sábado, 22 de fevereiro de 2025

O que é o estresse térmico?

Quando o corpo humano é exposto a condições climatológicas que alteram sua temperatura interna ideal (a qual varia entre 36,5ºC e 37ºC), a pessoa pode enfrentar um quadro de estresse térmico. Ele pode ocorrer em condições extremas tanto de frio como de calor, como explica um artigo sobre o tema do Ministério da  Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil. 

O documento governamental traz um estudo da Fiocruz (instituição brasileira governamental voltada para a investigação de ciências biológicas e da saúde) que alerta sobre “os potenciais riscos de aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias devido ao estresse térmico”. 

(Vale a pena ler também: O calor extremo é o futuro – e o mundo já tem amostras hoje de como vai ser. Aqui estão 10 dicas práticas para suportá-lo)

·        Como as temperaturas influenciam no estresse térmico? 

Quando o estresse térmico decorre do frio extremo ele resulta em hipotermia – “condição que ocorre quando o corpo humano perde calor mais rapidamente do que consegue produzir, causando uma temperatura corporal perigosamente baixa”,  explica a Mayo Clinic (organização sem fins lucrativos da área de serviços médicos e de pesquisas médico-hospitalares dos Estados Unidos). Neste caso, a temperatura corporal passa a cair e ficar abaixo de 35ºC. 

Se não for tratada, a hipotermia pode levar à morte, já que ela tem potencial para causar falhas no coração e nos sistemas nervoso e respiratório, diz a fonte médica. 

Já no caso do calor extremo, o organismo não consegue baixar a temperatura corporal o suficiente e ele pode ficar superaquecido, continua o artigo da Fiocruz. Isso se dá especialmente durante ondas de calor ou quando existe uma combinação de temperatura ambiente alta e umidade elevada, levando à desidratação, exaustão física e mental, e insolação, entre outros problemas de saúde. 

“A mudança do clima está entre os maiores problemas ambientais da atualidade e entre as dez principais ameaças para a saúde global listadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS)", detalha o artigo do ministério governamental brasileiro. 

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·        Como o estresse térmico afeta a saúde das pessoas? 

Já segundo um artigo publicado na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) – entidade ligada à Fiocruz que produz conhecimento científico e tecnológico e forma profissionais do campo da saúde – o estresse térmico em decorrência do aumento de temperatura pode causar também tonturas, sensação de desmaio, enjoo e dor de cabeça. 

Além disso, a fonte médica também aponta como resultado da maior ocorrência de ondas de calor e, consequentemente, do estresse térmico que elas causam no corpo há um “aumento de hospitalizações e da mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias”. Questões de saúde mental e propagação de doenças vetoriais, como a dengue, por exemplo, disseminada pelo mosquito Aedes aegypti, também são citadas como resultado da alta da temperatura e seu impacto na saúde humana

Já os grupos considerados mais vulneráveis – como grávidas, idosos e pessoas com comorbidades – podem sofrer ainda mais com o estresse térmico. “Nas gestantes, por exemplo, pode haver uma oscilação da pressão arterial”, diz Sandra Hacon, professora da Ensp/Fiocruz.

“Com o aumento global da temperatura, as projeções indicam que haverá intensificação do estresse térmico nos humanos, especialmente nas regiões tropicais", afirma o estudo da Fiocruz. O Brasil é um dos países que está justamente posicionado entre os trópicos e, portanto, mais suscetível aos impactos da mudança climática.

¨      O que uma sensação térmica acima de 50ºC pode fazer ao corpo humano

O ano de 2025 já começou quebrando um recorde. De acordo com o Instituto Copernicus, órgão do observatório climático da União Europeia (UE), janeiro foi o mês mais quente já registrado na história, com um aumento de 1,75ºC em relação ao período pré-industrial. 

Isso significa que a média da temperatura do ar na superfície superou os registros de todos os meses de 2024 – que já havia sido considerado o ano mais até então – chegando a 13,23ºC no mês de janeiro. 

Para boa parte do Hemisfério Sul, que está em sua temporada de verão, essas altas temperaturas se vêem refletidas nas ondas de calor. Elas já começaram a aparecer em lugares como a Argentina – onde os termômetros poderiam marcar até 42°C em previsões feitas pelo Serviço Meteorológico Nacional do país, em fevereiro; bem como no Brasil, onde a sensação térmica poderá passar dos 50ºC, como mostra a projeção de uma tabela criada pelo Núcleo de Climatologia Aplicada da Universidade de São Paulo (USP) neste mês. 

Mas como o corpo humano reage a temperaturas tão altas e sensações térmicas abafantes? Para saber o que acontece no organismo, a National Geographic Brasil conversou com o Dr. Natan Chehter, clínico geral e geriatra membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e do Hospital Estadual Mário Covas, em São Paulo. 

