Casa Branca
enfrenta falcões europeus e exige na ONU paz imediata na Ucrânia
A Casa Branca deu mais uma
demonstração de que pretende acelerar a busca por um desfecho para o conflito
na Ucrânia. A proposta apresentada na ONU nesta sexta-feira é um movimento que
revela a pressa de Washington em encontrar uma solução e coloca os EUA em um
confronto diplomático direto com a Europa e a Ucrânia. A iniciativa da
administração de Donald Trump pode ser interpretada como uma proposta de paz,
mas com um tom agressivo, sugerindo que os EUA estão dispostos a pressionar
todas as partes envolvidas para um acordo rápido.
É importante reconhecer que
a Casa Branca tem razões morais para isso. A guerra já consumiu milhares de
vidas, desestabilizou a economia global e trouxe impactos severos para diversos
países. A busca por um fim imediato das hostilidades é legítima, assim como a
necessidade de se discutir o levantamento das sanções contra a Rússia para
permitir que o comércio mundial volte a fluir normalmente.
Segundo Reuters, os Estados
Unidos apresentaram um projeto de resolução na ONU para marcar o terceiro
aniversário da invasão russa à Ucrânia, gerando um impasse com uma proposta já
elaborada por Kiev e seus aliados europeus. A disputa reflete a tentativa do
presidente Donald Trump de intermediar um acordo de paz, o que tem causado
preocupação entre líderes europeus e tensão com o presidente ucraniano
Volodymyr Zelenskiy.
O projeto de resolução dos
EUA é um texto breve, com três parágrafos, que lamenta a perda de vidas na
guerra, reafirma que o principal objetivo das Nações Unidas é manter a paz e a
segurança internacional e apela por um fim rápido do conflito, além de
incentivar um acordo duradouro entre Ucrânia e Rússia.
Entretanto, a proposta
americana entra em choque com um texto alternativo elaborado pela Ucrânia e
pela União Europeia, que será votado na Assembleia Geral da ONU na
segunda-feira. O documento europeu pede uma redução da escalada do conflito, um
cessar-fogo imediato e uma solução pacífica alinhada à Carta das Nações Unidas
e ao direito internacional.
A Rússia, por sua vez,
propôs uma emenda ao texto dos EUA, solicitando que a resolução mencione
explicitamente a necessidade de abordar as causas do conflito. Segundo fontes
citadas por Reuters, se essa emenda for aprovada, Moscou poderia apoiar a
resolução americana. O embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, descreveu a
iniciativa dos EUA como “um bom movimento” e afirmou que foi previamente
informado sobre o conteúdo do projeto antes de sua circulação entre os 193
membros da Assembleia Geral.
Os embaixadores da União
Europeia na ONU se reuniram para discutir a estratégia após a movimentação dos
Estados Unidos. Para a UE, há um temor de que a proposta americana desvie o
foco da resolução original da Ucrânia e da Europa, que insiste na retirada das
tropas russas do território ucraniano e no cumprimento das resoluções
anteriores da ONU que condenaram a agressão russa.
Desde o início da guerra, a
Assembleia Geral já adotou seis resoluções relacionadas ao conflito. A mais
contundente, aprovada logo após a invasão, obteve 141 votos a favor e condenou
“nos termos mais fortes a agressão da Federação Russa”. Outra, em outubro de
2022, teve 143 votos e rejeitou a tentativa russa de anexação ilegal de quatro
regiões ucranianas. No entanto, com o prolongamento do conflito, algumas
resoluções mais recentes vêm apresentando linguagem menos incisiva contra a
Rússia.
O impasse diplomático entre
EUA e Europa ocorre em um momento de crescente divergência entre Washington e
Kiev. Trump, que busca um acordo rápido para encerrar a guerra, tem enfrentado
resistência de Zelenskiy, que teme que a pressão americana possa levar a
concessões excessivas à Rússia. O presidente ucraniano rejeitou uma proposta
dos EUA que incluía a entrega de 50% das jazidas de minerais estratégicos da
Ucrânia a empresas americanas como forma de compensação pelo apoio militar
recebido. A recusa aumentou as tensões entre os dois governos, com Trump
chamando Zelenskiy de “ditador sem eleições”, após o líder ucraniano afirmar
que o presidente americano estava sendo influenciado por desinformação russa.
A disputa sobre as
resoluções da ONU também reflete a divisão interna no governo americano sobre a
abordagem para a guerra. Enquanto Trump busca um acordo rápido, parlamentares e
aliados dos EUA temem que um desfecho apressado possa fortalecer a posição
russa e enfraquecer a Ucrânia.
As discussões sobre as
resoluções da ONU acontecem às vésperas de uma votação crucial na Assembleia
Geral, cujo resultado pode definir o tom da posição internacional sobre a
guerra no próximo ano. Enquanto os EUA pressionam por um texto mais neutro e
conciliatório, a Ucrânia e a UE querem manter a pressão sobre a Rússia e
garantir um compromisso firme da ONU com a integridade territorial ucraniana.
A votação de segunda-feira
testará o nível de apoio global a cada uma das propostas e poderá sinalizar o
futuro das negociações internacionais para um eventual fim da guerra na
Ucrânia.
¨ Trump
desafia G7 e evita culpar a Rússia
Os Estados Unidos estão se
opondo a chamar a Rússia de agressora em uma declaração do G7 no terceiro
aniversário da invasão em grande escala de Moscou à Ucrânia, ameaçando
atrapalhar uma demonstração tradicional de unidade, de acordo com cinco
autoridades ocidentais familiarizadas com o assunto.
A participação do presidente
ucraniano Volodymyr Zelensky em uma cúpula virtual do G7 na segunda-feira
também ainda não foi acordada, disseram as autoridades.
Segundo o Financial
Times, a discordância surge depois que o presidente dos
EUA, Donald Trump, culpou a Ucrânia pela guerra, descreveu Zelensky como
um “ditador sem
eleições” e sugeriu que a Rússia deveria ser convidada
de volta ao G7.
Os enviados dos EUA se
opuseram ao termo “agressão russa” e descrições semelhantes que têm sido usadas
pelos líderes do G7 desde 2022 para descrever o conflito, disseram as
autoridades ocidentais.
As principais economias do
mundo tradicionalmente emitem uma declaração de apoio em 24 de fevereiro, o dia
em que a invasão em grande escala começou há três anos.
“Somos firmes em que deve
haver uma distinção entre Rússia e Ucrânia. Eles não são iguais”, disse uma
autoridade informada sobre o assunto ao Financial Times.
“Os americanos estão
bloqueando essa linguagem, mas ainda estamos trabalhando nisso e esperançosos
de um acordo”, acrescentou a autoridade.
A embaixada dos EUA em Kiev
se recusou a comentar.
<><> EUA rejeitam agressão russa
A agressão da Rússia foi
mencionada cinco vezes na declaração dos líderes do G7 no ano passado. “Pedimos
que a Rússia cesse imediatamente sua guerra de agressão e retire completa e
incondicionalmente suas forças militares do território internacionalmente
reconhecido da Ucrânia”, disse a declaração de 2024.
A insistência do governo
Trump em suavizar a linguagem reflete uma mudança mais ampla na política dos
EUA para descrever a guerra como o “conflito na Ucrânia”, disseram duas pessoas
familiarizadas com o assunto.
Declarações recentes do
Departamento de Estado dos EUA usam uma redação semelhante, incluindo um resumo
da reunião do secretário de Estado Marco Rubio com o ministro das Relações
Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em Riade, que menciona duas vezes “o
conflito na Ucrânia”.
A mudança marca uma
divergência da linguagem usada pelo governo Biden, que frequentemente usava
termos como “agressão russa” ao se referir à maior guerra terrestre na Europa
desde a Segunda Guerra Mundial.
<><> Aproximação entre Trump e Putin
A disputa sobre a declaração
ocorre após uma semana em que Trump elogiou Putin, concordou com muitas de suas
demandas em relação à guerra da Rússia na Ucrânia e mostrou disposição para
normalizar as relações de Washington com Moscou, enviando altos funcionários
dos EUA para se reunirem com altos funcionários russos na terça-feira em Riade.
Trump também afirmou
falsamente que Zelensky tinha uma taxa de aprovação na Ucrânia de apenas 4%.
Uma pesquisa publicada esta semana mostrou que o presidente tinha 57% de apoio
em casa, acima dos 52% em dezembro, de acordo com o Instituto Internacional de
Sociologia de Kiev.
Putin reagiu de forma
positiva às abordagens do governo Trump. “Os negociadores dos EUA eram
totalmente diferentes — eles estavam abertos a um processo de negociação sem
preconceitos ou julgamentos sobre o que foi feito no passado”, disse Putin após
a reunião em Riade. “Eles pretendem trabalhar juntos.”
¨ Lavrov explica porque europeus perderam a credibilidade
para negociar a paz
O ministro das Relações
Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, criticou a recente Conferência de
Segurança de Munique e as declarações de líderes ocidentais sobre a guerra na
Ucrânia. Durante uma coletiva de imprensa conjunta com o chanceler sérvio Marko
Djuric, em Moscou, no dia 17 de fevereiro de 2025, Lavrov acusou os paises
europeus de cinismo, hipocrisia e desonestidade.
O chanceler russo rejeitou a
ideia de incluir a União Europeia em futuras negociações de paz, argumentando
que os europeus já tiveram oportunidades anteriores, como o acordo de 2014
entre o então presidente ucraniano Viktor Yanukovych e a oposição, além dos
Acordos de Minsk, que, segundo ele, não foram cumpridos. Ele citou declarações
passadas da ex-chanceler alemã Angela Merkel e do ex-presidente francês
François Hollande, que admitiram, algum tempo depois, que os Acordos de Minsk
serviram apenas para dar tempo à Ucrânia para se fortalecer militarmente.
Lavrov também mencionou a
fala do presidente da Finlândia, Alexander Stubb, que teria sugerido um
cessar-fogo com o objetivo de reforçar as capacidades militares ucranianas.
Segundo o chanceler, essa postura demonstra que a abordagem dos países europeus
permanece a mesma, o que, em sua visão, não justificaria sua participação em
novas negociações.
>>>> Trecho da
coletiva de Lavrov:
<><> [Poderia comentar os resultados da Conferência
de Segurança de Munique? O que causou as declarações histéricas dos líderes
ocidentais, que insistiram que a UE deve participar das negociações sobre a
Ucrânia?]
“Posso apenas falar sobre os
resultados da conferência de Munique:
Todos devem ser
responsabilizados por suas ações.
Quando você viola a justiça
por anos, pisoteando seus próprios princípios de igualdade, concorrência justa,
presunção de inocência, inviolabilidade da propriedade, liberdade de expressão
e informação – quando todos esses princípios são implacavelmente pisoteados, os
ativos de outros são saqueados em contradição com as normas do direito
internacional, e o regime nazista de Kiev é fomentado e abastecido com armas
para matar seus próprios cidadãos – isso não passará impune.
Eles fizeram isso na
esperança de escapar ilesos sob um guarda-chuva nuclear.
Mas isso não acontecerá.
Vocês receberão o que é
devido pelo que fizeram, como diz a Bíblia.
Quanto ao desejo desses
países de participar das negociações sobre a Ucrânia, eles tiveram essa
oportunidade muitas vezes antes.
Em fevereiro de 2014, a UE –
em particular França e Alemanha – assinou um acordo entre o presidente da
Ucrânia, Viktor Yanukovych, e a oposição armada, garantindo sua implementação.
O acordo previa a criação de
um governo de transição de unidade nacional e a realização de eleições
presidenciais antecipadas.
O processo levaria apenas
cinco ou seis meses, mas, na manhã seguinte, a oposição rasgou o acordo.
Apelamos para seus
garantidores, os vizinhos europeus – Alemanha e França.
Eles responderam timidamente
que o que aconteceu, aconteceu.
A democracia às vezes assume
formas incomuns durante seu desenvolvimento.
Essa foi sua primeira
chance.
A segunda chance foram os
Acordos de Minsk.
Os líderes da Rússia,
França, Alemanha e Ucrânia passaram mais de 17 horas revisando cada vírgula de
um documento para resolver a crise ucraniana por meio da concessão de um status
especial a certas áreas do Donbass dentro do Estado ucraniano integral.
Esse plano foi aprovado por
unanimidade em uma resolução do Conselho de Segurança da ONU.
Mas o lado ucraniano violou
esse acordo poucos dias após assiná-lo.
Em vez de um cessar-fogo e
retirada de tropas, bombardeou Donbass.
Em vez de restaurar a
integridade econômica da Ucrânia, impôs um bloqueio de água à Crimeia, e assim
por diante.
Mais tarde, quando a Sra.
Merkel e o Sr. Hollande “se aposentaram” e falaram mais livremente com
jornalistas, admitiram abertamente que nunca planejaram cumprir nada.
Disseram que só precisavam
de tempo para armar a Ucrânia.
Essas foram suas
oportunidades.
Na conferência de Munique,
fizeram novos apelos.
Por exemplo, o presidente da
Finlândia, Alexander Stubb – um vizinho próximo que já foi um Estado neutro e
costumava ser “a favor de tudo que é bom e contra tudo que é ruim” – declarou
que o que precisavam era de um cessar-fogo, que usariam para fortalecer o
exército ucraniano.
Portanto, a “filosofia” dos
europeus não mudou.
Por isso, não sei por que
deveriam sentar à mesa de negociações.
Por que deveriam ser
convidados se tentarão impor esquemas enganosos, como um cessar-fogo, enquanto
planejam, como gostam de fazer, continuar a guerra?”
Trecho da declaração e
respostas do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, a
perguntas da mídia em uma coletiva de imprensa conjunta com o ministro das
Relações Exteriores da República da Sérvia, Marko Djuric, após conversações em
Moscou, 17 de fevereiro de 2025.
¨ Trump
enxerga negociações sobre Ucrânia como oportunidade para recuperar recursos dos
EUA, diz especialista
O presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, não considera essencial o conflito na Ucrânia e vê as
negociações para encerrar a guerra como uma forma de recuperar os recursos
gastos por Washington em apoio a Kiev. A análise foi feita por Jeh Sung-hoon,
especialista sul-coreano da Universidade Hankuk de Estudos Estrangeiros, em
entrevista à Sputnik.
De acordo com Sung-hoon, a
administração do ex-presidente dos EUA negligenciou os benefícios nacionais do
país ao fornecer assistência à Ucrânia.
Nesse contexto, Trump não se
preocupa com o número de vítimas, mas questiona por que os Estados Unidos devem
continuar investindo recursos significativos no conflito.
“Trump não precisa dessa
guerra de forma alguma”, afirmou o especialista. “Além disso, os fundos usados
precisam ser recuperados de alguma forma. Portanto, Trump vê as negociações
como um acordo.”
O especialista também
ressaltou que a Ucrânia pode ter que abrir mão de suas aspirações de adesão à
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da recuperação total dos
territórios ocupados. “É provável que o controle dos territórios seja congelado
no estado em que se encontram agora”, completou.
As declarações de Sung-hoon ocorrem
em um momento de intensificação das negociações internacionais sobre a situação
na Ucrânia.
Na terça-feira (18), houve
uma reunião de alto nível entre representantes da Rússia e dos Estados Unidos
em Riad, na Arábia Saudita.
Ambas as partes consideraram
o encontro produtivo, com a promessa de reconstruir as relações bilaterais,
embora sem detalhes concretos sobre as possíveis soluções para o conflito
ucraniano.
O diálogo em Riad reflete os
esforços contínuos para encontrar uma resolução para a guerra na Ucrânia, que
se arrasta desde 2014, após a anexação da Crimeia pela Rússia e o início do
conflito no leste do país.
A administração Trump tem
sido uma figura importante nesse processo, defendendo a redução dos custos para
os Estados Unidos e a busca por soluções diplomáticas para encerrar a guerra.
A análise sobre a posição de
Trump também levanta questões sobre a postura dos EUA diante de seus aliados
europeus e a estratégia de segurança global, com implicações tanto para a OTAN
quanto para as relações com a Rússia.
Fonte: Opera Mundi/O
Cafezinho
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