Aliados de Motta e
oposição ao governo admitem que, hoje, projeto da anistia seria derrotado
Principal aposta da
oposição e do ex-presidente Jair Bolsonaro para livrar
os condenados pelos ataques do dia 8 de janeiro, o projeto
da anistia, neste momento,
ainda não tem votos suficientes para ser aprovado.
Essa
é a avaliação de aliados do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB),
e até mesmo de parlamentares da oposição, que admitem que a matéria seria
derrotada se fosse levada hoje ao plenário da Casa.
“Todo
mundo sabe, sem dúvida nenhuma, que, se o projeto da anistia for para pauta
hoje, será derrotado”, diz um aliado de Motta reservadamente.
A
avaliação de interlocutores do presidente da Câmara é que o próprio PL, partido
de Bolsonaro, tem se segurado para não pressionar que o projeto entre em pauta
agora. Um
importante deputado da oposição disse que a proposta ainda não tem duas coisas:
apoio popular e aderência assertiva de partidos.
Líder
do PL, o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ) disse que não levou o assunto à
reunião de lideranças que ocorreu nesta quinta-feira (20), mas que está
“sondando os líderes”.
Na
avaliação dele, a denúncia da
Procuradoria-Geral da República (PGR) fez com que a proposta ganhasse
apoio. O deputado também critica a condução do ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Alexandre de
Moraes na delação de Mauro Cid.
“Isso
caiu muito mal e está ajudando a gente nas articulações”, diz Sóstenes.
Sinalização das
presidências
Apesar
de ter minimizado o 8 de janeiro, ao dizer que não se tratou de
uma tentativa de golpe, Motta tem repetido a interlocutores que vai manter
serenidade no assunto – ou seja, não vai enterrar a proposta, mas só pautará o
tema se houver ampla maioria das lideranças.
Já
o presidente do Senado, Davi Alcolumbre
(União-AP), se esquivou do tema nesta quarta-feira (19) ao dizer que o projeto “não é
assunto dos brasileiros”.
Apesar
do desestímulo para a oposição, senadores acreditam que o presidente do Senado
“está sendo estratégico” e “não quer se antecipar a um debate que ainda está na
Câmara”, mas dizem que a sua fala não significa descartar o projeto da anistia.
A
avaliação de parlamentares do Centrão é que a forma como a Câmara vai tratar a
matéria será um termômetro importante. “Se passar com folga lá, não será
simples ele [Alcolumbre] segurar o debate no Senado também”, avalia um senador.
Hoje, o projeto da anistia está
parado em uma comissão especial da Câmara para tratar do assunto, que nunca foi
instalada e sequer abriu o prazo para que líderes partidários indiquem os
participantes.
Além
disso, há uma avaliação de que a cúpula do Congresso não vê com bons olhos uma
tentativa de “esticar a corda” com o Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda
vai decidir sobre o destino das emendas parlamentares.
Apesar
de manterem o discurso de que não vão apequenar o Legislativo, os parlamentares
sabem que dependem do STF para liberar as emendas bloqueadas e para eventuais investigações sobre o
desvio desses recursos – que eles mesmos sabem que virão.
'Plano B'
Diante
da falta de votos, a oposição também se articula em um "plano B" para
a anistia, ou seja, uma tentativa de flexibilizar o projeto. Uma ideia seria,
por exemplo, não
anistiar os condenados por dano qualificado e deterioração de patrimônio
tombado.
O
senador Alessandro Vieira (MDB-SE) também já disse que deve apresentar um
projeto "meio termo" sobre a anistia.
“Vejo
uma demanda real para separar 'golpista' daqueles que participaram apenas de
atos materiais. Separando o joio do trigo”, disse.
Parlamentares
que apostam nessa ideia defendem uma dosimetria de pena diferente para pessoas
que, segundo eles, tiveram uma participação menos relevante nos ataques.
<><> Governistas:
denúncia ‘joga por terra’ a anistia
Líderes
do governo no Congresso dizem avaliar que a denúncia da PGR contra o ex-presidente
Bolsonaro e seus aliados "joga por terra" a tese de anistia.
Apesar
de considerar “precipitada” uma avaliação dos impactos da denúncia, o líder do
governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), diz que um projeto para perdoar
tentativa de golpe sequer deveria ser discutido.
"Aqueles
que ficavam impugnando pela anistia, sem dúvida nenhuma, sabem que a denúncia
formulada joga por terra essa tese”, disse. “Nós estamos em tempos de
democracia, não estamos em regime de exceção como em 1964. Houve uma anistia
[depois da ditadura militar] porque acabou um ciclo. Aqui não acabou ciclo
nenhum, nós estamos numa democracia e está se julgando quem elaborou golpe
contra a democracia", afirmou.
Na
mesma linha, o líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães
(PT-CE), vê o projeto da anistia "enterrado".
"Quem pede
anistia é porque cometeu algum crime. Eles, ao pedirem anistia, estão na
prática reconhecendo os crimes que cometeram contra a democracia", afirmou o
parlamentar.
