terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Marcelo Zero: Ucrânia isolada e derrotada. Europa inerte pagará a conta

Todo o mundo sabia, já há algum tempo, que o cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia seria algo a ser resolvido basicamente em negociações bilaterais entre Trump e Putin.

Todo o mundo sabia também que Zelensky nunca teve qualquer relevância nas movimentações geopolíticas que levaram à guerra

O “ditador sem votos”, na visão de Trump, jamais teve voz ativa em nada.

Zelensky, o comediante, foi apenas um trágico fantoche de um conflito que começou a se delinear na década de 1990.

Com efeito, o presente conflito entre Rússia e Ucrânia não pode ser entendido sem se levar em consideração dois grandes fatores históricos: a expansão injustificada da Otan em direção ao território da Rússia e a instalação, via golpe, na Ucrânia, de um regime político francamente hostil a Moscou, no qual grupos neonazistas têm considerável influência.

Não convém repetir aqui toda gênese histórica do conflito, mas era evidente, há muito tempo, que a geoestratégia dos EUA para Rússia acabaria por redundar em um conflito.

Como bem advertiram muitos analistas e políticos conservadores do EUA, como Kissinger, MacNamara, George Kennan, John Matlock etc. etc., a injustificada expansão da Otan, combinada com a guerra civil ocasionada pela deposição de Yanukovich, a qual rompeu com o delicado equilíbrio político interno na Ucrânia, teria sido considerada uma “questão existencial” por qualquer governo russo, não apenas pelo de Putin.

William Burns, recente diretor da CIA e antigo embaixador dos EUA na Rússia, assinalou, em memorando à secretária de Estado, Condoleezza Rice, datado de 2008, que: “a entrada da Ucrânia na Otan é a mais brilhante de todas as luzes vermelhas para a elite russa (não apenas Putin). Em mais de dois anos e meio de conversas com os principais atores russos, desde os funcionários mais graduados do Kremlin até os críticos liberais mais perspicazes de Putin, ainda não encontrei ninguém que veja a Ucrânia na Otan como algo aquém de um desafio direto à existência da Rússia”.

William Perry, secretário de Defesa de Clinton chegou a pensar em renúncia, quando seu chefe decidiu fazer uma primeira expansão da Otan. Até Biden, em 1997, reconheceu que tal expansão geraria reações hostis na Rússia.

Portanto, não há como negar. A guerra não teria ocorrido se os EUA e aliados não tivessem expandido injustificadamente a OTAN em direção às fronteiras da Rússia, não tivessem apoiado um regime ucraniano francamente hostil a Moscou e, sobretudo, se não tivessem recusado, reiteradamente, a estabelecer um pacto de não agressão com a Rússia e assegurado a neutralidade do território ucraniano.

Evidentemente, essa estratégia não foi concebida e levada adiante por Zelensky. Zelensky simplesmente recebeu pressões e ordens para desafiar a Rússia. Os EUA e alguns aliados europeus, concentrados na Otan, é que empurraram a Ucrânia para a guerra inútil.

Quando Trump diz que Zelensky poderia ter evitado a guerra, ele está mentindo. Os EUA e alguns aliados europeus é que poderiam ter evitado facilmente a guerra.

Achavam que poderiam continuar a provocar Putin e que sua reação, que enfim veio, poderia conduzi-lo a uma derrota militar e a uma mudança de regime na Rússia. Cometeram um erro de cálculo gigantesco.

Aliás, a guerra poderia ter sido extinta logo no início, em abril de 2022. O acordo de paz estava praticamente pronto e envolvia a neutralidade do território ucraniano, autonomia para a região russófona do Donbas e o reconhecimento da soberania histórica russa sobre a Crimeia.

Boris Johnson, no entanto, mandou recado para Zelensky insistindo para que a Ucrânia resistisse e “ganhasse” a guerra com a Rússia, com o apoio dos EUA e a OTAN.

Um delírio. Chegou-se mesmo a se montar uma contraofensiva ucraniana, que fracassou miseravelmente e ocasionou centenas de milhares de baixas entre o exército ucraniano.

Agora, a perspectiva mais realista é que a Ucrânia perca cerca de 20% de seu território sem sequer conseguir a garantia de entrar para a Otan.

