terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Lula sobe tom contra tarifas e ameaças de Trump: 'Cadê a democracia, cadê o livre comércio?'

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu nesta segunda-feira (17) o tom dos questionamentos contra o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Lula citou as ameaças do político norte-americano de elevar a taxação sobre as importações nos EUA e de deportar imigrantes para cumprir o lema "América para os americanos" – ameaças que Trump já começou a cumprir.

"Os EUA, depois da 2ª Guerra Mundial, se comportaram aos olhos do mundo como símbolo da democracia. [...] Vem um novo presidente e muda radicalmente o discurso. Destrói aquele Consenso de Washington de 1980, do Reagan e da Margaret Thatcher. De que o negócio era não ter barreira comercial, negócio livre, que não tinha que ter imposto, empecilho", disse Lula em um evento da Petrobras, no Rio de Janeiro

"E agora, entra um novo presidente e qual é o discurso do novo presidente? 'América para os americanos. Nós vamos taxar tudo que é produto importado e vamos mandar embora tudo que é imigrante'. Os imigrantes que foram para os EUA, ajudaram a construir aquela pátria grande, ajudaram a construir riqueza dos Estados Unidos, até vota a maioria e resolveram mandar embora. Os latino-americanos que foram para lá fazer trabalho que os americanos já não queriam mais fazer", comparou.

"E aí, eu fico pensando. Cadê a democracia, o respeito ao livre trânsito do ser humano se você tem livre trânsito do capital? Cadê o livre comércio que foi tão apregoado? E aí começa a ameaçar o mundo. Todo dia tem uma ameaça, uma coisa. O Brasil é um país de paz, a gente não tem divergência com nenhum país", seguiu Lula.

Grupo de brasileiros deportados pelos Estados Unidos desembarca no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte

As medidas de Trump já começaram a impactar o Brasil, nesses dois aspectos:

·        no campo do comércio exterior, as tarifas sobre o aço e o alumínio atingem frontalmente os produtores brasileiros – que, em 2024, ficaram apenas atrás do Canadá entre os principais fornecedores externos para os EUA;

·        na área de imigração, o Brasil já recebeu dois voos com deportados desde o início do ano. No primeiro, a tentativa de agentes americanos de manter o uso de algemas e correntes após o primeiro pouso em solo brasileiro gerou disputa entre os dois países.

"É verdade que os EUA é dos americanos, a China é dos chineses, a Rússia é dos russos, a Índia é dos indianos. Mas é verdade que o Brasil é do povo brasileiro e eles têm que respeitar as coisas que nós fazemos aqui dentro. Esse país é nosso", disse Lula.

¨      "O Brasil não aceitará desaforo", diz Lula a Trump

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou, nesta segunda-feira (17), durante cerimônia de anúncio de investimentos na frota naval do sistema Petrobras em Angra dos Reis (RJ), que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tenha reciprocidade em relação às questões comerciais e respeito às decisões internas do Brasil. “É verdade que os EUA são dos americanos, mas o Brasil é dos brasileiros e eles têm que respeitar as coisas que fazemos aqui”, disse Lula.

“Temos que ter em conta que estamos em um mundo muito competitivo. Vamos levar em consideração o que diz o presidente dos EUA. Eles se comportavam como referência, e lá havia muitas oportunidades. Mas chegaram para construir uma base militar mundial. Entra um presidente e destrói o consenso de Washington, de abrir as fronteiras e o livre comércio. Com base nisso, acabamos com a nossa indústria de autopeças, fomos destruindo nossas indústrias”, ressaltou.

Ainda segundo Lula, “agora entra o novo presidente, com o discurso ‘América para os americanos’. Os imigrantes estão sendo mandados embora, mas eles ajudaram a construir os EUA e a fazer os trabalhos que os americanos não queriam fazer. Cadê a democracia? Cadê o respeito ao livre trânsito do ser humano e ao livre comércio? Somos um país de paz, queremos que todos gostem da gente e gostamos de todos. Vamos fazer isso, e não vamos aceitar nenhum desaforo”.

¨      Lula: a Lava Jato foi um projeto para destruir a indústria nacional e a Petrobras

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a operação Lava Jato fez parte de um plano para “destruir a indústria de engenharia desse país e a tentativa de destruir a Petrobras”. “Depois de dificuldades em privatizar a Petrobras, transformaram a Lava Jato num caça-níquel contra a Petrobras e seus trabalhadores. Se você praticou corrupção, prende o dono, mas não prejudique os trabalhadores", disse o presidente nesta segunda-feira (17), durante cerimônia de anúncio de investimentos na frota naval do sistema Petrobras em Angra dos Reis (RJ).

