segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

BRICS avança no uso de moedas locais em operações comerciais e financeiras

O BRICS, sob a presidência rotativa do Brasil desde 1º de janeiro, anunciou que avançará no uso de moedas locais para transações financeiras no âmbito do comércio e investimentos entre os países-membros. O objetivo é reduzir os custos das operações comerciais e financeiras, favorecendo as economias emergentes.

A confirmação foi dada por Mauricio Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores (MRE), durante uma coletiva de imprensa em Brasília na última sexta-feira, 21 de fevereiro.

·       Iniciativas em Andamento e Prioridades para 2025

Lyrio, que também atua como negociador-chefe do Brasil no BRICS, destacou que o uso de moedas locais já está sendo adotado entre os membros desde 2015 e que esse processo continuará durante a presidência brasileira. Segundo o secretário, o comércio bilateral entre os países do bloco já faz uso regular dessas moedas, o que deve se expandir ao longo deste ano.

O sistema de pagamentos em moedas locais está entre as questões prioritárias do BRICS para este ano, e será debatido nas reuniões agendadas para terça-feira, 25, e quarta-feira, 26 de fevereiro, com a presença de representantes das 11 nações do bloco. Além dos cinco países fundadores – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, o BRICS recebeu, em janeiro de 2024, a adesão de Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã como membros plenos.

·       Moeda Comum Fora da Agenda Imediata

Embora o uso de moedas locais seja um passo importante, Lyrio esclareceu que o BRICS não discutirá, por enquanto, a criação de uma moeda comum para o bloco. O diplomata explicou que a questão é considerada muito complexa, dada a diversidade econômica dos membros, e que o foco está em outras formas de reduzir os custos operacionais.

A ideia de uma moeda comum, portanto, não está sendo abordada no curto prazo, embora Lyrio tenha reconhecido que, no futuro, os chefes de Estado do BRICS poderiam discutir essa possibilidade, caso haja interesse.

Lyrio também abordou as recentes declarações de autoridades internacionais sobre a postura do BRICS em relação ao dólar. Ele afirmou que a decisão de não discutir uma moeda comum não está relacionada às ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que recentemente sinalizou a possibilidade de tarifas elevadas sobre as importações dos países membros, caso o bloco busque alternativas ao dólar em negociações internacionais.

·       Multilateralismo e Reforma da Governança Global

Outro ponto importante levantado por Lyrio foi a vocação do BRICS para reforçar o multilateralismo. O bloco tem como objetivo reformar a governança global, tornando-a mais democrática, inclusiva e representativa, com maior participação das economias emergentes. A promoção de um sistema de governança mais equilibrado é considerada uma prioridade para o BRICS, que busca ampliar sua influência nas decisões globais.

·       Prioridades da Presidência Brasileira no BRICS

As reuniões que ocorrerão entre os representantes do BRICS também servirão para alinhar as outras prioridades do Brasil à frente do grupo. Entre os temas discutidos estarão a cooperação em saúde, o financiamento de ações contra a mudança climática, o comércio, investimentos e finanças do BRICS, a governança da inteligência artificial e o desenvolvimento institucional do bloco.

Essas questões serão apresentadas na Cúpula de Chefes de Estado do BRICS, marcada para os dias 6 e 7 de julho de 2025, no Rio de Janeiro. O evento contará com a participação dos líderes dos países membros do BRICS e é uma oportunidade para discutir as direções futuras do bloco.

·       Abertura das Reuniões e Possibilidade de Discurso do Presidente Lula

O encontro de terça-feira será aberto pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, no Palácio do Itamaraty, em Brasília. Também está prevista uma sessão especial no segundo dia de reuniões, com a possibilidade de um discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos participantes.

A reunião de fevereiro é um passo fundamental para preparar as discussões e decisões que serão apresentadas na Cúpula do BRICS, onde as estratégias e as metas do grupo para o futuro serão mais detalhadamente definidas.

A ênfase no uso de moedas locais e na redução de custos operacionais reflete a busca do BRICS por soluções práticas e eficientes para promover o desenvolvimento econômico entre as nações emergentes.

¨         Conheça as prioridades do Brasil na presidência dos Brics 

A cooperação Sul-Sul, o fortalecimento do multilateralismo e a reforma do sistema de governança global, além da definição de um calendário de prioridades para a presidência brasileira, farão parte dos debates da primeira reunião de representantes, os chamados “sherpas”, dos países que fazem parte dos Brics, e que ocorrerá em Brasília (DF) entre os dias 25 e 26 de fevereiro.

Na manhã desta sexta-feira (21), o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério de Relações Exteriores (MRE), o embaixador Maurício Lyrio, apresentou os principais temas que farão parte das mesas de diálogo. Desde janeiro, o Brasil assumiu a presidência rotativa do bloco, composto também por Rússia, Índia, China e África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Indonésia e Emirados Árabes Unidos.

“E uma reunião inicial, dos sherpas, portanto, é a reunião de apresentação das prioridades, de mapear um pouco como será a presidência até a cúpula prevista para 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro, mas também depois, porque haverá algumas poucas reuniões no calendário depois. Portanto, essa primeira reunião tem o objetivo de traçar o panorama de como será a cúpula”, declarou o embaixador.

Serão sete sessões, começando pela abertura do encontro, no dia 25 de fevereiro, que terá a participação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e uma segunda sessão especial, com a participação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ainda a ser confirmada. As cinco reuniões seguintes serão temáticas, listadas a seguir:

<><> Cooperação em saúde

O embaixador Lyrio disse que o principal tema da presidência brasileira à frente do bloco é a cooperação em saúde. Da mesma forma, como o Brasil priorizou o tema do combate à fome na presidência rotativa do G20, no Brics, o país vai propor ações multilaterais para a erradicação das doenças para as quais já existe profilaxia. O tema foi destaque do programa Repórter SUS do Brasil de Fato neste mês.

“O Brasil quer lançar uma parceria global para a erradicação de doenças socialmente determinadas e doenças tropicais negligenciadas, que incidem mais sobre os países em desenvolvimento. Não são a prioridade mais altas da indústria farmacêutica internacionais”, disse Lyrio.

Segundo o embaixador, o Ministério da Saúde brasileiro deverá apresentar aos sherpas estudos sobre a incidências dessas doenças e propostas de ações para o cumprimento da meta. A iniciativa acontece no momento que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a retirada do país da Organização Mundial da Saúde (OMS), um dos principais órgãos multilaterais do mundo, vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU).

<><> Mudanças no clima

Segundo o embaixador Maurício Lyrio, o foco das discussões sobre as mudanças climáticas será o aumento do financiamento dos países ricos voltado a ações de mitigação dos efeitos do aquecimento global nos países em desenvolvimento.

As necessidades globais não são de centenas de bilhões de dólares, são de trilhões. E as necessidades avaliadas hoje são de US$ 1,3 trilhão para o enfrentamento à mudança do clima”, declarou. “O valor de Baku ficou muito aquém disso”, completou o sherpas brasileiro, mencionando o acordo fechado durante a COP 29, na capital do Azerbaijão, em 2024, que estabeleceu a meta de “pelo menos US$ 300 bilhões por ano” até 2035.

Lyrio lembrou que o Brasil sediará a próxima Cúpula do Clima, a COP 30, no segundo semestre deste ano, e nesse sentido, os países do Brics pretendem discutir uma posição conjunta para fortalecer a necessidade de ampliação do financiamento. “Países em desenvolvimento e emergentes não ficaram satisfeitos com o acordo de Baku. Em relação ao financiamento dos países para o enfrentamento à mudança do clima, os resultados foram modestos, então há um interesse dos países do Brics de reforçar a coordenação durante a presidência do Brasil para levar uma posição conjunta sobre a questão de financiamento do combate à mudança do clima.”

<><> Comércio, investimento e finanças

Sobre economia, Lyrio destacou que estará em debate o uso de moedas locais para transações comerciais entre os países que fazem parte dos Brics, entre outras ações que visam reduzir os custos das operações comerciais, mas descartou a implementação de uma moeda própria do bloco a curto prazo. “A questão de uma moeda do Brics nesse momento não é uma questão que esteja sendo discutida, porque ainda não há hoje um acordo sobre o tema. O fato de o presidente brasileiro defender isso, é a visão de um governo sobre o tema”, afirmou.

Lembrado que a medida tem sido defendida pelo presidente Lula, Lyrio afirmou ser legítima a defesa de um governo, mas que outras medidas de redução de custo deverão ser implementadas antes mesmo de haver um acordo sobre o tema da moeda própria. “O fato de que um país possa defender uma moeda do Brics é uma coisa, e que são projetos que podem acontecer a longo prazo”, disse o embaixador. “Há maneiras de redução de custos de operação que são passos que devem ser tomados antes, inclusive, disso. Mas nada impede que os presidentes discutam isso para um futuro distante”, seguiu.

<><> Governança de inteligência artificial

Um quarto tema que será debatido pelos sherpas dos países membros do Brics será a governança sobre o uso da inteligência artificial e dados. O embaixador destacou o fato de ser uma área nova do conhecimento, que impõe desafios aos países no que se refere à criação de empregos, o desenvolvimento sustentável, possíveis riscos, entre outros.

“A falta de arcabouço para lidar com todos esses assuntos é motivo de preocupação dos países do Brics”, declarou Lyrio. “O Brics tem na sua origem o objetivo de reforçar a governança global. Se há uma área hoje em que a governança global é francamente insuficiente, até porque é uma área nova, é a área de governança de inteligência artificial e dados”, explicou o sherpas.

<><> Desenvolvimento institucional do Brics

Os sherpas que se reunirão em Brasília na próxima semana também vão debater a governança global sobre a inteligência artificial e o desenvolvimento institucional dos Brics, que recebeu novos membros durante a última presidência, que foi liderada pela Rússia.

“O Brics teve uma ampliação nos últimos anos muito impressionante. E, obviamente, isso gera uma série de desafios institucionais que têm que ser tratados por nós. Desde o básico, como a definição da presidência rotativa com esses novos membros, até a revisão dos termos de referência do Brics, que é para facilitar a incorporação suave desses novos membros.”

Os países do Brics correspondem a 48,5% da população mundial e concentra cerca de 31,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de todo o mundo. Além dos 11 países membros, desde a última cúpula do bloco em Kazan, na Rússia, foi criado o grupo de “países parceiros” composto por nove membros, sendo eles, Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Nigéria.

 

¨      Trump ameaça países do BRICS com tarifas de 150% caso tentem substituir o dólar

Durante um evento realizado pela Associação de Governadores Republicanos em Washington, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que, ao assumir a presidência, tomou medidas rígidas contra os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) após alegações de que esses estados estavam buscando alternativas para o dólar americano.

Trump afirmou ter imposto a ameaça de uma tarifa de 150% sobre os produtos desses países caso tentassem substituir a moeda norte-americana no comércio global.

Trump declarou: “Vocês sabem, os estados do BRICS estavam tentando destruir o nosso dólar. Eles queriam criar uma nova moeda.”

O ex-presidente sugeriu que uma das opções discutidas por essas nações seria o uso do yuan chinês como alternativa ao dólar, implicando um fortalecimento da moeda chinesa nas transações internacionais.

Em seu discurso, Trump detalhou a medida que adotou quando chegou à Casa Branca: “Então, quando assumi, a primeira coisa que disse foi: ‘qualquer estado do BRICS que sequer mencionar a destruição do dólar será taxado em 150%’.”

O ex-presidente, conhecido por sua postura protecionista, continuou afirmando que os Estados Unidos não precisavam dos produtos exportados pelos países do BRICS.

“Nós não queremos os seus produtos”, afirmou Trump.

Ele também ressaltou que, após as ameaças de tarifas, os países do BRICS teriam recuado em suas intenções de criar uma moeda própria, observando que, desde então, não houve mais avanços nesse sentido. “Não ouvimos mais nada dos estados do BRICS ultimamente”, acrescentou.

Essa não foi a primeira vez que Trump comentou sobre a possibilidade de tarifas elevadas. O ex-presidente já havia sinalizado anteriormente que poderia impor tarifas de até 100% sobre as importações provenientes dos países do BRICS, caso o bloco avançasse na criação de uma moeda independente ou abandonasse o dólar nas transações internacionais.

Em outra ocasião, Trump foi direto ao afirmar: “Qualquer país que tentar substituir o dólar para realizar comércio internacional dirá ‘adeus aos Estados Unidos’”.

Essas declarações de Trump acontecem em um momento de crescente debate sobre a desdolarização do comércio global. O BRICS tem ampliado suas iniciativas para reduzir a dependência do dólar, particularmente no comércio entre os países membros e com outras nações.

Recentemente, o bloco anunciou uma série de medidas voltadas para o aumento das transações em moedas locais, uma estratégia que busca desafiar a predominância do dólar no sistema financeiro internacional.

A questão da desdolarização tem ganhado força, especialmente com os recentes esforços dos países do BRICS para criar um sistema financeiro mais diversificado.

A utilização de moedas locais em transações internacionais, segundo especialistas, pode representar uma mudança significativa na dinâmica econômica global, reduzindo a influência dos Estados Unidos e do dólar.

No entanto, especialistas também apontam que a mudança pode ser complexa e levar anos para se consolidar, devido à forte presença do dólar nas finanças e no comércio internacional.

Nos últimos anos, o BRICS tem se reunido periodicamente para discutir formas de fortalecer a cooperação econômica e aumentar a influência do bloco no cenário global.

A agenda de desdolarização tem sido uma das principais pautas, com a introdução de mecanismos para promover o uso de moedas locais em acordos comerciais e a exploração de alternativas ao sistema financeiro dominado por Washington e suas instituições, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Enquanto isso, os Estados Unidos, sob a administração de Trump, adotaram uma política externa mais voltada para o nacionalismo econômico e o protecionismo.

Trump tem constantemente enfatizado a importância de priorizar os interesses econômicos dos Estados Unidos em relação a outros países, especialmente em momentos de tensões comerciais e geopolíticas.

A sua postura contra a substituição do dólar reflete a preocupação de que a perda de influência da moeda norte-americana possa minar o poderio econômico e estratégico dos Estados Unidos no mundo.

Em resposta aos comentários de Trump, representantes do BRICS não se pronunciaram oficialmente sobre as ameaças de tarifas, mas especialistas em relações internacionais destacam que o bloco continua avançando em sua agenda de diversificação das moedas usadas no comércio global.

Embora os países do BRICS ainda enfrentem desafios em sua busca por alternativas ao dólar, as movimentações do bloco demonstram uma clara intenção de reduzir a dependência da moeda dos Estados Unidos.

Com o crescimento das economias emergentes e o aumento do poderio econômico da China, a questão da desdolarização do comércio internacional deverá continuar a ser uma questão central nas negociações globais.

A postura de Trump, portanto, reflete não apenas uma resposta a essa movimentação, mas também a tentativa de preservar a posição dominante do dólar no cenário internacional, o que, segundo analistas, poderá ser um tema de debate nos próximos anos, especialmente com a continuidade das iniciativas de cooperação entre os países do BRICS.

¨      China defende Brics contra ameaças de Trump

Em uma coletiva de imprensa recente, um repórter da agência russa RIA Novosti questionou um dos porta-vozes do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, sobre a declaração do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Trump afirmou que o BRICS “morreu” assim que ele ameaçou impor tarifas de 100% aos países que adotassem uma nova moeda para desafiar o dólar americano.

A resposta do porta-voz chinês foi direta: o BRICS não é um bloco de confronto e busca o desenvolvimento conjunto, sem visar terceiros países. Além disso, reafirmou que guerras comerciais e tarifárias não trazem benefícios a ninguém e prejudicam a população global.

>>> A seguir, a resposta completa de Guo Jiakun:

“Como uma importante plataforma de cooperação entre mercados emergentes e países em desenvolvimento, o BRICS defende a abertura, a inclusão e a cooperação de benefício mútuo, e não a confrontação entre blocos, nem visa qualquer terceira parte. O objetivo é alcançar o desenvolvimento e a prosperidade comuns. A China está pronta para continuar trabalhando com os parceiros do BRICS para aprofundar a cooperação prática em diversas áreas e contribuir ainda mais para o crescimento contínuo e estável da economia mundial.

Sobre os aumentos tarifários dos EUA, a China já deixou clara sua posição mais de uma vez. Guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores e prejudicam os interesses das pessoas de todos os países.”


Fonte: O Cafezinho/Brasil de Fato

 

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