BRICS
avança no uso de moedas locais em operações comerciais e financeiras
O BRICS, sob a presidência
rotativa do Brasil desde 1º de janeiro, anunciou que avançará no uso de moedas
locais para transações financeiras no âmbito do comércio e investimentos entre
os países-membros. O objetivo é reduzir os custos das operações comerciais e
financeiras, favorecendo as economias emergentes.
A confirmação foi dada por
Mauricio Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério
das Relações Exteriores (MRE), durante uma coletiva de imprensa em Brasília na
última sexta-feira, 21 de fevereiro.
· Iniciativas em Andamento e
Prioridades para 2025
Lyrio, que também atua como
negociador-chefe do Brasil no BRICS, destacou que o uso de moedas locais já
está sendo adotado entre os membros desde 2015 e que esse processo continuará
durante a presidência brasileira. Segundo o secretário, o comércio bilateral
entre os países do bloco já faz uso regular dessas moedas, o que deve se
expandir ao longo deste ano.
O sistema de pagamentos em moedas
locais está entre as questões prioritárias do BRICS para este ano, e será
debatido nas reuniões agendadas para terça-feira, 25, e quarta-feira, 26 de
fevereiro, com a presença de representantes das 11 nações do bloco. Além dos
cinco países fundadores – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, o
BRICS recebeu, em janeiro de 2024, a adesão de Egito, Emirados Árabes Unidos,
Arábia Saudita, Etiópia e Irã como membros plenos.
· Moeda Comum Fora da Agenda
Imediata
Embora o uso de moedas
locais seja um passo importante, Lyrio esclareceu que o BRICS não discutirá,
por enquanto, a criação de uma moeda comum para o bloco. O diplomata explicou
que a questão é considerada muito complexa, dada a diversidade econômica dos
membros, e que o foco está em outras formas de reduzir os custos operacionais.
A ideia de uma moeda comum,
portanto, não está sendo abordada no curto prazo, embora Lyrio tenha
reconhecido que, no futuro, os chefes de Estado do BRICS poderiam discutir essa
possibilidade, caso haja interesse.
Lyrio também abordou as
recentes declarações de autoridades internacionais sobre a postura do BRICS em
relação ao dólar. Ele afirmou que a decisão de não discutir uma moeda comum não
está relacionada às ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que
recentemente sinalizou a possibilidade de tarifas elevadas sobre as importações
dos países membros, caso o bloco busque alternativas ao dólar em negociações
internacionais.
· Multilateralismo e Reforma
da Governança Global
Outro ponto importante
levantado por Lyrio foi a vocação do BRICS para reforçar o multilateralismo. O
bloco tem como objetivo reformar a governança global, tornando-a mais
democrática, inclusiva e representativa, com maior participação das economias
emergentes. A promoção de um sistema de governança mais equilibrado é
considerada uma prioridade para o BRICS, que busca ampliar sua influência nas
decisões globais.
· Prioridades da Presidência
Brasileira no BRICS
As reuniões que ocorrerão
entre os representantes do BRICS também servirão para alinhar as outras
prioridades do Brasil à frente do grupo. Entre os temas discutidos estarão a
cooperação em saúde, o financiamento de ações contra a mudança climática, o
comércio, investimentos e finanças do BRICS, a governança da inteligência
artificial e o desenvolvimento institucional do bloco.
Essas questões serão
apresentadas na Cúpula de Chefes de Estado do BRICS, marcada para os dias 6 e 7
de julho de 2025, no Rio de Janeiro. O evento contará com a participação dos
líderes dos países membros do BRICS e é uma oportunidade para discutir as
direções futuras do bloco.
· Abertura das Reuniões e
Possibilidade de Discurso do Presidente Lula
O encontro de terça-feira
será aberto pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, no Palácio do
Itamaraty, em Brasília. Também está prevista uma sessão especial no segundo dia
de reuniões, com a possibilidade de um discurso do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva aos participantes.
A reunião de fevereiro é um
passo fundamental para preparar as discussões e decisões que serão apresentadas
na Cúpula do BRICS, onde as estratégias e as metas do grupo para o futuro serão
mais detalhadamente definidas.
A ênfase no uso de moedas
locais e na redução de custos operacionais reflete a busca do BRICS por
soluções práticas e eficientes para promover o desenvolvimento econômico entre
as nações emergentes.
¨
Conheça as prioridades do
Brasil na presidência dos Brics
A cooperação Sul-Sul, o fortalecimento do multilateralismo e a reforma
do sistema de governança global, além da definição de um calendário de
prioridades para a presidência brasileira, farão parte dos debates da primeira
reunião de representantes, os chamados “sherpas”, dos países que fazem parte
dos Brics, e que ocorrerá em Brasília (DF) entre os dias 25 e 26 de fevereiro.
Na manhã desta sexta-feira (21), o secretário de Assuntos Econômicos e
Financeiros do Ministério de Relações Exteriores (MRE), o embaixador Maurício
Lyrio, apresentou os principais temas que farão parte das mesas de diálogo.
Desde janeiro, o Brasil assumiu a
presidência rotativa do bloco, composto
também por Rússia, Índia, China e África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito,
Etiópia, Indonésia e Emirados Árabes Unidos.
“E uma reunião inicial, dos sherpas, portanto, é a reunião de
apresentação das prioridades, de mapear um pouco como será a presidência até a
cúpula prevista para 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro, mas também depois,
porque haverá algumas poucas reuniões no calendário depois. Portanto, essa
primeira reunião tem o objetivo de traçar o panorama de
como será a cúpula”, declarou o embaixador.
Serão sete sessões, começando pela abertura do encontro, no dia 25 de
fevereiro, que terá a participação do ministro das Relações Exteriores, Mauro
Vieira, e uma segunda sessão especial, com a participação do presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva, ainda a ser confirmada. As cinco reuniões seguintes serão temáticas,
listadas a seguir:
<><> Cooperação em saúde
O embaixador Lyrio disse que o principal tema da presidência brasileira
à frente do bloco é a cooperação em saúde. Da mesma forma, como o Brasil
priorizou o tema do combate à fome na presidência rotativa do G20, no Brics, o
país vai propor ações multilaterais para a erradicação das doenças para as
quais já existe profilaxia. O tema foi destaque do programa Repórter SUS do Brasil de Fato neste
mês.
“O Brasil quer lançar uma parceria global para a erradicação de doenças socialmente determinadas e doenças tropicais
negligenciadas, que incidem mais sobre os países em desenvolvimento. Não são
a prioridade mais altas da indústria farmacêutica internacionais”, disse
Lyrio.
Segundo o embaixador, o Ministério da Saúde brasileiro deverá apresentar
aos sherpas estudos sobre a incidências dessas doenças e propostas de ações
para o cumprimento da meta. A iniciativa acontece no momento que o presidente
dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a retirada do país da Organização Mundial da
Saúde (OMS), um dos principais órgãos multilaterais do mundo,
vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU).
<><> Mudanças no clima
Segundo o embaixador Maurício Lyrio, o foco das discussões sobre as
mudanças climáticas será o aumento do financiamento dos países ricos voltado a
ações de mitigação dos efeitos do aquecimento global nos países em
desenvolvimento.
As necessidades globais não são de centenas de bilhões de dólares,
são de trilhões. E as necessidades avaliadas hoje são de US$ 1,3 trilhão
para o enfrentamento à mudança do clima”, declarou. “O valor de Baku ficou muito
aquém disso”, completou o sherpas brasileiro, mencionando o acordo fechado
durante a COP 29, na capital do Azerbaijão, em 2024, que estabeleceu a meta de “pelo menos US$ 300 bilhões por
ano” até 2035.
Lyrio lembrou que o Brasil sediará a próxima Cúpula do Clima, a COP 30, no segundo semestre deste ano, e nesse sentido, os países do Brics
pretendem discutir uma posição conjunta para fortalecer a necessidade de
ampliação do financiamento. “Países em desenvolvimento e emergentes não
ficaram satisfeitos com o acordo de Baku. Em relação ao financiamento dos países para o enfrentamento à mudança do clima, os resultados foram modestos, então há um interesse dos
países do Brics de reforçar a coordenação durante a
presidência do Brasil para levar uma posição conjunta
sobre a questão de financiamento do combate à mudança do clima.”
<><> Comércio, investimento e
finanças
Sobre economia, Lyrio destacou que estará em debate o uso de moedas locais para transações comerciais entre os países que fazem parte dos
Brics, entre outras ações que visam reduzir os custos das operações comerciais,
mas descartou a implementação de uma moeda própria do bloco a curto prazo. “A questão de uma moeda do Brics nesse
momento não é uma questão que esteja sendo discutida, porque ainda não há
hoje um acordo sobre o tema. O fato de o presidente brasileiro defender isso,
é a visão de um governo sobre o tema”, afirmou.
Lembrado que a medida tem sido defendida pelo presidente Lula, Lyrio
afirmou ser legítima a defesa de um governo, mas que outras medidas de redução
de custo deverão ser implementadas antes mesmo de haver um acordo sobre o tema
da moeda própria. “O fato de que um país possa defender uma moeda do Brics é
uma coisa, e que são projetos que podem acontecer a longo prazo”, disse o
embaixador. “Há maneiras de redução de custos de
operação que são passos que devem ser tomados antes, inclusive, disso. Mas
nada impede que os presidentes discutam isso para um futuro distante”, seguiu.
<><> Governança de inteligência
artificial
Um quarto tema que será debatido pelos sherpas dos países membros do
Brics será a governança sobre o uso da inteligência
artificial e dados. O embaixador destacou o fato de ser uma área nova
do conhecimento, que impõe desafios aos países no que se refere à criação de
empregos, o desenvolvimento sustentável, possíveis riscos, entre outros.
“A falta de arcabouço para lidar com todos esses assuntos é motivo de
preocupação dos países do Brics”, declarou Lyrio. “O Brics tem na sua origem o
objetivo de reforçar a governança global. Se há uma área hoje em que a governança global é francamente insuficiente, até porque é uma área nova, é
a área de governança de inteligência artificial e dados”, explicou o sherpas.
<><> Desenvolvimento institucional
do Brics
Os sherpas que se reunirão em Brasília na próxima semana também vão
debater a governança global sobre a inteligência artificial e o desenvolvimento
institucional dos Brics, que recebeu novos membros durante a última
presidência, que foi liderada pela Rússia.
“O Brics teve uma ampliação nos últimos
anos muito impressionante. E, obviamente, isso gera uma série de desafios
institucionais que têm que ser tratados por nós. Desde o básico, como a
definição da presidência rotativa com esses novos membros, até a revisão
dos termos de referência do Brics, que é para facilitar a incorporação suave desses novos membros.”
Os países do Brics correspondem a 48,5% da população mundial e concentra
cerca de 31,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de todo o mundo. Além dos 11
países membros, desde a última cúpula do bloco em Kazan, na Rússia, foi criado o grupo de “países parceiros” composto por nove membros, sendo eles, Belarus, Bolívia,
Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Nigéria.
¨ Trump
ameaça países do BRICS com tarifas de 150% caso tentem substituir o dólar
Durante um evento realizado
pela Associação de Governadores Republicanos em Washington, o ex-presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que, ao assumir a presidência, tomou
medidas rígidas contra os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul) após alegações de que esses estados estavam buscando
alternativas para o dólar americano.
Trump afirmou ter imposto a
ameaça de uma tarifa de 150% sobre os produtos desses países caso tentassem
substituir a moeda norte-americana no comércio global.
Trump declarou: “Vocês
sabem, os estados do BRICS estavam tentando destruir o nosso dólar. Eles
queriam criar uma nova moeda.”
O ex-presidente sugeriu que
uma das opções discutidas por essas nações seria o uso do yuan chinês como
alternativa ao dólar, implicando um fortalecimento da moeda chinesa nas
transações internacionais.
Em seu discurso, Trump
detalhou a medida que adotou quando chegou à Casa Branca: “Então, quando
assumi, a primeira coisa que disse foi: ‘qualquer estado do BRICS que sequer
mencionar a destruição do dólar será taxado em 150%’.”
O ex-presidente, conhecido
por sua postura protecionista, continuou afirmando que os Estados Unidos não
precisavam dos produtos exportados pelos países do BRICS.
“Nós não queremos os seus
produtos”, afirmou Trump.
Ele também ressaltou que,
após as ameaças de tarifas, os países do BRICS teriam recuado em suas intenções
de criar uma moeda própria, observando que, desde então, não houve mais avanços
nesse sentido. “Não ouvimos mais nada dos estados do BRICS ultimamente”,
acrescentou.
Essa não foi a primeira vez
que Trump comentou sobre a possibilidade de tarifas elevadas. O ex-presidente
já havia sinalizado anteriormente que poderia impor tarifas de até 100% sobre
as importações provenientes dos países do BRICS, caso o bloco avançasse na
criação de uma moeda independente ou abandonasse o dólar nas transações
internacionais.
Em outra ocasião, Trump foi
direto ao afirmar: “Qualquer país que tentar substituir o dólar para realizar
comércio internacional dirá ‘adeus aos Estados Unidos’”.
Essas declarações de Trump
acontecem em um momento de crescente debate sobre a desdolarização do comércio
global. O BRICS tem ampliado suas iniciativas para reduzir a dependência do
dólar, particularmente no comércio entre os países membros e com outras nações.
Recentemente, o bloco
anunciou uma série de medidas voltadas para o aumento das transações em moedas
locais, uma estratégia que busca desafiar a predominância do dólar no sistema
financeiro internacional.
A questão da desdolarização
tem ganhado força, especialmente com os recentes esforços dos países do BRICS
para criar um sistema financeiro mais diversificado.
A utilização de moedas
locais em transações internacionais, segundo especialistas, pode representar
uma mudança significativa na dinâmica econômica global, reduzindo a influência
dos Estados Unidos e do dólar.
No entanto, especialistas
também apontam que a mudança pode ser complexa e levar anos para se consolidar,
devido à forte presença do dólar nas finanças e no comércio internacional.
Nos últimos anos, o BRICS
tem se reunido periodicamente para discutir formas de fortalecer a cooperação
econômica e aumentar a influência do bloco no cenário global.
A agenda de desdolarização
tem sido uma das principais pautas, com a introdução de mecanismos para
promover o uso de moedas locais em acordos comerciais e a exploração de
alternativas ao sistema financeiro dominado por Washington e suas instituições,
como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Enquanto isso, os Estados
Unidos, sob a administração de Trump, adotaram uma política externa mais
voltada para o nacionalismo econômico e o protecionismo.
Trump tem constantemente
enfatizado a importância de priorizar os interesses econômicos dos Estados
Unidos em relação a outros países, especialmente em momentos de tensões
comerciais e geopolíticas.
A sua postura contra a
substituição do dólar reflete a preocupação de que a perda de influência da
moeda norte-americana possa minar o poderio econômico e estratégico dos Estados
Unidos no mundo.
Em resposta aos comentários
de Trump, representantes do BRICS não se pronunciaram oficialmente sobre as
ameaças de tarifas, mas especialistas em relações internacionais destacam que o
bloco continua avançando em sua agenda de diversificação das moedas usadas no
comércio global.
Embora os países do BRICS
ainda enfrentem desafios em sua busca por alternativas ao dólar, as
movimentações do bloco demonstram uma clara intenção de reduzir a dependência
da moeda dos Estados Unidos.
Com o crescimento das
economias emergentes e o aumento do poderio econômico da China, a questão da
desdolarização do comércio internacional deverá continuar a ser uma questão
central nas negociações globais.
A postura de Trump,
portanto, reflete não apenas uma resposta a essa movimentação, mas também a
tentativa de preservar a posição dominante do dólar no cenário internacional, o
que, segundo analistas, poderá ser um tema de debate nos próximos anos, especialmente
com a continuidade das iniciativas de cooperação entre os países do BRICS.
¨ China
defende Brics contra ameaças de Trump
Em uma coletiva de imprensa
recente, um repórter da agência russa RIA Novosti questionou um dos porta-vozes
do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, sobre a declaração
do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Trump afirmou que o BRICS
“morreu” assim que ele ameaçou impor tarifas de 100% aos países que adotassem
uma nova moeda para desafiar o dólar americano.
A resposta do porta-voz
chinês foi direta: o BRICS não é um bloco de confronto e busca o
desenvolvimento conjunto, sem visar terceiros países. Além disso, reafirmou que
guerras comerciais e tarifárias não trazem benefícios a ninguém e prejudicam a
população global.
>>> A seguir, a
resposta completa de Guo Jiakun:
“Como uma importante
plataforma de cooperação entre mercados emergentes e países em desenvolvimento,
o BRICS defende a abertura, a inclusão e a cooperação de benefício mútuo, e não
a confrontação entre blocos, nem visa qualquer terceira parte. O objetivo é
alcançar o desenvolvimento e a prosperidade comuns. A China está pronta para
continuar trabalhando com os parceiros do BRICS para aprofundar a cooperação
prática em diversas áreas e contribuir ainda mais para o crescimento contínuo e
estável da economia mundial.
Sobre os aumentos tarifários
dos EUA, a China já deixou clara sua posição mais de uma vez. Guerras
comerciais e tarifárias não têm vencedores e prejudicam os interesses das pessoas
de todos os países.”
Fonte:
O Cafezinho/Brasil de Fato
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