Entenda
os riscos do consumo de ultraprocessados
Ultraprocessados,
como definido pela
classificação Nova, da Universidade de São Paulo, “não são propriamente
alimentos, mas, sim, formulações de substâncias obtidas por meio do
fracionamento de alimentos do primeiro grupo” — esse contendo alimentos
naturais ou minimamente processados, como frutas e vegetais.
Os produtos são caracterizados como
formulações industriais compostas principalmente de substâncias quimicamente
modificadas extraídas de alimentos. Juntamente com aditivos para melhorar o
sabor, a textura, a aparência e a durabilidade, com inclusão mínima ou nenhuma
de alimentos integrais.
Ou seja, os alimentos ultraprocessados são
normalmente produtos com alta densidade energética, alto teor de gordura
saturada, açúcar e sal, não saudáveis e pobres em fibras alimentares, proteínas, vitaminas e minerais.
Além de passarem por processos de fracionamento, aquecimento e adição de outras
substâncias.
Pesquisas apontam
que esses alimentos constituem mais de metade da energia alimentar total
consumida em países de rendimento elevado, como os EUA, o Canadá e o Reino
Unido. E entre um quinto e um terço da energia alimentar total em países de
rendimento médio, como o Brasil.
E, apesar de terem sido criados para
aumentar o tempo de prateleira dos produtos dos supermercados, os
alimentos ultraprocessados podem
oferecer riscos à saúde quando consumidos em excesso.
<><> Exemplos de alimentos
ultraprocessados
Alguns exemplos desses alimentos
incluem:
- Macarrão
instantâneo;
- Biscoitos
recheados;
- Salgadinhos de
pacote;
- Energéticos e
outras bebidas gaseificadas;
<><> Ilusão de escolha
A maioria dos supermercados parece expor
uma grande variedade de opções de alimentos. Porém, ao prestar atenção, é
possível concluir que essa variedade é preenchida majoritariamente por
alimentos ultraprocessados e
processados.
De fato, uma pesquisa de 2025 comprovou
que esses alimentos ocupam cerca de 70% das
prateleiras de supermercados, principalmente no exterior.
Para medir a prevalência de ultraprocessados nas
prateleiras, os pesquisadores usaram um algoritmo de aprendizado para analisar
mais de 50 mil itens em três grandes supermercados nos EUA. Os resultados
demonstraram que opções altamente processadas dominavam o estoque em todos os
três varejistas.
Ter uma grande variedade de marcas nas
prateleiras dá aos compradores a “ilusão de escolha”, diz a coautora do estudo
Giulia Menichetti, física estatística e computacional do Brigham and Women’s Hospital e da Harvard Medical School.
<><> Riscos à saúde
Como já mencionado, os ultraprocessados são
ricos em gorduras, açúcar e sal, compostos comumente associados a inúmeras
doenças crônicas.
Uma revisão, publicada no British Medical Journal (BMJ)
analisou 45 estudos envolvendo quase 10 milhões de participantes. Os autores da
revisão sugerem que comer mais alimentos ultraprocessados está
ligado a um risco maior de morte. Além disso, tem ligações com 32 condições de
saúde, incluindo doenças cardiovasculares, transtornos de saúde mental,
diabetes tipo 2 e outros problemas.
“Um problema com os estudos que eles
analisaram é que os riscos relativos não são muito altos. Eles são aumentos de
1,1 a 1,5 vezes. No entanto, se você estiver falando sobre um problema de saúde
sério, como um ataque cardíaco, um aumento de 1,5 vezes ainda é muito,” explica Avlin
Imaeda, MD, gastroenterologista da Yale
Medicine.
<><> Consumo controlado
Devido à alta disponibilidade de ultraprocessados no
mercado, esses alimentos são altamente acessíveis. Portanto, acabam sendo uma
opção de melhor custo por parte da população. Além disso, muitas pessoas não
têm o hábito ou tempo de preparação culinária necessária para aproveitar
alimentos naturais ou minimamente processados.
A necessidade de alimentos acessíveis é
um dos motivos pela predominância de ultraprocessados em
casas ao redor do mundo.
Embora as evidências que sugerem que
alimentos ultraprocessados são
prejudiciais à saúde, o tipo e a qualidade da pesquisa significam que ainda não
está claro se precisamos excluí-los completamente.
De fato, nem todos esses alimentos
apresentam o mesmo risco. Um estudo de 2024 descobriu que dietas ricas em
bebidas açucaradas e carnes processadas estavam associadas a um risco maior de
doenças cardiovasculares do que dietas pobres nesses alimentos, mas o oposto
era verdadeiro para pães, cereais, iogurtes e sobremesas lácteas.
Assim, é possível concluir que, embora
não sejam a melhor escolha para uma alimentação saudável, podem ser consumidos
em moderação como parte de uma dieta saudável.
“Culpar apenas o ultraprocessamento dos
alimentos pode simplificar demais o problema. Dietas ricas em alimentos ultraprocessados são
frequentemente dominadas por itens carregados com gorduras saturadas, sal e
açúcar adicionado, o que sugere que alguns danos podem vir do equilíbrio
nutricional ruim em vez do processamento sozinho.
Mas algumas pesquisas sugerem que o
consumo excessivo de alimentos ultraprocessados —
que frequentemente carecem de proteína e são projetados para serem fáceis de
comer e altamente palatáveis — pode levar ao ganho de peso também”, explica Maya
Vadiveloo, professora associada de nutrição na Universidade de Rhode Island,
ao Scientific American.
<><> Como substituir os
ultraprocessados?
Se a substituição desses alimentos for
uma possibilidade na sua vida, existem diversos minimamente processados e
naturais que podem substituí-los. Como:
- Grãos de aveia
ou aveia cortada em flocos adoçada com mel — para substituir cereais
matinais.
- Água com gás
ou mineral com um pouco de suco de fruta ou fatias de fruta — substitui
bebidas gaseificadas.
- Pão caseiro —
para substituir pães de forma brancos.
- Chocolate meio-amargo
— para substituir barras de chocolates saborizadas com longa lista de
ingredientes.
- Café sem
açúcar — para substituir energéticos;
- Granola
caseira — para substituir barras de granola saborizadas com adição de
açúcar e conservantes.
E, lembre-se, para seguir uma alimentação
saudável e equilibrada, o ideal é seguir recomendações profissionais. Uma dieta
para adultos inclui:
- Frutas,
vegetais, legumes, nozes e cereais integrais;
- Pelo menos
cinco porções (400g) de frutas e vegetais por dia;
- Menos de 10%
da ingestão total de energia de açúcares livres;
- Menos de 30%
da ingestão total de energia de gorduras;
- Menos de 5g de
sal por dia; O sal deve ser iodado.
Para crianças, a composição da dieta saudável é
similar, mas com valores menores. Contudo, a OMS sugere outros elementos a
serem considerados, como:
- Bebês devem
ser amamentados exclusivamente durante os primeiros 6 meses de vida e
continuamente até os 2 anos de idade e além;
- Aos seis
meses, o leite materno deve ser complementado por alimentos ricos em
nutrientes, mas sem açúcar ou sal.
¨ Ultraprocessados aumentam em 58% risco
de depressão persistente, diz estudo
Um estudo recente conduzido por pesquisadores da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) reveliu que o
consumo elevado de alimentos ultraprocessados pode aumentar em até 58% o risco
de depressão persistente, ou seja, caracterizada por episódios recorrentes ou
contínuos por anos. A pesquisa foi publicada no Journal of Academy of Nutrition
and Dietetics.
Para realizar o trabalho, os pesquisadores
utilizaram dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), um
levantamento multicêntrico que acompanha a saúde de servidores públicos de Belo
Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória desde
2008.
Os participantes foram divididos em grupos com base na
porcentagem de calorias diárias provenientes de alimentos ultraprocessados. Um
grupo consumia entre 0% e 19%, enquanto o outro variava entre 34% e 72%.
Alimentos
ultraprocessados são
aqueles que, como o próprio nome sugere, passam por diversas etapas de
processamento e contêm uma série de ingredientes químicos, como aditivos,
conservantes, corantes, aromatizantes artificiais, entre outros. Por isso,
quando consumidos em excesso, podem trazer riscos
à saúde.
“Aqueles que
consumiam mais ultraprocessados no início do estudo apresentaram um risco 30%
maior de desenvolver o primeiro episódio de depressão ao longo dos oito anos
seguintes à primeira análise”, explica Naomi Vidal Ferreira, pós-doutoranda da
FMUSP e autora principal da pesquisa, em comunicado. Um dos motivos
para essa relação é a ausência de nutrientes essenciais nesse tipo de alimento.
“Se uma pessoa consome mais de 70% de sua energia
diária proveniente de produtos ultraprocessados, ela acaba deixando de ingerir
alimentos ricos em fibras, antioxidantes e vitaminas, que são fundamentais para
o funcionamento do cérebro. Além disso, a presença de aditivos artificiais e
gorduras saturadas pode desencadear processos inflamatórios, um fator associado
ao desenvolvimento da depressão”, alerta a pesquisadora.
Por outro lado, uma simulação mostrou que substituir
apenas 5% do consumo diário de ultraprocessados por alimentos minimamente
processados já pode reduzir o risco de depressão em 6%. Ao
diminuir 20% esse consumo, optando por alimentos naturais, é possível reduzir
para 22% a probabilidade.
“Os resultados encontrados reforçam a importância de
adotar uma alimentação mais equilibrada e rica em nutrientes, não apenas para a
saúde física, mas também como forma de prevenir transtornos mentais”, destaca
Naomi Vidal.
Fonte: eCycle/CNN
Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário