segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Casa Branca enfrenta falcões europeus e exige na ONU paz imediata na Ucrânia

A Casa Branca deu mais uma demonstração de que pretende acelerar a busca por um desfecho para o conflito na Ucrânia. A proposta apresentada na ONU nesta sexta-feira é um movimento que revela a pressa de Washington em encontrar uma solução e coloca os EUA em um confronto diplomático direto com a Europa e a Ucrânia. A iniciativa da administração de Donald Trump pode ser interpretada como uma proposta de paz, mas com um tom agressivo, sugerindo que os EUA estão dispostos a pressionar todas as partes envolvidas para um acordo rápido.

É importante reconhecer que a Casa Branca tem razões morais para isso. A guerra já consumiu milhares de vidas, desestabilizou a economia global e trouxe impactos severos para diversos países. A busca por um fim imediato das hostilidades é legítima, assim como a necessidade de se discutir o levantamento das sanções contra a Rússia para permitir que o comércio mundial volte a fluir normalmente.

Segundo Reuters, os Estados Unidos apresentaram um projeto de resolução na ONU para marcar o terceiro aniversário da invasão russa à Ucrânia, gerando um impasse com uma proposta já elaborada por Kiev e seus aliados europeus. A disputa reflete a tentativa do presidente Donald Trump de intermediar um acordo de paz, o que tem causado preocupação entre líderes europeus e tensão com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy.

O projeto de resolução dos EUA é um texto breve, com três parágrafos, que lamenta a perda de vidas na guerra, reafirma que o principal objetivo das Nações Unidas é manter a paz e a segurança internacional e apela por um fim rápido do conflito, além de incentivar um acordo duradouro entre Ucrânia e Rússia.

Entretanto, a proposta americana entra em choque com um texto alternativo elaborado pela Ucrânia e pela União Europeia, que será votado na Assembleia Geral da ONU na segunda-feira. O documento europeu pede uma redução da escalada do conflito, um cessar-fogo imediato e uma solução pacífica alinhada à Carta das Nações Unidas e ao direito internacional.

A Rússia, por sua vez, propôs uma emenda ao texto dos EUA, solicitando que a resolução mencione explicitamente a necessidade de abordar as causas do conflito. Segundo fontes citadas por Reuters, se essa emenda for aprovada, Moscou poderia apoiar a resolução americana. O embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, descreveu a iniciativa dos EUA como “um bom movimento” e afirmou que foi previamente informado sobre o conteúdo do projeto antes de sua circulação entre os 193 membros da Assembleia Geral.

Os embaixadores da União Europeia na ONU se reuniram para discutir a estratégia após a movimentação dos Estados Unidos. Para a UE, há um temor de que a proposta americana desvie o foco da resolução original da Ucrânia e da Europa, que insiste na retirada das tropas russas do território ucraniano e no cumprimento das resoluções anteriores da ONU que condenaram a agressão russa.

Desde o início da guerra, a Assembleia Geral já adotou seis resoluções relacionadas ao conflito. A mais contundente, aprovada logo após a invasão, obteve 141 votos a favor e condenou “nos termos mais fortes a agressão da Federação Russa”. Outra, em outubro de 2022, teve 143 votos e rejeitou a tentativa russa de anexação ilegal de quatro regiões ucranianas. No entanto, com o prolongamento do conflito, algumas resoluções mais recentes vêm apresentando linguagem menos incisiva contra a Rússia.

O impasse diplomático entre EUA e Europa ocorre em um momento de crescente divergência entre Washington e Kiev. Trump, que busca um acordo rápido para encerrar a guerra, tem enfrentado resistência de Zelenskiy, que teme que a pressão americana possa levar a concessões excessivas à Rússia. O presidente ucraniano rejeitou uma proposta dos EUA que incluía a entrega de 50% das jazidas de minerais estratégicos da Ucrânia a empresas americanas como forma de compensação pelo apoio militar recebido. A recusa aumentou as tensões entre os dois governos, com Trump chamando Zelenskiy de “ditador sem eleições”, após o líder ucraniano afirmar que o presidente americano estava sendo influenciado por desinformação russa.

A disputa sobre as resoluções da ONU também reflete a divisão interna no governo americano sobre a abordagem para a guerra. Enquanto Trump busca um acordo rápido, parlamentares e aliados dos EUA temem que um desfecho apressado possa fortalecer a posição russa e enfraquecer a Ucrânia.

As discussões sobre as resoluções da ONU acontecem às vésperas de uma votação crucial na Assembleia Geral, cujo resultado pode definir o tom da posição internacional sobre a guerra no próximo ano. Enquanto os EUA pressionam por um texto mais neutro e conciliatório, a Ucrânia e a UE querem manter a pressão sobre a Rússia e garantir um compromisso firme da ONU com a integridade territorial ucraniana.

A votação de segunda-feira testará o nível de apoio global a cada uma das propostas e poderá sinalizar o futuro das negociações internacionais para um eventual fim da guerra na Ucrânia.

¨      Trump desafia G7 e evita culpar a Rússia

Os Estados Unidos estão se opondo a chamar a Rússia de agressora em uma declaração do G7 no terceiro aniversário da invasão em grande escala de Moscou à Ucrânia, ameaçando atrapalhar uma demonstração tradicional de unidade, de acordo com cinco autoridades ocidentais familiarizadas com o assunto.

A participação do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em uma cúpula virtual do G7 na segunda-feira também ainda não foi acordada, disseram as autoridades.

Segundo o Financial Times, a discordância surge depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, culpou a Ucrânia pela guerra, descreveu Zelensky como um “ditador sem eleições” e sugeriu que a Rússia deveria ser convidada de volta ao G7.

Os enviados dos EUA se opuseram ao termo “agressão russa” e descrições semelhantes que têm sido usadas pelos líderes do G7 desde 2022 para descrever o conflito, disseram as autoridades ocidentais.

As principais economias do mundo tradicionalmente emitem uma declaração de apoio em 24 de fevereiro, o dia em que a invasão em grande escala começou há três anos.

“Somos firmes em que deve haver uma distinção entre Rússia e Ucrânia. Eles não são iguais”, disse uma autoridade informada sobre o assunto ao Financial Times.

“Os americanos estão bloqueando essa linguagem, mas ainda estamos trabalhando nisso e esperançosos de um acordo”, acrescentou a autoridade.

A embaixada dos EUA em Kiev se recusou a comentar.

<><> EUA rejeitam agressão russa

A agressão da Rússia foi mencionada cinco vezes na declaração dos líderes do G7 no ano passado. “Pedimos que a Rússia cesse imediatamente sua guerra de agressão e retire completa e incondicionalmente suas forças militares do território internacionalmente reconhecido da Ucrânia”, disse a declaração de 2024.

A insistência do governo Trump em suavizar a linguagem reflete uma mudança mais ampla na política dos EUA para descrever a guerra como o “conflito na Ucrânia”, disseram duas pessoas familiarizadas com o assunto.

Declarações recentes do Departamento de Estado dos EUA usam uma redação semelhante, incluindo um resumo da reunião do secretário de Estado Marco Rubio com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em Riade, que menciona duas vezes “o conflito na Ucrânia”.

A mudança marca uma divergência da linguagem usada pelo governo Biden, que frequentemente usava termos como “agressão russa” ao se referir à maior guerra terrestre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

<><> Aproximação entre Trump e Putin

A disputa sobre a declaração ocorre após uma semana em que Trump elogiou Putin, concordou com muitas de suas demandas em relação à guerra da Rússia na Ucrânia e mostrou disposição para normalizar as relações de Washington com Moscou, enviando altos funcionários dos EUA para se reunirem com altos funcionários russos na terça-feira em Riade.

Trump também afirmou falsamente que Zelensky tinha uma taxa de aprovação na Ucrânia de apenas 4%. Uma pesquisa publicada esta semana mostrou que o presidente tinha 57% de apoio em casa, acima dos 52% em dezembro, de acordo com o Instituto Internacional de Sociologia de Kiev.

Putin reagiu de forma positiva às abordagens do governo Trump. “Os negociadores dos EUA eram totalmente diferentes — eles estavam abertos a um processo de negociação sem preconceitos ou julgamentos sobre o que foi feito no passado”, disse Putin após a reunião em Riade. “Eles pretendem trabalhar juntos.”

¨      Lavrov explica porque europeus perderam a credibilidade para negociar a paz

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, criticou a recente Conferência de Segurança de Munique e as declarações de líderes ocidentais sobre a guerra na Ucrânia. Durante uma coletiva de imprensa conjunta com o chanceler sérvio Marko Djuric, em Moscou, no dia 17 de fevereiro de 2025, Lavrov acusou os paises europeus de cinismo, hipocrisia e desonestidade.

O chanceler russo rejeitou a ideia de incluir a União Europeia em futuras negociações de paz, argumentando que os europeus já tiveram oportunidades anteriores, como o acordo de 2014 entre o então presidente ucraniano Viktor Yanukovych e a oposição, além dos Acordos de Minsk, que, segundo ele, não foram cumpridos. Ele citou declarações passadas da ex-chanceler alemã Angela Merkel e do ex-presidente francês François Hollande, que admitiram, algum tempo depois, que os Acordos de Minsk serviram apenas para dar tempo à Ucrânia para se fortalecer militarmente.

Lavrov também mencionou a fala do presidente da Finlândia, Alexander Stubb, que teria sugerido um cessar-fogo com o objetivo de reforçar as capacidades militares ucranianas. Segundo o chanceler, essa postura demonstra que a abordagem dos países europeus permanece a mesma, o que, em sua visão, não justificaria sua participação em novas negociações.

>>>> Trecho da coletiva de Lavrov:

<><>  [Poderia comentar os resultados da Conferência de Segurança de Munique? O que causou as declarações histéricas dos líderes ocidentais, que insistiram que a UE deve participar das negociações sobre a Ucrânia?]

“Posso apenas falar sobre os resultados da conferência de Munique:

Todos devem ser responsabilizados por suas ações.

Quando você viola a justiça por anos, pisoteando seus próprios princípios de igualdade, concorrência justa, presunção de inocência, inviolabilidade da propriedade, liberdade de expressão e informação – quando todos esses princípios são implacavelmente pisoteados, os ativos de outros são saqueados em contradição com as normas do direito internacional, e o regime nazista de Kiev é fomentado e abastecido com armas para matar seus próprios cidadãos – isso não passará impune.

Eles fizeram isso na esperança de escapar ilesos sob um guarda-chuva nuclear.

Mas isso não acontecerá.

Vocês receberão o que é devido pelo que fizeram, como diz a Bíblia.

Quanto ao desejo desses países de participar das negociações sobre a Ucrânia, eles tiveram essa oportunidade muitas vezes antes.

Em fevereiro de 2014, a UE – em particular França e Alemanha – assinou um acordo entre o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych, e a oposição armada, garantindo sua implementação.

O acordo previa a criação de um governo de transição de unidade nacional e a realização de eleições presidenciais antecipadas.

O processo levaria apenas cinco ou seis meses, mas, na manhã seguinte, a oposição rasgou o acordo.

Apelamos para seus garantidores, os vizinhos europeus – Alemanha e França.

Eles responderam timidamente que o que aconteceu, aconteceu.

A democracia às vezes assume formas incomuns durante seu desenvolvimento.

Essa foi sua primeira chance.

A segunda chance foram os Acordos de Minsk.

Os líderes da Rússia, França, Alemanha e Ucrânia passaram mais de 17 horas revisando cada vírgula de um documento para resolver a crise ucraniana por meio da concessão de um status especial a certas áreas do Donbass dentro do Estado ucraniano integral.

Esse plano foi aprovado por unanimidade em uma resolução do Conselho de Segurança da ONU.

Mas o lado ucraniano violou esse acordo poucos dias após assiná-lo.

Em vez de um cessar-fogo e retirada de tropas, bombardeou Donbass.

Em vez de restaurar a integridade econômica da Ucrânia, impôs um bloqueio de água à Crimeia, e assim por diante.

Mais tarde, quando a Sra. Merkel e o Sr. Hollande “se aposentaram” e falaram mais livremente com jornalistas, admitiram abertamente que nunca planejaram cumprir nada.

Disseram que só precisavam de tempo para armar a Ucrânia.

Essas foram suas oportunidades.

Na conferência de Munique, fizeram novos apelos.

Por exemplo, o presidente da Finlândia, Alexander Stubb – um vizinho próximo que já foi um Estado neutro e costumava ser “a favor de tudo que é bom e contra tudo que é ruim” – declarou que o que precisavam era de um cessar-fogo, que usariam para fortalecer o exército ucraniano.

Portanto, a “filosofia” dos europeus não mudou.

Por isso, não sei por que deveriam sentar à mesa de negociações.

Por que deveriam ser convidados se tentarão impor esquemas enganosos, como um cessar-fogo, enquanto planejam, como gostam de fazer, continuar a guerra?”

Trecho da declaração e respostas do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, a perguntas da mídia em uma coletiva de imprensa conjunta com o ministro das Relações Exteriores da República da Sérvia, Marko Djuric, após conversações em Moscou, 17 de fevereiro de 2025.

¨      Trump enxerga negociações sobre Ucrânia como oportunidade para recuperar recursos dos EUA, diz especialista

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não considera essencial o conflito na Ucrânia e vê as negociações para encerrar a guerra como uma forma de recuperar os recursos gastos por Washington em apoio a Kiev. A análise foi feita por Jeh Sung-hoon, especialista sul-coreano da Universidade Hankuk de Estudos Estrangeiros, em entrevista à Sputnik.

De acordo com Sung-hoon, a administração do ex-presidente dos EUA negligenciou os benefícios nacionais do país ao fornecer assistência à Ucrânia.

Nesse contexto, Trump não se preocupa com o número de vítimas, mas questiona por que os Estados Unidos devem continuar investindo recursos significativos no conflito.

“Trump não precisa dessa guerra de forma alguma”, afirmou o especialista. “Além disso, os fundos usados precisam ser recuperados de alguma forma. Portanto, Trump vê as negociações como um acordo.”

O especialista também ressaltou que a Ucrânia pode ter que abrir mão de suas aspirações de adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da recuperação total dos territórios ocupados. “É provável que o controle dos territórios seja congelado no estado em que se encontram agora”, completou.

As declarações de Sung-hoon ocorrem em um momento de intensificação das negociações internacionais sobre a situação na Ucrânia.

Na terça-feira (18), houve uma reunião de alto nível entre representantes da Rússia e dos Estados Unidos em Riad, na Arábia Saudita.

Ambas as partes consideraram o encontro produtivo, com a promessa de reconstruir as relações bilaterais, embora sem detalhes concretos sobre as possíveis soluções para o conflito ucraniano.

O diálogo em Riad reflete os esforços contínuos para encontrar uma resolução para a guerra na Ucrânia, que se arrasta desde 2014, após a anexação da Crimeia pela Rússia e o início do conflito no leste do país.

A administração Trump tem sido uma figura importante nesse processo, defendendo a redução dos custos para os Estados Unidos e a busca por soluções diplomáticas para encerrar a guerra.

A análise sobre a posição de Trump também levanta questões sobre a postura dos EUA diante de seus aliados europeus e a estratégia de segurança global, com implicações tanto para a OTAN quanto para as relações com a Rússia.

 

Fonte: Opera Mundi/O Cafezinho

 

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