segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

A crise de Milei e a oportunidade para a luta de classes

Em poucos dias, sua imagem começou a desmoronar. O apresentador de televisão que saltou vertiginosamente à fama, e passou da fama à presidência, falando contra a casta, contra os métodos dos políticos, contra os corruptos, contra aqueles que fazem política por um cargo, expôs sua pior faceta e sua hipocrisia perante toda a sociedade.

Uma fraude milionária promovida pela presidência da nação. Uma entrevista marcada com um amigo jornalista que não convenceu ninguém. Um vazamento que tornou tudo ainda pior, demonstrando que ele não é um leão, mas um "gatinho mimoso" que tem suas perguntas formuladas e suas respostas ditadas em seu ouvido. Um caso interno com o principal conselheiro agindo nas sombras. Um economista “especialista” que desmoronou diante de sua própria base. Um fenômeno da vizinhança que fez papel de bobo internacionalmente. Um “mercado” que reagiu fazendo com que títulos e ações despencassem.

Tudo isso em apenas 72 horas. A crise está se desenvolvendo rapidamente. Essas poderiam ser apenas novas anedotas do desacreditado regime político argentino, se não fosse pelo fato de que elas atingem um pilar fundamental do governo de Milei: sua credibilidade. Tendo assumido o cargo em uma situação de grande fraqueza institucional (uma minoria no Congresso Nacional, nenhum governador próprio, um novo partido que funciona como uma empresa familiar), o presidente contou durante esse tempo com as esperanças que sua demagogia despertou em quase metade da população e com a profunda rejeição gerada pelos fracassos dos últimos governos.

É claro que não foi o único. O grande capital emprestou (e ainda empresta) seu apoio ao ajuste e ao redesenho do país cada vez mais em favor dos poderosos. As centrais sindicais vendem sua passividade, sem a qual nada disso seria possível. Os outros blocos parlamentares (PRO, UCR, setores do peronismo), os votos indispensáveis para apoiar as leis e os vetos. Bullrich, suas balas e gás.

Mas algo está acontecendo. Já havia sido insinuado nas últimas semanas. O discurso reacionário no Fórum de Davos contra a diversidade sexual e as mulheres saiu pela culatra. Uma multidão o rejeitou nas ruas em 1º de fevereiro, demonstrando a imensa oposição política e social que, quando não é expressa, é apenas porque há burocratas que não convocam manifestações. Mas dessa vez a organização por baixo mostrou seu potencial.

Também havia rumores vindos de cima. Os “mercados” (inclusive o FMI) têm dúvidas sobre a sustentabilidade do plano. Muitos estão pedindo desvalorização e desaprovando a falta de acúmulo de reservas, diante de um governo que quer “segurar o dólar” até as eleições. Economistas de direita, como Domingo Cavallo e outros, falam abertamente sobre o problema da taxa de câmbio. Os setores que vivem do mercado interno também estão demonstrando sua insatisfação com um plano de sobrevalorização do peso, liberalização do comércio, ajustes e uma queda no consumo que está afetando fortemente as pessoas. Em janeiro, houve outra queda de 10% no consumo em relação ao ano anterior, de acordo com a consultora Scentia.

A crise está em andamento. E há novos acontecimentos a cada hora. Mas uma coisa é certa: a chave para os trabalhadores é que as condições para sair às ruas e enfrentar o governo e seus planos melhoraram qualitativamente.

Já será patético toda vez que um governo de vigaristas quiser demitir uma enfermeira, tirar dinheiro de um aposentado, encolher o orçamento das universidades ou demitir um trabalhador em nome da “luta contra a casta”. Ninguém acredita neles. Os ladrões estão na Quinta de Olivos [Palácio governamental].

A Frente de Izquierda tem exigido uma investigação minuciosa, que Milei dê explicações e que elas sejam transmitidas em rede nacional. Essa é a maneira de fazer a mais ampla agitação e denúncia possível para levar até o fim o desprestígio desse governo de vigaristas.

Mas a esquerda está abordando isso de uma determinada perspectiva. A acelerada derrota político-moral do governo nestes dias melhora a relação de forças para a luta de classes. Para que cada conflito seja vencido, para que cada demanda seja defendida. Para que os trabalhadores do Hospital Bonaparte se levantem contra as demissões, e que façam o mesmo os trabalhadores da Shell, da Pilkington e de tantos outros lugares que estão em luta. Para que as mulheres, a diversidade e a luta contra a impunidade dos genocídios se expressem novamente com força. Para que os aposentados revertam o roubo a que estão sendo submetidos. Para que a universidade volte a estar presente nas ruas.

Não se deve depositar nenhuma confiança no Congresso Nacional que votou leis e vetos a Milei. Nenhuma solução boa para as maiorias virá de lá.

Sair às ruas, apoiar cada conflito, levantar cada bandeira: essa é a perspectiva. Aproveitar esse momento decisivo para vencer cada conflito e construir a mobilização popular e dos trabalhadores e o caminho da greve geral para derrotar o governo e seus planos, ao mesmo tempo em que semeamos uma abordagem programática ampla para que os capitalistas paguem pela crise.

Porque não sairemos desse desastre com receitas do passado que já fracassaram, mas com um caminho anticapitalista e socialista.

¨      Milei é denunciado criminalmente nos Estados Unidos pelo escândalo $LIBRA

A suposta mega fraude digital $LIBRA chegou às autoridades dos Estados Unidos. O Departamento de Justiça e o FBI receberam pelo menos uma denúncia criminal contra os envolvidos no golpe, que teria gerado ganhos ilícitos entre 80 e 100 milhões de dólares.

O chamado “relatório de operações criminosas” apontou explicitamente o papel desempenhado pelo presidente Javier Milei, além de mencionar a participação do norte-americano Hayden Mark Davis, do singapurense Julian Peh e dos empresários argentinos Mauricio Novelli e Manuel Terrones Godoy, de origem espanhola.

<><> Investigação e denúncias

A denúncia foi apresentada pelo escritório jurídico argentino Moyano & Associados, especializado em insolvência internacional e fraudes financeiras. O escritório também notificou a Comissão de Valores dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) sobre as operações ilegais detectadas desde a noite de sexta-feira.

Com um histórico de colaboração com o FBI, a agência de imigração dos EUA (ICE) e outras instâncias do Departamento de Justiça, os advogados denunciaram que representam “principalmente” investidores argentinos, mas que há “milhares” de outras vítimas, incluindo cidadãos americanos.

O advogado Mariano Moyano Rodríguez, que já atuou contra fraudes financeiras no passado e hoje representa 2.500 vítimas do esquema OmegaPro, destacou vários fatores que confirmariam a jurisdição americana no caso:

Cidadãos americanos ou residentes nos EUA foram vítimas da fraude e enviaram seus investimentos a partir dos EUA.

A plataforma utilizada, chamada “Kip Protocol”, foi desenvolvida nos EUA, e a empresa controladora, Kip Network Inc, está registrada no estado do Missouri.

Tanto a Kip Network Inc quanto a Kelsen Ventures – outra empresa supostamente envolvida na fraude – não estão registradas na SEC e não receberam autorização para operar como veículos financeiros ou intermediários de investimentos.

Kelsen Ventures e seu aparente proprietário, Hayden Mark Davis, se apresentaram como uma empresa e um cidadão americanos.

Além disso, os registros comerciais disponíveis não contêm informações sobre a Kelsen Ventures, levantando suspeitas sobre sua real existência. Não há dados relevantes sobre Hayden Mark Davis, e o advogado da acusação expressou “fortes suspeitas” de que ele pode ser uma identidade falsa.

Nenhuma política de prevenção à lavagem de dinheiro foi disponibilizada aos investidores, nem qualquer análise de risco ou exigência de comprovação de identidade para abrir contas na plataforma KIP.

<><> O envolvimento da Casa Rosada

Enquanto a investigação criminal na Argentina foi encaminhada ao Tribunal Federal da juíza María Servini, o sistema judicial dos EUA também recebeu a denúncia. O relatório não apenas acusou Davis, Peh, Novelli e Terrones Godoy, mas também citou a Casa Rosada.

“Solicitamos ao Departamento de Justiça que investigue o papel do presidente da República Argentina, Javier Milei, neste esquema fraudulento, uma vez que ele promoveu esse projeto e, no passado, apoiou outros empreendimentos que resultaram em fraudes”, afirmou Moyano Rodríguez, representando os investidores prejudicados.

<<<< Os principais envolvidos

<><> Hayden Mark Davis – Kelsen Ventures

A empresa Kelsen Ventures estaria por trás do lançamento do $LIBRA. Davis afirma ser assessor do governo Milei em questões de “tokenização”. Ele criticou o presidente argentino por deletar publicações em que apoiava o investimento na criptomoeda.

<><> Julian Peh – Kip Protocol

Empresário de Singapura e advogado, Peh foi um dos responsáveis pelo projeto da criptomoeda e chegou a se reunir com Milei. Ele tentou distanciar-se da Kelsen Ventures, atribuindo toda a responsabilidade pelo lançamento do token a Davis e sua empresa.