"Mas o que estava em jogo na questão da Lava Jato era a destruição da indústria de engenharia desse país e a tentativa de destruir a Petrobras, criando uma imagem negativa da Petrobras no mundo. Então passaram a vender ativos, como a BR Distribuidora”,  ressaltou mais à frente.

Ainda segundo Lula, “a Petrobras nasceu por persistência de um presidente da República, um dos poucos que tinha um espírito nacionalista. A Petrobras foi crescendo aos trancos e barrancos, mas sempre havia alguém que tinha a perspectiva de destruí-la. Passaram então a privatizar pedaços da Petrobras e diziam que era bobagem investir e que o bom era pagar dividendos.”

“Mesmo até 2010 essa lógica prevalecia. Diziam que era bobagem fazer sondas e plataformas aqui, porque custa menos. Mas quanto custa para o país, para o aprendizado tecnológico nosso? Quanto volta ao povo brasileiro? Obviamente é mais barato comprar de fora, mas temos que pensar no Brasil. A Petrobras precisa ter uma vocação para ajudar a crescer esse país”, completou.

 

¨      Com governo em crise, Lula titubeia para decidir, evita Janja em reuniões políticas e mantém indefinição sobre 2026

A estreia de Sidônio Palmeira numa reunião do governo Lula (PT), com plano de comunicação debaixo do braço e discurso pronto para rádio e TV, aconteceu numa cena que marca a primeira grande derrota do governo junto à opinião pública e ao mercado: o anúncio do plano de corte de gastos combinado à isenção do imposto de renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, no fim de novembro.

Lula havia chamado uma reunião grande para debater o tema. Estavam na sala os ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Paulo Pimenta (Comunicação Social), Alexandre Padilha (Articulação Política), Esther Dweck (Gestão) e o hoje presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Havia ainda representantes de Simone Tebet (Planejamento).

O presidente estava decidido a fazer um anúncio conjunto, das duas medidas ao mesmo tempo. Sidônio, que ainda não havia assumido cargo no governo, entrou na sala com uma campanha pronta debaixo do braço para bancar a dobradinha.

<><> Haddad discordava

Disse a Lula que anunciar corte de gastos associado à isenção no IR, que na prática significa renúncia de receita, não iria funcionar nem para a base que Lula queria agradar nem para o mercado.

Diante do debate, o presidente inicia uma espécie de assembleia, na qual os presentes votariam: anúncios separados para o corte de gastos e para a isenção ou um pacote só. Haddad foi obviamente derrotado na votação. Ao lado do ministro da Fazenda argumentaram Tebet e Galípolo.

“Para mim, é essa reunião que marca o início da derrocada do governo”, diz um aliado de Lula. “Ali está o nascedouro de uma crise de confiança e da percepção de que Haddad não tinha força.”

Derrotado na “votação”, Haddad pede para despachar a sós com o presidente e sugere que apenas Galípolo esteja com eles na sala. Integrantes do governo que foram assuntar sobre relatam o seguinte: Haddad disse a Lula que o anúncio conjunto seria desastroso, que não surtiria efeito nem no mercado nem na base eleitoral, como queriam os colegas da Esplanada. Num gesto extremo, pediu que Galípolo dissesse claramente ao presidente o que aconteceria se as duas coisas fossem associadas.

“O dólar vai bater a barreira dos R$ 6”, previu o hoje presidente do Banco Central.

Lula não se dobrou. “Isso é decisão política”, disse.

O dólar de fato explodiu e o governo encerrou o ano com inflação de alimentos em alta, a moeda americana furando R$ 6,20 e uma evidente cisão interna.

Num requinte de crueldade da história, coube a Haddad fazer o anúncio do qual discordava. Em cadeia nacional, leu um texto desenhado por Sidônio. O publicitário ainda pregou o lançamento de uma campanha que sinalizasse “um Brasil mais justo para os brasileiros”. Ela chegou a ser anunciada por alguns colunistas na imprensa, mas não saiu do papel.

O ano vira e o governo se depara já em janeiro com uma crise: uma portaria da Receita que ampliava a fiscalização sobre o PIX, editada meses antes, havia captado a atenção da oposição. Às críticas à proposta se somaram uma série de fake news. Lula chama nova reunião.

De novo, dois personagens são vistos como centrais para a decisão de simplesmente revogar a portaria: Sidônio e Rui Costa. O publicitário até havia produzido um vídeo, dias antes do recuo oficial, no qual Lula faz um pix para seu time de futebol, na intenção de mostrar que não haveria taxação da operação, como diziam algumas das campanhas de desinformação. Não fez cócegas nas redes e ainda ampliou o ânimo dos detratores da medida.

