terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Francisco Fernandes Ladeira: Geopolítica palestina na mídia - como transformar genocidas em vítimas

Na década de 1960, em um de seus últimos discursos, Malcolm X advertiu que a imprensa é tão poderosa em seu papel de construção de determinadas imagens, que pode fazer um criminoso se passar por vítima e a vítima se passar por criminoso. Consequentemente, se não formos cuidadosos, os jornais vão acabar nos fazendo odiar as pessoas que estão sendo oprimidas e adorar as pessoas que oprimem.

Mais de meio século depois, o pensamento do ativista estadunidense continua atual, sobretudo se levarmos em conta a cobertura midiática sobre as trocas de prisioneiros entre o Estado de Israel e o grupo Hamas – condição do acordo de cessar-fogo que, por enquanto, tem interrompido o genocídio na Faixa de Gaza.

Como a história nos mostra, o sionismo – ideologia por trás da criação de Israel – jamais foi um projeto de libertação nacional judaica, mas um representante direto do imperialismo europeu do final do século XXI. Logo, na Palestina, há uma (anacrônica) relação entre colonizadores (israelenses) e colonizados (palestinos).

Nesse contexto, podemos entender a ofensiva do Hamas e de outros grupos da resistência palestina no sul de Israel, ocorrida em 7 de outubro de 2023. Um dos objetivos dessa ação era a libertação de cidadãos palestinos presos por Israel (a maioria sem nenhum tipo de acusação formal). Conforme preconiza a ONU, seguindo o princípio de autodeterminação dos povos, toda população sob domínio colonial tem o direito de se rebelar contra seus colonizadores.

No entanto, na grande mídia brasileira, totalmente submissa aos interesses dos países imperialistas (em consequência, também do sionismo), o “7 de outubro” foi reduzido à sua imediatidade e classificado como “início da guerra entre Hamas e Israel”, “o maior ataque contra judeus desde o Holocausto” e o “11 de setembro israelense”.

A desproporcional reação israelense à contraofensiva palestina – com cerca de 50 mil mortos e a Faixa de Gaza se transformando em terra arrasada – mostrou ao mundo o primeiro genocídio televisionado e compartilhado nas redes sociais (que, evidentemente, não começou após o “7 de outubro”; remete, pelo menos, à criação do Estado de Israel, em 1948, com o plano de limpeza étnica da palestina, organizado pelo movimento sionista).

Nem as fortes imagens sobre os crimes de guerra israelense em Gaza foram suficientes para a imprensa hegemônica modificar sua linha editorial em relação à geopolítica palestina. Aliás, os fatos nunca importaram em seus noticiários internacionais. Mais importante são os interesses econômicos e ideológicos.

Assim, desde que começou o anteriormente mencionado acordo de cessar-fogo, um mês atrás, com a troca de reféns entre palestinos e israelenses, a grande mídia retornou com mais intensidade sua campanha de transformar os israelenses – responsáveis pelo genocídio em Gaza – em “vítimas” dos “terroristas” do Hamas. Diga-se de passagem, nem ONU, tampouco o governo brasileiro, consideram o grupo palestino como tal (mas, como eu disse, a realidade é o que menos importa para os grandes grupos de comunicação).

De acordo com a pontual análise do professor Khaled Beydoun, o viés da cobertura midiática sobre a troca de reféns entre Israel e Hamas apresenta três pontos básicos. Primeiro, vemos os rostos, nomes e famílias dos reféns israelenses – eles são totalmente humanizados, assim como suas histórias e experiências enquanto prisioneiros. Portanto, são dignos de nossa comoção, são “gente como a gente”, como afirmou certa vez Guga Chacra, em comentário na GloboNews.

Em contrapartida, nunca vemos as faces, nomes ou famílias dos reféns palestinos – são reduzidos a estatísticas sem rostos. Como suas imagens e histórias permanecem invisíveis, os palestinos não são dignos de qualquer tipo de alteridade. Pelo contrário, são vistos como “terroristas em potencial”. As “Leis de Detenção Administrativa” – que permitem às forças policiais israelenses a detenção de qualquer palestino sem acusação formal por períodos prolongados – são estrategicamente ocultadas nos noticiários. Do mesmo modo, a crueldade sionista contra presos palestinos – privados dos mais elementares direitos assegurados por convenções internacionais – também é negligenciada.

Por fim, conclui Beydoun, enquanto os israelenses são chamados de “reféns”, os palestinos (mesmo crianças) ainda são chamados de “prisioneiros”. Aliás, as manipulações lexicais – ou seja, o uso capcioso de determinadas palavras – é uma prática corriqueira dos noticiários internacionais. Assim, a mesma mídia que, de maneira falaciosa, chama o presidente venezuelano Nicolás Maduro de “ditador”, não se refere ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu como “genocida”.