Para
o líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP),
seria um "escândalo" a eventual aprovação do projeto.
“Eu
acho que não tem condições para isso [votar o projeto]. Acho um erro da oposição
a insistência nisso e favorece o governo”, disse. “Qual a agenda deles?
Aprovar, como projeto mais importante para o país, a anistia?”, questiona o
senador.
De
forma reservada, um deputado de esquerda não há "clima nenhum" para
votar o projeto. "Pelo tom de voz dos deputados [aliados de Bolsonaro],
vejo que eles estão desesperados", disse.
<><> Inelegibilidade
Apesar
de o projeto da anistia ser uma das principais pautas de Bolsonaro, o texto em
discussão – ainda que aprovado – manteria a sua inelegibilidade,
que não está vinculada ao dia 8 de janeiro.
O
ex-presidente foi condenado pela Justiça
Eleitoral em 2023 por prática de abuso de poder político e uso indevido dos
meios de comunicação durante
reunião realizada no Palácio da Alvorada com embaixadores estrangeiros. Por
isso, não pode concorrer a um cargo eletivo até 2030.
Ainda
assim, a Oposição também se articula para viabilizar sua candidatura em 2026.
"O
caso dele [de Bolsonaro] é eleitoral. Temos alguns caminhos jurídicos ainda, antes
de uma ação política", diz Sóstenes Cavalcante.
O
líder do PL confirma que uma "alternativa legislativa" seria alterar
a Lei da Ficha Limpa para reduzir o período de inelegibilidade para condenados
pela Justiça Eleitoral, que hoje é de 8 anos.
¨ Bolsonaristas
tentam aprovar anistia no Congresso na base da gritaria, mas enfrentam
resistência
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), teve
que intervir nesta quarta-feira (19) para conter um tumulto que se formou entre
parlamentares da oposição e da base governista por causa da denúncia da
Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Jair Bolsonaro (PL) por suposta
tentativa de golpe de Estado.
A briga começou quando o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) usou a
tribuna para atacar a denúncia da PGR. Em resposta, o líder do PT na Câmara,
Lindbergh Farias (RJ), ao lado de aliados do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), defendeu a prisão de Bolsonaro. Na ocasião, parlamentares da base
governista ainda entoaram “sem anistia”.
Para tentar apaziguar a situação, Motta proibiu a entrada de
parlamentares com faixas no plenário e ameaçou recorrer ao Conselho de Ética
contra os deputados que ofendessem colegas ou atrapalhassem o andamento das
discussões.
Apesar da tensão, a denúncia da PGR contra Bolsonaro não deve alterar a
disposição de Motta de pautar o projeto de lei da anistia aos envolvidos na
tentativa de golpe de Estado. Conforme relatado pelo Valor Econômico, o presidente da Câmara não
tem intenção de patrocinar ou boicotar a pauta.
A bancada governista na Câmara tem aproveitado, ainda, declarações do
presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para pressionar o comando da
Casa a desistir do projeto de anistia. Alcolumbre havia garantido que o Senado
não irá politizar o caso e afirmado que a anistia “não é pauta dos
brasileiros”.
¨ Alcolumbre descarta
anistia aos golpistas: “não é assunto”
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União/AP), defendeu que o
projeto de lei que prevê a anistia aos condenados por tentativa de golpe de
Estado, em tramitação na Câmara dos Deputados, não é um assunto dos brasileiros.
“Isso não é um assunto que nós estamos debatendo. Quando a gente fala
desse assunto em todo instante, a gente está dando, de novo, a oportunidade de
nós ficarmos, na nossa sociedade, dividindo um assunto que não é um assunto dos
brasileiros”, afirmou Alcolumbre.
Para o senador, a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por
tentativa de golpe de Estado contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33
pessoas deve ser estritamente jurídico, sem contaminar o ambiente político do
parlamento.
“Ter a compreensão e a confiança que no Judiciário isso se tratará
dentro dos parâmetros estabelecidos pela legislação brasileira e pelas leis,
com imparcialidade, com cautela. Não é adequado transformar isso em
procedimento político”, completou.
Após a denúncia da PGR, os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro no
Congresso Nacional intensificaram a articulação para pautar o projeto de lei da
Anistia aos envolvidos no 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores de Bolsonaro
depredaram as sedes dos poderes, em Brasília, exigindo um golpe militar no
Brasil.
A denúncia da PGR afirma que houve uma trama golpista liderada pelo
ex-presidente Jair Bolsonaro para permanecer no poder mesmo após a derrota nas
urnas em 2022, incluindo planos para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, o vice, Geraldo Alckmin, e o ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF).
Os envolvidos negam as acusações e defendem que há perseguição política.
Em nota, a defesa do ex-presidente informou ter ficado “estarrecida e indignada
com a denúncia”. A nota afirma que Bolsonaro “jamais compactuou com qualquer
movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as
instituições que o pavimentam”, disse o advogado Paulo Cunha Bueno.
Fonte: g1/Agencia Brasil/Brasil 247
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