A
crise de Milei e a oportunidade para a luta de classes
Em poucos dias, sua imagem começou a desmoronar. O
apresentador de televisão que saltou vertiginosamente à fama, e passou da fama
à presidência, falando contra a casta, contra os métodos dos políticos, contra
os corruptos, contra aqueles que fazem política por um cargo, expôs sua pior
faceta e sua hipocrisia perante toda a sociedade.
Uma fraude milionária promovida pela presidência da
nação. Uma entrevista marcada com um amigo jornalista que não convenceu
ninguém. Um vazamento que tornou tudo ainda pior, demonstrando que ele não é um
leão, mas um "gatinho mimoso" que tem suas perguntas formuladas e
suas respostas ditadas em seu ouvido. Um caso interno com o principal
conselheiro agindo nas sombras. Um economista “especialista” que desmoronou
diante de sua própria base. Um fenômeno da vizinhança que fez papel de bobo
internacionalmente. Um “mercado” que reagiu fazendo com que títulos e ações
despencassem.
Tudo isso em apenas 72 horas. A crise está se
desenvolvendo rapidamente. Essas poderiam ser apenas novas anedotas do
desacreditado regime político argentino, se não fosse pelo fato de que elas
atingem um pilar fundamental do governo de Milei: sua credibilidade. Tendo assumido o
cargo em uma situação de grande fraqueza institucional (uma minoria no
Congresso Nacional, nenhum governador próprio, um novo partido que funciona
como uma empresa familiar), o presidente contou durante esse tempo com as
esperanças que sua demagogia despertou em quase metade da população e com a
profunda rejeição gerada pelos fracassos dos últimos governos.
É claro que não foi o único. O grande capital emprestou
(e ainda empresta) seu apoio ao ajuste e ao redesenho do país cada vez mais em
favor dos poderosos. As centrais sindicais vendem sua passividade, sem a qual
nada disso seria possível. Os outros blocos parlamentares (PRO, UCR, setores do
peronismo), os votos indispensáveis para apoiar as leis e os vetos. Bullrich,
suas balas e gás.
Mas algo está acontecendo. Já havia sido insinuado nas
últimas semanas. O discurso reacionário no Fórum de Davos contra a diversidade
sexual e as mulheres saiu pela culatra. Uma
multidão o rejeitou nas ruas em 1º de fevereiro, demonstrando a imensa oposição
política e social que, quando não é expressa, é apenas porque há burocratas que
não convocam manifestações. Mas dessa vez a organização por baixo
mostrou seu potencial.
Também havia rumores vindos de cima. Os “mercados”
(inclusive o FMI) têm dúvidas sobre a sustentabilidade do plano. Muitos estão
pedindo desvalorização e desaprovando a falta de acúmulo de reservas, diante de
um governo que quer “segurar o dólar” até as eleições. Economistas de direita,
como Domingo Cavallo e outros, falam abertamente sobre o problema da taxa de
câmbio. Os setores que vivem do mercado interno também estão demonstrando sua
insatisfação com um plano de sobrevalorização do peso, liberalização do
comércio, ajustes e uma queda no consumo que está afetando fortemente as
pessoas. Em janeiro, houve outra queda de 10% no consumo em relação ao ano
anterior, de acordo com a consultora Scentia.
A crise está em andamento. E há novos acontecimentos a
cada hora. Mas uma coisa é certa: a chave para os
trabalhadores é que as condições para sair às ruas e enfrentar o governo e seus
planos melhoraram qualitativamente.
Já será patético toda
vez que um governo de vigaristas quiser demitir uma enfermeira, tirar dinheiro
de um aposentado, encolher o orçamento das universidades ou demitir um
trabalhador em nome da “luta contra a casta”. Ninguém acredita neles. Os ladrões estão
na Quinta de Olivos [Palácio governamental].
A Frente de Izquierda tem exigido uma investigação
minuciosa, que Milei dê explicações e que elas sejam transmitidas em rede
nacional. Essa é a maneira de fazer a mais ampla agitação e denúncia possível
para levar até o fim o desprestígio desse governo de vigaristas.
Mas a esquerda está abordando isso de uma determinada
perspectiva. A acelerada derrota político-moral do governo
nestes dias melhora a relação de forças para a luta de classes. Para que cada
conflito seja vencido, para que cada demanda seja defendida. Para que os
trabalhadores do Hospital Bonaparte se levantem contra as demissões, e que
façam o mesmo os trabalhadores da Shell, da Pilkington e de tantos outros
lugares que estão em luta. Para que as mulheres, a diversidade e a luta contra
a impunidade dos genocídios se expressem novamente com força. Para que os
aposentados revertam o roubo a que estão sendo submetidos. Para que a
universidade volte a estar presente nas ruas.
