Ômega 3
pode desacelerar os processos que levam ao envelhecimento celular
Uma pesquisa publicada na revista Nature Aging analisou
dados de um ensaio clínico realizado com mais de 700 idosos, moradores na
Suíça, ao longo de três anos, e verificou que a suplementação com 1 g de
ômega 3 por dia pode retardar o envelhecimento biológico em
humanos. Elisabeth Torres, professora associada do Departamento de
Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP, atesta que a experimentação
desacelerou o envelhecimento biológico em até quatro meses, conforme medido por
relógios epigenéticos. Esses resultados são bastante promissores e sugerem um
efeito real do ômega 3, mas ela lembra que o estudo foi realizado com uma
população de idosos suíços saudáveis.
“O retardo no envelhecimento parece
ocorrer por meio da modulação dos mecanismos celulares responsáveis pela
expressão gênica. O ômega 3 atua na alteração da metilação do DNA, um processo
que funciona como relógio epigenético, ao indicar o quão envelhecido está o
organismo. Ao reduzir a inflamação e influenciar esses marcadores moleculares,
o ômega 3 pode desacelerar os processos que levam ao envelhecimento celular”,
explica Elizabeth.
O ômega 3 é um ácido graxo
poliinsaturado com diversas funções: reduz processos inflamatórios crônicos que
podem acelerar o envelhecimento; no sistema vascular, contribui para a
manutenção da saúde do coração e das artérias; além disso, atua na integridade
celular, melhorando a fluidez e funcionalidade das membranas celulares; na
modulação genética, influencia a expressão dos genes através de alterações epigenéticas,
como a metilação do DNA. Essas ações, combinadas, ajudam a promover um ambiente
celular mais saudável, retardando os processos de envelhecimento.
Vale destacar que o ômega 3 não é uma
vitamina, mas um ácido graxo essencial encontrado em diversos alimentos. A
professora relata que entre as principais fontes estão peixes de água fria,
como salmão, sardinha, arenque, que são ricos em EPA e DHA; fontes vegetais
como linhaça, chia, nozes, que são ricas em ácido alfa-linoléico ou linolênico,
e suplementos, fórmulas específicas, que fornecem doses concentradas de ômega
3.
·
Corpo humano não produz
O
corpo humano não produz ômega 3. Por ser um nutriente essencial, deve ser
obtido a partir da alimentação ou por meio de suplementação. O estudo mostra
que o consumo de 1 g por dia seria suficiente, mas a quantidade ideal pode
variar de pessoa para pessoa, por influência da idade, estado de saúde e
necessidades nutricionais, por isso é sempre recomendado buscar a orientação de
um profissional de saúde antes de iniciar qualquer suplementação.
A
nutricionista destaca que “a vitamina D, quando combinada com ômega 3, mostrou
potencializar os benefícios, inclusive na redução do risco de câncer e
fragilidade. Atividade física e exercícios regulares contribuem para o envelhecimento
mais saudável; a genética e hábitos alimentares, que são fatores intrínsecos, e
o estilo de vida em geral, tais como dieta, acesso à saúde, ambiente
socioeconômico, também desempenham um papel fundamental”. A professora lembra
que no Brasil, apesar de existirem alguns ensaios clínicos, os estudos a
respeito ainda são pequenos. Além disso, os resultados poderiam ser bem
diferentes. Atualmente estudos com essa abrangência e rigor metodológico,
utilizando ferramentas modernas como os relógios epigenéticos para medir o
envelhecimento biológico, são mais comuns em países com maior investimento em
pesquisa, como a Suíça.
No
Brasil, embora haja pesquisa sobre envelhecimento e longevidade, ensaios
clínicos de larga escala, com metodologia e semelhança, ainda são relativamente
raros. No entanto, há um crescente interesse em evolução nessa área, o que pode
ampliar a realização de estudos comparáveis em breve. A variação nos resultados
pode variar devido às diferenças no estilo de vida, na alimentação, na genética
e no acesso à saúde entre Suíça e Brasil. Por outro lado, alguns fatores como a
baixa ingestão de ômega 3 na dieta ocidental podem tornar os benefícios da
suplementação ainda mais pronunciados em nosso país, explica a nutricionista.
Com uma abordagem integrada, corrigindo deficiências nutricionais e promovendo
hábitos saudáveis, os efeitos positivos observados no estudo suíço podem,
inclusive, ser potencializados no contexto brasileiro.
Fonte: Jornal da
USP
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