Mauricio Novelli – N&W Professional Partners

Trader e empresário, Novelli teria sido o elo entre Milei e a Kip Protocol. Conhece Milei há anos e participou de treinamentos financeiros na empresa N&W Professional Partners, onde Milei também deu aulas.

<><> Charles Hoskinson – Criador das criptomoedas Ethereum e Cardano

Referência no setor, Hoskinson revelou que Novelli e Terrones Godoy tentaram lhe cobrar propina para organizar uma reunião com Milei. Ele disse que foi enganado e que, ao chegar à Argentina, foi informado de que só poderia tirar uma foto com o presidente, a menos que pagasse.

<><> Karina Milei – Secretária-Geral da Presidência

A irmã do presidente facilitou reuniões dentro da Casa Rosada entre Mauricio Novelli e outras figuras envolvidas no caso. Ela também autorizou a entrada de Hayden Mark Davis no palácio presidencial.

<><> Javier Milei – Presidente da Argentina

Milei promoveu o token $LIBRA em suas redes sociais, alegando que ele ajudaria a financiar startups argentinas e impulsionar a economia. O valor do ativo subiu 20% após um retuíte do presidente, mas depois colapsou, causando prejuízos estimados em 4 bilhões de dólares. Após o escândalo, Milei deletou suas postagens e alegou não conhecer os detalhes do projeto.

<><> Repercussão e próximos passos

A denúncia apresentada ao Departamento de Justiça dos EUA pode desencadear uma investigação formal contra os envolvidos, incluindo Milei. Além disso, o escândalo amplia a pressão política sobre o presidente argentino, cuja relação com o setor de criptomoedas já havia sido alvo de polêmicas no passado.

O impacto do caso continua crescendo, com repercussões internacionais e incerteza sobre possíveis desdobramentos legais tanto na Argentina quanto nos Estados Unidos.

¨      Por um voto: Milei barra criação da CPI do caso das criptomoedas com apoio da direita

A criação de uma comissão investigativa para esclarecer as irregularidades por trás da criptomoeda $LIBRA, promovida pelo presidente Javier Milei, foi debatida no Senado nacional. Essa criptomoeda, cujo valor despencou, causou perdas significativas para aqueles que confiaram em sua aparente promessa de estabilidade e lucros.

A proposta de formação da comissão estabeleceu um prazo de 180 dias para apurar e emitir um relatório sobre as irregularidades e possíveis crimes associados à $Libra. A lei incluía amplos poderes, como a capacidade de solicitar informações, realizar buscas e colher depoimentos, com o objetivo de registrar as denúncias correspondentes caso fossem encontradas evidências de atos ilegais.

Em sessão realizada na quinta-feira (20/02), o Senado da Argentina decidiu rechaçar a proposta de criação de uma comissão parlamentar para a investigação do possível caso de estelionato com a criptomoeda $LIBRA, promovida pelo presidente do país, o ultraliberal Javier Milei.

Com 47 votos a favor e 23 contra, faltou apenas um voto para atingir os 48 necessários. Setores do partido governista, o PRO e alguns senadores radicais alinhados aos governadores votaram contra, bloqueando o caminho da comissão.

A proposta não conseguiu conquistar os votos de partidos de direita conservadora, como o Proposta Republicana (PRO), liderado pelo ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), e de centro-direita, como a União Cívica Radical (UCR).

Apesar de ter a palavra “radical” em sua sigla, a UCR representa a social-democracia argentina – ou o “alfonsinismo”, já que a legenda foi fundada pelo ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989).

Escandaloso Foram justamente os votos da UCR os mais polêmicos da jornada, já que a proposta de investigação partiu de Pablo Blanco, um senador desse mesmo partido.

<><> Assinou o projeto e votou contra

O portal El Destape publicou uma matéria mostrando que seis senadores da sigla haviam demonstrado, ao longo da semana, postura crítica ao escândalo envolvendo Milei, mas acabaram votando contra a investigação do caso por parte do Legisltivo.

Os parlamentares que “viraram a casaca”, segundo a reportagem, foram: Eduardo Galaretto, Eduardo Vischi, Mariana Juri, Mercedes Valenzuela, Stella Maris Olalla e Víctor Zimmerman.

Entre eles, o caso mais destacado foi o de Eduardo Vischi, senador que chegou a assinar o projeto, mas acabou votando contra ele, com a alegação de que uma derrota de Milei poderia “fortalecer o kirchnerismo”.

Além do PRO e da UCR, a maioria de 48 votos que rechaçou o projeto da comissão investigadora contou com a unanimidade da bancada do partido governista de extrema direita A Liberdade Avança e mais quatro senadores de movimentos regionalistas.

¨      Entenda o golpe multimilionário da criptomoeda promovida por Javier Milei

Javier Milei apagou o seu tweet e, mais tarde, publicou outro, desvinculando-se do “projeto privado”, ao qual afirmou não ter qualquer ligação. Mas a Internet não esquece.

1) O primeiro tweet de Milei, na sexta-feira às 19h00, dizia: “A Argentina Liberal cresce!!! Este projeto privado será dedicado a incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empresas argentinas. O mundo quer investir na Argentina”. 

Milei foi o primeiro a mencionar a $LIBRA. A empresa só publicou algo 3 horas depois, quando tudo já era um escândalo. Mas ele também incluiu o endereço do contrato inteligente da criptomoeda (como se vê na imagem). Segundo o jornalista Maximiliano Firtman, ela fez isso porque a moeda era nova e não estava listada para compra em nenhum lugar. A publicação segue as técnicas de publicidade ou publicações pagas deste tipo de moedas. Nada parece ser coincidência.

2) Isto aconteceu apenas 3 minutos depois de da criptomoeda ter sido criada e do tweet ter sido publicado a partir da conta de Javier Milei. A página a partir da qual se promoveu o projeto foi criada na mesma sexta-feira, menos de 24 horas depois da sua criação, com múltiplos estados de restrição e o proprietário aparece incógnito. Segundo os especialistas, trata-se de uma criptomoeda com 85% da liquidez em muito poucas mãos.

3) Poucos minutos depois, um grupo de pessoas próximas de Milei, como Agustín Laje, Lilia Lemoine, Gordo Dan, entre outros, retuitaram e promoveram a página.

4) Com a suspeita de que se trataria de uma “memecoin” (ou seja, uma criptomoeda sem valor que é criada de forma humorística), a agência de notícias Bloomberg publicou que “o presidente da Argentina confirmou à Bloomberg Line por mensagem de texto que ‘o projeto é real’ e envolve ‘financiamento privado puro’.

5) Após a primeira publicação do tweet de Milei, o preço de $LIBRA em relação ao dólar subiu para mais de $4 dólares, enquanto que à 1h16 tinha caído para $0,1971 centavos de dólar.

Não se tratou de uma coincidência, mas de uma fraude intencional: quando havia investimento suficiente para comprar a criptomoeda, os proprietários retiraram subitamente a liquidez do projeto (o chamado “Rug Pull”), provocando um colapso do preço para perto de zero.

6) Os seguidores que ainda confiavam em Milei começaram a suspeitar que a conta X de Milei tinha sido hackeada, uma vez que as afirmações do presidente não tinham qualquer fundamento. Mas não, era real.

7) De acordo com Firtman, o golpe está avaliado entre 70 e 100 milhões de dólares e danificou cerca de 40.000 contas de criptomoedas que confiaram no que Javier Milei publicou. E acrescenta: “Qualquer pessoa pode criar uma criptomoeda com 200 dólares em 15 minutos, mas ninguém vai comprá-la. É preciso confiança e que as pessoas saibam; o presidente deu isso”.

8) Quem é o dono da empresa? De acordo com Firtman, a empresa por detrás do projeto é a KIP NETWORK INC, uma empresa registada no Panamá. Javier Milei conheceu o diretor-geral, Julian Peh, em outubro passado, no Fórum Tecnológico da Argentina.

“O site Web do projeto tem muito pouca informação, um e-mail gmail (pouco profissional) e chama-se “Viva la Libertad Project”, mencionando que é tudo em honra das ideias de Javier Milei que, insisto, foi quem anunciou o projeto. Ninguém sabia deste projeto até à publicação do presidente”, afirma Firtman

.“Nesta criptomoeda, os fundadores detinham 70% da moeda em circulação (o habitual é 10-15%). A moeda valia US$ 0,000001.”

9) Qual é o papel de Milei? Por mais que ele tente se esquivar, a sua promoção do projeto teve um papel fundamental na fraude, pois para uma nova criptomoeda dar certo é preciso confiança para que os investidores arrisquem seu dinheiro nela.

Sem as publicações de Milei, que não é apenas um “influenciador” financeiro, mas o presidente da Argentina e que o associou a “projetos no país” (embora sem esclarecer como o investimento em $LIBRA estaria relacionado à Argentina), ninguém investiria nele.

 

 Fonte: Esquerda Diário/O Cafezinho/Opera Mundi

 

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