terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Bolsonaro não via diplomação de Lula como empecilho para golpe, diz general

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não via a diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como um empecilho para um eventual golpe de Estado, segundo relatou o general da reserva Mario Fernandes em áudio divulgado pela Polícia Federal (PF) no domingo (23).

O material foi extraído de celulares e computadores apreendidos durante a investigação que resultou na denúncia de 34 pessoas por atos contra o Estado Democrático de Direito. A denúncia foi apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A declaração do militar (leia abaixo), que está preso desde novembro de 2024, consta no relatório da PF. O áudio com a mensagem foi encaminhado ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

A diplomação de Lula no TSE ocorreu no dia 12 de novembro de 2022. Segundo Mario Fernandes, Bolsonaro teria dito que o rito não seria uma “restrição” e que “qualquer ação” poderia ser tomada até o dia 31 de dezembro daquele ano.

“Cid, boa noite. Meu amigo, antes de mais nada, me desculpa estar te incomodando no dia de hoje, mas, porra, a gente não pode perder oportunidade. São duas coisas. A primeira: durante a conversa que eu tive com o presidente [Bolsonaro], ele citou que, pô, o dia 12, pela diplomação do vagabundo [Lula], não seria uma restrição, que qualquer ação nossa pode acontecer ate 31 de dezembro e tudo… Mas, pô, aí na hora eu disse: ‘Pô, presidente, mas o quanto antes… A gente já perdeu tantas oportunidades'”, disse Mario Fernandes ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

De acordo com o relatório da PF, concluído no final do ano passado, o general da reserva contatou Cid “evidenciando sua proximidade com o então presidente da República e as tratativas para consumar o golpe de Estado”, além de sugerir “uma ação no período mais breve possível”.

¨      Áudios revelam que general discutiu com Bolsonaro data para golpe de Estado

Um novo áudio divulgado pela Polícia Federal adiciona mais elementos à investigação sobre a suposta trama golpista após as eleições de 2022, ao revelar que o general da reserva Mário Fernandes discutiu possíveis datas para um golpe de Estado com o então presidente Jair Bolsonaro (PL).

As gravações, segundo a coluna de Fabio Serapião, do portal Metrópoles, foram enviadas ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então mandatário, em 8 de dezembro de 2022 – após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas. As mensagens sugerem que Bolsonaro teria mencionado que a diplomação do presidente eleito, marcada para o dia 12 daquele mês, "não seria uma restrição" para qualquer ação planejada pelo grupo.

"Mas, porra, a gente não pode perder oportunidade. São duas coisas. A primeira, durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo", diz Fernandes na mensagem enviada a Cid, de acordo com a reportagem.

O general da reserva, que ocupava o cargo de secretário-geral substituto da Presidência da República, demonstra no áudio preocupação com o momento ideal para a ação e pede que Cid repasse algumas considerações a Bolsonaro. "E aí, depois, meditando aqui em casa, eu queria que, porra, de repente você passasse para ele dois aspectos que eu levantei em relação a isso. A partir da semana que vem, eu cheguei a citar isso para ele", afirma.

Entre os pontos levantados por Fernandes estava a possibilidade de os protestos que ocorriam em frente aos quartéis e instalações militares pelo país se intensificarem ou perderem força. "Das duas, uma. Ou os movimentos de manifestação na rua ou eles vão esmaecer ou vão recrudescer. Recrudescer com radicalismos. E a gente perde o controle. Pode acontecer de tudo. Mas podem esmaecer também", explica o general.

Para a Polícia Federal, as mensagens são evidências da proximidade entre Fernandes e Bolsonaro e das articulações para consumar um golpe de Estado. No relatório final do inquérito da trama golpista, a corporação destaca que o áudio demonstra "sua proximidade com o então presidente da República e as tratativas para consumar o golpe de Estado", com Fernandes descrevendo "seu encontro com Jair Bolsonaro e a sugestão para uma ação no período mais breve possível".

