terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Queda da inflação na Argentina é resultado de recessão, diz economista

A redução da inflação na Argentina registrada nos últimos meses foi motivada pela queda da atividade econômica do país, que deve fechar o ano passado com recessão de 3% a 4% do Produto Interno Bruto (PIB). Em abril do ano passado, a inflação registrada foi de 289% e, em janeiro de 2025 o índice caiu para 84% (ambos no acumulado de 12 meses).

A avaliação é do especialista Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, que também ministra cursos sobre a economia dos países, incluindo a Argentina. Segundo ele, a recessão foi estimulada pelo “brutal” corte de gastos públicos promovido pelo governo do ultraliberal Javier Milei, atualmente envolvido no chamado escândalo do Cripto Gate.

“A grande explicação para a queda da inflação na Argentina está na queda do PIB. Ou seja, a economia mergulhou em recessão e a consequência disso é a queda da inflação porque você tem uma economia que para de funcionar e se contrai. Não temos ainda o dado consolidado do PIB, mas ele deve cair de 3% a 4% no ano passado. É o completo oposto do Brasil, que deve ter crescido 3,5%”, explicou o especialista.

Paulo Gala acrescenta que o ajuste fiscal promovido pelo governo, com a suspensão de obras, demissões de funcionários, corte no repasse para províncias e redução de despesas com educação, entre outras, fez da Argentina o país da América Latina com maior superávit fiscal da região.

“O que Milei está fazendo na Argentina é o que a gente chama de um choque clássico de contração de gasto público. Ele segurou os gastos ao máximo, fez um ajuste fiscal gigante, muito duro. A consequência é uma desaceleração econômica muito grande”, completou.

Para o especialista, apesar da melhoria dos indicadores econômicos a partir do final do ano passado, a situação ainda é gravíssima. “Ainda é um caso de UTI. O ano passado foi um ano muito difícil. Então, dificilmente 2025 vai ser pior do que o ano passado. Agora, a dúvida é quão robusta e sustentável vai ser essa recuperação. A inflação ainda é muito alta, próxima de 100%. O desemprego também está muito elevado”, comentou.

A produção industrial da Argentina registrou uma queda de -9,4% no acumulado de 2024. Apesar do número negativo, a taxa é menor que a de abril de 2024, quando a indústria registrou uma retração de -15,4%, considerando os 12 meses anteriores. Os dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (Indec).

Por sua vez, o presidente Javier Milei tem sustentando que a economia está em “franca recuperação”, destacando como grande mérito da sua gestão a queda da inflação e a redução das despesas públicas.

·        Pobreza

A recessão do país vizinho fez a pobreza disparar na Argentina de 38,7% da população, no primeiro trimestre de 2023, assim que Milei assumiu o governo, para 54,8% da população no primeiro trimestre de 2024, segundo o Observatório da Dívida Social da Argentina, da Universidade Católica do país.

Ao longo do ano passado, os indicadores de pobreza melhoraram, chegando novamente em torno dos 38% da população no terceiro trimestre de 2024. Segundo os pesquisadores do Observatório, a queda na pobreza deve ser analisada com cautela, uma vez que outros serviços registraram aumento de custos.

“A queda do nível de pobreza não implica que as famílias tenham recuperado os níveis de consumo já reduzidos que existiam antes do ajuste: o aumento dos custos fixos dos serviços de transporte, comunicação, eletricidade, água, gás, etc. faz que a capacidade de consumir alimentos e outros bens básicos na verdade caiu”, afirmam.

São consideradas pobres as famílias que têm uma renda que consegue cobrir os custos da cesta básica de alimentação, mas não sobra dinheiro para outros gastos, como saúde, educação e roupas. Já a classificação de indigente é para as famílias que têm uma renda abaixo do valor da cesta básica alimentar.

Outro indicador utilizado para medir a pobreza é a chamada pobreza multidimensional que, além de {[renda das famílias, avalia se elas têm acesso a serviços básicos, como moradia digna, água, saneamento, emprego e seguridade social.

No caso desse indicador, houve uma piora em 2024, com a pobreza multidimensional passando de 39,8% em 2023 para 41,6% da população no ano passado. “Esses dados permitem-nos inferir na realidade uma acentuação de privações estruturais entre as famílias sujeitas à pobreza de renda”, afirmou o Observatório.

¨      Milei delira e acusa USAID de financiar “fraude eleitoral” no Brasil

Em mais um discurso delirante e sem sentido, o presidente da Argentina, Javier Milei, fez ataques ao Brasil. Ele afirmou, sem provas, é claro, que a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) teria financiado uma suposta fraude eleitoral no Brasil.

Durante a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), em Washington, nos Estados Unidos, o representante da extrema direita argentina disse que a USAID teria aplicado “milhões de dólares” para adulterar os resultados das eleições no Brasil, em 2022, quando Jair Bolsonaro (PL) foi derrotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

 “E aqui nos Estados Unidos, é claro, o escândalo da USAID, que destinou milhões de dólares de impostos para financiar desde revistas e canais de televisão até fraudes eleitorais, como no Brasil, ou governos com aspirações discriminatórias, como do sul da África”, afirmou Milei, neste sábado (22), seguindo a cartilha de fake news e teoria da conspiração utilizada, frequentemente, pela extrema direita.

<><> Campanha contra agência

A USAID foi criada durante a Guerra Fria, com o objetivo de aumentar a presença internacional dos Estados Unidos e combater o avanço da União Soviética. Atualmente, a agência é o maior doador individual de ajuda humanitária ao redor do mundo.

Porém, com a vitória de Donald Trump, a instituição passou a ser atacada pelo bilionário Elon Musk, chefe do Departamento de Eficiência Governamental, nomeado pelo presidente, que acusou a pasta, em outro delírio, de ser um “ninho de víboras marxistas de esquerda radical”.

Trump adotou a retórica de Musk e afirmou que a USAID é composta por “radicais loucos de esquerda”. Da mesma forma que o bilionário dono do X, o presidente não apresentou qualquer prova para sustentar as acusações. Mesmo assim, afirmou que pretende fechar a agência.

¨      Inelegível, Evo Morales diz que vai disputar eleição na Bolívia por outro partido

O ex-presidente da Bolívia Evo Morales anunciou que participará das eleições do país em 2025 pelo partido Frente para a Vitória (FPV). Com isso, o ex-mandatário deixará o Movimento Al Socialismo (MAS) de maneira definitiva, depois de fundar a sigla há 28 anos.

A decisão de Evo, divulgada na quinta-feira (20/02), também desafia uma medida da Justiça eleitoral do país. O Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolívia decretou, em dezembro de 2023, que presidentes e vice-presidentes só poderiam exercer o cargo por dois mandatos, de forma seguida ou não. Com a sentença judicial, Evo Morales, que foi presidente por quatro mandatos, não poderia voltar ao poder.

“Já temos o partido para participar das eleições deste ano. Agora, com a Frente para a Vitória, venceremos as eleições nacionais novamente”, afirmou Evo em uma coletiva de imprensa para anunciar a decisão. De acordo com o FPV, a chapa que disputará as eleições ainda será definida.

Segundo o professor de ciência política da Universidade Mayor de San Andrés Franklin Pareja, a medida de Evo coloca uma grande pressão sobre a Justiça do país, que terá de tomar novas decisões até o pleito, marcado para 17 de agosto. Ele afirma também que é uma jogada política por parte do ex-presidente para retomar uma força que foi colocada em xeque, mas que acaba rachando a própria esquerda boliviana de maneira mais abrupta.

 “Evo Morales é mais uma vez um ator político muito importante, não necessariamente como candidato, embora isso não esteja descartado, mas tem capital político e se conseguir fazer uma aliança com um partido que lhe permita competir, sem dúvida conseguirá algumas situações que podem ser, primeiro, a fratura do campo de esquerda e segundo a recuperação do poder de Evo e obviamente ter uma posição mais vantajosa que Luis Arce”, disse ao Brasil de Fato.

Evo foi eleito presidente do MAS em janeiro de 1999 e na liderança da sigla chegou à Presidência do país em 2006, ocupando o cargo até 2019, quando sofreu um golpe.

O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia já havia reconhecido em novembro Grover García como presidente do MAS. Com isso, o ex-presidente Evo Morales perdeu a liderança da sigla depois de 25 anos em meio a uma disputa política interna com o atual chefe do Executivo, Luis Arce.

A decisão ocorreu depois do Congresso realizado pelo MAS na cidade de El Alto. O evento foi organizado em maio por grupos ligados a Arce e deu a vitória ao atual presidente na disputa pelo partido. A decisão foi reconhecida pelo Tribunal Constitucional Plurinacional (TCP) só em 14 de novembro. A partir disso, o TCP orientou a decisão da Justiça Eleitoral. Evo rebateu a decisão e disse que se trata de uma apropriação do movimento indígena e que isso é “um sequestro que leva a um genocídio político”.

O FPV, no entanto, também foi impedido de participar das eleições pelo TSE por supostas irregularidades na eleição de sua diretoria.

<><> Disputa com Arce

O ex-presidente se tornou o principal opositor do atual governo depois de voltar do exílio na Argentina em 2020. Morales começou a criticar algumas decisões de Arce e seus apoiadores e disputar espaço pela candidatura do Movimento Al Socialismo nas próximas eleições presidenciais, do ano que vem.

O estopim da desavença, na corrida pela liderança do MAS, se deu em outubro de 2023, quando apoiadores de Morales organizaram um congresso em Lauca Eñe, no distrito de Cochabamba. A região é seu berço político e reduto eleitoral. No evento, ele chamou os apoiadores de Luis Arce de “traidores”.

Neste mesmo evento, o MAS determinou a expulsão de Arce do partido, já que ele, como representante da sigla no Executivo, não compareceu ao congresso.

<><> Evo investigado

Morales também é acusado de “estupro e tráfico de pessoas” por manter relações com uma menina de 15 anos em 2015, quando ainda era presidente e, de acordo com a denúncia, ele teria tido uma filha com a adolescente em 2016. O ex-presidente da Bolívia não compareceu para depor na Delegacia Geral de Polícia de Tarija.

O ex-mandatário ainda foi acusado pelo ministro da Justiça, César Siles, de criar uma rede de jovens de 14 a 15 anos para ter a sua disposição enquanto era presidente. O ministro disse que esse grupo seria chamado de “Geração Evo”. Os pais da jovem também estariam sendo investigados porque supostamente receberam dinheiro ao entregá-la ao ex-presidente em troca de favores.

De acordo com a lei boliviana, caso ele não se apresentasse para depor, a Justiça poderia determinar uma ordem de captura para que Morales deponha. César Siles reforçou que Evo estaria sujeito à prisão caso não comparecesse.

O objetivo da defesa do ex-presidente é transferir o julgamento para Cochabamba, cidade onde vive Evo Morales, usando um artigo do Código de Processo Penal que faz referência ao “juízo natural”, ou seja, o direito de ser processado na jurisdição em que vive. Para o advogado Jorge Pérez, o processo “nasceu morto” por ter sido encerrado em 2020.

Evo Morales criticou a investigação, dizendo que as acusações são “inventadas” e têm como objetivo forçar um processo criminal.

 

Fonte: Agência Brasil/Fórum/Opera Mundi

 

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