Em suma, a análise sobre um determinado ator geopolítico nas páginas da Folha de S. Paulo, nas ondas sonoras da Jovem Pan ou na tela da Rede Globo, não são objetivas ou encontram algum tipo de respaldo no andamento das relações internacionais. Depende da posição no xadrez geopolítico. Aliados dos países imperialistas serão representados positivamente. Já aqueles que minimamente resistem aos ditames das grandes potências serão demonizados. Como dito, a realidade é o que menos importa!

¨         Israel invade Cisjordânia pela primeira vez em mais de 20 anos

As Forças de Defesa de Israel (IDF, por sua sigla em inglês) invadiram neste domingo (23) a Cisjordânia, pela primeira vez desde sua ofensiva na região em 2002. Com tanques de guerra, os militares expandiram a operação no norte, na cidade de Jenin.

Tropas do Exército israelense deram início aos ataques ao redor da maior cidade de Cisjordânia, com cerca de 50 mil pessoas. A ofensiva na região começou há um mês, quando o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou uma “operação militar significativa e em grande escala” contra os militantes palestinos de Jenin.

Desde então, a ofensiva militar estava se expandido gradativamente para outros locais da área que abrigam campos de refugiados. A população já temia que o território poderia se transformar em uma “segunda Faixa de Gaza”.

Segundo a agência palestina de notícias Wafa, essa nova ofensiva deixou um saldo de “ao menos 27 mortes, dezenas de feridos, mais de 160 detidos e destruição generalizada” na região.

Ainda de acordo com eles, os militares iniciaram buscas em casas enquanto destruíram estradas, linhas de energia, encanamentos de água e veículos civis.

“Essas demolições são frequentemente parte de uma estratégia mais ampla para expandir assentamentos israelenses ilegais e limpar terras para ocupação futura, ao mesmo tempo em que limitam severamente a capacidade dos palestinos de manter uma presença em suas terras”, afirmou a Wafa.

A invasão ocorre ao mesmo tempo em que o ministro da Defesa, Israel Katz, anunciou que os militares esvaziaram três campos de refugiados no norte da Cisjordânia. “40 mil palestinos já foram evacuados dos campos de Jenin, Tulkarem e Nur Shams, e esses campos agora estão vazios”, disse.

Katz declarou também que tinha ordens de não permitir que moradores da região retornassem. Além disso, segundo o ministro da Defesa, há uma instrução para que os soldados israelenses se preparem para uma estadia prolongada nos campos de refugiados durante o próximo ano.

Essa ação na Cisjordânia é mais uma violação de Israel. No sábado (22/02), o Hamas já havia denunciado uma “flagrante violação” dos termos do cessar-fogo após o governo de Netanyahu decidir adiar a libertação de presos palestinos.

O grupo palestino entregou uma nova leva de reféns a Tel Aviv, cinco dos seis últimos prisioneiros a serem liberados na primeira fase do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, que começou em 29 de janeiro.

Em contrapartida, 620 presos palestinos seriam libertos de acordo com a trégua. De acordo com a Autoridade de Radiodifusão Israelense, a suspensão ocorreu deliberadamente pelo governo de Netanyahu, alegando que a medida seria uma retaliação pelo erro do grupo palestino em relação aos restos mortais de Shiri Bibas.

O Hamas pediu aos mediadores do acordo que pressionem Tel Avivi para cumprir o que foi acordado na trégua.

A primeira etapa do acordo de cessar-fogo, que tem duração de 42 dias, termina em 2 de março. A segunda e próxima fase prevê a retirada gradual das tropas israelenses do território palestino.

¨      "Nada é tão parecido com o nazismo do que o sionismo", diz Altman, após invasão da Cisjordânia

O Exército de Israel realizou, nesta semana, uma operação militar na Cisjordânia, resultando na evacuação de três campos de refugiados e no deslocamento de cerca de 40 mil palestinos. A ação intensificou a tensão na região e gerou diversas reações internacionais.

O jornalista Breno Altman se manifestou sobre o ocorrido, criticando duramente a ofensiva israelense. "O Estado colonial e racista de Israel acaba de invadir com tanques a Cisjordânia. Três campos de refugiados foram esvaziados, com o deslocamento de quarenta mil palestinos. Mais um ato de limpeza étnica do regime sionista. Nada é tão parecido com o nazismo quanto o sionismo."

Segundo autoridades israelenses, a operação teria como objetivo neutralizar ameaças terroristas na região e desmantelar infraestruturas militantes. No entanto, entidades humanitárias e grupos de direitos humanos condenaram a ação, denunciando o impacto sobre civis.

A situação na Cisjordânia tem se agravado nos últimos meses, com o aumento das incursões militares e das restrições impostas pela administração israelense. Organizações internacionais alertam para o agravamento da crise humanitária na região, enquanto líderes políticos discutem as consequências diplomáticas da escalada do conflito.

¨         Israel descumpre acordo de cessar-fogo e mantém 602 palestinos prisioneiros

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, determinou o descumprimento do acordo de libertação de prisioneiros palestinos, que devia ser realizado neste domingo (23). Milhares de palestinos aguardavam a libertação dos 602 prisioneiros, ação que é parte do acordo de cessar-fogo iniciado em 19 de janeiro.  

“Foi decidido adiar a libertação de terroristas planejada até que a próxima libertação de reféns seja garantida sem as cerimônias humilhantes”, informou o gabinete de Netanyahu, em referência aos atos realizados durante a libertação de israelenses pelo Hamas. 

O Hamas acusou Israel de “violação flagrante” do acordo de cessar-fogo e pediu aos mediadores internacionais, “em particular os Estados Unidos”, que “pressionem o inimigo para que […] liberte imediatamente este grupo de prisioneiros”.

Neste sábado (22), o Hamas cumpriu a última parte da primeira fase do acordo de cessar-fogo com Israel, libertando seis prisioneiros israelenses. Todos foram entregues à Curz Vermelha. Tal Shoham e Avera Mengisto, foram libertados em Rafah, cidade ao sul de Gaza.  

Depois de algumas horas, foram libertados Omer Shem, Eliya Cohen e Omer Wenkert, no campo de Nuseirat, região central de Gaza. O último prisioneiro, Hisham Al-Sayed, foi entregue ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no final do dia.  

Assim como em libertações anteriores, o Hamas apresentou cinco prisioneiros em um palco antes de entregá-los ao CICV, procedimento que já havia sido criticadas por esta organização, pela ONU e por Israel. Após a liberação, Netanyahu afirmou que a libertação dos presos palestinos não acontecerá “até que se assegure a próxima libertação de reféns sem as cerimônias humilhantes”.

Mesmo com o avanço na liberação de prisioneiros, o chefe do Estado-maior de Israel, tenente-general Herzi Halevi afirmou que as forças do país estão preparando “planos ofensivos”, sem dar detalhes sobre as possíveis ações militares. 

A primeira fase do acordo se encerra em março. Ainda há incertezas se será possível alcançar a segunda fase, que colocaria fim ao genocídio israelense em Gaza. Em mais de um ano de ataques, mais de 47 mil pessoas morreram, a maior parte delas, mulheres e crianças. Dos 251 sequestrados em 7 de outubro, 62 continuam em cativeiro em Gaza, dos quais 35 estariam mortos, segundo o exército israelense.

Desde que a trégua entrou em vigor, 29 reféns israelenses – quatro deles mortos – foram entregues a Israel, em troca de mais de 1.100 detentos palestinos. Segundo o Hamas, que governa Gaza desde 2007, resta ao grupo apenas entregar quatro corpos de reféns a Israel antes do fim da primeira fase do acordo.

As negociações indiretas para a segunda etapa, que deve resultar no fim definitivo da guerra, foram adiadas.

¨      Hamas  denuncia flagrante violação de Israel

O governo de Israel recebeu, na madrugada deste sábado (22/02), cinco dos seis últimos prisioneiros a serem liberados pelo Hamas na primeira fase do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, que começou em 29 de janeiro.

Em contrapartida, 620 presos palestinos seriam libertos de acordo com a trégua. O grupo palestino apontou uma “flagrante violação” dos termos do cessar-fogo após a decisão de Israel.

“O fracasso da ocupação [israelense] em cumprir a libertação do sétimo lote de prisioneiros no acordo de troca no prazo acordado constitui uma violação flagrante do acordo”, disse o porta-voz do Hamas, Abdel Latif al-Qanou, em um comunicado.

Latif al-Qanou acusou o premiê israelense Benjamin Netanyahu de se envolver em “táticas de procrastinação e protelação” para minar o acordo.

A troca estava prevista para às 20h do horário local, porém não aconteceu. O jornal israelense Times of Israel disse que o governo decidiu adiar até “terminar consultas de segurança sobre o retorno dos demais reféns”.

Porém, segundo a Autoridade de Radiodifusão Israelense, o atrasou ocorreu deliberadamente pelo governo, alegando que a medida seria uma retaliação pelo erro do grupo palestino em relação aos restos mortais de Shiri Bibas.

A família de Shiri Bibas confirmou neste sábado a entrega ao governo de Israel do corpo da refém de origem argentina, cujo cadáver não havia sido devolvido na quinta-feira com os de seus filhos, Ariel e Kfir, também feitos reféns pelo Hamas.

Tel Aviv alegou que não foram encontrados sinais de ferimentos por bombardeios nos corpos dos irmãos Ariel e Kfir Bibas e da mãe deles, Shiri, mortos enquanto estavam sob poder do Hamas na Faixa de Gaza.

Os restos mortais dos três reféns foram restituídos a Israel no âmbito do cessar-fogo em vigor no enclave palestino desde 19 de janeiro. O Hamas anunciou que Ariel, de quatro anos, Kfir, nove meses, e Shiri, 32, foram mortos em um bombardeio israelense em novembro de 2023.

¨      Hamas afirma que cessar fogo está em risco

grupo islâmico Hamas criticou neste domingo (23/02) a decisão de Israel de adiar a libertação de ao menos 600 prisioneiros palestinos no âmbito do cessar-fogo na Faixa de Gaza e disse que a medida coloca a trégua em risco.

Em comunicado, o Hamas cobrou que os mediadores pressionem Israel a cumprir o acordo de cessar-fogo e negou as acusações sobre o tratamento dos reféns.

“A cerimônia de entrega dos prisioneiros não inclui nenhum insulto, e sim reflete o tratamento nobre e humano reservado a eles”, disse o grupo.

Isso por que, o governo do premiê Benjamin Netanyahu postergou sua parte no acordo falando que o Hamas tem que se comprometer a não tratar mais os reféns de forma “humilhante”.

No sábado (22/02), o governo de Israel recebeu cinco dos seis últimos prisioneiros a serem liberados pelo Hamas na primeira fase do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, que começou em 29 de janeiro. Em contrapartida, era esperado que Tel Aviv libertasse os presos palestinos.

Desde o início da trégua, o Hamas faz uma cerimônia na Faixa de Gaza antes de entregá-los à Cruz Vermelha. No último sábado, um dos israelenses, Omer Shem Tov, se mostrou sorridente e chegou a dar beijos nas testas de dois combatentes islamistas.

Até o momento, o grupo palestino já restituiu 25 reféns israelenses vivos no âmbito do cessar-fogo, além de cinco tailandeses e quatro corpos de sequestrados mortos.

¨      Líderes africanos pedem que Israel seja processado por genocídio em Gaza

Os líderes dos 55 países-membros da União Africana (UA) condenaram neste domingo (16) a ocupação israelense do território palestino e as agressões na Faixa de Gaza e na Cisjordânia ocupada desde 7 de outubro de 2023. 

"srael está cometendo genocídio contra os palestinos e deve ser processado internacionalmente", diz uma declaração emitida na conclusão da cúpula do bloco africano em Adis Abeba, capital da Etiópia. 

Os líderes africanos pediram o fim da cooperação e normalização com Israel até que o país encerre sua ocupação e agressão contra a Palestina.

Uma fonte do Ministério das Relações Exteriores da Somália enfatizou que seu país nunca aceitaria o deslocamento de palestinos de Gaza para Puntlândia e Somalilândia. 

O Ministério das Relações Exteriores da Palestina elogiou mais tarde a declaração da UA em uma publicação no X, expressando gratidão ao bloco por sua “posição honrosa” sobre a “rejeição dos planos de deslocamento e anexação” da cúpula, elaborados por Israel e pelos Estados Unidos contra o povo palestino, informa o canal iraniano HispanTV.

No sábado, a UA deu a palavra ao presidente palestino Mahmoud Abbas em meio ao apoio unânime do bloco à Palestina e à rejeição ao genocídio israelense em Gaza. Falando em uma cúpula em Adis Abeba no sábado, o líder palestino rejeitou firmemente um plano desastroso de seu colega americano Donald Trump de deslocar permanentemente o povo palestino de Gaza. 

Abbas enfatizou que “os apelos para expulsar o povo palestino de suas terras e deslocá-lo à força não eram nada mais do que uma forma de distrair a atenção dos crimes de guerra, genocídio e destruição em Gaza, bem como dos crimes de expansão de assentamentos e tentativas de anexar a Cisjordânia”. 

“O único lugar para onde os 1,5 milhões de refugiados que vivem em Gaza devem retornar são as cidades e vilas de onde foram deslocados em 1948 [ano em que o regime israelense foi fundado], de acordo com a Resolução 194 da ONU”, enfatizou.

 

Fonte: Observatório Da Imprensa/Opera Mundi/Brasil 247/AFP

 

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