Mário Fernandes foi preso preventivamente em novembro de 2024 durante a Operação Contragolpe. De acordo com as investigações, ele estaria envolvido não apenas nas tratativas para impedir a posse de Lula, mas também em um suposto plano para assassinar o presidente eleito, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Na semana passada, o general, assim como Mauro Cid e Jair Bolsonaro, foi indiciado pela Polícia Federal e denunciado formalmente pela Procuradoria-Geral da República (PGR) pelos crimes de organização criminosa e golpe de Estado. Ao todo, 34 pessoas foram denunciadas pela PGR por envolvimento na trama golpista.

A denúncia da PGR, aceita pelo ministro Alexandre de Moraes, representa o primeiro processo criminal contra o ex-mandatário desde que ele deixou o cargo e marca um capítulo decisivo nas investigações sobre os eventos que antecederam os ataques de 8 de janeiro de 2023 às sedes dos Três Poderes. Ainda conforme a reportagem, as defesas dos envolvidos não se manifestaram sobre o caso.

¨      Decreto do golpe foi despachado com Bolsonaro, diz general da reserva

Em áudio divulgado pela Polícia Federal (PF) no domingo (23), o general da reserva Mario Fernandes afirma que a minuta do golpe é “real” e foi despachada com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) quando ele ainda estava no comando do Palácio do Planalto.

O material foi extraído de celulares e computadores apreendidos durante a investigação que resultou na denúncia de 34 pessoas por atos contra o Estado Democrático de Direito. A denúncia foi apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A declaração do militar, que está preso desde novembro de 2024, consta no relatório da PF. O áudio com a mensagem foi encaminhado ao general Luiz Eduardo Ramos, em 7 de dezembro de 2022, que foi ministro da Secretaria-Geral da Presidência do governo Bolsonaro.

No áudio, Mario Fernandes diz: “Kid Preto, falei com o Renato. O decreto é real, foi despachado ontem com o presidente. É, [risos], movimento, eu tô de olho aqui. Se for o caso, eu aciono o senhor para voltar. Eu nem vou. Eu aciono o senhor para voltar. Força!”

De acordo com o relatório da PF, a mensagem de Fernandes foi enviada “exatamente no dia em que Jair Bolsonaro se reuniu com os comandantes do Exército e da Marinha, e com o ministro da Defesa, para apresentar a minuta de decreto”.

<><> Quem é Mario Fernandes

General da reserva do Exército, foi chefe substituto da Secretaria-Geral da Presidência.

Ele foi preso preventivamente em novembro passado, suspeito de arquitetar a morte do presidente Lula (PT), do vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Até março do ano passado, Fernandes estava lotado como assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ).

O militar foi indiciado pela PF e denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) pela suposta participação na trama golpista.

¨      Áudios mostram trama golpista de 2023: ‘Um mecanismo de pressão chamado arma’

Áudios inéditos sobre a tentativa de golpe que aconteceu em 8 de janeiro de 2023 mostram os bastidores de uma trama que tentou derrubar o governo eleito democraticamente. Os arquivos foram tirados dos celulares e dos computadores a partir de apreensões e quebras de sigilo e foram divulgados pelo programa Fantástico, da TV Globo, neste domingo, dia 23.

Alguns áudios foram enviados pelo tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, então lotado no COTER (Comando de Operações Terrestres do Exército): “A gente não sai das quatro linhas. Vai ter uma hora que a gente vai ter que sair. Ou então eles vão continuar dominando a gente”, disse a um interlocutor que não foi identificado.

“Eu acho que o pessoal poderia fazer essa descida aí, né? E ir atravancando mesmo. Porque, pô, a massa humana chegando lá, não tem PM [Policial Militar] que segure. P****, vai atropelar a grade e vai invadir. Depois, não tira mais”, seguiu.

O interlocutor desconhecido afirmou na conversa: “Tá com medo de ficar pra história, de dizer que fomentou um golpe? É a hora da gente, cara”.

Em outro áudio, Almeida diz: “Se tu tiver alguma possibilidade de influenciar alguém dos movimentos, eu tô tentando plantar isso nas redes, onde eles estão. Tô participando de vários grupos civis”. A ideia era usar os grupos de civis que estavam acampados como massa de manobra para conseguir o que eles queriam.

Muitos manifestantes mandavam mensagem diretas para os militares. Um deles, chegou a pedir a liberação de entrada de uma barraca.

“Não adianta protestar na frente do QG do Exército. Tem que ir pro Congresso. E as Forças Armadas vão agir por iniciativa de algum Poder. Porque, assim, todo mundo quer Forças Armadas por quê? Quer um mecanismo de pressão chamado arma. Para apaziguar, a gente resolve destituir, invalidar a eleição. Colocar voto impresso e fazer uma nova eleição. Com ou sem Bolsonaro”, seguiu.

Em outro áudio, enviado pelo general Mario Fernandes, ele diz “Kid preto, o decreto é real. Foi despachado ontem com o presidente. É. (Risos)”.

Uma mensagem enviada por um caminhoneiro envolvido nos protestos ao general Fernandes questiona até quando eles deveriam permanecer no local fazendo as manifestações. Além disso, foi solicitada a ajuda do ex-presidente Jair Bolsonaro para que as pessoas que estavam protestando fossem beneficiadas.

Em áudio enviado pelo general Mario Fernandes para o tenente-coronel Mauro Cid, ele diz: “Parece que existe um mandado de busca e apreensão do TSE ou do Supremo, em relação aos caminhões que tão lá. Já andou havendo prisão realizada ali, pela Polícia Federal. Se o presidente pudesse dar um input ali pro Ministério da Justiça, pra segurar a PF. Eu tô tentando agir diretamente junto às Forças, mas pô, se tu pudesse pedir pro presidente ou pro gabinete do presidente atuar. Pô, a gente tem procurado orientar tanto o pessoal do agro, como os caminhoneiros que estão lá em frente”.

Em outra mensagem, Fernandes fala com o general Braga Netto: “Então, p****, se o senhor puder intervir junto ao presidente, falar com o ministro Anderson, p****. Segurar a PF, p****, pra esse cumprimento de ordem. Ou com o Comandante do Exército, pra gente segurar, pô, proteger esses caras ali”.

Mauro Cid também mando mensagens falando sobre o assunto: “A gente tá recebendo cara de TI, hacker. Eu não bebo cerveja, mas depois, eu te conto as coisas que a gente já fez aqui. A gente tem cara infiltrado em tudo quanto é lugar. Monitorando e passando pra gente as informações. Refutando ou ajudando a instigar, digamos assim. Matemático, estatístico, PHD. Aquelas denúncias sigilosas: vai encontrar o cara no mercadinho, vai encontrar o cara na garagem, o cara passa um pen drive. Tem de tudo, cara. Mas ninguém ainda chegou com uma coisa que consiga abrir uma investigação”.

O coronel George Hobert Oliveira Lisboa também mandou áudios confabulando sobre o golpe: “Tá ficando muito claro que o Alto Comando, e não é o Exército, é o Alto Comando do Exército, ele tá se fechando em copas. Talvez, com uma maioria contra a decisão do presidente. Mas, pensando, em primeiro lugar, na instituição. Pensando, em primeiro lugar, no próprio Exército. Quando deveria estar pensando, em primeiro lugar, no Brasil. Eu sei quanto o senhor está comprometido com essas ações. O risco que todos nós estamos correndo, participando dessa frente”.

A PF apreendeu 1,2 mil equipamentos eletrônicos dos envolvidos na tentativa de golpe de estado e tirou 255 milhões de mensagens de áudio e vídeo. Os peritos federais elaboraram 1.214 laudos que, de acordo com a investigação, revelam quem foram as pessoas que participaram da tentativa de golpe.

Para os investigadores, os áudios mostram que integrantes do alto escalão do governo do ex-presidente agiram para pressionar os comandantes militares a aderirem à ruptura institucional.

Mauro Cid falou também aos envolvidos que Bolsonaro teria editado a minuta do decreto golpista para ganhar apoio dos militares. O documento estaria autorizando o cancelamento das eleições e daria sustentação jurídica ao golpe. “Ele entende as consequências do que pode acontecer. Hoje, ele mexeu naquele decreto, ele reduziu bastante, fez algo muito mais direto, objetivo e curto”, disse.

