A
política de Trump e o choque com a Europa
As primeiras
semanas da administração Trump foram um exercício de duro auto-reconhecimento
por parte da Europa. As potências europeias atinaram com sua própria fraqueza.
Pior, sentiram em magro esplendor sua dependência agravada diante dos Estados
Unidos. Até então ensombrados pelo abraço de Washington - que com Joe Biden
ainda mostrava condescendência com as alianças transatlânticas e suas
instituições - os governos europeus se veem agora mergulhados no amargo
desprezo do expansionismo trumpista.
Eram previsíveis
determinados aspectos da mensagem que o novo governo estadunidense preparava à
Conferência de Segurança em Munique, a primeira da era Trump 2.0. Os governos
europeus, que encabeçaram uma nefasta corrida militarista como parte de sua
ação logística coordenada com os EUA na Guerra da Ucrânia - instrumentalizando
para seus propósitos de exploração o justo repúdio da população à invasão
militar reacionária da Rússia - sabiam que Trump buscaria descarregar o peso da
defesa continental sobre o continente. J.D. Vance, vice-presidente no bilhete
trumpista, anunciou taxativamente que a presença dos Estados Unidos não durará
para sempre na Europa.
Entretanto, os
enviados da Casa Branca iluminaram os resultados da submissão europeia de uma
forma nova. A Doutrina Trump não se limita a funcionários de Estado
ideologicamente alinhados no domínio interno; também inclui a “Europa para os
trumpistas”. Segundo Vance, “A ameaça mais grave quanto à
segurança da Europa não é a Rússia, não é a China, não é qualquer outro ator
externo. O que mais temo na Europa é a ameaça que vem de dentro, o recuo
europeu de alguns de seus valores mais fundamentais”. A repressão
aos movimentos dos trabalhadores, a catarata de ajustes econômicos e cortes
orçamentários, a criminalização daqueles que defendem a Palestina contra o
terrorismo sionista de Israel: todos esses “valores” estão bastante presentes
nos governos de Emmanuel Macron, Keir Starmer, Olaf Scholz e cia. Mas deveriam
estar acompanhados de um elemento fundamental, para Vance: a adesão completa à
visão de mundo de Donald Trump. A coincidência, que parecia completa, está
perturbada pela incompreensão das nações europeias de que é Washington quem dá
as cartas - e oferece o vinho a quem escolhe estar à mesa.
A uma semana das
eleições alemãs, Vance aproveitou o palco em Munique para dar seguimento à
campanha de Elon Musk em favor da extrema direita europeia, criticando a
“marginalização de forças julgadas extremistas”, como a neonazista AfD
(Alternativa pela Alemanha). Musk havia participado virtualmente de uma
manifestação da AfD em Berlim anunciando-a como a “única salvação da Alemanha”.
A Vance só faltou uma nova saudação romana. De resto, imitou as diretrizes do
bilionário dono da Tesla.
Como
discutimos aqui, Trump deu novo seguimento à campanha xenófoba de
deportações contra os imigrantes que havia sido uma das marcas registradas dos
governos Barack Obama e Joe Biden - agregando às prisões, encarceramentos, e
deportações patrocinadas pelo Partido Democrata um muito peculiar discurso de
terror, próprio do trumpismo. A perseguição aos jovens e trabalhadores que se
manifestaram nos Estados Unidos contra a política sanguinária de Biden-Harris
em apoiar Netanyahu no genocídio contra os palestinos em Gaza também se tornou
uma chave política para Trump, que enfatiza os “inimigos internos”. Políticas
semelhantes são parte do repertório atual das administrações europeias. Como
não lembrar das perseguições de Macron contra ativistas pró-palestinos na
França, levando a julgamento referências do movimento operário como o
companheiro Anasse Kazib, porta voz do Révolution Permanente? Ou a repressão
aos atos contra o genocídio em Gaza, com a prisão de dezenas de manifestantes
pelo Partido Trabalhista de Keir Starmer em Londres? Ou a Zeitenwende do Partido Social Democrata Alemão
(SPD), política de militarização que estimulou o racismo e o nacionalismo da
extrema direita alemã? Apesar de tudo, entretanto, cada governo tem suas
predileções. Com o crescimento da extrema direita fomentada pelas políticas
xenófobas e pró-sionistas de Paris, Berlim e Londres, Trump se encorajou a
facilitar-lhes o caminho.