Como se previa, a Ucrânia foi derrotada de forma humilhante, após passar por sacrifícios inúteis impostos por interesses geopolíticos de terceiros, que hoje mudaram.

Mas por que Trump mudou radicalmente a estratégia estadunidense sobre a Rússia?

Em primeiro lugar, porque Trump vê a China como a grande rival estratégica dos EUA. Na década de 1970, Kissinger viu a oportunidade de inserir uma cunha no bloco comunista, aproveitando-se de divergências entre Beijing e Moscou. Atraiu a China para enfraquecer a União Soviética.

Agora, Trump intenta ter uma relação mais harmoniosa com Moscou, de modo a intentar isolar a China. É muito duvidoso que isso funcione, dadas às relações atuais profundamente estreitas entre Moscou e Beijing.

Mas, mesmo sem comprometer as relações bilaterais entre Rússia e China, a paz na Ucrânia, nos termos que Putin demanda, permitiria a Trump concentrar seus esforços em alvos prioritários, como o Oriente Médio, o Irã e a projeção no Leste da Ásia e no Pacífico.

Mas há outro fator que impele Trump a aceitar uma paz que agrade Putin.

É preciso considerar que Trump, em seu primeiro mandato, ameaçou episodicamente sair da OTAN, removendo os Estados Unidos como o eixo central da aliança militar mais bem-sucedida dos tempos modernos.

Trump sempre viu a Otan e a Europa com desconfiança. Sempre achou “injusto,” os EUA consumirem seus recursos com essa aliança, a qual, na visão dele, deveria ser mantida, majoritariamente, pelos países europeus e não pelos EUA.

Como já afirmou várias vezes: “se querem proteção, que paguem por ela”. Quer que a Europa duplique seus investimentos em segurança.

Trump não esqueceu que a maioria dos países europeus apoiaram Biden e os democratas. Também não esqueceu os laços de Biden e do seu filho com o regime ucraniano,.

Em seu segundo mandato, ele está tentando uma abordagem diferente: esvaziar a Otan por dentro.

Após a conferência de Munique, os europeus descobriram, chocados, que não podem mais contar com os EUA para protegê-los. Terão de arcar com sua própria segurança.

Christoph Heusgen, presidente da Conferência de Segurança de Munique (MSC), não pôde concluir seu discurso final durante a reunião internacional deste ano porque chegou às lágrimas, enfatizando a necessidade urgente de “preservar a segurança comum”. Vance não se comoveu.

A Europa também terá de encontrar uma maneira de proteger o que restará da Ucrânia e manter o cessar-fogo. Os EUA já disseram que não envolverão suas tropas no processo.

Assim como Zelensky, a Europa, em choque, se descobriu desvalida e irrelevante.

Trump está se lixando para regras e tratados. Só respeita a força. É o império nu e descontrolado.

¨      Prazo de validade de Zelensky expirou para o Ocidente, diz político turco

O prazo de validade do líder ucraniano Vladimir Zelensky expirou para o Ocidente, ele já deixou de ter utilidade, disse à Sputnik o presidente do partido turco Vatan (Pátria), Dogu Perincek.

O presidente dos EUA Donald Trump fez várias declarações em sua rede social Truth Social na semana passada criticando Vladimir Zelensky, chamando-o de "ditador sem eleições", e acusando-o de querer continuar o conflito com a Rússia para obter ganhos financeiros.

"A validade do regime de Kiev para o Ocidente e os EUA expirou. Isso foi demonstrado na Conferência de Segurança de Munique e nas últimas declarações de Trump. Zelensky já não é adequado para uso, sendo outro exemplo da política ocidental: 'Use e jogue fora'. Todos devem tirar daqui uma lição", declarou o político turco.

Trump já havia acusado as autoridades de Kiev de frustrarem o acordo sobre metais de terras raras em troca de assistência financeira e militar dos EUA. Falando na cúpula de investimento em Miami, Trump disse que "o humorista sem grande sucesso Zelensky convenceu os EUA a gastarem US$ 350 bilhões (cerca de R$ 2 trilhões) em uma guerra que não poderia ser ganha". O presidente dos EUA enfatizou que a Europa recebe uma compensação, mas os EUA simplesmente davam dinheiro para a Ucrânia.

¨      Guerra na Ucrânia completa três anos e Trump vira ‘protagonista’ em negociação

Durante sua última campanha eleitoral, Donald Trump intensificou a promessa de que acabaria com o conflito mortal e prolongado entre Ucrânia e Rússia, chegando a afirmar que resolveria o embate em “24 horas”.

Eleito e com o conflito completando três anos de duração, o republicano tem buscado holofotes na negociação entre os países por um cessar-fogo.

No início de fevereiro, Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, foi enviado à capital ucraniana para uma reunião direta com o presidente Volodymyr Zelensky, logo após Trump destacar que as negociações estavam avançando.

Pouco depois, o líder norte-americano se encontrou presencialmente com o presidente russo, Vladimir Putin. Após a conversa, diversos líderes da União Europeia marcaram uma nova reunião geral no dia 17, com a intenção de alinhar os acordos liderados pelos EUA.

Nos últimos dias, Donald Trump tem mostrado amplo distanciamento de Zelensky e chegou a chamá-lo de ditador, após o chefe do país europeu rejeitar os termos propostos pelos EUA para um cessar-fogo.

O principal temor na União Europeia é a possibilidade de a Rússia sair amplamente favorecida após a assinatura do tratado de paz.

Na chamada da conferência, Emmanuel Macron, presidente francês, deu sua opinião por meio das redes sociais.

“Se o presidente Donald Trump puder realmente convencer o presidente Putin a parar a agressão contra a Ucrânia, isso é uma ótima notícia. Então, serão os ucranianos sozinhos que poderão conduzir as discussões para uma paz sólida e duradoura. Nós os ajudaremos nesse esforço”, escreveu.

Com o aumento das iniciativas para encerrar a guerra e a busca de Trump por protagonismo, a IstoÉ entrevistou dois especialistas para analisar as possíveis influências do ex-presidente e as alternativas para a resolução do conflito.

<><> Acordo assinado ainda em 2025?

Para Demetrius Cesário Pereira, doutor em política europeia, assinatura do tratado pode ocorrer ainda este ano, especialmente se a influência dos EUA conseguir acelerar o processo. No entanto, é possível que o impasse se estenda por mais tempo.

“Tudo depende muito da criatividade das partes para chegar a um acordo, o mais importante é o diálogo entre a Rússia e a Ucrânia mesmo”, explica.

A doutora em relações internacionais e vice-coordenadora do Observatório de Regionalismo, Bárbara Neves, ressalta que a Europa não está muito contente com as declarações de Trump que sugerem que os territórios tomados possam continuar sob o domínio de Putin.

Segundo Neves, o aumento das chances de cortes nos recursos por parte do governo dos Estados Unidos faz com que a Ucrânia enfrente mais pressões para definir um acordo de paz. No entanto, o apoio da União Europeia ajuda a garantir que menos benefícios sejam concedidos à Rússia no processo.

Apesar dos esforços e do senso de urgência da situação, Zelensky negou a primeira versão do acordo oferecido na Conferência de Segurança de Munique e reforçou que o governo ucraniano deve estar presente na criação do pacto.

“Eu não deixei os ministros assinarem um acordo relevante porque, na minha visão, ele não está pronto para nos proteger, para proteger nosso interesse. Acho importante que o vice-presidente dos EUA tenha entendido que, se quisermos assinar algo, temos que entender que funcionará”, afirmou à agência de notícias Associated Press.

<><> Participação global e autobenefício dos EUA

Com o quase total controle dos EUA sobre um possível acordo, muitos questionam a relevância de outras instituições políticas globais na mediação do cessar-fogo.

“Com o Trump no governo, a gente vai ter cada vez mais ataques às instituições internacionais, pior do que tivemos no governo Trump I, e isso fragiliza muito a capacidade dessas instituições de fortalecer esforços para um acordo de paz”, explica Neves.

A deslegitimação promovida pelos dirigentes e a falha em conseguir o fim da guerra mais cedo fragiliza a imagem de outras entidades, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a OTAN. O poder de veto das duas potências – Rússia e EUA – nas decisões de segurança da ONU também atrasam o processo.

A presença de outros moderadores é vital para evitar que o conflito se intensifique novamente de maneira tão mortal e agressiva. No entanto, para a opinião pública mundial, a ineficácia das tentativas anteriores diminui a credibilidade dessas organizações.

Com os EUA assumindo o comando das tratativas, há o risco de que condições e cláusulas favoráveis a determinados países sejam impostas. Com os ataques em andamento, a crescente pressão internacional e uma Europa economicamente fragilizada, é possível que a Ucrânia tenha que ceder a diversas exigências em nome de sua segurança.

Ambos especialistas acreditam que o novo documento deve contar com ganhos para o governo de Trump.

“Na verdade, quem sai perdendo aí é a Ucrânia, de um jeito ou de outro. Obviamente, os Estados Unidos vão querer garantir o acesso a essas terras raras e principalmente o acesso a recursos e minerais dessas terras, como o grafite, o lítio, o titânio, o urânio e assim por diante”, reforça a doutora em relações internacionais.

Além dos territórios com riquezas minerais, os norte-americanos pretendem exigir de volta todos os recursos, materiais e financeiros, que cedeu para o país menor durante o embate. Tais fatores podem criar dependência econômica na relação.

Até o momento, Zelensky segue firme com o objetivo evitar uma excessiva concessão aos EUA e garantir que suas terras e comunidades voltem a ficar seguras. “Se não recebermos as garantias de segurança dos Estados Unidos, acredito que o tratado econômico não funcionará”, disse o presidente ucraniano ao canal NBC.

<><> O que pode alterar o pensamento de Putin depois de três anos?

Para além das preocupações práticas, há ainda outra barreira que impede o fim do conflito: o que faria a comitiva de Putin mudar seu pensamento depois de três anos? A continuidade dos ataques militares, das sanções internacionais e da própria guerra é sustentada pelos ideais do atual presidente, e alterá-los não é uma tarefa fácil, na visão de especialistas ouvidos pela IstoÉ.

“Sabemos que houve um desgaste de pessoas dentro da Rússia, mas o governo Putin perdeu pouquíssimo apoio, não teve efeitos econômicos tão graves na Rússia em si – ainda que os dados sobre a situação sejam complexos de acessar. A posição de ataque só vai mudar quando o objetivo de Putin for alcançado”, explica Bárbara Neves.

A principal motivação que pode encerrar diretamente o conflito de três anos é a busca por ganhos econômicos ou territoriais por parte dos atacantes – um cenário que se intensifica pela resistência de Zelensky e pela imposição de Trump.

¨      Rússia insiste em solução para o conflito ucraniano que inclua eliminação de suas principais causas

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, mais uma vez pediu uma solução para a crise ucraniana que elimine as causas básicas do problema.

"Há uma necessidade urgente de encontrar uma solução duradoura, que por sua vez inclua a eliminação obrigatória das causas básicas do que está acontecendo na Ucrânia e em todo o país", disse o vice-ministro à Sputnik.

As razões para o conflito ucraniano, disse ele, foram a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), o golpe de Estado na Ucrânia e a recusa do grupo ocidental em cumprir os Acordos de Minsk. As tarefas em questão, enfatizou ele, são deter o expansionismo da Aliança Atlântica e restaurar "os direitos da população de língua russa na Ucrânia que foram literalmente pisoteados".

"Sem isso não haverá solução duradoura", enfatizou Ryabkov, que insistiu que as razões para o início da operação militar russa eram óbvias e que "não poderiam ter sido evitadas".

"Não tivemos outra escolha porque as causas raízes da crise se desenvolveram em grande parte como resultado da política destrutiva que Washington e capitais europeias vêm perseguindo há décadas no Leste Europeu e na Ucrânia. Tudo isso levou a esta crise", disse ele.

Hoje, ele disse, "podemos ver a intenção dos norte-americanos de avançar em direção a um cessar-fogo rápido.

"Mas, como foi enfatizado na reunião em Riad e antes, um cessar-fogo sem uma solução duradoura é um caminho que levará a uma retomada antecipada das hostilidades e a uma retomada do conflito com consequências mais sérias, inclusive para as relações russo-americanas. Queremos evitar isso", enfatizou.

 

Fonte: Viomundo/IstoÉ Independente/Sputnik Brasil

 

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