1. Como o corpo humano regula sua temperatura?  

“O corpo humano tem alguns mecanismos que ele usa para tentar regular a temperatura. O objetivo é sempre manter a temperatura corporal estável, então quando está frio, o organismo tenta diminuir as trocas de calor para o ambiente; ao passo que quando está calor, tenta trocar mais desse calor com o ambiente para que o corpo não se esquente”, começa a explicar o especialista. 

Para fazer esse trabalho, o organismo regula o calibre dos vasos sanguíneos, afirma o médico. Isso faz com que as extremidades do corpo (ponta de dedo, nariz, orelhas, etc), que são partes bem irrigadas, tenham o suplemento de sangue para elas controlado, “fazendo com que o organismo trabalhe como se fosse um radiador”, diz.

“Para que haja maior troca de calor no momento em que está quente, é preciso mandar mais sangue para a periferia do corpo. E ao fazer isso, de um ponto de vista de hemodinâmica, significa que o corpo humano está vasodilatando, está aumentando o calibre dos vasos sanguíneos”, afirma a fonte. 

Ao passo que, durante os dias frios, o que ocorre é justamente o contrário. “Por isso que as pessoas reclamam que, quando a temperatura está baixa, começam a doer partes do corpo”, afirma. 

2. Quem fica mais suscetível aos efeitos de uma sensação térmica elevada?

Mas vasodilatar os vasos sanguíneos tem algumas consequências, diz a fonte. “Pacientes saudáveis, em geral, quando têm vasodilatação, não sofrem com essa questão da redução da pressão”, detalha o Dr. Natan Chehter.

O problema acontece quando o indivíduo tem uma regulação mais prejudicada da pressão sanguínea. “Pessoas idosas, crianças, pacientes que já tomam alguma medicação para hipertensão, muitas vezes têm essa regulação da vasodilatação mais prejudicada. A depender de sua saúde cardiovascular, elas podem, eventualmente, sofrer mais com o calor e com o processo de vasodilatação”, diz o médico. 

Além disso, ele detalha que também existem questões individuais, com “pessoas mais sensíveis ao calor” do que outras, pois promovem essas “adaptações do corpo ao calor de forma mais difícil ou mais lenta”. 

3. Como temperaturas muito altas e uma sensação térmica de 50ºC afetam a saúde?

“As reações esperadas ao calor e ao fato do corpo mandar mais sangue para suas extremidades são, por exemplo, uma maior sudorese”, diz o médico. 

Mas o suor excessivo faz a pessoa perder líquidos: “a ideia do corpo é eliminar um pouco de líquido para que ele evapore e seja possível uma troca de calor mais eficaz com o ambiente”, afirma. Mas se a pessoa sua muito e não repõe o líquido perdido através dele, ela acaba se desidratando. 

“Essa é uma consequência muito negativa”, comenta o especialista. E para piorar, as pessoas idosas, em especial, têm um mecanismo de sede prejudicado por causa do envelhecimento de alguns receptores da língua. Isso faz com que o idoso tenha menos sensação de sede”, conta. 

Ainda que isso seja natural do envelhecimento, no calor extremo, a pessoa idosa – que muitas vezes já não tem uma regulação de pressão excelente, igual a de um jovem, e pode ser que tome algum remédio de pressão que é capaz de interferir nesse processo – já não sente tanta sede. Através desses mecanismos todos podem acabar acontecendo uma desidratação ou uma queda de pressão muito importante”.

4. Como a desidratação resultante do calor extremo se manifesta?

 Segundo o expert em saúde, a perda de líquidos pode se manifestar de diversas formas – “desde maior sonolência, torpor, irritação, alterações como convulsões ou desmaios em casos mais extremos”, diz o Dr. Chehter.

“A desidratação grave pode gerar repercussões do ponto de vista de função dos rins, prejudicando sua função e levando o corpo à desregulação dos seus sais minerais”, informa o médico. É o que se chama de distúrbio hidroeletrolítico, detalha ele, reforçando que a desidratação grave “tem impactos muito sérios e pode, sim, vir a causar o óbito”. 

5. É possível “morrer de tanto calor”?

O médico afirma que sim, existem pessoas que podem morrer de calor em decorrência da desidratação. Mas outro motivo que pode levar a pessoa ao óbito é também essa desregulação da pressão. 

“A tentativa de tentar equilibrar uma pressão mais baixa exige também mais da saúde do coração. Muitas das pessoas não aguentam, em especial quem tem problema cardíaco. Então, o calor excessivo para quem tem problemas cardíacos pode ser um grave problema”, completa o médico. 

 

Fonte: National Geographic Brasil

 

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