Vance criticou a
decisão da corte constitucional da Romênia em anular as eleições que haviam
dado como vencedor o ultranacionalista pró-russo Calin Georgescu; assim como a
condenação de um manifestante contrário ao direito das mulheres ao aborto, e a
exclusão dos políticos da AfD da própria Conferência de Segurança em Munique.
“O que parece algo menos claro para mim, e creio que para muitos dos cidadãos
europeus, é de quem exatamente vocês se defendem”, disse o vice-presidente aos
representantes dos governos capitalistas da Europa. A tensão levou o chanceler
alemão a responder criticamente a provocação de Vance. “Também estamos lutando
pelo seu direito de estar contra nós”, disse o ministro da defesa alemão Boris
Pistorius, também em resposta ao discurso do vice-presidente dos EUA. O
analista Thomas Latschan lamenta “Quanto mais tempo durava o discurso [de J. D. Vance], mais claro
ficava que a discordância transatlântica não é mais ‘apenas’ sobre as zonas de
crise do mundo, a Ucrânia, o Oriente Médio ou a divisão justa do fardo [militar
na OTAN]. O racha entre os EUA e seus parceiros europeus é muito mais
fundamental. Durante décadas, a tão aclamada ‘comunidade de valores’ foi a cola
ideológica que manteve o mundo ocidental unido. Os aliados da OTAN e da UE
sempre puderam contar com confiança na defesa da democracia, da liberdade de
expressão e do Estado de Direito. Agora, porém, esses termos estão sendo
sequestrados, reinterpretados e redefinidos por elementos da elite política - e
não apenas nos EUA. A brecha também se abriu dentro da aliança transatlântica.”
Em
contrapartida, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, subiu ao
palco, com um tom muito mais conciliatório. Wang disse que considerava a Europa
e a China como “parceiros, não rivais”. Pequim, disse ele, “sempre viu na
Europa um pólo importante no mundo multipolar”. O alto representante chinês
enfatizou a necessidade de “preservar o sistema internacional liderado pela
ONU” e afirmou que a Europa tinha um “papel fundamental” a desempenhar no
processo de paz na Ucrânia. Trata-se da política oficial de Xi Jinping, de
aproveitar as fissuras causadas por Trump para fazer o Estado capitalista
chinês emergir como representante da globalização neoliberal e da estabilidade
das relações comerciais com os velhos aliados agora atacados pelos Estados
Unidos.
Trump havia
deixado claras suas intenções quanto à diminuição do peso da Europa em seus
planos dias antes da Conferência de Munique. Já havia declarado a imposição de
tarifas recíprocas contra todas as nações que as aplicassem a produtos exportados
pelos Estados Unidos, medida que afeta em particular a Alemanha, cuja indústria
automotriz seria seriamente abalada em um momento de drástica crise econômica
(a Volkswagen disse que fechará três das dez plantas de produção que possui em
terras germânicas), em um país mergulhado na recessão e às vésperas de uma
eleição tingida pela crise de autoridade estatal.
Mas o principal
veio com a Ucrânia. Em ligação “longa e altamente produtiva” com o autocrata
russo Vladimir Putin, Trump anunciou que buscava um “fim imediato” à Guerra da
Ucrânia em base a negociações unilaterais entre os Estados Unidos e a Rússia.
Enfatizou as “potências de nossas respectivas nações, e o grande benefício de
que um dia trabalhemos juntos”, em temas como “Ucrânia, Oriente Médio, energia,
inteligência artificial”, entre outros - uma conduta oposta àquela levada
adiante por Joe Biden e o Partido Democrata. Trump não deixou claro o que
vislumbra como possível auxílio da Rússia no Oriente Médio - se quer negociar a
estruturação do novo poder na Síria, ou se busca apoio para o projeto racista
de limpeza étnica da população palestina em Gaza, e seu deslocamento a países
vizinhos a fim de converter a faixa costeira destruída pelo terrorismo sionista
na “Riviera do Oriente Médio”. Tampouco fica claro se a política
norte-americana passa a ser de seduzir Putin a fim de afastá-lo de Pequim e da
influência econômica e política de Xi Jinping, um objetivo de difícil execução
dada a aproximação entre China e Rússia. O que deixou claro com a ligação é que
secundariza a importância da Europa na discussão sobre o destino do conflito -
e negligencia a própria participação das potências aliadas à OTAN na Europa nas
conversas sobre as cláusulas de um vago acordo de cessar-fogo.
Com efeito, Pete
Hegseth, secretário de Defesa de Trump, questionou duas das diretrizes até aqui
consideradas inabaláveis pela política belicista europeia. Em entrevista,
declarou que o governo ucraniano de Volodymyr Zelensky não podia ter ilusões de
recuperar militarmente o território incorporado pela Rússia, quer seja a
península da Crimeia arrebatada em 2014, quer seja a região oriental do
Donbass, tomada pela invasão de 2022. Além disso, negou qualquer possibilidade de que a garantia de segurança da Ucrânia
num acordo de cessar-fogo fosse sua incorporação à OTAN. “Qualquer garantia de segurança deve ser apoiada por tropas
europeias e não europeias competentes [...] as tropas enviadas para a Ucrânia
não devem fazer parte de uma missão da OTAN, nem ser cobertas pela cláusula de
defesa mútua do Artigo 5 da aliança”. No curso da Conferência de
Munique, os EUA solicitaram às capitais europeias que apresentassem propostas
detalhadas sobre o armamento, as tropas de manutenção da paz e os acordos de
segurança que poderiam fornecer à Ucrânia como parte de
qualquer garantia para pôr fim à guerra com a Rússia.
Trata-se de uma
humilhação aos governos europeus que acataram velozmente a orientação
militarista dos Estados Unidos para a região oriental do continente; um insulto
direto para a Ucrânia, cujo governo Zelensky regateia a entrega das riquezas
minerais nacionais - as famosas terras raras, utilizadas para a confecção de
baterias elétricas e semicondutores - desejadas por Trump em troca do
seguimento do apoio logístico. As negociações seguirão provavelmente à revelia
da vontade europeia. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, conversou
durante a Conferência de Munique com o ministro das Relações Exteriores da
Rússia, Sergei Lavrov, antes das conversações de alto nível entre Washington e
Moscou que ocorrerão na próxima semana na Arábia Saudita. Segundo o Financial
Times, Rubio “reafirmou o compromisso de Donald Trump em encontrar um fim para o
conflito na Ucrânia [...] Além disso, discutiram a oportunidade de
potencialmente trabalharem juntos em uma série de outras questões bilaterais.”
Eles também concordaram em criar “uma linha de comunicação para
resolver os problemas no relacionamento entre os EUA e a Rússia no interesse de
remover as barreiras unilaterais à cooperação comercial, econômica e de
investimentos mutuamente benéfica herdada da administração anterior”,
em uma aparente indicação de que os EUA estavam preparados para reverter as
sanções contra Moscou por causa da invasão.
Essa é uma
reversão quase completa diante da política de Biden, que foi usufruída pelos
Estados Unidos como engrenagem para submeter a Europa a sua orientação
militarista, que passava pelo debilitamento da Rússia sem o uso de tropas ou
soldados estadunidenses no terreno. O objetivo estratégico era preservar a
ordem mundial unipolar dominada pelos Estados Unidos, enfraquecendo o principal
aliado da China na política “revisionista” do estatuto de Estados. Embora
compartilhe a primeira porção da fórmula, Trump tem uma postura distinta em
relação à Rússia de Putin, a quem louvou como “gênio” depois da invasão em
fevereiro de 2022. Isso inclina a política de Washington a uma saída mais
negociada do que planejava o Partido Democrata, assim como a tentativas de
sedução do governo russo sobre as perspectivas de um “trabalho comum em
múltiplas áreas” com a Casa Branca - algo que deve aguçar as preocupações de
Pequim.
De todo modo, se
a Rússia demonstra muita dificuldade em conquistar pela força o território
ucraniano, tampouco o belicismo Democrata mostrava êxito em debilitar uma
Rússia auxiliada pela China e pelo Irã. Muito antes dos três anos de conflito,
ficou claro que Kiev não poderia vencer a guerra, e o próprio Zelensky assim o
confessou. Richard Haas, do Foreign Affairs, preparava o
terreno para a reviravolta política de Trump na Guerra da Ucrânia questionando
a definição prévia do que significaria um “triunfo” no conflito. “Se pressionada, a maioria provavelmente definiria ‘vitória’ de
forma semelhante à definição de Kiev, inclusive em seu mais recente ‘plano de
vitória’: expulsar as tropas russas de todo o território da Ucrânia, inclusive
da Crimeia, e restabelecer o controle sobre suas fronteiras de 1991. Há boas
razões para adotar essa definição. A norma mais básica, embora nem sempre
honrada, da ordem internacional - uma norma que perdura há cerca de 400 anos -
é que as fronteiras devem ser respeitadas. O território não deve ser adquirido
por meio da ameaça ou do uso da força armada. Esse foi um dos principais
motivos pelos quais os Estados Unidos e outros países se uniram para defender a
Coreia do Sul em 1950 e o Kuwait em 1990. No entanto, embora essa definição
seja desejável, ela é, em última análise, impraticável. Em princípio, a Ucrânia
poderia liberar seu território perdido se os Estados Unidos e seus parceiros
europeus interviessem com suas próprias forças. Mas isso exigiria abandonar a
estratégia indireta que escolheram em 2022. Isso acarretaria um grande custo
humano, militar e econômico. Além disso, apresentaria um risco muito maior,
pois significaria uma guerra entre a OTAN e a Rússia com armas nucleares. Por
esse motivo, essa política não será adotada”.