Derrotado novamente, Haddad viu seu secretário da Receita ser obrigado a revogar a norma. No dia seguinte o governo sentiu o estrago: se havia dúvidas sobre o conteúdo da portaria, a revogação simplesmente cristalizou na população a sensação de que a gestão Lula iria mexer na transação mais queridinha do país —e para taxar os mais pobres.

“A sensação é de um governo que não quer debater, não quer fazer a disputa do terreno das ideias”, diz um ministro de Lula. “A Casa Civil virou o Triângulo das Bermudas. As coisas entram lá e desaparecem.”

As críticas a Rui Costa se tornaram quase que um esporte em Brasília. O ministro é comumente acusado de encastelar Lula, dificultar o debate, alimentar a escolha por saídas simplórias para problemas complexos. Mais: Rui chamou para si a responsabilidade de construir a campanha do PT para 2026. A ciumeira aumentou.

Outra personagem sempre mencionada é a primeira-dama, Janja.

“É uma situação complexa, quase insolúvel. Ao mesmo tempo que ela é essa fonte de vitalidade para ele, ela tem esse perfil, que ele não dá sinais de querer controlar”, diz um antigo aliado do presidente.

Janja teria limitado reuniões políticas na residência do casal. Quando elas acontecem, a primeira-dama está presente e faz questão de opinar sobre os temas.

Lula passou a usar as viagens oficiais da mulher para receber políticos fora do Planalto, algo que fazia corriqueiramente.

A imagem que muitos fazem do petista hoje emula a de uma boneca russa.

“É como se existisse um Lula dentro de outro Lula.”

A tese de um presidente “isolado” ou “encastelado” tornou-se recorrente. Seja pela blindagem política, de Costa, ou pessoal, de Janja, o fato é que o presidente está mais distante do varejo da articulação.

Soma-se ao cenário o terceiro fator determinante para a cisão no governo: Lula oscila sobre uma eventual candidatura à reeleição em 2026.

A primeira vez que o presidente teria verbalizado o dilema foi num momento tenso. Durante o retorno para o Brasil de uma agenda no exterior, a aeronave oficial teve um problema técnico e precisou sobrevoar por horas um aeroporto no México para gastar combustível e pousar com segurança.

“Ali foi a primeira vez que ele deu a entender que já estava cansado disso. Depois, com a queda, o acidente doméstico, ele mesmo naturalizou o assunto”, relata um auxiliar de Lula.

O tombo que levou o presidente a fazer uma cirurgia no cérebro o assustou de fato. Lula tem 79 anos e sua equipe médica admite que o acidente poderia ter tido consequências graves.

O petista passou a refletir publicamente, entre os auxiliares, sobre o uso do tempo, a dedicação à vida pública.

Se o governo já vivia de disputas internas, elas se ampliaram. O dilema de Lula de ser ou não ser candidato em 2026 abriu uma corrida interna pela sucessão.

Até hoje o presidente alterna sinais sobre a próxima eleição.

“Essa é para mim a questão central. Já passou do tempo de definir o que vai ser, quem vai ser”, avalia um aliado.

Perdido em questões centrais, como ajuste fiscal, medidas de apelo popular e articulação política, o governo investe na tese de que está ganhando terreno nas redes sociais.

No episódio mais sintomático, petistas —o ministro Padilha, da articulação política, à frente— decidiram aparecer na sessão de abertura deste ano legislativo com um boné “O Brasil é dos brasileiros”, para provocar a oposição.

“Abertura dos trabalhos do Congresso. O governo com uma agenda complexa. O que você faz? Um discurso de união nacional, um apelo pela aprovação de projetos que melhorem a vida do povo? Não. Você chama a oposição para a briga”, diz um petista contrariado com a estratégia.

Um deputado do PT relata ter sido abordado por um líder da oposição no plenário da Câmara.

“Escuta, vocês enlouqueceram? Governo governa, oposição é quem chama para a briga”, conta. O episódio engajou a base lulista nas redes sociais. “Nós não precisamos engajar a nossa base, precisamos falar para fora. Os números do algoritmo podem até dar discurso internamente, mas nada dizem para fora”, constata o parlamentar.

Dias depois, na última sexta (14), foi publicada pesquisa Datafolha que mostra Lula amargando a pior avaliação entre todos os seus mandatos.

“O governo começou a debater a alta dos alimentos em novembro. De lá para cá teve o barulho do ajuste, a especulação sobre mudança no prazo de validade da comida, o barulho do PIX, a rinha do boné e um discurso. Medida, nada”, conclui um integrante do PT.

 

Fonte: g1/Brasil 247

 

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