Mas a demora de Bolsonaro mexeu com os ânimos. O golpe, de acordo com os áudios, só não teria acontecido por uma falta de coordenação entre os próprios envolvidos na trama. “Deu ruim, tá? Acabei de falar com o nosso amigo lá, ele falou que não vai rolar nada. O Alto Comando não vai topar. A Marinha topa, mas só se tiver outra Força com ela, porque ela não aguenta a porrada que vai tomar sozinha”, disse o tenente-coronel Sérgio Cavaliere para o coronel Gustavo Gomes.

Em áudio enviado pelo coronel Bernardo Corrêa Netto para o coronel Fabrício Bastos ele diz: “Ele falou: ó cara, pode esquecer, o decreto não vai sair, presidente não vai fazer, só faria se tivesse apoio das Forças Armadas, porque ele tá com medo de ser preso. Falei com ele, agora de manhã”.

A defesa do general Mario Fernandes disse que ainda não teve acesso completo ao conteúdo resultante das quebras de sigilo e que a denúncia apresenta apenas trechos desconexos. Além disso, afirmou que ele prestou relevantes serviços ao Brasil e que demonstrará a sua inocência.

A defesa do tenente-coronel Mauro Cid disse que não vai se manifestar. O programa não conseguiu contato com a defesa dos demais citados.

¨      'Os áudios falam alto: 8/1 foi conspiração para derrubar Lula e implantar uma ditadura', diz Gleisi

A presidente do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) repercutiu nesta segunda-feira (24) os áudios obtidos pela Polícia Federal e divulgados pelo Fantástico, da TV Globo, de militares e outros aliados do governo Jair Bolsonaro (PL) na reta final de 2022, quando as tratativas para golpe de Estado estavam a pleno vapor. As conversas gravadas evidenciam que os tumultuosos acontecimentos de 8 de janeiro de 2023 foram fruto de uma articulação contra o presidente Lula (PT), com o objetivo de implantação de uma ditadura, pontua Gleisi.

"Não tem nenhum inocente nessa trama. Todos têm de ser responsabilizados, inclusive quem permitiu e apoiou os acampamentos contra a democracia nas áreas dos quartéis. É sem anistia!”, declarou a parlamentar.

Os áudios trazem à tona diálogos entre militares, policiais militares do Distrito Federal e aliados de Bolsonaro. Um dos trechos mais contundentes foi enviado pelo tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, então lotado no Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter). Na mensagem, ele incita os acampados com as seguintes palavras: “eu acho que o pessoal poderia fazer essa descida. E ir atravancando mesmo. Porque a massa humana chegando lá, não tem PM que segure. Vai atropelar a grade e vai invadir. Depois não tira mais”.

Em outra gravação, o general Mario Fernandes – que na época era o número 2 da Secretaria-Geral da Presidência – solicita, por meio do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, que haja uma intervenção para evitar operações da Polícia Federal contra bolsonaristas acampados em frente ao Quartel-General da Força. “Se o presidente pudesse dar um input ali para o Ministério da Justiça, para segurar a PF… Estou tentando agir diretamente junto às Forças, mas se tu pudesse pedir para o presidente ou para o gabinete do presidente atuar...”.

A pressão sobre os altos escalões das Forças Armadas também é evidenciada em outra gravação. Nela, Fernandes dirige-se ao general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice de Bolsonaro, dizendo: “se o senhor puder intervir junto ao presidente, falar com o ministro Anderson. Segurar a PF, para esse cumprimento de ordem. Ou com o Comandante do Exército, para a gente segurar, proteger esses caras ali”.

Além desses episódios, um áudio captado de Mauro Cid – que fechou um acordo de delação premiada – confirma que o ex-presidente Bolsonaro teria editado uma minuta com conteúdo golpista. Segundo o ex-ajudante de ordens, “ele entende as consequências do que pode acontecer. Hoje ele mexeu naquele decreto, ele reduziu bastante, fez algo mais direto, objetivo e curto. E limitado, né?”.

Conforme a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Bolsonaro estaria envolvido em crimes de organização criminosa armada, tentativa de golpe de Estado, abolição do Estado democrático de direito e dano qualificado por violência contra o patrimônio da União.

 

Fonte: CNN Brasil/Brasil 247/Istoé Independente

 

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