Após as palavras
de Trump, analistas buscam a reconciliação com a realidade, e passam a pintar
com tintas otimistas uma política que até então rechaçavam. De acordo com Lawrence Freedman: “Muitos na Ucrânia acolheriam um cessar-fogo. O país está cansado e
danificado por quase três anos de guerra, e poderia se beneficiar de uma pausa
para fortalecer suas forças armadas e reanimar sua economia. Um cessar-fogo não
exige, como os russos esperam, que a Ucrânia abandone para sempre as esperanças
de recuperar seu território perdido. Os norte-americanos também não sugeriram
que a Ucrânia deveria aceitar o restante das exigências de Moscou - que conceda
ainda mais território à Rússia, desarme suas forças e mude seu regime e sua
constituição. Putin, sem dúvida, está muito feliz por ser tratado com respeito
por Trump. Mas sem que essas outras exigências sejam atendidas, ele não terá
alcançado seus objetivos de guerra [...] Assim, à medida que as equipes de
negociação começam a se engajar, Putin precisa decidir se pode se afastar de
suas exigências maximalistas. Talvez ele possa concordar com um cessar-fogo,
mas somente com um cronograma de negociação rigoroso para um acordo final e
algum alívio antecipado nas sanções; talvez ele possa conceder à Ucrânia a
adesão à UE. Mas se a Ucrânia permanecer independente e armada, ele terá
fracassado. Se Putin acabar sendo responsabilizado pelo fracasso desse grande
esforço pela paz, ele poderá descobrir que até mesmo Trump está pronto para
aumentar o apoio a Kiev e impor mais sanções à Rússia”.
Nenhum cenário
está fechado para o conflito, e está longe de ser simples uma negociação de
cessar-fogo encabeçada por interlocutores tão volúveis quanto Trump e Putin. Os
contornos gerais de um pacto de cessar-fogo, aliás, estão desenhados há algum
tempo, e são muito parecidos com o armistício que interrompeu a Guerra da
Coreia em 1953. Mas o que parece ser certo é que a posição da Europa se
enfraquece consideravelmente. Trump está completando à medida de pauladas
diplomáticas o movimento de subordinação do continente europeu já acelerado na
administração Biden. A política do capitalismo europeu não tem piloto e entrega
o leme à força para Trump, para além dos arroubos de indignação no Palácio do Eliseu.
A combinação de
todos esses fatores críticos e o fato de que, aconteça o que acontecer na
Ucrânia, são os europeus que arcarão com o peso da guerra, podem-se acelerar as
tendências centrífugas da União Europeia. Como debatemos em múltiplas ocasiões
no Esquerda Diário, toda posição de esquerda ou anti-imperialista deve repudiar
aberta e enfaticamente a ocupação decidida pelo governo autocrático de Putin e
exigir a retirada imediata das forças militares russas de todo o território
ucraniano. Ao mesmo tempo, deve alentar entre a população ucraniana o
surgimento de uma posição independente do governo pró-imperialista de Zelensky -
que agora negocia com Trump a entrega dos recursos minerais do país - e das
diferentes forças nacionalistas reacionárias, subordinadas às potências da
OTAN. Deve incluir no seu programa o direito à auto-determinação para as
populações de Donetsk e Luhansk, sem o qual é impossível superar a atual
divisão da população, presa de direções burguesas rivais que disputam entre si
a subordinação a Putin ou aos imperialismos ocidentais. Nas repúblicas
separatistas do Leste ucraniano, também é necessário se opor à ocupação russa,
enfrentando a demagogia de Putin que utiliza as justas demandas da população de
origem russa para seus interesses. Para isso, a única saída é a luta por uma
Ucrânia socialista, operária e independente. O movimento de trabalhadores
europeus e internacionais deve se preparar para lutar contra as futuras
tendências de militarização no continente.
A burguesia
europeia e seus governos estão em posição de choque e certa paralisia diante do
período de renovação da competição entre grandes potências. Trump faz questão
de sublinhar esse fato. O continente europeu é um dos epicentros da crise
política internacional. Diante disso, fica mais evidente o fracasso das
distintas variantes (anti)estratégicas do neorreformismo, que quiseram governar
o capital europeu em coalizão com forças tradicionais dos regimes
imperialistas, como o caso do Podemos no Estado espanhol (em aliança com o
neoliberal PSOE), ou como o Syriza da Grécia, que passou rapidamente de um
discurso "antiausteridade" (sem anticapitalismo) para a aplicação dos
principais ataques exigidos pela Alemanha e o Banco Central Europeu. Mesmo o
Die Linke, apesar de certa recuperação de caudal eleitoral, teve um
enfraquecimento nos últimos anos por sua integração à ordem, incluindo cargos
de governo no Estado imperialista alemão. Tais modalidades da conciliação de
classes se puseram estritamente contrárias ao desenvolvimento da luta de
classes independente dos trabalhadores, aplicaram ataques em favor dos
empresários quando governaram, e levaram ao fortalecimento das forças da
direita nos seus respectivos países.
A greve geral dos trabalhadores belgas contra os ajustes do governo de
extrema direita em Bruxelas mostra uma grande
reserva da luta de classes, que estourou na França contra a reforma das
aposentadorias em 2023, e na Alemanha diante das mobilizações dos trabalhadores
dos transportes. É fundamental que os trabalhadores, no rechaço aos distintos
governos imperialistas e às forças de extrema direita, desenvolvam um
internacionalismo orgânico, em defesa dos imigrantes e dos povos oprimidos
pelas burguesias continentais em todo o mundo. É o que os grupos da Fração Trotskista
pela Quarta Internacional vem fazendo nos diversos países europeus em que está
presente, como na campanha dos companheiros do Klasse
Gegen Klasse nas eleições alemãs, com uma
política anti-imperialista e de independência de classe vinculada ao combate ao governo e à extrema direita da AfD nas manifestações
antirracistas, e o que nossos companheiros do Révolution Permanente debateram em seu primeiro Congresso, avançando as posições do trotskismo na extrema esquerda francesa.
Nesse contexto,
é essencial que a classe trabalhadora tenha uma posição independente de todos
os governos capitalistas do continente, fomentadores da extrema direita e
amplificadores da política militarista dos Estados Unidos. Como dizia León Trotsky a respeito, em 1929, tomando o problema da fragmentação da
Europa capitalista diante da potência em ascensão dos Estados Unidos: “A essência de nossa época está no fato de que as forças produtivas
definitivamente ultrapassaram as estruturas do estado nacional e,
principalmente na Europa e na América do Norte, assumiram proporções em parte
continentais, em parte globais. A guerra imperialista surgiu como produto da
contradição entre as forças produtivas e as fronteiras nacionais. E a paz de
Versalhes, que encerrou a guerra, agravou ainda mais essa contradição. Em
outras palavras: devido ao desenvolvimento das forças produtivas, o capitalismo
há muito tempo perdeu a capacidade de existir em um só país. O socialismo, por
outro lado, estará baseado em forças produtivas muito mais desenvolvidas; caso
contrário, não significaria progresso, mas regressão em relação ao capitalismo.
Em 1914, escrevi: ‘Se o problema do socialismo fosse compatível com os limites
de um estado nacional, ele também seria compatível com a defesa nacional’. A
fórmula Estados Unidos soviéticos da Europa é precisamente a expressão política
da ideia de que o socialismo é impossível em um só país. O socialismo não pode
alcançar seu pleno desenvolvimento nem mesmo dentro dos limites de um só
continente. Os Estados Unidos Socialistas da Europa são a consigna histórica no
caminho para uma federação socialista mundial”. Nesse mesmo sentido,
os socialistas revolucionários devem multiplicar a propaganda em favor dos
Estados Unidos socialistas da Europa, não apenas como uma arma contra a Europa
do capital, mas também contra todo o veneno nacionalista carregado pela extrema
direita dentro da União Europeia ou por potências reacionárias como a Rússia.
Fonte: Por André
Barbieri, em Esquerda Diário
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