Não se deve depositar nenhuma confiança no Congresso
Nacional que votou leis e vetos a Milei. Nenhuma solução boa para as maiorias
virá de lá.
Sair às ruas, apoiar cada conflito, levantar cada
bandeira: essa é a perspectiva. Aproveitar esse
momento decisivo para vencer cada conflito e construir a mobilização popular e
dos trabalhadores e o caminho da greve geral para derrotar o governo e seus
planos, ao mesmo tempo em que semeamos uma abordagem programática ampla para
que os capitalistas paguem pela crise.
Porque não sairemos desse desastre com receitas do
passado que já fracassaram, mas com um caminho anticapitalista e socialista.
¨ Milei é
denunciado criminalmente nos Estados Unidos pelo escândalo $LIBRA
A suposta mega
fraude digital $LIBRA chegou às autoridades dos Estados Unidos. O Departamento
de Justiça e o FBI receberam pelo menos uma denúncia criminal contra os
envolvidos no golpe, que teria gerado ganhos ilícitos entre 80 e 100 milhões de
dólares.
O chamado
“relatório de operações criminosas” apontou explicitamente o papel desempenhado
pelo presidente Javier Milei, além de mencionar a participação do norte-americano
Hayden Mark Davis, do singapurense Julian Peh e dos empresários argentinos
Mauricio Novelli e Manuel Terrones Godoy, de origem espanhola.
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Investigação e denúncias
A denúncia foi
apresentada pelo escritório jurídico argentino Moyano & Associados,
especializado em insolvência internacional e fraudes financeiras. O escritório
também notificou a Comissão de Valores dos Estados Unidos (SEC, na sigla em
inglês) sobre as operações ilegais detectadas desde a noite de sexta-feira.
Com um
histórico de colaboração com o FBI, a agência de imigração dos EUA (ICE) e
outras instâncias do Departamento de Justiça, os advogados denunciaram que
representam “principalmente” investidores argentinos, mas que há “milhares” de
outras vítimas, incluindo cidadãos americanos.
O advogado
Mariano Moyano Rodríguez, que já atuou contra fraudes financeiras no passado e
hoje representa 2.500 vítimas do esquema OmegaPro, destacou vários fatores que
confirmariam a jurisdição americana no caso:
Cidadãos
americanos ou residentes nos EUA foram vítimas da fraude e enviaram seus
investimentos a partir dos EUA.
A plataforma
utilizada, chamada “Kip Protocol”, foi desenvolvida nos EUA, e a empresa
controladora, Kip Network Inc, está registrada no estado do Missouri.
Tanto a Kip
Network Inc quanto a Kelsen Ventures – outra empresa supostamente envolvida na
fraude – não estão registradas na SEC e não receberam autorização para operar
como veículos financeiros ou intermediários de investimentos.
Kelsen
Ventures e seu aparente proprietário, Hayden Mark Davis, se apresentaram como
uma empresa e um cidadão americanos.
Além disso, os
registros comerciais disponíveis não contêm informações sobre a Kelsen
Ventures, levantando suspeitas sobre sua real existência. Não há dados
relevantes sobre Hayden Mark Davis, e o advogado da acusação expressou “fortes
suspeitas” de que ele pode ser uma identidade falsa.
Nenhuma
política de prevenção à lavagem de dinheiro foi disponibilizada aos
investidores, nem qualquer análise de risco ou exigência de comprovação de
identidade para abrir contas na plataforma KIP.
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O envolvimento da Casa Rosada
Enquanto a
investigação criminal na Argentina foi encaminhada ao Tribunal Federal da juíza
María Servini, o sistema judicial dos EUA também recebeu a denúncia. O
relatório não apenas acusou Davis, Peh, Novelli e Terrones Godoy, mas também
citou a Casa Rosada.
“Solicitamos
ao Departamento de Justiça que investigue o papel do presidente da República
Argentina, Javier Milei, neste esquema fraudulento, uma vez que ele promoveu esse
projeto e, no passado, apoiou outros empreendimentos que resultaram em
fraudes”, afirmou Moyano Rodríguez, representando os investidores prejudicados.
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Os principais envolvidos
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Hayden Mark Davis – Kelsen Ventures
A empresa
Kelsen Ventures estaria por trás do lançamento do $LIBRA. Davis afirma ser
assessor do governo Milei em questões de “tokenização”. Ele criticou o
presidente argentino por deletar publicações em que apoiava o investimento na
criptomoeda.
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Julian Peh – Kip Protocol
Empresário de
Singapura e advogado, Peh foi um dos responsáveis pelo projeto da criptomoeda e
chegou a se reunir com Milei. Ele tentou distanciar-se da Kelsen Ventures,
atribuindo toda a responsabilidade pelo lançamento do token a Davis e sua
empresa.
Mauricio Novelli
– N&W Professional Partners
Trader e
empresário, Novelli teria sido o elo entre Milei e a Kip Protocol. Conhece
Milei há anos e participou de treinamentos financeiros na empresa N&W
Professional Partners, onde Milei também deu aulas.
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Charles Hoskinson – Criador das criptomoedas Ethereum e Cardano
Referência no
setor, Hoskinson revelou que Novelli e Terrones Godoy tentaram lhe cobrar
propina para organizar uma reunião com Milei. Ele disse que foi enganado e que,
ao chegar à Argentina, foi informado de que só poderia tirar uma foto com o
presidente, a menos que pagasse.
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Karina Milei – Secretária-Geral da Presidência
A irmã do
presidente facilitou reuniões dentro da Casa Rosada entre Mauricio Novelli e
outras figuras envolvidas no caso. Ela também autorizou a entrada de Hayden
Mark Davis no palácio presidencial.
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Javier Milei – Presidente da Argentina
Milei promoveu
o token $LIBRA em suas redes sociais, alegando que ele ajudaria a financiar
startups argentinas e impulsionar a economia. O valor do ativo subiu 20% após
um retuíte do presidente, mas depois colapsou, causando prejuízos estimados em
4 bilhões de dólares. Após o escândalo, Milei deletou suas postagens e alegou
não conhecer os detalhes do projeto.
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Repercussão e próximos passos
A denúncia
apresentada ao Departamento de Justiça dos EUA pode desencadear uma
investigação formal contra os envolvidos, incluindo Milei. Além disso, o
escândalo amplia a pressão política sobre o presidente argentino, cuja relação
com o setor de criptomoedas já havia sido alvo de polêmicas no passado.
O impacto do
caso continua crescendo, com repercussões internacionais e incerteza sobre
possíveis desdobramentos legais tanto na Argentina quanto nos Estados Unidos.
¨ Por um voto: Milei barra criação da CPI do caso das
criptomoedas com apoio da direita
A criação de uma comissão investigativa para esclarecer
as irregularidades por trás da criptomoeda $LIBRA, promovida pelo presidente
Javier Milei, foi debatida no Senado nacional. Essa criptomoeda, cujo valor
despencou, causou perdas significativas para aqueles que confiaram em sua
aparente promessa de estabilidade e lucros.
A proposta de formação da comissão estabeleceu um prazo
de 180 dias para apurar e emitir um relatório sobre as irregularidades e
possíveis crimes associados à $Libra. A lei incluía amplos poderes, como a
capacidade de solicitar informações, realizar buscas e colher depoimentos, com
o objetivo de registrar as denúncias correspondentes caso fossem encontradas
evidências de atos ilegais.
Em sessão realizada na quinta-feira (20/02), o Senado da Argentina
decidiu rechaçar a proposta de criação de uma comissão parlamentar para a
investigação do possível caso de
estelionato com a criptomoeda $LIBRA, promovida pelo
presidente do país, o ultraliberal Javier Milei.
Com 47 votos a favor e 23 contra, faltou apenas um voto
para atingir os 48 necessários. Setores do partido governista, o PRO e alguns
senadores radicais alinhados aos governadores votaram contra, bloqueando o
caminho da comissão.
A proposta não conseguiu
conquistar os votos de partidos de direita conservadora, como o
Proposta Republicana (PRO), liderado pelo ex-presidente Mauricio Macri
(2015-2019), e de centro-direita, como a União Cívica Radical (UCR).
Apesar de ter a palavra “radical” em sua sigla, a UCR representa a social-democracia
argentina – ou o “alfonsinismo”, já que a legenda foi
fundada pelo ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989).
Escandaloso Foram justamente os votos da UCR os mais polêmicos da
jornada, já que a proposta de investigação partiu de Pablo Blanco, um senador desse mesmo partido.
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Assinou o projeto e votou contra
O portal El Destape publicou
uma matéria mostrando que seis senadores da sigla haviam demonstrado, ao longo
da semana, postura crítica ao escândalo envolvendo
Milei, mas acabaram votando contra a investigação do
caso por parte do Legisltivo.
Os parlamentares que “viraram a casaca”, segundo a reportagem, foram:
Eduardo Galaretto, Eduardo Vischi, Mariana Juri, Mercedes
Valenzuela, Stella Maris Olalla e Víctor Zimmerman.
Entre eles, o caso mais destacado foi o de Eduardo Vischi, senador que
chegou a assinar o projeto, mas acabou votando contra ele, com a alegação de
que uma derrota de Milei poderia “fortalecer o kirchnerismo”.
Além do PRO e da UCR, a maioria de 48 votos que rechaçou o projeto da
comissão investigadora contou com a unanimidade da bancada do partido
governista de extrema direita A Liberdade Avança e mais quatro senadores de
movimentos regionalistas.
¨ Entenda
o golpe multimilionário da criptomoeda promovida por Javier Milei
Javier Milei apagou o seu tweet e, mais
tarde, publicou outro, desvinculando-se do “projeto privado”, ao qual afirmou
não ter qualquer ligação. Mas a Internet não esquece.
1) O primeiro tweet de Milei, na
sexta-feira às 19h00, dizia: “A Argentina Liberal cresce!!! Este projeto
privado será dedicado a incentivar o crescimento da economia argentina,
financiando pequenas empresas e empresas argentinas. O mundo quer investir na
Argentina”.
Milei foi o primeiro a mencionar a $LIBRA.
A empresa só publicou algo 3 horas depois, quando tudo já era um escândalo. Mas
ele também incluiu o endereço do contrato inteligente da criptomoeda (como se
vê na imagem). Segundo o jornalista Maximiliano Firtman, ela fez isso porque a
moeda era nova e não estava listada para compra em nenhum lugar. A publicação
segue as técnicas de publicidade ou publicações pagas deste tipo de moedas.
Nada parece ser coincidência.
2) Isto aconteceu apenas 3 minutos depois
de da criptomoeda ter sido criada e do tweet ter sido publicado a partir da
conta de Javier Milei. A página a partir da qual se promoveu o projeto foi
criada na mesma sexta-feira, menos de 24 horas depois da sua criação, com
múltiplos estados de restrição e o proprietário aparece incógnito. Segundo os
especialistas, trata-se de uma criptomoeda com 85% da liquidez em muito poucas
mãos.
3) Poucos minutos depois, um grupo de
pessoas próximas de Milei, como Agustín Laje, Lilia Lemoine, Gordo Dan, entre
outros, retuitaram e promoveram a página.
4) Com a suspeita de que se trataria de uma
“memecoin” (ou seja, uma criptomoeda sem valor que é criada de forma
humorística), a agência de notícias Bloomberg publicou que “o presidente da
Argentina confirmou à Bloomberg Line por mensagem de texto que ‘o projeto é
real’ e envolve ‘financiamento privado puro’.
5) Após a primeira publicação do tweet de
Milei, o preço de $LIBRA em relação ao dólar subiu para mais de $4 dólares,
enquanto que à 1h16 tinha caído para $0,1971 centavos de dólar.
Não se tratou de uma coincidência, mas de
uma fraude intencional: quando havia investimento suficiente para comprar a
criptomoeda, os proprietários retiraram subitamente a liquidez do projeto (o
chamado “Rug Pull”), provocando um colapso do preço para perto de zero.
6) Os seguidores que ainda confiavam em
Milei começaram a suspeitar que a conta X de Milei tinha sido hackeada, uma vez
que as afirmações do presidente não tinham qualquer fundamento. Mas não, era
real.
7) De acordo com Firtman, o golpe está
avaliado entre 70 e 100 milhões de dólares e danificou cerca de 40.000 contas
de criptomoedas que confiaram no que Javier Milei publicou. E acrescenta:
“Qualquer pessoa pode criar uma criptomoeda com 200 dólares em 15 minutos, mas
ninguém vai comprá-la. É preciso confiança e que as pessoas saibam; o
presidente deu isso”.
8) Quem é o dono da empresa? De acordo com
Firtman, a empresa por detrás do projeto é a KIP NETWORK INC, uma empresa
registada no Panamá. Javier Milei conheceu o diretor-geral, Julian Peh, em
outubro passado, no Fórum Tecnológico da Argentina.
“O site Web do projeto tem muito pouca
informação, um e-mail gmail (pouco profissional) e chama-se “Viva la Libertad
Project”, mencionando que é tudo em honra das ideias de Javier Milei que,
insisto, foi quem anunciou o projeto. Ninguém sabia deste projeto até à
publicação do presidente”, afirma Firtman
.“Nesta criptomoeda, os fundadores detinham
70% da moeda em circulação (o habitual é 10-15%). A moeda valia US$ 0,000001.”
9) Qual é o papel de Milei? Por mais que
ele tente se esquivar, a sua promoção do projeto teve um papel fundamental na
fraude, pois para uma nova criptomoeda dar certo é preciso confiança para que
os investidores arrisquem seu dinheiro nela.
Sem as publicações de Milei, que não é
apenas um “influenciador” financeiro, mas o presidente da Argentina e que o
associou a “projetos no país” (embora sem esclarecer como o investimento em
$LIBRA estaria relacionado à Argentina), ninguém investiria nele.
Fonte: Esquerda Diário/O Cafezinho/Opera Mundi
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