump aprendeu a lição. A revolução começou no primeiro dia destruindo o establishment com o qual a Europa contava para conter Trump. O Departamento de Justiça, que foi tão efetivamente usado como arma durante o primeiro mandato de Donald Trump e empregado para destruí-lo nos quatro anos seguintes, foi castrado. A comunidade de inteligência, da qual o senador democrata sênior, Chuck Schumer, certa vez se gabou de ter “seis maneiras de destruir Donald Trump a partir de domingo”, foi entregue a Tulsi Gabbard, que a controlará. O establishment da política externa americana foi exposto como um gigantesco esquema de lavagem de dinheiro focado mais na mudança de regime do que na ajuda externa. E o Congresso dos EUA está implicado em tudo isso.

Donald Trump decapitou o próprio establishment com o qual a Europa contava para contê-lo. É isso que acontece nas revoluções. E então Donald Trump voltou sua atenção para a Europa. Tenha em mente que no mundo de Donald Trump, os europeus – especialmente suas instituições gêmeas, a OTAN e a União Europeia – não são aliados, mas inimigos. O novo secretário de defesa de Trump, Pete Hegseth , viajou para a OTAN e avisou a Europa de que as coisas não estavam como de costume e que as percepções que a Europa tinha sobre questões importantes, como a guerra na Ucrânia, eram, na verdade, percepções equivocadas. Nada de OTAN para a Ucrânia. Não há retorno às fronteiras de 1991 com a Rússia. Não haverá tropas americanas na Ucrânia. Nenhuma cobertura da OTAN para qualquer força europeia de “manutenção da paz” que possa ser enviada para a Ucrânia. E a Europa estava pagando por tudo daqui para frente.

Entra em cena o ciclo OODA. Pete Hegseth foi a ação iniciadora. A Europa se esforçou para reagir. Entra em cena o vice-presidente JD Vance. Seu discurso na Conferência de Segurança de Munique não foi concebido como uma obra de genialidade retórica que entraria para a história por sua eloquência e conceitos intelectuais. Foi um cocô no ponche europeu, um soco deliberadamente provocativo diante das normas políticas criadas para injetar caos no senso de ordem do qual a Europa prospera. Enquanto a Europa se esforçava para responder à provocação de Hegseth , agora tinha que se ajustar ao ataque frontal às suas sensibilidades que JD Vance havia desencadeado. O loop OODA estava em modo totalmente operacional. O que quer que os europeus pensassem que a Conferência de Segurança de Munique seria – talvez o fórum para uma resposta contundente aos insultos de Pete Hegseth – desmoronou enquanto eles se esforçavam para responder aos novos insultos lançados por JD Vance, que questionou abertamente o papel da Europa como parceira dos Estados Unidos.

Para as elites europeias reunidas em Munique, que passaram toda a sua existência adulta aperfeiçoando seus papéis – individual e coletivamente – como servos obedientes da América, de repente ouvirem que eram meninos e meninas maus com os quais a América não se identificava mais, foi demais. Munique pode ser lembrada pela apresentação pouco ortodoxa – na verdade, revolucionária – de JD Vance. Mas a experiência de Munique é melhor resumida pela visão e pelo som de Christopher Heusgen, o presidente da Conferência de Segurança de Munique, desabando em lágrimas ao fechar a Conferência de Segurança de Munique, dominado pela realidade de que a Europa nunca foi mais do que uma ferramenta do poder americano, e agora há um mestre americano diferente que decidiu que a Europa não é mais útil como ferramenta. Após o desastre de Munique, a Europa está se esforçando para responder à nova realidade manifestada durante essa Conferência de Segurança de Munique. Enquanto o presidente francês Emmanuel Macron reúne seus aliados europeus para elaborar uma resposta coerente à apostasia de Donald Trump na Ucrânia, Donald Trump enviou uma equipe de negociação de alto nível, liderada pelo Secretário de Estado Marco Rubio, para a Arábia Saudita, onde se reunirá com uma equipe de alto nível semelhante da Rússia, liderada pelo Ministro das Relações Exteriores Sergei Lavrov, para negociar o fim do conflito na Ucrânia e a retomada das relações entre EUA e Rússia, o que significará o fim da relevância da OTAN e da União Europeia. Nem a União Europeia nem a Ucrânia foram convidadas para a mesa.

·        Como explico Munique?

É a aplicação revolucionária do ciclo OODA de John Boyd, um estudo de caso magistral sobre política disruptiva conduzida em uma atmosfera de caos provocada pela desintegração de instituições políticas profundamente enraizadas nas quais o mundo confiava para obter estabilidade. É uma viagem ácida pela toca do coelho, perseguindo um Coelho Branco que não se detém para explicar o que está acontecendo. É um passeio de tapete mágico rumo ao desconhecido, pilotado por um homem que há muito tempo parou de se importar com as coisas que todos nós nos acostumamos a acreditar que serviam como aspectos centrais das vidas que levávamos. É a salva inicial de mudança revolucionária vivenciada por pessoas que não entendem revoluções e não estão preparadas para que uma delas aconteça ao seu redor. É lindo de um jeito horrível. É Donald Trump personificado.

“Você sabia que o homem realmente gosta de você?”, o fotojornalista anônimo conta ao descrente homem comum, Capitão Willard, nas cenas apocalípticas finais de Apocalipse Now. “ Ele gosta de você. Ele realmente gosta de você. Mas ele tem algo em mente para você. Você não está curioso sobre isso? Estou curioso. Estou muito curioso. Você está curioso? Tem algo acontecendo aqui, cara. Você sabe de algo, cara? Eu sei de algo que você não sabe. Isso mesmo, Jack. O homem está claro em sua mente, mas sua alma está louca. Ah, sim. Ele está morrendo, eu acho. Ele odeia tudo isso. Ele odeia! Mas o homem é um – ele lê poesia em voz alta, tudo bem? E uma voz – ele gosta de você porque você ainda está viva. Ele tem planos para você. Não, não. Eu não vou te ajudar. Você vai ajudá-lo, cara. Você vai ajudá-lo. Quero dizer, o que eles vão dizer quando ele se for? Porque ele morre quando isso morre, quando isso morre, ele morre! O que eles vão dizer sobre ele?”

Bem-vindo à Revolução.

 

Fonte: A Terra é Redonda

 

Nenhum comentário: