Denúncia de
Gonet escancara omissão de Aras em investigar crimes de Bolsonaro
A denúncia
apresentada pelo procurador-geral da República Paulo Gonet contra o
ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas, por tentativa de golpe de
Estado e organização criminosa armada, trouxe à tona a omissão da gestão de
Augusto Aras. É o que aponta o artigo de Frederico Vasconcelos, públicado na
Folha de S. Paulo deste sábado (22).
Embora não
tenha sido citado na peça acusatória e não seja suspeito de incentivar o golpe,
Aras ignorou pedidos para conter o bolsonarismo.
"Os fatos
listados na denúncia permitem situar episódios em que o ex-PGR ignorou pedidos
para conter a escalada de violência que resultou no vandalismo de 8 de janeiro.
Aras foi tolerante com o discurso do ódio", afirma o articulista.
Durante sua
gestão, Aras foi tolerante com o discurso de ódio e evitou investigar Bolsonaro
por eventuais crimes de responsabilidade, como na condução da pandemia. Quando
subprocuradores-gerais solicitaram que ele recomendasse ao então presidente
evitar manifestações contra a política de saúde pública, Aras arquivou o pedido
e criticou os próprios procuradores.
A omissão
também se refletiu na falta de investigação sobre os abusos de poder cometidos
por Bolsonaro em relação às eleições. Paulo Gonet, por sua vez, também foi
questionado por membros do Ministério Público Federal sobre sua demora em agir
contra Bolsonaro em 2021, quando o ex-presidente questionou a segurança do
sistema eletrônico de votação e insinuou medidas de força contra o Judiciário.
Vasconcelos
lembra que a tentativa de golpe promovida pelo bolsonarismo escancarou a
inversão institucional em que a Advocacia-Geral da União assumiu um papel que
caberia ao Ministério Público.
Entre as
consequências mais graves da inoperância de Aras, destaca-se a operação ilegal
da Polícia Rodoviária Federal para dificultar o voto de eleitores de Lula no
Nordeste.
¨ Bolsonaro diz
que quer ser julgado pelo plenário do STF
Jair Bolsonaro
(PL) declarou, em entrevista à Revista Oeste na última
sexta-feira, 21, que deseja ser julgado pelo plenário do Supremo Tribunal
Federal (STF) após ser denunciado por tentativa de golpe de Estado. Bolsonaro
explicou que, na sua visão, deveria ser processado em primeira instância, uma
vez que não ocupa mais um cargo público e, portanto, não teria direito a foro
privilegiado. "Primeiro, eu devia estar na primeira instância, onde o Lula
foi julgado. Se for adequado, é a primeira instância", afirmou. Em
seguida, questionado sobre o formato do julgamento, completou: "Quem está
sendo julgado, tem que ser o plenário. O pessoal do 8 de janeiro está sendo
julgado pelo plenário. Outra, que meu julgamento não seja por intermédio de
gravação de vídeo, tem que ter o debate ali".
Além disso, o
ex-presidente disse ter certeza de que sua defesa utilizará o argumento de
abuso de autoridade contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, em referência
à oitiva de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. De acordo com Bolsonaro,
Moraes teria ameaçado Cid, dizendo que, caso ele caísse em novas contradições,
o acordo de colaboração seria revogado, e as investigações sobre os familiares
do ex-presidente seriam retomadas. "Eu tenho certeza que sim, né? Se bem
que a defesa, você pode ver, foi entregue a denúncia anteontem, se eu não me
engano, há três dias, e no dia seguinte da entrega da denúncia, nós já fomos
notificados com prazo de quinze dias. Algo bastante excessivo, longo o
processo, até com detalhes, muita mentira ali, mas a gente vai ter quinze dias
para explicar", disse.
Bolsonaro
também comentou o impacto das redes sociais na repercussão do caso, que,
segundo ele, evitaram que ele fosse preso. "Se nós não tivéssemos as
mídias sociais, a gente não conseguiria reverter a situação. Eu já estaria
preso há muito tempo", afirmou. Em relação à delação de Mauro Cid, o
ex-presidente se referiu à investigação como "pesca probatória" e
afirmou sentir pena de seu ex-ajudante de ordens. "Eu tenho pena dele, o
que ele está passando, eu falei que ele é filho pra mim, pai dele da minha
turma, com tudo que acontece, e a gente vê que há uma tortura em cima
dele", lamentou.
Sobre o fato
de Alexandre de Moraes participar de seu julgamento, Bolsonaro também expressou
críticas, alegando que o ministro deveria ser impedido de atuar no caso. A
denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) incluiu Moraes entre os alvos
do suposto plano "Punhal Verde e Amarelo", que pretendia o
assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo
Alckmin (PSB) e do próprio ministro. "Obviamente, deveria ter pessoas no
caso impedida de me julgar, mas nós sabemos que o STF toma decisões
políticas", disse. A defesa de Bolsonaro havia pedido o impedimento de
Moraes, mas o Plenário do STF rejeitou a solicitação, afirmando que o crime de
tentativa de golpe de Estado afeta toda a coletividade e não uma vítima
individualizada.
Em outro ponto
da entrevista, Bolsonaro chamou os eventos de 8 de janeiro de
"farsa", afirmando que, se tivesse permanecido no Brasil na data,
provavelmente estaria preso até hoje. "Foi uma farsa esse 8 de janeiro. Se
eu tivesse, eu ouso dizer, se eu tivesse o Brasil de 8 de janeiro, com toda a
certeza estaria preso até hoje. Algo aconteceu e eu resolvi, dia 30 de
dezembro, sair do Brasil", declarou.
¨ Lula rechaça
anistia: “golpistas serão julgados e, se tiverem culpa, serão condenados”
O presidente
Lula participou neste sábado (22) da solenidade em celebração aos 45 anos do
Partido dos Trabalhadores e ressaltou o papel da sigla na resistência,
destacando que segue firme “mudando a história do Brasil” e que “nós ainda
estamos aqui”.
O presidente
afastou, em sua fala, a pauta de anistia da extrema-direita para libertar os
citados na tentativa de golpe de Estado e reforçou que todos “devem ser
julgados e, se tiverem culpa, condenados”.
O chefe do
Executivo também destacou os feitos da gestão e a luta contra as desigualdades
sociais. “Parte da elite não suporta o PT por conta de nossa política de
inclusão, mas nós vamos seguir, firmes, cuidando dos mais pobres, dos empreendedores,
é para isso que o PT nasceu e nós vamos tirar novamente do mapa da fome”,
destacou.
Lula também
afirmou que o PT precisa intensificar o diálogo com as novas facetas do mercado
de trabalho, que agora está se digitalizando e assumindo novas nuances, além de
reforçar a batalha nas redes contra as fake news.
O presidente
ainda citou os ataques à primeira-dama. “Para me atingir, estão atacando a
Janja, é a bola da vez. É uma guerra, mas a Janja conversa comigo de política,
como a dona Marisa também conversava sempre, ou seja, não ligue para a
oposição, Janja. Na minha casa, é proibido proibir”.
¨ Folha assume
informalmente a defesa de Jair Bolsonaro
Diante do fato
histórico da apresntação da denúncia pela PGR e recheado de provas, a Folha de
S. Paulo optou por uma abordagem que, longe de reforçar a defesa das
instituições, parece funcionar como um escudo para o ex-presidente. As matérias
publicadas pelo veículo minimizam as provas e tentam construir uma narrativa
que enfraquece as acusações contra Bolsonaro, em vez de analisá-las com a
seriedade exigida pelo caso.
Na manchete deste sábado (22),
a Folha sugere que houve pressão indevida sobre Mauro Cid, ex-ajudante de
ordens de Bolsonaro e delator no caso. O jornal insinua que o ministro
Alexandre de Moraes teria cometido abuso ao adverti-lo sobre as consequências
de mentir ou omitir informações durante seu depoimento. No entanto, o alerta de
Moraes é um procedimento comum em processos de delação premiada. Acusar o
magistrado de coação é uma manobra conveniente para os aliados de Bolsonaro,
que agora tentam desqualificar provas decisivas para a denúncia.
A comparação
com os abusos da Operação Lava Jato, feita pela Folha, ignora que, neste caso,
não há relatos de prisões prolongadas ou ilegalidades processuais semelhantes
às que levaram à anulação de condenações no passado. A tentativa de equiparar
os contextos é uma estratégia para criar um verniz de irregularidade onde há,
na verdade, o cumprimento dos ritos da Justiça. Além disso, ao dar amplo espaço
para a defesa de Bolsonaro e seus aliados questionarem o processo, a Folha
endossa a tese de perseguição política que tem sido a principal linha de defesa
do ex-presidente.
Em outra matéria, publicada no dia 19, o jornal da família Frias
relativiza as evidências do envolvimento de Bolsonaro no plano "Punhal
Verde Amarelo", que previa o assassinato do presidente Lula e outras
autoridades. O jornal enfatiza que a denúncia da PGR se baseia em "elementos
frágeis", sugerindo que não há provas contundentes de que Bolsonaro anuiu
ao plano. No entanto, a investigação da Polícia Federal demonstra que o
documento foi impresso dentro do Palácio do Planalto e circulou em momentos
coincidentes com a presença de Bolsonaro.
Minimizar
esses indícios e enfatizar supostas fragilidades da acusação reforça um viés
claro: a tentativa de blindar Bolsonaro de um dos crimes mais graves já
investigados contra a democracia brasileira. A Folha de S. Paulo, ao invés de
se posicionar como um veículo comprometido com a verdade e a defesa do Estado
Democrático de Direito, opta por abrir brechas para narrativas revisionistas
que interessam ao bolsonarismo.
¨ Inocentar os
militares pelo golpe é falsificar a verdade. Por Jorge Folena
O Procurador
Geral da República, na denúncia apresentada contra o ex-presidente e seu
séquito golpista, manifestou que (sic): “A decisão dos generais, especialmente
dos que comandavam Regiões, e do Comandante do Exército de se manterem no seu
papel constitucional foi determinante para que o golpe, mesmo tentado, mesmo
posto em curso, não prosperasse.”
O PGR, no seu
estilo liberal clássico, fez a defesa do Exército e acomodou uma instituição
tida por muitos como “defensora” do “interesse nacional”. - “Menas” verdade!,
gritaria indignado o jornalista Hélio Fernandes, se vivo estivesse.
É importante
ressaltar que, em abril de 2018, o Comandante do Exército Brasileiro, à época o
General Eduardo Villas Boas, por meio da sua conta no Twitter (atual
X), ameaçou, em nome do Alto Comando, o Supremo Tribunal Federal, caso
concedesse ordem de habeas corpus em favor do presidente Luís
Inácio Lula da Silva e lhe assegurasse naquela oportunidade o direito
constitucional da presunção de inocência, que lhe permitiria participar da
eleição presidencial daquele ano, cujo vencedor foi Jair Bolsonaro,
representante da extrema direita, apoiado pelos militares.
Daí a “menas”
verdade; pois, se ainda não solucionamos o autoritarismo, muito pode ser
atribuído à atuação constante dos militares brasileiros, cujos CPFs não podem
ser desvinculados do CNPJ, como desejam diversas pessoas, a exemplo do atual
ministro da defesa do governo do presidente Lula.
Para camuflar
o perfil autoritário e antidemocrático decorrente de sua formação na caserna,
os militares costumam vestir uma capa “de defensores do interesse nacional” e,
deste modo, justificam violações à ordem democrática e constitucional, que são
jogadas “às favas” por diversas vezes, sem quaisquer “escrúpulos de
consciência”, como ocorreu na reunião que decidiu pela implantação do Ato
Institucional número 05, de 13 de dezembro de 1968.
Porém, o
“interesse nacional” que os militares dizem defender se revela extremamente
débil, uma vez que eles ajudaram a prevalecer os interesses estrangeiros em
diversas oportunidades, inclusive recentemente, como em 2019, quando entregaram
a Base Aeroespacial de Alcântara, no Maranhão, para utilização pelos Estados
Unidos da América do Norte, sem nos esquecermos jamais da lesa-pátria entrega
dos campos de petróleo da camada do Pré-Sal para exploração por empresas
petroleiras estrangeiras, em detrimento da Petrobras.
O falso
argumento do “interesse nacional” serviu para justificar a implantação da
ditadura militar de 1964-1985, sob o falso pretexto de combater o fantasma da
ação comunista internacional. Além disso, os militares participaram ativamente
do golpe do impeachment de 2016 contra a Presidenta Dilma
Rousseff, cujos efeitos sobre a democracia brasileira são percebidos até hoje e
culminaram na ação golpista do 8 de janeiro de 2023.
No Brasil,
desde o período republicano iniciado em 1889, os militares têm sido agentes
atuantes na política, assumindo diretamente o poder no final do regime imperial
(1822-1889) e participando e colaborando com a derrubada de governos civis,
como ocorreu em 1930 (Washington Luís), em 1945 (Getúlio Vargas), em 1964 (João
Goulart) e em 2016 (Dilma Rousseff).
Além disso, há
registros de atuação das forças militares brasileiras em combates diretos
contra a população civil, a exemplo do que ocorreu nos massacres da “guerra de
Canudos” (1896-1897), “na guerra do Contestado” (1912-1916), no “caldeirão do
Santa Cruz do Deserto” (1937) e durante o regime de 1964-1985, em que civis
foram presos, torturados, desaparecidos e mortos.
Assim,
considero até razoável que tentem poupar a instituição FFAA, para diminuir a
pressão social, mas afirmar que o golpe não ocorreu porque os generais
cumpriram seu papel constitucional é um acinte à inteligência nacional, pois a
maioria dos indivíduos que puseram em prática a trama golpista saiu das portas
dos quarteis do Exército, diante das quais se reuniram e acamparam durante
semanas, sem nenhuma interferência das autoridades da força militar.
Juridicamente,
pode ser que os comandantes do Exército e da Aeronáutica do ex-presidente se
livrem da acusação do delito de prevaricação, pois sabiam das ações golpistas e
nada fizeram formalmente para impedi-las; porém, politicamente, as forças
militares não podem, mais uma vez, falsificar a verdade e tentar apagar os
gravíssimos erros que cometeram ao longo da farsa golpista, até porque milhares
dos seus quadros integraram o governo anterior, que era reconhecido como o
“governo dos militares” e dos apoiadores da ditadura de 1964-1985.
Fonte: Brasil 247
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